(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas LITERATURA

Isabel Allende reflete sobre feminismo em novo livro

Mulheres de minha alma, primeiro ensaio da escritora chilena, j� est� dispon�vel nas livrarias brasileiras. No livro, autora relata mem�rias pessoais e suas experi�ncias no movimento


01/12/2020 04:00 - atualizado 01/12/2020 07:34

Isabel Allende, autora viva mais lida do mundo em língua espanhola, defende que 'feminismo convém a nós todos'(foto: Lori Barra/divulgação)
Isabel Allende, autora viva mais lida do mundo em l�ngua espanhola, defende que 'feminismo conv�m a n�s todos' (foto: Lori Barra/divulga��o)
A chilena Isabel Allende � a autora viva mais lida do mundo em l�ngua espanhola. Aos 78 anos, j� escreveu 21 romances, um livro de mem�rias, dois de contos e quatro pe�as de teatro. Vendeu 80 milh�es de c�pias em mais de 40 idiomas. Entre as suas obras mais famosas est� A casa dos esp�ritos – um dos grandes t�tulos do realismo fant�stico. Em seus romances, resgatou eventos cruciais da hist�ria de toda a Am�rica Latina, da ditadura chilena � revolu��o do Haiti, passando pela coloniza��o cubana e pela chegada dos primeiros imigrantes latino-americanos aos EUA.

Ainda assim, boa parte da cr�tica liter�ria n�o reconhece sua obra. Dificilmente ela � colocada no mesmo pante�o de seus contempor�neos do sexo masculino, como o mexicano Carlos Fuentes, o cubano Alejo Carpentier e o brasileiro Jorge Amado. Sem falar, � claro, nos argentinos Jorge Luis Borges e Julio Cort�zar, e nos agraciados com o Nobel de Literatura, o peruano Mario Vargas Llosa e o colombiano Gabriel Garc�a M�rquez. O conterr�neo Roberto Bola�os, outro grande nome latino-americano, a chamou de “escrevinhadora”.

“Quando eu comecei a escrever, h� quase 40 anos, minha agente, Carmen Balcells, me disse que, por ser mulher, ia me custar o dobro do esfor�o exigido de qualquer homem obter a metade do reconhecimento”, conta Isabel Allende. “Ela me disse tamb�m que a cr�tica seria muito dura comigo ou simplesmente ia me ignorar, e que meus colegas n�o me perdoariam se eu tivesse �xito.”

Como costuma ocorrer a cada m�s de novembro, Isabel Allende est� lan�ando um novo livro, que chegou ontem (30) �s livrarias brasileiras. Pela primeira vez, escreveu um ensaio, Mulheres de minha alma (Bertrand Brasil). Trata-se de um trabalho em que mescla reflex�es sobre feminismo com mem�rias pessoais e suas pr�prias experi�ncias no movimento.

A nova gera��o de feministas protagoniza uma importante renova��o do movimento e conquista novos espa�os. Os homens mudaram tamb�m?
Os homens jovens, criados por m�es feministas e companheiros de mulheres emancipadas, mudaram muito, mas n�o s�o maioria no mundo e o sistema patriarcal continua intacto. Ningu�m entrega o poder amavelmente. As mulheres est�o h� d�cadas atacando esse poder e conseguimos muita coisa. Mas ainda falta muito por fazer e precisamos que os homens, sobretudo os mais jovens, entendam que o feminismo conv�m a n�s todos. Se a ger�ncia do mundo estivesse igualmente nas m�os de mulheres e homens, se os valores femininos e masculinos tivessem o mesmo peso na consci�ncia humana, o mundo seria muito melhor. Mas � um processo at� alcan�armos esse objetivo, e � lento. Avan�amos dois passos e retrocedemos um. Mas nos 78 anos da minha vida, vi mudan�as positivas.

A viol�ncia contra as mulheres segue alta em v�rias partes do mundo. Como lutar contra o machismo estrutural que vivenciamos cotidianamente, sobretudo nos pa�ses da Am�rica Latina?
O machismo � uma manifesta��o do patriarcado, que tem sido por mil�nios o sistema imperante de opress�o pol�tica, econ�mica, cultural e religiosa, que outorga dom�nio e privil�gio ao g�nero masculino. Tamb�m oprime os pobres, os derrotados, as pessoas de outras ra�as e religi�es, os LGBTBQIA+ e qualquer outro que possa submeter. Essa opress�o se exerce com viol�ncia. A viol�ncia contra a mulher � outra manifesta��o disso. � dif�cil derrotar o patriarcado, mas conseguiremos.

Governos como os de Donald Trump, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, no Brasil, representam retrocesso para o movimento feminista?
Os direitos que as mulheres conquistaram com tanta luta podem ser perdidos em um instante, basta uma cat�strofe, uma guerra, uma crise econ�mica, uma ditadura ou um governo ultraconservador. Por exemplo, as mulheres no Afeganist�o perderam tudo, incluindo as liberdades mais b�sicas, quando o Taleb� assumiu o poder. Os autocratas s�o manifesta��es do machismo que agora definimos como “masculinidade t�xica”. Devemos estar alertas e vigilantes para defender o que conquistamos e seguir lutando pelo que falta fazer.

A senhora � a autora de l�ngua espanhola viva mais lida do mundo. Esse caminho foi mais dif�cil para uma mulher do que seria para um homem? Em que aspectos?
Quando eu comecei a escrever, h� quase 40 anos, minha agente, Carmen Balcells, me disse que, por ser mulher, ia me custar o dobro do esfor�o exigido de qualquer homem obter a metade do reconhecimento. Ela me disse tamb�m que a cr�tica seria muito dura comigo ou simplesmente ia me ignorar, e que meus colegas n�o me perdoariam se eu tivesse �xito. Posso acrescentar que os professores de literatura ensinam muito poucas autoras, que j� foi dito de mim que n�o sou escritora, mas “escrevinhadora” (como a chamou o escritor chileno Roberto Bola�os), porque vendo mais livros do que a maioria dos escritores conhecidos. At� hoje encontro algumas vezes com leitores que dizem n�o ler livros escritos por mulheres porque s�o “leves”. Custou-me obter respeito, mas nessa trajet�ria n�o estou sozinha. Cada vez h� mais mulheres escritoras publicadas e suas vozes n�o podem ser silenciadas.
(foto: Bertrand Brasil/reprodução)
(foto: Bertrand Brasil/reprodu��o)

MULHERES DE MINHA ALMA
• De Isabel Allende
• Bertrand Brasil
• 208 p�ginas
• Pre�o m�dio: R$ 49,90


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)