
Em 22 de abril pr�ximo, a tr�s dias da 93ª edi��o do Oscar, a Academia de Artes e Ci�ncias Cinematogr�ficas de Hollywood deve lan�ar sua maior realiza��o em quase um s�culo de hist�ria. � tamb�m a mais longa e onerosa. Quase uma d�cada depois de divulgado o projeto e seis anos passados desde o in�cio de sua constru��o, o Museu da Academia, em Los Angeles, ser� inaugurado.
No momento inicial, em decorr�ncia da COVID-19, apenas virtualmente. A colossal edifica��o, com projeto do italiano Renzo Piano, dever� ser oficialmente aberta ao p�blico em 30 de setembro, depois de sucessivos adiamentos.
Originalmente, a abertura estava programada para 2017; depois, 2019; mais tarde, dezembro de 2020. O museu consumiu US$ 482 milh�es (R$ 2,67 bilh�es), em uma odisseia que sofreu atrasos na constru��o e excesso de custos, mudan�as de lideran�a e conflitos internos.
Para a Hollywood que nos �ltimos anos deixou de mirar o pr�prio umbigo e atentou para o mundo aqui fora, a hora � de comemorar e olhar para a frente.
Foi essa a t�nica da apresenta��o virtual do museu para a imprensa latino-americana na semana passada, seguida de entrevista com o presidente da Academia e diretor do museu, Bill Kramer, e a diretora art�stica e de programa��o, Jacqueline Stewart, que assumiu o posto em janeiro.
PASSADO
“O museu est� comprometido em celebrar a hist�ria do cinema, seus filmes e artistas. Mas h� uma parte dessa hist�ria de que nos orgulhamos menos, vide os movimentos #OscarsSoWhite e #MeToo. S� que n�o podemos apagar o passado. Ent�o, estamos encontrando espa�o para tamb�m explorar essas quest�es, construindo uma nova maneira de ver o cinema”, afirmou Kramer aos jornalistas, comentando que, dos atuais 9 mil membros da Academia, 20% deles s�o nomes “internacionais” (ou seja, fora dos EUA).Jacqueline citou que, para elaborar a programa��o, houve a participa��o de um chamado “comit� de inclus�o”. “Foi um trabalho feito com profissionais negros e LGBTs, que nos ajudaram a reconhecer que esses temas s�o importantes para a ind�stria.”
A narrativa da apresenta��o virtual deixou isto bem claro. No v�deo de meia hora, assistimos a nomes que expressam a diversidade da ind�stria, como os cineastas Spike Lee e Guillermo Del Toro e as atrizes Rita Moreno e Danai Gurira. Esta �ltima, int�rprete da guerreira Okoye em “Pantera Negra”, comentou durante sua participa��o.
'O museu est� comprometido em celebrar a hist�ria do cinema, seus filmes e artistas. Mas h� uma parte dessa hist�ria de que nos orgulhamos menos. S� que n�o podemos apagar o passado. Ent�o, estamos encontrando espa�o para tamb�m explorar essas quest�es, construindo uma nova maneira de ver o cinema'
Bill Kramer, presidente da Academia de Hollywood e diretor do Museu do Cinema
FUTURO
"A presen�a do uniforme de Okoye no museu � incrivelmente forte, porque a hist�ria de Hollywood n�o se parece com a equipe de 'Pantera Negra'. Mas o futuro de Hollywood se parecer� com a gente", afirmou a atriz.A veterana Rita Moreno, primeira latina a receber um Oscar (de coadjuvante pela personagem Anita, de “Amor, sublime amor”, em 1962) fez eco: “Ela foi a primeira personagem que interpretei que n�o era parte do estere�tipo (latino)”.
Kramer elencou alguns nomes latino-americanos cujos trabalhos ser�o celebrados na exposi��o de abertura: os mexicanos Alfonso Cuar�n, Guillermo Del Toro, Rodrigo Prieto e Salma Hayek, o argentino Gustavo Santaolalla, al�m de Carmen Miranda, que levou o Brasil para Hollywood, e o cineasta paulista Anselmo Duarte, que dirigiu “O pagador de promessas”. Em 1963, o longa se tornou o primeiro t�tulo brasileiro a concorrer ao Oscar na categoria filme internacional.
Mais do que corrigir os erros do passado, o Museu da Academia nasce principalmente para celebrar a trajet�ria de uma ind�stria que est� tentando se encontrar no mundo digital. O material exibido � de encher os olhos. O museu ser� a maior institui��o do mundo dedicada ao cinema.
S�o, na verdade, dois pr�dios que ocupam 28 mil metros quadrados, no Centro de Los Angeles. O principal nasceu da reforma e expans�o do Edif�cio May Company, datado de 1939. Foi rebatizado de Edif�cio Saban, em homenagem ao casal Cheryl e Haim Saban; ela, escritora; ele, produtor de TV. Bilion�rios, eles doaram
US$ 50 milh�es para o projeto. Esse pr�dio central tem uma liga��o com uma esfera de concreto e vidro, com um terra�o e vista panor�mica para as colinas de Hollywood.
