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Estado de Minas AT� QUE ENFIM!

Sete escritores escrevem bilhetes de adeus a 2020, o ano da pandemia

A pedido do EM, Cidinha Ribeiro, Fabr�cio Carpinejar, Ign�cio de Loyola Brand�o, Jacques Fux, Leo Cunha, Luiz Ruffato e Mary Del Priore se despedem


31/12/2020 04:00 - atualizado 31/12/2020 07:09

O convite foi para um bilhete de despedida para aquele que n�o deveria ter vindo como veio. Cada qual � sua maneira, sete escritores – os mineiros Cidinha Ribeiro, Jacques Fux, Leo Cunha e Luiz Ruffato, a carioca Mary Del Priore, o paulista Ign�cio de Loyola Brand�o e o ga�cho Fabr�cio Carpinejar – despedem-se deste ano com pequenas mensagens. Dizer at� nunca mais � o que todos n�s – independentemente das tristezas, maiores ou menores, todos as sentimos – desejamos a este 2020 agourento que chega hoje ao seu final. 

Prezado 2020,
“Eu tenho tanto pra te falar, mas com palavras, n�o sei dizer, como � grande o meu �dio, por voc�” – primeiramente, obrigado por ter nos livrado do Especial de Natal do Roberto Carlos, j� n�o era sem tempo. Tamb�m agrade�o por ter nos poupado da Simone, “ent�o � Natal, e o que voc� fez” – afinal, os mais atentos ao que se passa no mundo – que n�o ficam jogando futebol ou participando da festa m�rbida do “garoto Neymar”, enquanto mais de 200 mil fam�lias est�o em luto – n�o fizeram sabiamente nada e nem ficaram com a consci�ncia pesada

Obrigado por n�o permitir que as Olimp�adas de 2020 acontecessem: � sempre maravilhoso ver aqueles corpos perfeitos enquanto os nossos repousam descuidados no sof� – agora, pelo menos, grande parte do mundo est� assim, sedent�rio por sua causa. Agrade�o por fim por n�o nos oferecer tantas escolhas para 2021: desejo apenas que todos permane�am vivos e que recebam duas doses da aben�oada vacina. 


Dar adeus a 2020 � dar adeus a quase 200 mil mortos. � dar adeus a milh�es de empregos.  � dar adeus a milh�es de sonhos. � dar adeus � possibilidade de criar uma sociedade mais justa e igualit�ria. Enfim, � dar adeus �s ilus�es. Que venha, ent�o, 2021, quem sabe poderemos reconstruir algo a partir dos escombros de 2020...

>> Luiz Ruffato

Sob o signo da morte, e de um Estado que � o seu maior aliado, 2020 est� a� para nos lembrar de que pertencemos � mesma humanidade e ao mesmo planeta. O confinamento permitiu ver que se o individualismo crescente prometia mais soberania, ao contr�rio, ele revelou que o inferno � viver sem os outros. Donde a import�ncia de cada um de n�s se apropriar desta dolorosa experi�ncia e, com lucidez, enfrentar o desafio de pensar a humanidade mais solid�ria. 

Apesar das perdas e danos, a tormenta que atravessamos � a prova de que a desconfian�a na democracia n�o venceu. E a descida ao abismo vai revelar energia para lutar contra polariza��es e em favor do coletivo. Energia para enfrentar a crise social e econ�mica que j� germina e cujos efeitos est�o em suspens�o. Energia para encarar a crise moral que envenena a vida pol�tica com desdobramentos na vida social.

Contra o momento de medo e desconfian�a que vivemos em 2020, fa�amos votos para que em 2021 recuperemos a confian�a. Na etimologia, o verbo com-fiar remete a abandonar-se de boa-f�. A origem sublinha os la�os entre confian�a, esperan�a e cren�a. Sem ela, � dif�cil pensar a exist�ncia das rela��es humanas – as de trabalho, as de amizade ou as amorosas. Sem confian�a � dif�cil construir um futuro ou um projeto que cres�a com o tempo. Sem ela, a democracia n�o funciona, Sem seguir promessas demag�gicas ou posturas carism�ticas, vamos recuperar a confian�a que nos fa�a acreditar em nossos pr�prios valores para construir um pa�s mais justo, mais tolerante e solid�rio.

>> Mary Del Priore

Ol�, 2020,
Fugindo, hein? Pensa que est� autorizado a sair escondido, sem se despedir? N�o est�. Quero explica��es, olho no olho. Lembra-se de sua chegada, seus primeiros minutos de vida?

As pessoas acreditaram que tudo seria diferente. Seriam felizes, realizariam muitos de seus sonhos, viajariam. Gastaram fogos de artif�cio. Iemanj�, coitada, levou meses jogando flores murchas de volta para as ondas.

Tamb�m fiz planos: tomar ch� com as amigas aos s�bados, pintar o cabelo, aprender a nadar, fazer pl�stica. Olha a� o que voc� fez! Nada deu certo. E agora quer fugir. Ai, ai, ai.
Mas, j� que quer ir, v�. Adeus. N�o lhe quero mal. Mentira, quero sim. J� vai tarde. E recomende a 2021 que seja menos penoso, traga vacina e sa�de para a humanidade. Que traga um verdadeiro e pr�spero recome�o para o mundo.
Da sobrevivente,

>> Cidinha Ribeiro

Caro 2020,
Enquanto seguro uma das al�as do seu caix�o, confesso que me sinto um impostor. Quem sou eu para ter a honra de te enterrar? N�o perdi meus pais, n�o fui intubado, n�o fiquei sem f�lego nem emprego, n�o fechei as portas da minha empresa, n�o deixei de estudar, n�o peguei �nibus lotado com medo de encostar no passageiro ao lado, n�o me faltou �gua e sab�o para limpar as compras, n�o me faltou dinheiro para a compras.

No meu dia-a-dia, n�o convivi com ningu�m que achincalhou a ci�ncia, que conspirou contra a vacina, que esgoelou contra as m�scaras, que sabotou o isolamentou ou promoveu festas clandestinas. N�o tive que ler mensagens alucinadas no zap, defendendo po��es milagrosas ou me alertando que a pandemia n�o passa de uma imensa conspira��o chinesa, mundial ou at�, quem sabe, interplanet�ria.

Enquanto te arrastamos lentamente rumo ao breu da hist�ria, percebo que sofri menos que a maioria das pessoas. Isso n�o diminui, por�m, meu al�vio em ver tua cova aberta. Adeus!

>> Leo Cunha

Que se v� com esse governo espantosamente med�ocre e doloridamente genocida. Bom foi no in�cio da pandemia, em dia sem tr�nsito e sem f�bricas, eu ter contemplado o c�u mais claro e transparente desta cidade (S�o Paulo) em meus 84 anos de vida. E tamb�m ter achado uma foto autografada e deslumbrante de Kim Novak,  que entrevistei em 1960.

>> Ign�cio de Loyola Brand�o

Que n�o seja apenas uma virada de ano, mas uma guinada, uma metamorfose, uma transforma��o, uma revolu��o em nosso comportamento.

Que possamos sair da indiferen�a e do ego�smo em dire��o � compaix�o e � generosidade.

Que todos os abra�os n�o dados sejam devolvidos com corre��o.

Que todos os anivers�rios n�o comemorados sejam soprados em dobro.

E, de tanto evitar o contato, enfim, que tenhamos aprendido a nunca mais adiar o amor.

>> Carpinejar



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