
O m�sico e professor Di Souza, de 31 anos, come�ou 2020 com tudo. Boa parte dos 4,5 milh�es de foli�es que passaram o carnaval em Belo Horizonte esteve nos blocos capitaneados por ele – Ent�o, Brilha!, Pisa na Ful� e Abre-te S�samo. Sua escola de percuss�o, a Circular, na Floresta, iniciou o ano com 340 alunos.
Ent�o, chegaram mar�o e a pandemia da COVID-19. “Bloco da Saudade”, segundo �lbum de Di Souza, � a resposta dele ao isolamento social. Nesse per�odo, perdeu quase dois ter�os dos alunos. No “n�o carnaval” de 2021, chorou os quatro dias. Mas n�o � um disco de derrota, pelo contr�rio. Como diz a primeira faixa, “Sem jeito”, Di Souza encontrou v�rios jeitos de existir.
“Sou aglomerado n�o s� no carnaval, mas em todas as outras atividades, na escola de m�sica, nos shows. Como fico o tempo inteiro mexendo com gente, minha criatividade acabou se encontrando no campo da composi��o”, ele diz.
IN�DITAS
“Bloco da Saudade” traz 10 can��es in�ditas e autorais, todas compostas em 2020. � seu primeiro disco desde 2015. “Como tive que ficar em casa, pude fazer o disco. Inclusive, boa parte da grava��o foi feita de maneira remota. Foi um processo bonito, em que me vi tomado por uma energia criativa grande”, conta.
O disco foi gravado com Cl�udio Kiari (guitarra e viol�o), Marcelo Dai (bateria), Camila Rocha (baixo), Thiago Correa (teclado, viol�o e guitarra), William Alves (trompete) e Daniel Guedes (percuss�o). Di Souza canta, faz percuss�es e assina os arranjos ao lado do grupo.
A primeira can��o nasceu de uma hist�ria triste. A morte de Ricardo, batuqueiro que participou de todos os grupos que Di Souza regeu, o levou a compor “Quando o bloco sair”. A mulher, J�lia, m�dica do SUS que est� na linha de frente no combate � pandemia, inspirou “Consigo”.
“Quando chegou outubro, j� tinha feito umas 20 m�sicas. Com o repert�rio pronto, vi que, sem perceber, compus m�sicas que refletiam o momento. Era eu tentando existir, inclusive musicalmente, j� que meu primeiro �lbum, ‘N�o devo nada pra ningu�m’ (2015), trazia uma atmosfera tropic�lia. Este tem outra sonoridade, meio pop, mais s�ria.”
Mas sem perder a leveza. Uma das can��es mais solares do disco, “O aluguel venceu” (parceria com Luana Aires) retrata a dificuldade de pagar as contas no fim do m�s. Neste s�bado (1º/5), Dia do Trabalho, o clipe ser� lan�ado. “� homenagem � luta por moradia, principalmente neste momento da pandemia, em que a quest�o se tornou muito forte.”
“Bloco da Saudade” rendeu o curta-metragem de meia hora em que Di Souza interpreta as can��es de forma bem-humorada, sob fundo branco com objetos que remetem ao carnaval e � pandemia.
E daqui pra frente? “Tenho a sorte e o privil�gio de ter constru�do uma carreira ao longo da minha trajet�ria do carnaval”, diz. Em 2013, ainda professor de m�sica em escolas de BH, Di Souza passou a montar suas pr�prias turmas. Come�ou com cinco alunos. Os anos passaram e as turmas cresceram. “Em 2017, vi que tinha criado um m�todo de percuss�o, da� fundamos a escola, que em 2019 estreou como bloco.”
Com a impossibilidade de dar aulas presenciais, ele criou palestras e aulas virtuais. Em setembro, com a onda verde, houve encontros presenciais. A experi�ncia digital o levou a planejar um curso on-line, que deve ser viabilizado num futuro pr�ximo.
“Perdemos muitos alunos e estamos segurando o roj�o, pois tenho uma equipe de 10 pessoas na escola, al�m do espa�o f�sico, que � alugado. � uma batalha”, revela. Mas Di Souza n�o arrefece. Pretende lan�ar em julho 15 v�deos que os alunos gravaram em casa com m�sicas de artistas de BH.
Entre 13 e 16 de fevereiro deste ano, durante o carnaval que n�o houve, Di Souza ficou em casa. “Chorei muito na cama. Mas tamb�m vesti as roupas dos blocos com os quais estaria na rua e fiz um v�deo em homenagem a cada um.” Com o estandarte do Bloco da Saudade, foi a cinco lugares da cidade que o fizeram carnavalesco, como as pra�as da Esta��o, no Centro, e Pisa na Ful�, no Carlos Prates.
“Tenho tentado alimentar o carnaval dentro de mim, resgatar todas as mem�rias. O carnaval � uma das maiores coisas do mundo, mas infelizmente a pandemia conseguiu ser maior do que ele”, diz.
CHAMA
D� para imaginar a folia em 2022? “Estamos num estado de suspens�o. Tento alimentar a chama da esperan�a. Sem negar o tamanho da cat�strofe, inclusive com o governo Bolsonaro, tenho um lado rom�ntico que acredita no carnaval do ano que vem. Vou levar o repert�rio do Bloco da Saudade para a rua at� para me despedir dele”, diz.
“Agora, tenho outro lado, mais realista, que aparece quando paro para assistir ao notici�rio. Outro dia, vi um show para 50 mil pessoas na Nova Zel�ndia. Fiquei t�o triste por estarmos t�o distantes disso. Nessa hora, tendo a n�o acreditar no carnaval da maneira como era”, conclui.
FESTIVAL
At� a pr�xima sexta (7/5), as redes sociais de Di Souza v�o apresentar o Festival da Saudade, com v�deos em que m�sicos de BH interpretam, ao viol�o, as can��es de “Bloco da Saudade”. A programa��o traz Deh Muss (3/5), Thiago Correa (4/5), Marcelo Dai (5/5), Irene Bertachini (6/5) e Jennifer Souza (7/5). O conte�do estar� dispon�vel no Instagram (disouza.cambio) e no YouTube (disouza). Tamb�m no YouTube ficar� dispon�vel o curta “Bloco da Saudade”.

“BLOCO DA SAUDADE”
.�lbum de Di Souza
.Independente
.10 faixas
.Dispon�vel nas plataformas digitais