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Estado de Minas LITERATURA

Livro revela em detalhes como Churchill combateu Hitler com as palavras

Em O espl�ndido e o vil, jornalista norte-americano Erik Larson como o ent�o primeiro-ministro brit�nico usou seus discursos contra o nazismo


16/02/2021 04:00

Escritor e jornalista norte-americano, Erik Larson se debruçou sobre diários, cartas e discursos para escrever sobre a ascensão de Winston Churchill e a entrada dos EUA na guerra contra o nazismo(foto: Benjamin Benschneider/divulgaçãO)
Escritor e jornalista norte-americano, Erik Larson se debru�ou sobre di�rios, cartas e discursos para escrever sobre a ascens�o de Winston Churchill e a entrada dos EUA na guerra contra o nazismo (foto: Benjamin Benschneider/divulga��O)

 
Quando Winston Churchill assumiu o cargo de primeiro-ministro brit�nico, em maio de 1940, a situa��o da Segunda Guerra Mundial era delicada: a Alemanha havia invadido a Noruega, a B�lgica, a Holanda e Luxemburgo, e se preparava para ocupar a Fran�a. O bombardeio a�reo que devastou Roterd� em 14 de maio daquele ano levou � rendi��o dos Pa�ses Baixos e soava como um prel�dio do que a for�a a�rea alem� pretendia fazer na Inglaterra. Nessa "atmosfera de medo real" – conforme escreveu em seu di�rio o secret�rio Harold Nicolson, do Minist�rio da Informa��o –, Churchill ascendeu ao poder e teve de usar a principal arma � sua disposi��o para se defender do arsenal de Hitler: a palavra.
 
� o que descreve em detalhes o livro O espl�ndido e o vil, do jornalista norte-americano Erik Larson. O autor se debru�ou sobre di�rios, cartas, discursos e pap�is avulsos para narrar o per�odo de um ano e meio entre a ascens�o de Churchill e a entrada dos Estados Unidos na guerra, em dezembro de 1941, ponto de virada do conflito. Boa parte da narrativa compreende a blitz a�rea da Alemanha contra o Reino Unido, que levou a mais de 44 mil mortes de civis. Enquanto isso, Hitler pressionava Churchill a assinar um acordo de paz, o que parecia a muitos a �nica alternativa restante sem o apoio dos EUA.
 

"Ele (Churchill) come�ava fornecendo avalia��es s�brias dos eventos, mas ent�o seguia com causas reais para o otimismo... ele n�o deu coragem � Inglaterra; ele ajudou as pessoas a encontrar sua pr�pria coragem"

 
 
Considerar �bvia a irredutibilidade moral de Churchill, que se negava a barganhar com o nazismo, n�o passa de anacronismo. Larson mostra n�o apenas que ele era criticado por n�o negociar, mas que praticamente ningu�m concebia a ideia de que Hitler poderia ser vencido. Essa era a principal raz�o pela qual os EUA se limitavam a observar a dist�ncia. Em maio de 1940, 93% dos americanos se opunham � entrada do pa�s na guerra e o presidente Franklin Roosevelt, que queria se reeleger, prometeu n�o se envolver.
 
A convic��o da iminente vit�ria alem� era tamanha que o secret�rio Nicolson chegou a fazer um pacto com sua mulher, a escritora Vita Sackville-West, de que cometeriam suic�dio para evitar serem capturados pelos alem�es. O pr�prio Churchill carregava uma c�psula de cianeto na tampa de sua caneta-tinteiro. Nesse contexto, seus discursos eram a �nica arma para motivar os ingleses, desmoralizar os alem�es e convencer os americanos a colaborar com o que Churchill chamava de "a boa causa".
 
Do memor�vel "n�o tenho nada a oferecer sen�o sangue, trabalho, l�grimas e suor" ao inquietante "se a hist�ria antiga desta nossa ilha deve acabar enfim, que s� acabe quando cada um de n�s estiver no ch�o, afogando-nos no sangue deles", Larson transcreve trechos inteiros de discursos de Churchill. Para cada ataque alem�o, havia uma bomba equivalente do arsenal de palavras do primeiro-ministro. � �poca, ele j� era reconhecido como um brilhante orador, e n�o � por acaso que, em 1953, foi galardoado com o Pr�mio Nobel de Literatura "por sua maestria na descri��o hist�rica e biogr�fica, assim como sua brilhante orat�ria na defesa dos valores humanos".
 

"Seus pronunciamentos eram t�o poderosos e t�o belamente escritos, ou melhor, ditados. O que � realmente miraculoso sobre Churchill era sua habilidade de compor discursos intrincados e detalhados na correria, ditando, tipicamente enquanto andava ao redor de uma sala com um charuto na boca"

 
 
O espl�ndido e o vil evidencia como esses pronunciamentos foram capazes de alterar aos poucos a opini�o p�blica e, com isso, os rumos da hist�ria. Se o atentado japon�s na base naval de Pearl Harbor, entre as ondas do Hava�, foi a gota d’�gua que restava para a entrada dos EUA na guerra, o resto do copo havia sido preenchido pelas explosivas palavras transmitidas por Churchill pelas ondas do r�dio. Larson respondeu �s seguintes perguntas por e-mail.
 
 
 
Em que medida os discursos de Churchill influenciaram os eventos da guerra?

