
�s 15h30 do dia 5 de novembro de 2015, a barragem de rejeitos de minera��o conhecida como Fund�o, controlada pela empresa Samarco, se rompeu no munic�pio de Mariana, despejando 62 milh�es de metros c�bicos de lama t�xica sobre vilarejos, matas, rios, animais e pessoas. Vidas que foram perdidas ou paralisadas numa extens�o geogr�fica que se estendeu pela Bacia do Rio Doce at� o litoral capixaba. Algumas delas ainda tentam seguir em frente novamente, com dificuldades, como est� registrado no trabalho da fot�grafa mineira Isis Medeiros. Nesta semana, ela lan�a 15:30, livro produzido por cinco anos, desde o primeiro dia do at� ent�o maior crime ambiental da hist�ria do Brasil.
“� um livro � fotogr�fico. Foi um desafio muito grande representar nas imagens o passar do tempo, a dificuldade que essas pessoas est�o enfrentando. Tentei trazer isso a partir de uma edi��o que fizemos para agu�ar algo mais sensorial”, explica a autora, que construiu um recorte cronol�gico que “conta a hist�ria do primeiro dia do rompimento at� os dias de hoje”, segundo ela.
Al�m das 71 imagens, escolhidas entre mais de oito mil fotografias feitas em pelo menos 20 localidades atingidas em Minas e no Esp�rito Santo entre 2015 e 2020, a publica��o feita pela editora Tona traz textos da fot�grafa e pref�cio escrito pelo fil�sofo e ambientalista Ailton Krenak. Ele participar� de uma live especial de lan�amento, junto com Isis, nesta segunda-feira (30), no YouTube.
Isis, que se dedica � fotografia desde 2013, sempre com enfoque sobre temas sociais, explica que o trabalho traz n�o s� um registro, mas olhares sobre o que vem ocorrendo desde o minuto que d� nome ao livro.
“Al�m de fotografar, procurei perguntar para as pessoas sobre o passar do tempo. As respostas s�o muito parecidas. A maioria responde que a vida s� piorou. N�o houve nenhuma a��o efetiva com rela��o � responsabilidade do crime. Por isso, achei importante trazer isso j� no t�tulo, com esse momento que partiu a vida de tantas pessoas ao meio. A vida delas parou naquela hora, naquele dia”, diz a fot�grafa. Mais do que as fotos, a obra apresenta legendas com hist�rias e at� uma carta em que uma moradora de S�o Mateus, no Esp�rito Santo, denuncia a situa��o de abandono vivida pelas mulheres da regi�o, cinco anos ap�s a trag�dia.
INCERTEZA
Nas 120 p�ginas do livro est�o retratos de pessoas que trazem no semblante o sentimento de perda (houve 19 mortes no rastro de devasta��o) e incerteza, que ainda � latente. Paisagens naturais devastadas e ru�nas, como a de uma escola municipal, tamb�m aparecem, contextualizando a dimens�o da destrui��o causada pela atividade da Samarco, em parceria com a Vale e a BHP Billiton.
“Tem um pouco de tudo. Eram muitos arquivos para editar e contar isso. Ent�o, tentei falar um pouco de cada aspecto. Sei que s�o muitas camadas de entendimento sobre tudo isso, � um problema muito grande, mas tentei ser bem democr�tica nas escolhas. Tem o vi�s fotojornal�stico, s� que mais sensorial. Tentei ser mais sutil, fugir desse hardnews, das imagens muito impactantes. Tive esse cuidado de n�o agredir ainda mais a popula��o atingida, que ainda sofre muito, porque quero disponibilizar o livro para as comunidades”, argumenta Isis Medeiros.


Humanizar os atingidos, um dos desafios da obra
O passar do tempo a partir do in�cio dos registros, feitos por Isis logo j� no dia seguinte � trag�dia, ainda em 2015, deu novos entendimentos �s imagens. Sobretudo pela sucess�o de acontecimentos desde ent�o, que, al�m do impacto direto na Bacia do Rio Doce, incluem outro crime ambiental de propor��es gigantescas de responsabilidade da Vale, em Brumadinho (o rompimento da Barragem de C�rrego do Feij�o, com 250 mortos, em janeiro de 2019).
“Revisitar as fotos para preparar o livro me trouxe novas perspectivas que n�o tinha quando as fiz. Revi uma por uma e encontrei imagens que antes n�o achava t�o interessantes assim”, explica a profissional, ressaltando, por exemplo, o simbolismo da imagem que mostra o Pelourinho de Mariana. “A import�ncia que ele tem para a cidade � o quanto ele diz sobre o Brasil col�nia e a destrui��o da mem�ria dessa cidade. � importante resgatar este lugar, porque sabemos que a injusti�a continua acontecendo, a escravid�o n�o acabou e a minera��o ainda explora a popula��o de forma quase colonial nas cidades. Tento trazer essa imagem”, observa.
A fot�grafa destaca que teve uma aproxima��o especial com a popula��o atingida durante suas viv�ncias nas localidades afetadas pela lama. “Todas as pessoas que est�o no livro foram consultadas, ouvidas, entrei em contato com todas. S�o imagens que contam suas hist�rias. Um morador de Bento Rodrigues (distrito de Mariana), por exemplo, se sentiu desconfort�vel por uma imagem em que seu pai aparecia no t�mulo. Muito educadamente, me solicitou que n�o fosse inclu�da e n�o inclu�”, revela a autora sobre o processo.
MEM�RIA
A perspectiva hist�rica do trabalho est� presente tamb�m no pref�cio escrito por Ailton Krenak. Em poucos par�grafos, ele traz a mem�ria de sua ancestralidade sobre a “Floresta do Rio Doce”, descrevendo como o lugar “onde os botocudos sempre viveram, antes de os brancos chegarem no Brasil. Ela era uma floresta muito admirada, aqueles viajantes que atravessaram desde o litoral para chegar por aqui nos s�culos 17 e 18 diziam que era mais impressionante do que a Mata Atl�ntica. Era uma floresta que n�o dava para imaginar que iria acabar, era para sempre”. Ele ainda destaca: “O extrativismo mineral foi crescendo at� transformar essa regi�o, que era chamada de ‘Floresta do Rio Doce’, em ‘Vale do A�o’.”
Isis Medeiros se refere a Ailton Krenak como “uma lideran�a muito forte n�o s� em Minas, mas no Brasil e no mundo, algu�m que tem muita legitimidade para falar sobre a explora��o da minera��o e tamb�m da luta hist�ria dos povos ind�genas”.
Na semana que vem, em nova live, a fot�grafa debater� o livro com o fotojornalista Jo�o Ripper, a ativista do grupo de atingidos da Bacia do Rio Doce Eliane Balke e a jornalista Cristina Serra, autora do livro Trag�dia em Mariana: A hist�ria do maior desastre ambiental do Brasil.
LIVES
Segunda-feira (30), �s 19h, com Ailton Krenak, e 7 de dezembro, �s 19h, com Jo�o Ripper, Eliane Balke e Cristina Serra. Transmiss�o no canal da editora Tona no YouTube
15:30
.De Isis Medeiros
.Editora Tona
.71 fotos
.120 p�ginas
.R$ 40, � venda em www.tonaeditora.com.br