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Estado de Minas TEATRO

Atrizes transformam suas casas em palco para mon�logos virtuais

Kate Hansen e Fl�via Bertinelli estreiam nesta sexta (16/4) os espet�culos 'Clarice e os cora��es selvagens' e 'Col�quio com personagens', respectivamente


15/04/2021 04:00 - atualizado 15/04/2021 07:33

A atriz Kate Hansen, que enfrentou um câncer no ano passado, volta a atuar com o espetáculo virtual
A atriz Kate Hansen, que enfrentou um c�ncer no ano passado, volta a atuar com o espet�culo virtual "Clarice e os cora��es selvagens", encenado em seu apartamento (foto: Jo�o Caldas/Divulga��o)

Duas atrizes brasileiras estreiam nesta sexta-feira (16/4) mon�logos encenados em suas pr�prias casas e transmitidos virtualmente. Kate Hansen protagoniza “Clarice e os cora��es selvagens”; Fl�via Bertinelli interpreta “Col�quio com personagens I”.

As montagens foram feitas com apoio da Lei Aldir Blanc, destinada a viabilizar projetos culturais no contexto da paralisa��o do setor em virtude da pandemia do novo coronav�rus.

Com texto de J�lio Kadetti (autor da novela “O s�timo guardi�o”) e dire��o de Marcelo Drummond (Teatro Oficina), “Clarice e os cora��es selvagens” � inspirado na cr�nica “O mineirinho”, de Clarice Lispector, a respeito de um assassinato cometido pela pol�cia.

O paralelo tra�ado pela pe�a � com a execu��o do m�sico Evaldo Santos Rosa, de 51 anos, fuzilado com 80 tiros por integrantes do Ex�rcito, no Rio de Janeiro, em abril de 2019. Na hist�ria criada por Kadetti, a morte de um jovem negro pela pol�cia faz com que Clarice repense sua trajet�ria de vida e seu papel na sociedade. 

Kate Hansen afirma que o mon�logo prop�e uma reflex�o �til e importante para o tempo presente. Ela conta que se identifica com a protagonista, que come�a a questionar o preconceito vigente na sociedade brasileira e a viol�ncia policial contra a popula��o negra, a partir de um epis�dio espec�fico.  “� a primeira vez que a personagem (Clarice) se liga que a sociedade tamb�m tem culpa (nesse assassinato)”, diz a atriz, de 68 anos.  

A protagonista veste pijamas chiques, pantufas e sempre anda com uma B�blia embaixo do bra�o, mas nota que n�o est� seguindo um dos princ�pios b�sicos do testamento: “Amar�s ao teu pr�ximo como a ti mesmo”. No entanto, Kate Hansen destaca que Clarice n�o � a �nica. “� como a maioria vive, eu acho. As pessoas pensam muito pelo umbigo delas.” 

A narrativa � situada no contexto da pandemia de COVID-19, com a protagonista confinada em seu apartamento. A situa��o de isolamento � tamb�m simb�lica do mergulho interior empreendido por Clarice. 

“� um momento de desabafo e catarse da personagem em meio � quarentena. Aquela morte mexeu com ela. Clarice percebeu que n�o est� feliz consigo mesma. Esse exemplo horroroso faz com que ela se humanize”, aponta a atriz. 

"� minha maneira de me expressar na vida. Meu palanque � o palco"

Kate Hansen, atriz



TRATAMENTO 


A estreia do mon�logo marca o retorno de Kate Hansen � atividade teatral, ap�s a descoberta de um c�ncer de mama, em setembro de 2020. A atriz afirma que  enfrentou o tratamento de peito aberto. Passou por cirurgia e superou sess�es de quimioterapia e radioterapia (sem perder um fio de cabelo). 

(foto: João Caldas/Divulgação)
(foto: Jo�o Caldas/Divulga��o)


Hoje, faz consultas para o controle da doen�a. Segundo ela, o regresso ao teatro em meio � inviabilidade de apresenta��es presenciais e longe dos palcos � um grande desafio, mas traz tamb�m a satisfa��o em voltar a fazer o que ama.

