
Geizon Carlos da Cruz Fernandes (nome de batismo) conseguiu levar seu flow – a maneira como a letra se encaixa � batida, que o fez ser apontado como um dos mais promissores de sua gera��o – para al�m da periferia e das batalhas de rimas de que participava em Campo Grande, Bangu e S�o Gon�alo. E, atualmente, usa o aprendizado do trato di�rio com o p�blico (al�m de filmes e gibis que devorava na adolesc�ncia) a servi�o da m�sica.
O mais recente �lbum do rapper, Zod�aco (Bagua Records), traz 12 m�sicas, uma para cada signo. O rapper j� havia feito algo parecido em seu primeiro trabalho, Pecado capital, de 2018, quando dedicou um rap para cada desvirtude humana (segundo a vis�o da Igreja Cat�lica). No seguinte, O iluminado, de 2019, escreveu can��es inspiradas em filmes como American pie, Matrix, Central do Brasil e ao estrelado pelo ator Jack Nicholson, que d� nome ao disco.
"Os discos anteriores olhavam para fora. Este � para dentro. Quis fazer algo mais particular, para chegar a cada pessoa. J� tinha essa ideia h� cerca de um ano. Com a quarentena, presos em casa, me observei, observei os outros, e percebi que a gente ficou carente pra caramba. O ser humano sempre olhou para o c�u e buscou explica��o por meio das estrelas, dos astros, da Lua, do Sol. Senti-me mais completo me dedicando ao tema", justifica, sobre a escolha da vez.
Contou com a ajuda de uma astr�loga, que lhe ensinou as caracter�sticas de cada signo e o que significavam os elementos �gua, terra, fogo e ar no zod�aco, al�m de fazer um mapa astral. "Sou de escorpi�o, com ascendente em g�meos e lua em escorpi�o", diz. Assim, construiu as letras e as melodias que trazem, al�m do rap, influ�ncias do pop, do rock, do funk, do pagode – de acordo com o que o signo indica e os elementos naturais que eles representam. Os versos falam de amor e, por vezes, s�o carregados de sensualidade. O que ele descreve como "viscerais tempestades em copo de �gua".
"Quando trabalhava na rua, vendia doce, bala, amendoim. Hoje, meu produto � a minha arte. Fa�o tudo voltado para a linguagem popular brasileira, o que o povo fala nas ruas. O importante � me comunicar com todos, com todas as classes sociais. Minhas m�sicas, no geral, s�o 'eu e voc�', independentemente do sexo do ouvinte. Isso � a verdadeira MPB, a m�sica popular brasileira que toca nas ruas. Roberto Carlos sabe disso h� muito tempo."
BATIDA PESADA
Touro, por exemplo, que � terra, traz uma batida mais pesada – aborda a teimosia e a sensualidade dos taurinos – com uma pegada roqueira. A faixa Le�o traz a participa��o da sertaneja Mar�lia Mendon�a e versa sobre a autoconfian�a que marca o signo. "Se eu subo nesse palco aqui, foi Deus que me criou assim", diz um trecho da letra. O clipe da can��o j� passa de 6,5 milh�es de visualiza��es no YouTube.
A cantora baiana Agnes Nunes, de 18 anos, ligada ao universo da MPB – elogiada por Caetano Veloso, Elza Soares e Seu Jorge –, � a convidada de Escorpi�o, visto mais de 7,5 milh�es de vezes. Lu�sa Sonza � a parceira de C�ncer, e a cantora drag Gloria Groove, de Capric�rnio. "Todas elas me transformaram em um artista melhor. At� na maneira de cantar, como me comportar com as notas, pois esse �lbum � menos rap e tem mais notas”.
Um p� no palco vip, outro na rua
Em um m�s, o �lbum j� foi ouvido 70 milh�es de vezes nas plataformas digitais, onde foi lan�ado. Nas redes sociais, Xam� tamb�m tem destaque entre os rappers e sabe tirar proveito disso para obter o t�o desejado engajamento. Soma mais de 7 milh�es de seguidores entre Twitter e Instagram e costuma escolher muito bem fotos e frases que posta. Recentemente, recomendou que jovens escutassem Legi�o Urbana. Em outra postagem, de uma foto na praia, provocou: "Sou eu bola de fogo".
Em 2019, subiu ao Palco Favela no Rock in Rio e, no come�o de 2020, fez shows nos Estados Unidos. Passou tamb�m por pa�ses como Portugal, Fran�a e Holanda. Com a fama e a mudan�a de Sepetiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde nasceu, para a Barra da Tijuca, o afastamento do underground parece ser algo inevit�vel – mas Xam� luta para que isso n�o ocorra. Diz que faz quest�o de conversar com os ex-colegas camel�s. � com eles que fica sabendo das g�rias do momento, algo fundamental para o seu trabalho.
"H� uma lenda no rap de que, ao se tornar pop, o artista perde sua ess�ncia. Mas tenho um grupo bem sujo, o Furamil 2C�o, com uma galera. A gente vai na rua mesmo. Estou sempre na rua, jogo bola. N�o quero perder a ess�ncia. Vou � periferia e ao Copacabana Palace. Isso ajuda a derrubar preconceitos. Rap n�o � s� coisa de pobre e m�sica cl�ssica n�o � s� para ricos", diz.
H� cerca de tr�s anos, em uma entrevista, Xam� disse que seu sonho era que as pessoas ouvissem sua m�sica. E agora, que elas ouvem, qual seria o pr�ximo desejo? "Confesso que estou meio perdido. Sabe aquela hist�ria do cachorro que quer muito a bola e, quando consegue, n�o sabe o que fazer com ela? Eu queria que fosse algo grande (o sucesso), mas foi muito maior". Quem sabe os astros lhe guiem.

ZOD�ACO
.De Xam�
.13 faixas
.Dispon�vel nas plataformas digitais