
Durante a live que o Foo Fighters realizou em novembro do ano passado, Dave Grohl se perguntou como 2020 poderia ter sido, n�o fosse a pandemia do novo coronav�rus. ''Ia ser o melhor ano de todos! N�s t�nhamos muitos planos'', afirmou. A banda norte-americana planejava comemorar seu 25º anivers�rio com uma turn� mundial, um festival no qual assinaria a curadoria e o lan�amento de seu 10º �lbum de est�dio.
Enquanto as turn�s de grande porte n�o podem acontecer por sua natureza naturalmente aglomerativa, a banda volta os esfor�os para a divulga��o do disco Medicine at midnight, lan�ado na �ltima sexta-feira (5/2). Descrito por Grohl como um ''�lbum festivo de s�bado � noite'', o trabalho reafirma a posi��o da banda na linha de frente do rock norte-americano.
Nas nove faixas distribu�das ao longo de 36 minutos, o trabalho se mostra surpreendentemente acess�vel e descomplicado. Making a fire, por exemplo, conta com um coro de ''na na na'', enquanto Holding poison traz os inconfund�veis riffs de guitarra que al�aram a banda ao posto de salva��o do rock.
FASES
Como um bom disco comemorativo, Medicine at midnight emula outras fases da banda, como em Waiting on a war, que faz uma ponte com o primeiro disco do grupo, intitulado Foo Fighters e lan�ado em 1995. Mas tamb�m aponta para o futuro, caso da m�sica-t�tulo, cuja abordagem cheia de altos e baixos aproxima a banda de Dave Grohl de outros grupos mais radiof�nicos.
Isso talvez se deva � ajuda do produtor Greg Kurstin, famoso por tirar os artistas da zona de conforto. Ela acumula trabalhos com Adele, Sia, Beck e Liam Gallagher.
At� quando a banda se volta para uma levada lenta, como na balada Chasing birds, h� uma polidez incomum ao rock and roll de arena que Dave Grohl tanto gosta de dizer que ''n�o morreu''.
Ainda assim, outros momentos do disco provam que a banda n�o abandonou essa abordagem por completo, apenas deixou as m�sicas mais aceleradas e divertidas.
Gravado antes da pandemia, Medicine at midnight � um disco pensado para as apote�ticas apresenta��es ao vivo do Foo Fighters. E quando shows para grandes p�blicos voltarem a ser seguros, as m�sicas presentes nele certamente v�o animar os est�dios por onde a banda passar.

Medicine at midnight
.De Foo Fighters
.RCA Records
.Dispon�vel nas plataformas digitais
Sensa��o aos 20 anos, Arlo Parks � a voz de uma gera��o (sem querer)
Assim que lan�ou o single de estreia Cola, em 2018, a cantora e compositora brit�nica Arlo Parks, de 20 anos, ganhou a aprova��o de uma s�rie de formadores de opini�o. Michelle Obama incluiu a m�sica em uma playlist; Hayley Williams escalou a artista para abrir sua turn�; e Phoebe Bridgers a convidou para gravar um cover de Fake plastic trees, da banda Radiohead.
Assim como outros artistas t�o jovens quanto ela, Arlo aproveitou ao m�ximo a aten��o adquirida com o lan�amento. Poucos meses depois, j� em 2019, ela lan�ou os EPs Super sad generation, composto por quatro faixas, e Sophie, formado por cinco. A pandemia do novo coronav�rus colocou um freio na vertiginosa carreira da jovem. Agora, ela acaba de lan�ar seu primeiro disco, Collapsed in sunbeams (2021).
Com 12 faixas que contam hist�rias e conflitos �ntimos e exp�em fraquezas, desejos e traumas, o disco ratifica o talento de Arlo Parks. Como a contempor�nea norte-americana Billie Eilish – outra f� declarada da brit�nica –, Arlo Parks � franca e aborda assuntos como a sa�de mental e sua bissexualidade.
Considerando que 50% do �lbum n�o � novidade para o p�blico que acompanha a carreira da cantora, o restante do trabalho carrega o peso de justific�-lo numa era em que EPs e singles s�o mais comuns, sobretudo no caso de uma artista t�o jovem.
Ainda assim, Hurt, Hope, Caroline, Black dog, Green eyes e Eugene – todas lan�adas como single – desempenharam o importante papel de pavimentar o caminho at� a chegada do trabalho completo. Dentro dele, elas est�o de acordo com as outras seis can��es, que tamb�m se inserem entre o pop rock e o soul.
�POCA DE OURO
Mas a sonoridade que Arlo Parks emula neste primeiro trabalho parece sair de uma �poca de ouro da m�sica brit�nica, na primeira d�cada dos anos 2000, quando artistas como Lily Allen, Amy Winehouse (1983-2011) e Adele despontaram.
Too good, por exemplo, carrega uma batida de reggae que se assemelha com a abordagem do disco Alright, still (2006), de Lily Allen. Hope parece ter sa�do do �timo Frank (2003), �lbum que traz uma Amy Winehouse serena e divertida. A influ�ncia de Adele, hoje uma estrela internacional, est� na forma como Arlo � sincera e usa a pr�pria vida como inspira��o.
