
Idealizadora, Andreza Coutinho, formada em artes visuais e p�s-graduada em design e cultura, confessa que teve dificuldade em manter viva sua ideia no contexto da pandemia. “L� atr�s, quando isso tudo come�ou, eu relutei. Pensei: ‘As pessoas v�o esquecer os artistas, v�o esquecer os que andam de metr�, de �nibus... n�o tem sentido eu fazer esse projeto agora, porque ele vai cair no lugar de romantismo, de tipo ah, gente, t� tudo bem’. E n�o t� tudo bem”, conta.
Como ela n�o desistiu, a proposta foi adiante e nesta quarta-feira (10/3), por exemplo, a programa��o contar� com o v�deo “Carta para uma cura”, de Kako Arancibia, �s 9h, e com uma live de Joelma Barros e Daniela Graciere, das 20h �s 21h.
“Um belo dia, me deu um clique e eu entendi que podia falar do sil�ncio… n�o de um sil�ncio no sentido de a gente se calar perante tudo que est� acontecendo, mas de um sil�ncio interno, para a gente refletir, e que o projeto podia chamar as pessoas para essa reflex�o, principalmente com rela��o ao artista”, completa Andreza, ao contar por que abriu m�o de renunciar � ideia.
Filha de um saxofonista e de uma artes�, Andreza respirou arte desde cedo. Fundou o grupo MOB h� 10 anos. “Em 2011, eu j� achava que as pessoas corriam demais, n�o tinham tempo para se relacionar, e eu queria que as coisas fossem escritas com m�quinas de escrever ou a m�o, em um local para as pessoas se sentarem e tomar um cafezinho. A ideia era ser uma instala��o do encontro.”
A sele��o das cartas foi feita por meio de formul�rios do Google, enviados por artistas. Al�m dos diferentes formatos para os quais as cartas foram adaptadas, h� algumas peculiares, em braile e em libras. Haver� ainda exposi��o de fotos no Instagram, o lan�amento de livro sobre a edi��o do evento, um sarau on-line com a equipe do Apoema Sarau Livre e a dissemina��o de um QR Code, a partir do qual v�deos e cartas poder�o ser acessados.
Um dos destaques do projeto, e que ter� seu v�deo divulgado nesta quarta-feira, � Kako Arancibia. Em pouco menos de cinco minutos, ele transmite uma mensagem de solidariedade. “Atrav�s da arte, fui fazendo v�nculos e aprendizados com as reflex�es sobre g�nero e sexualidade, e que me fizeram olhar pra mim enquanto pessoa que vivia com HIV. Eu vivia com HIV totalmente no segredo, e atrav�s da arte, da viv�ncia, de cruzar caminhos com outras pessoas e com outras reflex�es eu acabei aos poucos me tornando um ‘artevista’.”
PALAVRAS
Em “Carta para uma cura”, como � chamado seu v�deo, ele desenha veias e carimba palavras variadas em seu corpo, fazendo uma rela��o entre a dissemina��o do v�rus da Aids e a circula��o de palavras, tanto de apoio quanto de impacto negativo, com as quais convivem os portadores do HIV.
“O que eu percebi nessa hist�ria de ativismo com rela��o ao HIV � que, muitas vezes, n�o vale a pena falar de mim. N�o d� pra negar que a carta nasce de uma viv�ncia pr�pria, mas eu n�o diria que ali tem um relato da minha hist�ria. � uma carta para outras pessoas. A partir do lugar que eu sinto que ocupo hoje, de aprendizado e for�a com rela��o a viver com HIV publicamente, � como se eu endere�asse essa carta para todas as pessoas que eu acho que precisam de um apoio, de uma conex�o, e que, muitas vezes, n�o podem viver isso abertamente”, conta Kako.
*Estagi�rio sob a supervis�o do subeditor Eduardo Murta