“� minha maneira de me expressar na vida. Meu palanque � o palco”, diz. Desde 1998 sem encenar mon�logos, ela teve que aprender a lidar com os novos artif�cios digitais para viabilizar a montagem virtual de “Clarice e os cora��es selvagens”. 

O diretor Marcelo Drummond contou com a ajuda do filho da atriz, o diretor de cinema Lucas Margutti, para unir a linguagem do teatro com a do audiovisual. “Essa nova linguagem n�o � f�cil. Tem muita gente lutando, porque isso n�o � cinema, n�o � teatro, n�o � televis�o. O que �?”, questiona a atriz. 

Desde a aprova��o do projeto pela Lei Aldir Blanc, a equipe teve somente dois meses para ensaiar o texto (por meio de videochamada) e gravar o espet�culo. A atriz relata que a maior dificuldade foi lidar com a ferramenta tecnol�gica, mas se sentiu feliz e estimulada ao descobrir um novo modo de produzir.

"N�s estamos em guerra e tem pessoas que n�o acordaram para isso ainda"

Fl�via Bertinelli, atriz



“Eu sou muito positiva, a gente n�o tem que achar que s� est� sofrendo. N�s estamos aprendendo”, avalia. Pela primeira vez em sua carreira, o apartamento de Kate Hansen se tornou cen�rio de um espet�culo. Foi necess�rio mudar o aspecto da casa para trazer a cenografia do mon�logo nas grava��es. A atriz contou que encarava a c�mera como se estivesse conversando com o p�blico e n�o se sentiu intimidada com a aus�ncia da plateia.

(foto: João Caldas/Divulgação)
(foto: Jo�o Caldas/Divulga��o)


Para Kate, o ator de estrear o mon�logo carrega uma mensagem em si mesmo. “Tento fazer o que fiz com o c�ncer, ao inv�s de passar um recado ruim, transmitir o amor. N�o vou apontar o dedo na cara de ningu�m, estou propondo uma outra sa�da. N�o estou denunciando ningu�m, nem querendo apontar um rev�lver para algu�m, pelo contr�rio. Eu sugiro que n�o se use o rev�lver.”

"Clarice e os Cora��es Selvagens"
De: J�lio Kadetti. Dire��o: Marcelo Drummond. Com Kate Hansen. Transmiss�o via Sympla, desta sexta-feira (16/4) a quarta (21/4), sempre �s 21h. Ingressos a R$ 10,00. Dura��o: 60 minutos.
 
 

ADAPTA��O DE PIRANDELLO

 
Flávia Bertinelli em cena da adaptação de texto de Pirandello(foto: Pombo Correio Assessoria de Imprensa/Divulgação)
Fl�via Bertinelli em cena da adapta��o de texto de Pirandello (foto: Pombo Correio Assessoria de Imprensa/Divulga��o)
“Col�quio com personagens I”, de Luigi Pirandello (1876-1936), trata da ang�stia do autor diante da entrada da It�lia na Primeira Guerra Mundial, afetando sua produ��o art�stica. A adapta��o do solo estrelado por Fl�via Bertinelli faz refer�ncia � atual fase de descontrole da crise sanit�ria no Brasil, com seus reflexos no processo criativo, em um momento tr�gico no qual n�o � poss�vel colocar a arte em primeiro plano. 

Com dire��o de Cris Lozano, a montagem ter� seis apresenta��es on-line, desta sexta-feira (16/4) at� o pr�ximo dia 25. Em “Col�quio com Personagens I”, ao ver seu filho indo � batalha, o autor acredita que � necess�rio mudar as prioridades e se afastar dos seus personagens, levantando o questionamento sobre o que � mais importante: a vida ou a cria��o. Como dramaturga, Fl�via Bertinelli imediatamente se identificou com a trama no contexto da pandemia de COVID-19.  