Em Black dog, ela canta sobre quando se viu segurando a m�o de uma amiga durante um per�odo de depress�o e desesperan�a.
Apesar das in�meras refer�ncias musicais que demonstra ter, foi a poesia que primeiro capturou Arlo Parks. Quando adolescente, ela se viu obcecada pelo poema Howl, de Allen Ginsberg, e resolveu escrever o seu pr�prio trabalho. N�o demorou muito para que ela come�asse a inserir batidas sob os versos, movimento que repete na faixa que d� nome e abre o trabalho.
Em Collapsed in sunbeams, Arlo assume a perspectiva de quem pertence � gera��o Z e endere�a uma mensagem de conforto. ''Estamos todos aprendendo a confiar em nossos corpos, fazendo as pazes com nossas pr�prias distor��es/ Voc� n�o deveria ter medo de chorar na minha frente'', diz um dos versos.
Mas ela n�o se v� como a voz de uma gera��o. ''� a tentativa de contar minha hist�ria e, por acaso, tenho 20 anos'', disse � r�dio norte-americana NPR. Muitos dos artistas que ela admira atualmente se abrem sobre a pr�pria sa�de mental. ''Acho que as conversas est�o se abrindo e o fato de estar cada vez mais f�cil falar a verdade � muito reconfortante e positivo para mim.''
Para a cantora, abordar situa��es dif�ceis e revelar a verdade � t�o importante quanto trazer uma mensagem de esperan�a. ''Nada dura para sempre, seja dor, seja alegria. Acho que isso � apenas parte do que � ser humano'', diz ela.
Produzido por Gianluca Buccellati e gravado no confinamento entre Los Angeles e Londres, Collapsed in sunbeams abusa da atmosfera caseira e anuncia a chegada de uma artista cujo diferencial � a seguran�a em poder falar de si mesma, de uma perspectiva bastante particular – como outrora foi a neozelandesa Lorde.
Por tudo isso, n�o ser� uma surpresa se o �lbum de estreia de Arlo Parks for considerado um dos melhores de 2021. A �nica pessoa que provavelmente ir� se espantar com isso � a pr�pria artista, que mant�m os dois p�s bem fincados na realidade.
Collapsed in sunbeams
.De Arlo Parks
.Transgressive
.Dispon�vel nas plataformas digitais
Hayley Williams espanta a dor do div�rcio em seu segundo disco

Na �ltima sexta-feira (5/2), Hayley Williams, do Paramore, pegou os f�s de surpresa ao lan�ar seu segundo �lbum solo. Intitulado Flowers for vases / Descansos, o trabalho sucede ao disco de estreia da cantora e compositora norte-americana, Petals for armor, lan�ado em maio de 2020.
Assim como o antecessor, o novo �lbum traz letras autobiogr�ficas e reveladoras, ainda que assumindo um tom mais sombrio. Inspirada pela produ��o do disco Folklore (2020), de Taylor Swift, Hayley comp�s, cantou e produziu todo o trabalho.
As 14 can��es que comp�em o disco nasceram ap�s o div�rcio entre Hayley e o cantor Chad Gilbert, da banda New Found Glory. Nesse contexto, elas falam sobre luto e perda. Ali�s, a palavra em espanhol “descansos”, presente no t�tulo, � o nome que se d� �s cruzes que s�o colocadas na beira de estrada para marcar locais onde ocorreram acidentes fatais.
Em comunicado, a cantora explicou que o disco n�o deve ser pensado como uma sequ�ncia de Petals for armor. Segundo ela, ele representa uma esp�cie de “pr�logo”, o que explica as faixas marcadas por temas ac�sticos e arranjos delicados.
Em m�sicas como Over those hills, First thing to go e No use I just do, Hayley se baseia nas pr�prias emo��es para compor os versos, o que estreita a rela��o com o p�blico e sintetiza algo que ela vem buscando desde o disco anterior. My limb, �nica m�sica mostrada antes do lan�amento, � um dos destaques e norteia um trabalho que se aproxima do in�cio da carreira do Paramore.
LIBERA��O
“O significado do �lbum como um todo talvez seja totalmente diferente quando voc� mergulha em cada m�sica. Para mim, n�o h� melhor maneira de abordar esses assuntos individuais do que de forma hol�stica. O modo como me foi dado tempo (for�adamente, na verdade) para pensar em certas dores foi suficiente para entender que, de fato, elas precisam ser liberadas definitivamente'', comentou ela.
Na nota, Hayley Williams aproveitou para esclarecer que o Paramore continua. O lan�amento, no entanto, pode significar que o hiato da banda ser� estendido. O �ltimo trabalho divulgado pelo grupo foi After laughter, em 2017.
Flowers for vases / descansos
.De Hayley Williams
.Atlantic Records
.Dispon�vel nas plataformas digitais