Lan�ada no Natal de 2020, a s�rie Bridgerton se tornou o maior sucesso da hist�ria da Netflix, de acordo com a plataforma, impulsionando de volta �s listas de mais vendidos o livro no qual se baseia (foto: Liam Daniel/Divulga��o)
Embora tenha sido lan�ado no Brasil em 2019 e, um ano antes, em Portugal, o romance Torto arado (Todavia), do escritor baiano Itamar Vieira Junior, vencedor dos pr�mios Jabuti e Oceanos, alcan�ou neste m�s o topo da lista dos mais vendidos da Amazon. No ranking da Estante Virtual, liderou em dezembro passado e ficou em terceiro lugar em janeiro.
Entre os livros mais vendidos neste in�cio de 2021 tamb�m est� O duque e eu (editora Arqueiro), o mais vendido de janeiro na categoria fic��o, segundo o Publishnews. Na classifica��o feita pela revista Veja, figura atualmente em segundo, depois de liderar at� a semana passada.
O romance de Julia Quinn foi lan�ado h� mais de 20 anos, em 2000, dando in�cio a uma s�rie da escritora norte-americana. Para entender o sucesso extempor�neo, basta fechar o livro e ligar a TV. Em dezembro passado, a Netflix lan�ou a primeira temporada de Bridgerton, s�rie baseada na obra de Quinn. De acordo com a plataforma, a produ��o � a mais vista de sua hist�ria.
Em quase um ano de pandemia da COVID-19, declarada pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) em mar�o de 2020, a ind�stria cultural lida com os efeitos da desorganiza��o de suas estruturas. Espet�culos musicais e teatrais foram suspensos em todo o mundo, produ��es cinematogr�ficas canceladas, lan�amentos adiados e filmagens e grava��es impossibilitadas.
Contudo, como demonstram os exemplos acima, o per�odo ca�tico para a vasta maioria do setor foi de grande sucesso para alguns poucos, com produtos que se viabilizaram nos meses de isolamento e conquistaram o p�blico em suas casas.
Os servi�os de streaming foram os grandes beneficiados do per�odo, que inclui longas quarentenas. Somente nos EUA, as principais plataformas de v�deo sob demanda tiveram um aumento estimado de 50% no n�mero de assinantes em rela��o a 2019, segundo o The Wall Street Journal.
REALEZA
Para a Netflix, o grande expoente disso foi a primeira temporada de Bridgerton, que em um m�s foi vista por 82 milh�es de assinantes em todo o mundo. Com oito epis�dios, a trama que acompanha a vida de fam�lias da realeza e da alta sociedade inglesa no in�cio dos anos 1800 se tornou a produ��o assistida pelo maior n�mero de contas diferentes no servi�o. Vale lembrar que essa estat�stica contabiliza a partir de dois minutos de visualilza��o.
Entre as raz�es que justificam o alto interesse, especialistas citam figurino e ambienta��o de �poca caprichadas, al�m de uma trama picante que abra�a a representatividade racial.
"A popularidade de Bridgerton desde seu lan�amento na Netflix n�o me surpreende. As pessoas adoram programas cheios de drama, esc�ndalos e gente bonita", escreveu Carolyn Hinds, escritora e membro da Associa��o de Cr�ticos do Cinema Afro-Americano (AAFCA).
Al�m desses elementos, a s�rie teve a sorte de estrear no lugar certo e na hora certa, dadas as condi��es da pandemia.
"O lan�amento, no dia de Natal, ocorreu em um momento perfeito, em meio a um per�odo de ansiedade generalizada”, avaliou Hugh Montgomery, da BBC Culture. Afinal, aponta o cr�tico, esse � o “tipo de s�rie de televis�o para esse momento pelo qual estamos passando. As pessoas procuram coisas que sejam reconfortantes, agrad�veis e n�o muito pesadas, que n�o sejam intelectual ou emocionalmente profundas".
Com a nova vers�o de seu hit em homenagem ao Instituto Butantan e � vacina contra a COVID-19, MC Fioti voltou a viralizar (foto: Suburbano/divulga��o)
ESCRAVID�O
Se Bridgerton conquistou por essa oportuna amenidade, Torto arado, por sua vez, conquista por falar com brilhantismo sobre as graves cicatrizes deixadas pela escravid�o no Brasil em uma hist�ria ambientada no sert�o baiano.
Em outubro passado, o editor Leandro Sarmatz, da Todavia, observou, em entrevista ao Estado de Minas, que “o livro tem se beneficiado do boca a boca, ainda hoje a melhor forma de ver um livro crescer e chegar aos leitores”.
Sarmatz ainda destacou que “o livro tamb�m se beneficia desse nosso importante momento social e cultural de valoriza��o de outras vozes, n�o hegem�nicas, da nossa sociedade e hist�ria. Os quilombolas, os adeptos das religi�es afro, as vozes rurais (mas dos trabalhadores do campo, n�o dos donos da terra). Essa outra hist�ria brasileira que ainda precisa ser contada, estudada, lembrada”.
Entre os muitos leitores e leitoras que t�m recomendado o livro nas redes sociais est� a antrop�loga, historiadora, professora da USP e de Princeton Lilia Schwarcz. Em 27 de janeiro �ltimo, ela compartilhou no Instagram uma foto da capa de Torto arado, dizendo ter conclu�do a leitura.
