
Abre o �lbum a can��o hom�nima, que contou com a participa��o especial do cantor e compositor carioca Paulinho Moska. Aproveitando a quarentena para compor, L� Borges convidou M�rcio para ambos lembrarem os velhos tempos. A parceria j� rendeu m�sicas inesquec�veis, como “Um girassol da cor do seu cabelo”, “Tudo que voc� podia ser”, “Trem de doido”, “Sempre viva” e ”Estrelas”, sem falar nos cl�ssicos “Clube da Esquina 2” (com a participa��o de Milton Nascimento), “Para Lennon e McCartney” (com Fernando Brant) e “Equatorial” (com Beto Guedes), entre tantas outras.
A �ltima vez em que L� comp�s com M�rcio foi para o �lbum “Horizonte vertical” (Deck, 2011). “Na verdade, fizemos somente duas m�sicas para esse disco, ‘Antes do sol’ e ‘Quem me chama’. Era um CD com parcerias diversificadas, com Nando Reis, Samuel Rosa, Patr�cia Ma�s e Ronaldo Bastos, al�m do pr�prio Marcinho. Ent�o, n�o compunha com ele desde 2011. Ele � meu parceiro principal, majorit�rio. Das minhas 200 m�sicas, creio que pelo menos umas 130 foram feitas com ele. Somos uma parceria que sempre deu certo, pois temos uma sintonia muito boa.”
Esse � o terceiro �lbum de in�ditas de L� em um per�odo de tr�s anos. “� muito louco esse neg�cio de lan�ar um disco com m�sicas in�ditas todo ano. � sinal de que a f�brica est� funcionando bem. N�o consigo parar de compor. Certa vez, fiquei sem compor por quase um ano e, quando voltei, tive uma grande dificuldade, portanto, a partir daquela data, decidi que n�o pararia jamais. E compor com o Marcinho � botar um p� cansado dentro de um chinelo velho. Ele � a coisa mais tranquila do mundo. Para se ter uma ideia, mando as m�sicas para ele pelo WhatsApp e ele me devolve j� com as letras. �s vezes demora uma semana, um m�s, � um processo muito tranquilo.”
Faca amolada
L� conta que durante o processo de compor com M�rcio nesse novo disco n�o precisou mexer em nenhuma frase escrita pelo irm�o. “Al�m do conceito intelectual e est�tico das letras, h� tamb�m aquela coisa da m�trica. O cara n�o erra nada e � um compositor do tipo faca amolada. Ele mesmo diz que compor comigo � uma coisa que faz de olhos fechados. Para mim, � uma alegria enorme estar fazendo meu terceiro �lbum de in�ditas em tr�s anos e poder voltar a compor com meu irm�o, pessoa fundamental na minha vida.”
O m�sico garante que M�rcio foi seu primeiro parceiro. “Realmente, ele foi a primeira pessoa a colocar letra em uma m�sica minha. Junto com meus irm�os mais velhos, Marilton e Bituca, Marcinho tamb�m me incentivou desde que eu tinha 12 anos. Comp�r com ele nesse momento � uma alegria muito grande. O �lbum ficou muito legal. N�s dois gostamos do resultado. O disco tem uma linguagem mais vigorosa, tem mais pulsa��o que, �s vezes, as pessoas chamam de rock. Mas confesso que tamb�m sempre tive um p� no rock and roll, pois, aos 12 anos, era um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones e tamb�m a bossa-nova.”
L� se lembra de que o tipo de m�sica que mais tocava em sua casa era a bossa-nova. “Meus irm�os Marilton, Marcinho e Bituca ouviam direto. Ent�o, comecei a aprender a tocar viol�o com ‘Chega de saudade’ (Vinicius de Moraes e Tom Jobim). S� que, no mesmo ano, fui assistir ao filme ‘A hard day’s night’ e os Beatles colocaram uma palheta na minha m�o. Digo isso porque bossa-nova se tocava sem palheta. Costumo brincar que comecei a aprender pelo lado mais dif�cil, ou seja, com as harmonias inusitadas de Tom Jobim e Jo�o Gilberto. Em 1964, em um per�odo de um ano, entraram na minha vida a bossa-nova, os Beatles e o golpe militar. Era muita informa��o para um garoto de 12 anos.”