Para mim, o livro � uma hist�ria pessoal sobre como Churchill, sua fam�lia e seus conselheiros mais pr�ximos conseguiram resistir � primeira e mais relevante blitz a�rea alem�. Eu quis usar essa experi�ncia para capturar a hist�ria maior de como a Inglaterra como um todo sobreviveu a isso. E a� os discursos de Churchill foram vitais. Ele come�ava fornecendo avalia��es s�brias dos eventos, mas ent�o seguia com causas reais para o otimismo e, invariavelmente, encerrava com virtuosos floreios que elevavam o moral das pessoas e faziam todos se sentirem no mesmo barco. Como ele pr�prio disse, ele n�o deu coragem � Inglaterra; ele ajudou as pessoas a encontrar sua pr�pria coragem.

Guerras s�o lutadas com armas, mas � poss�vel dizer que Churchill usou suas habilidades orat�rias para contra-atacar bombas com palavras?

Isso se deu porque seus pronunciamentos eram t�o poderosos e t�o belamente escritos, ou melhor, ditados. O que � realmente miraculoso sobre Churchill era sua habilidade de compor discursos intrincados e detalhados na correria, ditando, tipicamente, enquanto andava ao redor de uma sala com um charuto na boca. Ajudava o fato de ele ser um escritor prol�fico e um �vido leitor, e ter uma grande no��o da hist�ria inglesa e mundial. Isso era importante, pois lhe dava uma perspectiva ampla sobre o que estava se passando. Ele entendia que o Imp�rio Brit�nico havia existido por um per�odo de tempo muito grande e duraria muito tempo ainda. Seu truque era persuadir o p�blico – uma tarefa na qual ele foi muito bem-sucedido.

A hist�ria n�o admite "se", mas voc� consegue imaginar como a guerra poderia ter sido sem essas habilidades singulares de Churchill?

Tento evitar especular sobre a hist�ria! Dito isso, eu acho prov�vel que outro algu�m teria desempenhado esse papel caso Churchill n�o tivesse existido. Mas eu n�o posso imaginar algu�m fazendo isso com tanta cor, humor, brio – e �lcool!

Que li��es sobre lideran�a Churchill oferece aos governantes lidando com a crise da pandemia de COVID-19?

Creio que o livro seja �til ao mostrar como um verdadeiro l�der pode ajudar a popula��o a resistir ao trauma prolongado. Uma grande parte disso foi a habilidade de Churchill de expressar compaix�o e empatia, de modo que as pessoas sentiam que ele compartilhava de seus medos e sofrimentos. Isso � vital. Ele tamb�m falava ao p�blico com franqueza, porque ele entendia que as pessoas sabiam qu�o s�ria era a situa��o. Dizer o contr�rio provocaria uma disson�ncia entre essa fantasia e a realidade objetiva que teria erodido o moral das pessoas. Em contraste, n�s tivemos Trump, que nunca ofereceu compaix�o ou empatia, preferindo negar a severidade e at� a exist�ncia da pandemia, e de alguma forma conseguindo tornar at� o simples ato de usar uma m�scara um gesto pol�tico divisor – com resultados infelizes, por�m previs�veis.

Como foi o processo de pesquisa e por que voc� escolheu enfatizar e citar trechos de di�rios, cartas, telegramas e recados pessoais para recriar a atmosfera daqueles dias?

Para escrever o tipo de hist�ria que eu gosto de contar, preciso de todas essas coisas. Elas oferecem os vislumbres mais precisos e v�vidos sobre como a vida realmente era vivida. E tamb�m servem como ferramenta narrativa para levar a hist�ria adiante. Alguns bons telegramas direto ao ponto ajudam a acelerar o ritmo. Sobre o porqu� de citar certos documentos: sigo meus instintos. Se um di�rio parece particularmente v�vido e cheio de insights, vou cit�-lo. Por exemplo, o di�rio de Mary Churchill. Para mim, o di�rio faz todo o livro ao oferecer uma ideia t�o rica de como os Churchills realmente resistiram �quele per�odo. Ela foi uma mulher t�o inteligente e articulada, seu di�rio n�o apenas nos d� vislumbres das grandes quest�es da guerra e da pol�tica, mas tamb�m sobre a vida de uma garota de 17 anos durante essa �poca. Ela foi perspicaz ao sentir o peso da guerra e teve compaix�o pelos que mais sofreram, mas tamb�m queria se divertir! E ela o fez bastante. O que nos lembra que, mesmo nos piores tempos, ainda � poss�vel ter experi�ncias alegres.

Sem di�rios e correspond�ncia impressa, ser� mais dif�cil documentar os nossos dias desse jeito intimista que voc� retratou aquela �poca?

� dif�cil dizer. Certamente, as pessoas n�o escrevem mais o tipo de cartas que costumavam e esse era um recurso poderoso para compreender o passado. Mas n�s temos tu�tes, postagens no Facebook e em blogs, podcasts em abund�ncia e uma pilha inacab�vel de fotografias de tudo – especialmente de gatos. Na verdade, sinto que tu�tes poderiam ser particularmente preciosos para os futuros historiadores. De certa forma, s�o os telegramas de hoje. � interessante que os arquivos nacionais dos EUA agora armazenem grandes quantidades de tu�tes, o que � particularmente importante para este momento. Ningu�m que tentar, no futuro, escrever sobre a era Trump ser� capaz de faz�-lo sem antes se debru�ar sobre milhares e milhares de seus tu�tes de sanidade question�vel. Suspeito que os futuros historiadores v�o l�-los e rir sobre o qu�o rid�culos e pat�ticos esses tu�tes eram. (Estad�o Conte�do) 
 

 
O ESPL�NDIDO E O VIL

De Erik Larson
Intr�nseca
324 p�ginas
R$ 69,90 (livro) e 
R$ 39,90 (e-book) 


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