A visita��o vai come�ar com um dos nomes mais populares do cinema. A Galeria da Fam�lia Spielberg (um dos poucos espa�os gratuitos do museu), no lobby, ser� como uma introdu��o � exposi��o permanente, “Hist�rias do cinema”, que vai ocupar tr�s andares do pr�dio.
A inten��o � n�o deixar nenhum aspecto do cinema de fora. H� salas dedicadas a todas as fases da produ��o e da hist�ria. Spike Lee e Pedro Almod�var ter�o suas trajet�rias retratadas em salas especiais.
“Quando as pessoas chegam � minha produtora, falam que est�o em um museu”, disse o cineasta de “Fa�a a coisa certa”. Outro nome que ser� destacado na fase inicial da institui��o � o da compositora islandesa Hildur Gudnadottir, vencedora do Oscar pela trilha de “Coringa”.
MAGIA
Outras galerias celebrar�o o trabalho de an�nimos que tornam a magia do cinema poss�vel por tr�s das c�meras: animadores, cabeleireiros, maquiadores, figurinistas etc. Cada espa�o contar� com exposi��o de itens, boa parte deles do acervo do pr�prio museu. Desde 2008, a Academia vem adquirindo objetos – hoje, conta com 8 mil itens de tecnologia, figurino, design de produ��o, maquiagem, penteado e pr�mios.Uma sala, � claro, vai expor as estatuetas douradas. Ser�o 20 Oscars, entregues a t�tulos que v�o de cl�ssicos do cinema mudo, como “Aurora” (1927), de Friedrich Wilhelm Murnau, a sucessos recentes, como “Moonlight: Sob a luz de luar” (2016), de Barry Jenkins. Haver� numa outra parte do museu uma experi�ncia imersiva em que o p�blico poder� ter a experi�ncia de receber seu pr�prio Oscar.
“O m�gico de Oz” (1939) ter� uma sala exclusiva, em que o visitante vai acompanhar como se deu toda a constru��o do longa de Victor Fleming. O cinema mudo ter� sua pr�pria galeria, assim como a anima��o, o document�rio e a fic��o cient�fica.
Entre os objetos que s�o destaque na mostra permanente est�o o sapato de Dorothy em “O m�gico de Oz”, o traje especial de “2001: Uma odisseia no espa�o” (1968), o figurino utilizado por Salma Hayek em “Frida” (2002), o capacete da criatura de “Alien, o oitavo passageiro” (1979) e o videofone de “Blade Runner: O ca�ador de androides” (1982).
O maior objeto em exposi��o ser� Bruce. Medindo 7,62 metros, o modelo � o �nico que restou do tubar�o em tamanho real usado no cl�ssico filme de Spielberg de 1975.
O cineasta e animador japon�s Hayao Miyazaki vai ser tema da primeira retrospectiva do museu. Uma exposi��o com 300 objetos abordar� os filmes do realizador, que completou 80 anos em janeiro, entre eles “Meu vizinho Totoro” (1988) e o vencedor do Oscar “A viagem de Chihiro” (2001).
A institui��o ter�, obviamente, cinema. Ser�o duas salas: uma menor, com 288 lugares, e outra para mil espectadores. Esta �ltima estar� apta a exibir todo tipo de produ��o, inclusive de nitrato, material utilizado para fazer os filmes at� a d�cada de 1950 – deixou de ser utilizado por causa da facilidade com que pega fogo.
Questionado sobre como a ind�stria v� a explos�o do streaming, Kramer afirmou: “Estamos comprometidos com a experi�ncia da sala de cinema. Mas tamb�m animados pela possibilidade do streaming, que atinge rapidamente muito mais gente. Acreditamos em um cen�rio em que cinema e streaming coexistam.” Ted Sarandos, o chef�o do conte�do da Netflix, � o presidente do conselho de curadores do museu.
Ainda que a pandemia traga mais perguntas do que certezas, Kramer afirmou que o museu est� pronto para finalmente abrir suas portas. Caso necess�rio, ele disse, a abertura em 30 de setembro seguir� todos os protocolos sanit�rios exigidos para o combate ao novo coronav�rus.
MOMENTOS HIST�RICOS
Na programa��o on-line que abre o Museu da Academia, em 22 de abril, destaca-se uma conversa da curadora Diane von Furstenberg com mulheres que fizeram hist�ria no Oscar, como as atrizes Sophia Loren, Whoopi Goldberg e Marlee Matlin. O site ser� ativado com conte�do de arquivo hist�rico sobre o Oscar e Hollywood.
MUSEU DA ACADEMIA DE CI�NCIAS CINEMATOGR�FICAS
A inaugura��o ser� em 30 de setembro, em Los Angeles. A partir de 22 de abril, o site da institui��o (academymuseum.org) vai dar in�cio � sua programa��o virtual