
Solteira, Wilma se entregou totalmente ao of�cio de atriz. Atuou em dezenas de pe�as, foi apresentadora de TV, fez cinema. Um de seus momentos mais tocantes no palco n�o foi “teatro”. Em fevereiro de 2019, emocionou a plateia que foi ao Cine Theatro Brasil Vallourec para v�-la em “Espelho”. De vestido vermelho e na cadeira de rodas, que adotara ap�s uma queda, deu ao p�blico a not�cia da morte de Bibi Ferreira.
Wilma comemorava ali seus 60 anos de carreira, relembrava naquela pe�a epis�dios divertidos do in�cio de sua trajet�ria. Muito aplaudida, avisou: “N�o estou caduca, n�o. Estou emocionada.”
ITACOLOMI Pioneira da televis�o, Wilma estreou em 1959 apresentando o programa feminino “Espelho”, na extinta TV Itacolomi. Tr�s anos depois, comandava entrevistas em “O assunto � mulher”, atra��o da TV Globo.
Por�m sua casa – mesmo – era o palco. A carreira no teatro come�ou em 1966, em “O macaco da vizinha”, de Joaquim Manoel de Macedo. A atriz foi parceira de v�rias gera��es das artes c�nicas mineiras: Eid Ribeiro, Hayd�e Bitencourt, Arnaldo Brand�o, Elv�cio Guimar�es, Mam�lia Dorneles, Marcos Vogel, Jota D’�ngelo, Rog�rio Falabella, Paulo C�sar Bicalho e Jair Raso, entre muitos outros.
Fez pap�is de mulheres fortes, fez com�dias, lutou pelos direitos de atores e profissionais das artes. Entre as pe�as que estrelou, destacam-se “H� vagas para mo�as de fino trato”, “A prostituta respeitosa”, “Dona Beija”, “As mulheres que se odeiam”, “Vel�rio � brasileira”, “Fala baixo sen�o eu grito”, “Navalha na carne”, “Tr�s m�es” e “A dama das cam�lias”. “Espelho” marcou a despedida dela dos palcos.
No cinema, a atriz atuou em “O menino e o vento”, “O vestido”, “A mulher que sabia demais”, “Ela e os homens” e “Vinho de rosas”, entre outros filmes.
Em 2012, a atriz havia emocionado o p�blico na pe�a autobiogr�fica “A dama desnuda”, escrita por Renato Millani e dirigida por Carluty Ferreira. Contracenava com a jovem Patricia Thomas. “� uma com�dia, antes de tudo. � a primeira vez que trabalho com algo assim: participar de um projeto que tem a ver comigo. Mexe muito com as nossas mem�rias e emo��es”, revelou.
Em 2015, ela fechou seu apartamento no Bairro Floresta e se mudou para uma casa de repouso, depois de fraturar o f�mur. Mas avisou, em reportagem do Estado de Minas, que n�o abandonaria o of�cio. “Quero levar alegria para l�”, declarou, referindo-se � Casa Lar Viver Melhor.
A vontade de ser atriz surgiu quando, ainda menina, entrou no tradicional Cine Brasil (hoje Cine Theatro Brasil Vallourec), na Pra�a Sete, o mesmo de “Espelho”. Subiu pela primeira vez no palco no Col�gio Santa Maria, onde estudava, fazendo o papel de Joana D'Arc.
Nascida em Conselheiro Lafaiete, em 15 de fevereiro de 1931, Wilma se mudou para Belo Horizonte com a fam�lia quando tinha 2 anos. Perdeu o pai aos 14, enfrentou a resist�ncia da fam�lia, que n�o aprovava sua decis�o de se tornar atriz, profiss�o vista com preconceito nos anos 1950. Para ajudar a m�e, foi secret�ria e datil�grafa do Sesi-MG.
“N�o escolhi a profiss�o por curiosidade, nem buscando fama e muito menos dinheiro. Por isso, minha carreira foi aben�oada”, disse ela � revista “Encontro”.
Por v�rias vezes Wilma foi premiada como a melhor atriz de Minas Gerais. Recebeu a Medalha da Inconfid�ncia, a Comenda do M�rito Art�stico da Funda��o Cl�vis Salgado e a Medalha Santos Dumont.
O ator e dramaturgo Pedro Paulo Cava conheceu a atriz em 1968, quando ela fez “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, no Teatro da Imprensa Oficial, cujo elenco contava com o iniciante Jos� Mayer. “Wilma tinha criado o Moram – Movimento de Reintegra��o do Artista Mineiro para juntar o pessoal da televis�o e do teatro em defesa da valoriza��o da classe”, conta Cava.
“O elenco da Itacolomi, um grande elenco, havia sido demitido quando a emissora virou rede, passando a transmitir o teleteatro produzido em S�o Paulo. A demiss�o foi uma pancada na cabe�a dos artistas daqui, e a Wilma comandou a rea��o”, diz.
Nas redes sociais, o m�dico e dramaturgo Jair Raso lembrou um trecho de “Espelho”, encenado por ela, ao dar adeus � amiga e estrela de suas montagens: “Eu queria cantar uma can��o de amor. Do meu amor pelo teatro, porque o teatro foi o grande amor de minha vida. Ele � tudo pra mim e eu sempre fui toda dele”.
IT�LIA FAUSTA Os atores e produtores Maur�cio Cangu�u e �lvio Amaral tamb�m lamentaram a morte da atriz. “Nossa admira��o por ela sempre foi muito grande. Tanto que dedicamos a ela o primeiro trabalho da produtora Cangaral, 'Quem tem medo de It�lia Fausta', em 1989”, disse Cangu�u, subsecret�rio de Cultura do Estado de Minas Gerais.
Wilma dirigiu e contracenou com �lvio Amaral em “O macaco da vizinha”. “� uma grande perda para o teatro. Ela teve uma carreira linda, morreu como todos n�s gostar�amos de morrer: fechou os olhos, sem dor, sem sofrimento”, afirmou Cangu�u.