
“As pessoas endeusavam ou demonizavam muito o Chor�o. Estamos muito acostumados a ver o Chor�o na m�dia, aquela persona p�blica nas emissoras, mas fiquei muito curioso para entender quem era essa pessoa e como chegou naquele final tr�gico. Queria conhecer um pouco da trajet�ria e das contradi��es dele. N�o precisava pesquisar muito para entender que era uma figura muito controversa”, comentou o diretor, em entrevista coletiva realizada virtualmente para a divulga��o do filme.
Premiado na 43ª Mostra Internacional de Cinema de S�o Paulo, em 2019, o document�rio procura fazer um retrato multifacetado da personalidade do vocalista da banda Charlie Brown Jr., que se tornou �dolo de uma gera��o e morreu em mar�o de 2013, aos 42 anos, de overdose, num per�odo em que atravessava uma intensa crise emocional.
Al�m de reconstruir a trajet�ria da banda e contar hist�rias de bastidores, o filme traz depoimentos dos remanescentes do Charlie Brown Jr., de familiares e amigos de Chor�o, como tamb�m de uma s�rie de nomes da m�sica, como Zeca Baleiro, Marcelo Nova, Rick Bonadio e Jo�o Gordo.
A produ��o reuniu e analisou 1.200 horas de material em v�deo, entre arquivos de TV, internet e do acervo pessoal de Chor�o. Imagens da banda na estrada, de camarins e grava��es apresentam a intimidade do cantor longe dos palcos.
A cena de Chor�o orientando uma f� sem condi��es financeiras para comprar seus discos a baixar suas m�sicas pela Internet chama a aten��o ao revelar seu lado benevolente, pouco conhecido do p�blico em geral.
"As pessoas endeusavam ou demonizavam muito o Chor�o. Estamos muito acostumados a ver o Chor�o na m�dia, aquela persona p�blica nas emissoras, mas fiquei muito curioso para entender quem era essa pessoa e como chegou naquele final tr�gico"
Felipe Novaes, diretor
“Ali � poss�vel condensar muita coisa, n�o s� esse fasc�nio por parte dos f�s, mas tamb�m enxergar um momento muito �ntimo, a entrega genu�na que ele tinha em rela��o ao p�blico e as suas contradi��es tamb�m”, afirma o diretor. “� um cara que vivia da venda de discos e direitos autorais dizendo para uma f�: baixa o som, n�o precisa se preocupar em gastar com isso. Aquilo me toca muito, porque voc� n�o precisa dizer muita coisa, � s� mostrar.”
SENTIMENTOS
O que Felipe Novaes tamb�m tentou mostrar � que Chor�o conseguia ser d�cil e agressivo, talentoso e imprudente, terno e violento. Segundo relatos para o filme, um pequeno problema ganhava propor��es muito maiores para o cantor.
O que Felipe Novaes tamb�m tentou mostrar � que Chor�o conseguia ser d�cil e agressivo, talentoso e imprudente, terno e violento. Segundo relatos para o filme, um pequeno problema ganhava propor��es muito maiores para o cantor.
“�s vezes, esquecemos que os �dolos s�o pessoas normais como a gente, com seus problemas e suas quest�es. Olhando as imagens e mergulhando nessa pesquisa, ficou claro quanto o Chor�o lidava mesmo com essas quest�es pessoais. As pol�micas tamb�m mexiam com ele. Ent�o, �s vezes, existia uma dificuldade grande dele em conseguir lidar com esses sentimentos mais dificeis que todos n�s temos”, afirma o diretor.
A rela��o de amor e �dio entre o vocalista do Charlie Brown Jr. e o baixista Champignon exemplifica essa complexidade no filme. Champignon (1978-2013) foi recrutado para a banda aos 12 anos e acolhido por Chor�o como um filho. Depois do sucesso, a amizade entre os dois, aos poucos, se tornou um po�o de pol�micas, com conflitos envolvendo ci�mes e disputas internas.