Clube da Esquina
Em 1970, L�, ent�o com 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi morar com Milton Nascimento, com o objetivo de compor m�sicas para o disco “Clube da Esquina 1”. “Era novo, imaturo. Foi a primeira vez que entrei em um est�dio. E olha que j� gravei um �lbum que, quis a sorte, se tornasse hist�rico, algo t�o grandioso.”

L� conta que foi Bituca quem percebeu o seu tino para a composi��o e o chamou para dividir com ele o disco “Clube da Esquina 1”. “Era uma homenagem � esquina das ruas Divin�polis com Parais�polis, que era a realidade da minha vida pessoal at�. Tinha um p� em Santa Teresa, bairro onde nasci. Depois, aos 10 anos, nos mudamos para o Edif�cio Levy, no Centro e, aos 16, voltamos a residir em Santa Teresa.”
L� conta que, naquele �poca, ficava tocando viol�o na esquina daquelas duas ruas, com seus amigos de bairro, quase o dia inteiro. “E olha que n�o eram nem mesmo meus amigos de m�sica, mas gente do futebol, meninas, meninos. A�, eu e Bituca, com a letra do Marcinho, fizemos a can��o ‘Clube da Esquina 1’. Acabou que Bituca se entusiasmou com o meu lado de compositor, quando compus ‘Para Lennon e McCartney’, com letra de Fernando Brant e M�rcio Borges, que ele acabou gravando. Na verdade, ele fazia f� no meu dom de compositor.”
Na �poca, L� pensou que como a m�sica fez muito sucesso, Bituca iria lhe pedir outra can��o. “Mas o que aconteceu foi que ele me disse: ‘N�o vou lhe pedir outra m�sica n�o, vou pedir � sua m�e para voc� ir morar comigo no Rio de Janeiro, porque quero fazer um disco com voc�’. � engra�ado, porque o destino vai escrevendo as coisas e n�o temos no��o de que estamos fazendo hist�ria, coisas importantes, enfim, tudo ali naquela �poca era levado por mim na curti��o.”
Homenagens para os irm�os
L� pede licen�a para fazer uma homenagem a tr�s pessoas especiais. “S�o tr�s caras que foram fundamentais em minha vida. Quando tinha 12 anos, eles j� eram adultos e me estimularam muito. N�o que me ensinaram, pois sempre fui autodidata, pegava o viol�o e o piano sozinho e sa�a tocando e compondo, mas que me inspiraram a me envolver com a m�sica. S�o eles os meus tr�s irm�os mais velhos: Marilton, Bituca e Marcinho. Realmente, foram os caras que me apoiaram e me incentivaram a entrar para o mundo da m�sica.”
Mas L�, embora esteja lan�ando um disco com in�ditas e celebrando a volta da parceria com o irm�o, confessa que est� sentindo um misto de alegria e tristeza ao mesmo tempo. “O mundo est� muito triste, o Brasil principalmente. N�o h� vacinas, as pessoas n�o usam m�scaras, a popula��o tamb�m n�o colabora, promove festas clandestinas com um monte de gente aglomerada. Para mim, � um momento de contraste, da alegria de estar lan�ando um disco com meu irm�o e, ao mesmo tempo, triste por esta situa��o calamitosa que o Brasil est� passando com a pandemia.”
"Das minhas 200 m�sicas, creio que pelo menos umas 130 foram feitas com ele. Somos uma parceria que sempre deu certo, pois temos uma sintonia muito boa"
L� Borges
M�rcio Borges garante que n�o tem ideia de quanto tempo ficou sem compor com L�. “Digo isso porque, mesmo n�o compondo, continuamos parceiros, amigos e irm�os, conversando um com o outro todos os dias. Ele fez o disco ‘Rio da Lua’ (Deck, 2019) com o Nelson �ngelo e foi me mostrando faixa a faixa, � medida que ia compondo. Depois fez o �lbum ‘D�namo’ (Deck, 2020), com o Makely Ka, e tamb�m foi me mostrando a produ��o. Na realidade, de cada coisa que ele fez nesses anos em que n�o est�vamos compondo pude ter total conhecimento.”