Com Hollywood tremendamente impactada pela pandemia, a China assumiu a lideran�a do mercado cinematogr�fico, com filmes como The eight hundred, maior bilheteria de 2020 (foto: Huay Brothers/divulga��o)
“Fiquem de olho na maneira como ele troca a narra��o e nos permite acompanhar a hist�ria a partir de �ngulos diferentes. Fiquem de olho na complexidade e na simplicidade sincera dos personagens. Fiquem de olho em como o autor mostra de que maneira a escravid�o � tema do passado e do presente tamb�m. Por fim, n�o deixem de ficar de olho na constru��o dos personagens, que n�o s�o nunca v�timas: reagem e agenciam sempre”, escreveu.
Schwarcz ainda fez um alerta: “Escolham bem o momento em que v�o come�ar a ler o livro. Da� por diante, � imposs�vel parar. Eu virei at� uma pessoa antissocial. Valia tudo para n�o interromper a leitura: indisposi��o cansa�o ... Enfim, leiam j�!”.
Al�m de livros e s�ries, a pandemia consagrou outros produtos culturais feitos para consumo dom�stico. Mesmo que muitos artistas da m�sica tenham enfrentado, al�m do cancelamento de suas turn�s, a impossibilidade de gravar num est�dio, Taylor Swift conseguiu superar as dificuldades, lan�ar dois discos e bater recordes de vendas.
Na segunda quinzena de julho do ano passado, a cantora norte-americana lan�ou Folklore, o oitavo �lbum de sua carreira, que fechou 2020 como o mais vendido do ano nos EUA.
S� nas primeiras 24 horas, foram 1,3 milh�o de vendas (entre f�sicas e digitais), al�m de outros recordes de transmiss�es no servi�os de streaming em um s� dia. O disco tamb�m fez de Taylor Swift a mulher com maior n�mero de semanas no topo da parada de sucessos Billboard 2020: 47 no total, n�o consecutivas, ultrapassando Whitney Houston.
A estrela, que completou 31 anos em 2020, n�o parou por a�. Em dezembro, lan�ou outro disco, Evermore, que n�o teve os recordes de Folklore, mas rompeu a barreira de 1 milh�o de c�pias vendidas na primeira semana.
No Brasil, os principais artistas da m�sica pop nacional encontraram, logo nos primeiros meses de isolamento, uma alternativa para suprir a impossibilidade de shows presenciais. As lives experimentaram uma fase de grande popularidade no primeiro semestre de 2020.
A cantora sertaneja Mar�lia Mendon�a soube aproveitar o momento e, em 8 de abril, teve a audi�ncia simult�nea de 3,3 milh�es de pessoas, tornando- se o v�deo ao vivo mais visto da hist�ria do YouTube. O recorde vigente era de alguns dias antes, da dupla Jorge & Mateus.
No m�s passado, outro artista brasileiro viveu dias gloriosos durante a pandemia. O cantor de funk Mc Fioti viu as buscas por sua principal m�sica, Bum bum tam tam, crescerem 284% no Spotify, segundo dados divulgados pelo servi�o de streaming musical.
Tudo gra�as � vacina CoronaVac, fabricada no Brasil pelo Instituto Butantan, que tem parentesco sonoro com o funk de Fioti. A vers�o original, que � inspirada em um tema de Bach, na �poca de seu lan�amento chegou a fazer sucesso at� fora do Brasil, depois que ganhou clipe com participa��o dos astros Future, J Balvin, Stefflon Don e Juan Mag�n.
Em 2018, o v�deo bateu a marca de 1 bilh�o de visualiza��es. Com o resgate do sucesso, em janeiro de 2020 ele gravou um novo clipe, no Instituto Butantan, com uma letra adaptada ao tema da vacina.
CINEMA
Premiado em 2019, o romance Torto arado se tornou uma sensa��o e foi parar no topo da lista dos mais vendidos neste m�s (foto: Todavia/divulga��o)
Setor cultural acostumado com grandes n�meros e grandes cifras a cada ano, o cinema vem enfrentando tempos dif�ceis desde que a pandemia come�ou. O fechamento das salas por longos per�odos em muitas partes do mundo fez com que boa parte das produ��es aguardadas fossem sucessivamente adiadas para quando a situa��o estiver mais favor�vel.
Em Hollywood, os est�dios Warner usaram a fic��o Tenet, de Christopher Nolan, como protagonista da reabertura dos cinemas em muitos pa�ses. Lan�ado em agosto no hemisf�rio norte, e em outubro no Brasil, o longa se tornou o filme norte-americano de maior bilheteria durante a pandemia, superando at� mesmo Mulher-Maravilha: 1984, que ainda est� em cartaz em muitos pa�ses, inclusive no Brasil.
Contudo, gra�as a um controle mais eficiente da pandemia em rela��o ao Ocidente, entre outros fatores, o cinema chin�s foi o grande destaque do per�odo, fechando 2020 � frente dos EUA em arrecada��o.
A maior bilheteria do planeta em 2020 foi do �pico de guerra The eight hundred, de Guan Hu, que n�o foi exibido por aqui.
Neste ano, o cen�rio segue parecido, e as tr�s maiores bilheterias do mundo at� aqui s�o do indiano Master, seguido pelo russo The last warrior: Root of evil e pelo chin�s Big red envelope.