Um v�deo de Chor�o ofendendo e humilhando o baixista em p�blico, durante um show, em 2012, d� a dimens�o de como a rela��o entre os dois se deteriorou e de quanta agressividade Chor�o podia dirigir a algu�m do seu c�rculo �ntimo.
"O Chor�o vivia nesse ambiente do rock, que � mais maculino. N�s, homens, principalmente naquela �poca, n�o fomos ensinados a lidar com as emo��es do jeito que a gente conversa hoje em dia"
Felipe Novaes, diretor
"� um cara que tem um cora��o gigante, uma pessoa muito boa, mas, quando tem raiva de algu�m, ele tem muita raiva. E ele n�o � do tipo de cara que perdoa", diz Champignon, num depoimento para o document�rio, gravado seis meses ap�s a morte de Chor�o. Sete dias depois da entrevista para o diretor Felipe Novaes, o baixista se suicidou, em setembro de 2013, deixando a esposa que estava gr�vida.
“O Champignon � o sil�ncio mais constrangedor que a gente construiu e n�o estava no roteiro”, revela o roteirista e produtor executivo Hugo Prata, diretor de “Elis” (2016). Segundo ele, a equipe apresentou a obra para a sua vi�va antes do lan�amento. Emocionada, ela agradeceu a equipe, dizendo que o documento ser� �til para mostrar � filha o que aconteceu com seu pai.
FAMA
A produ��o se preocupou em n�o definir a vida de algu�m a partir de uma morte precoce, utilizado o epis�dio para discutir outras quest�es. Felipe Novaes acredita que a press�o da fama teve um papel crucial para o fim de Chor�o. O document�rio mostra o custo do sucesso em meio � vida na estrada, distante da fam�lia, e a responsabilidade de gerir a banda e a equipe de apoio, com diversos profissionais.
Nesse contexto, o abuso de drogas � apresentado como uma forma de Chor�o fugir dos seus problemas cotidianos e prop�e uma reflex�o sobre o tema. “Muita gente tem a ideia errada de que quem morre dessa forma (de overdose) est� numa festa, alegre, curtindo a vida. Mas quase nunca � assim. A gente pode mostrar um pouco para as pessoas que aquilo (a morte) tinha um sentido, como tudo aconteceu”, afirma Felipe.
O diretor atribui a dificuldade do cantor em lidar com a imensa carga de emo��es ao contexto no qual estava inserido. “O Chor�o vivia nesse ambiente do rock, que � mais maculino. N�s, homens, principalmente naquela �poca, n�o fomos ensinados a lidar com as emo��es do jeito que a gente conversa hoje em dia”, aponta.
“A vida pressup�e momentos legais e sofridos. Todos n�s sentimos isso, em escalas diferentes. Acho que a gente est� falando de um artista que sentia com um pouco mais de �mpeto. Talvez ele n�o tivesse tantos instrumentos para extravasar isso, a n�o ser na m�sica”, comenta.
O document�rio explora como, muitas vezes, o que Chor�o tinha a dizer n�o cabia somente em suas letras, que at� hoje fazem sucesso entre diferentes p�blicos e faixas et�rias. Na opini�o do diretor, a personalidade conturbada do cantor, que se definia como um “pedregulho do rock”, o impedia de extravasar algumas dores.
“O Chor�o era um rapaz como todos n�s, que n�o foi ensinado a lidar com sentimentos assim. E quando voc� mistura talento, intensidade, m�dia, fama, as coisas �s vezes desandam”, conclui Felipe Novaes.
“Chor�o - Marginal alado”
Document�rio de Felipe Novaes. 80 min. O filme estreia nesta quinta-feira (8/4) nas plataformas Now, Google Play, Apple TV, Vivo Play, Looke e Youtube.
*Estagi�rio sob a supervis�o da editora Silvana Arantes