“N�s estamos em guerra e tem pessoas que n�o acordaram para isso ainda”, afirma. A atriz conta que encara essa realidade toda vez que abre a internet e aposta na for�a da dramaturgia de Pirandello para tocar as pessoas neste contexto tr�gico.
(foto: Pombo Correio Assessoria de Imprensa/Divulgação)
(foto: Pombo Correio Assessoria de Imprensa/Divulga��o)

No texto, os personagens ficcionais do autor ganham voz pr�pria e discutem com o criador sua ang�stia. “Eles falam: eu sei que voc� est� preocupado com a guerra, mas n�s estamos preocupados em viver a arte. Essa guerra � dos homens, n�o pertence � cria��o. Eu sou um personagem e n�o estou inserido nesse contexto. Eu n�o t� nem a� para a sua guerra”, descreve Fl�via. “A grande met�fora � essa: a cria��o � independente do real”, observa. 

“Col�quio com personagens I” � o primeiro mon�logo da atriz na nova linguagem audiovisual. Segundo ela, o maior desafio foi lidar com a solid�o durante a performance a dist�ncia. Por outro lado, ela acredita que o solo seja o formato mais prop�cio para espet�culos on-line neste contexto de isolamento social.

AUTONOMIA 


“As ferramentas dependem da sua autonomia e da dire��o, n�o envolvem outras pessoas. Nesse sentido, � um facilitador. Por outro lado, � solit�rio, mas tamb�m um desafio. Voc� se enxerga, se ouve e se reconhece enquanto atriz criadora. Foi um exerc�cio dif�cil, mas muito potente em todos os sentidos, n�o s� art�stico, como humano inclusive”, ressalta.

O escrit�rio em que Fl�via guarda seus livros se tornou cen�rio da pe�a, numa refer�ncia ao ambiente de trabalho do autor. Para fugir dos ru�dos da rua e da interfer�ncia dos filhos, ela optou por gravar o mon�logo de madrugada e aprovou a experi�ncia em home office. 

“Isso tudo n�o seria poss�vel se n�o tivesse uma dire��o muito dedicada, numa escuta extremamente sens�vel. E, sobretudo, as pessoas que moram comigo, que s�o meus filhos, meu companheiro, al�m do meu cachorro. S� foi poss�vel pelo encontro humano da minha casa e da minha diretora”, comenta.   

A atriz afirma que ainda est� aprendendo a lidar com a nova linguagem digital, mas, assim como Kate Hansen, acredita que o formato n�o se compara com a arte teatral.  “� uma outra linguagem. O teatro � a arte do encontro, isso � insubstitu�vel. Do meu ponto de vista, n�o d� para tratar essa linguagem como teatro jamais. O teatro ainda � a arte do encontro e sempre ser�.”

Segundo ela, o mon�logo � de grande import�ncia ao destacar o valor da arte em momentos de crise, sendo essa a grande discuss�o de Pirandello nesse texto. “L�gico que a vida vem em primeiro lugar (em detrimento da cria��o), n�o h� d�vida alguma. Sem vida, a gente n�o � nada e ningu�m. Jamais quero competir com esse lugar”, afirma. “S� que, para as pessoas ficarem em casa, refugiadas ou aprisionadas, sem qualquer tipo de arte, como elas v�o sobreviver? Espero que as pessoas curtam, se divirtam com essa troca. � isso que eu quero, aliment�-las, distra�-las, com algo potente, com arte.”

“Col�quio com Personagens I”
De: Luigi Pirandello. Dire��o: Cris Lozano. Com Fl�via Bertinelli. Temporada: desta sexta (16/4) a domingo (18/4) e de 23/4 a 25/4, sempre �s 20h. Dura��o: 30 minutos. Transmiss�o via canal no YouTube da atriz.

*Estagi�rio sob a supervis�o da editora Silvana Arantes


 


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