Por outro lado, M�rcio continuou compondo com outros parceiros. “Fazer m�sicas com L� sempre foi algo natural. Por�m, j� tinha comentado com ele anteriormente que estava um pouco cansado de ficar fazendo m�sica. Mas ele me ligou e disse: ‘Marcinho, fiz m�sicas com o Nelson e com o Makely e acho que j� est� na hora de fazermos de novo. Queria que me mandasse algumas coisas escritas para eu musicar’.”
Novidade na produ��o
L� fez a melodia em cima dos poemas de Nelson e Makely. “Nunca havia acontecido dessa maneira, pois ele sempre me mandava a m�sica e eu colocava a letra. Ele me entregava a melodia e eu viajava nela at� encontrar as palavras certas, e quando isso acontecia, devolvia para ele.”
Dessa vez, M�rcio foi mandando as letras e L� fazendo a melodia. “Ele foi aprovando todas, com louvor, cantando na maior anima��o, e a gente atravessou uns meses da pandemia tomados por essa alegria de compor novamente. Foi, em m�dia, uma can��o por m�s, num ritmo gostoso de fazer. Para mim, compor com ele � a coisa mais natural, pois L� � o meu parceiro n�mero 1, com quem tenho mais m�sicas e com quem atravessei uma exist�ncia compondo. Componho com ele desde que era menino e continuamos at� hoje. Posso dizer que a coisa que mais sei na vida � compor com meu irm�o.”
Tutor musical
M�rcio garante que Milton Nascimento foi o tutor musical do irm�o. “Tudo come�ou quando L� ficou tocando uma harmonia sem melodia l� em casa o dia inteiro. Foi o Bituca quem teve a paci�ncia de se sentar ao lado dele e dizer: ‘Bicho, me mostra essa harmonia a�!’. L� mostrou e ele come�ou a construir em cima daquilo. Cheguei logo em seguida e mandei uma letra na hora, porque fiquei apaixonado com aquele tema que os dois estavam desenvolvendo e que virou o ‘Clube da Esquina’, que depois motivou a can��o ‘Clube da Esquina 2’ que acabou at� ficando mais famosa.”
"Acho que a contribui��o do L� nesse trabalho coletivo continua sendo muito forte. Ele influenciou e foi influenciado por toda essa galera do Clube da Esquina"
M�rcio Borges
Orgulhoso, M�rcio conta que foi parceiro do irm�o a vida inteira. “L� tinha acabado de gravar o ‘Clube da Esquina’ e foi morar comigo. Depois, fiz quase todas as letras do disco do t�nis, um trabalho assim bem encarreirado. Na verdade, tamb�m o estimulei a escrever umas ideias que ele tinha e ele acabou fazendo v�rias letras. E, desde ent�o, temos viajado nesse universo da can��o, para n�o falar em todos os universos da nossa intimidade, como amigos e irm�os.”
Mas M�rcio garante que os dois transformaram essa amizade e respeito em m�sica. “Tenho ci�ncia de que fizemos um monte de obras-primas, ent�o vamos dando continuidade a isso. Acho que a contribui��o do L� nesse trabalho coletivo continua sendo muito forte. Ele influenciou e foi influenciado por toda essa galera do Clube da Esquina.”
Acompanharam L� (voz, piano e viol�o) nas grava��es os m�sicos Henrique Matheus (guitarra), Thiago Corr�a (baixo) e Robinson Matos (bateria). A dire��o musical � do pr�prio L� Borges.

"Muito al�m do fim"
L� Borges
Deck
10 faixas
Repert�rio
1 – Muito al�m do fim
2 – Muito querida
3 – Copo cheio
4 – Vida ribeir�o
5 – Rainha
6 – Can��es de primavera
7 – Caos
8 – Melhor assim
9 – Terra de gado
10 – Piano cigano