
Uma pe�a sobre duas artistas que pretendem fazer uma montagem teatral cuja hist�ria nasce em um espet�culo anterior, que, por sua vez, � adaptado de um romance. Descrita assim, a ideia por tr�s de “Partida”, que faz sua estreia on-line nesta sexta-feira (04/06), pode parecer confusa. Por�m, as cenas trazem uma conversa fluida e afetuosa entre as atrizes Denise Stutz e Inez Viana, que partem de estruturas comunicacionais simples para criar uma trama ajustada aos formatos contempor�neos.
Sob dire��o de Debora Lamm, as duas compartilham um �nico cen�rio: a plateia esvaziada de um teatro. Ali, conversam por cerca de 30 minutos sobre essa pe�a que desejam montar. A inspira��o para o novo trabalho � uma carta escrita em 1999, mas nunca enviada, pela m�e de uma delas, endere�ada a um amante com quem resolve romper a rela��o, depois de assistir ao espet�culo “Partido” – adapta��o do Grupo Galp�o para o romance “O Visconde partido ao meio”, do italiano Italo Calvino.
Entretanto, a discuss�o que seria sobre o texto teatral que elas pretendem montar logo d� lugar a uma conversa livre sobre essa terceira personagem, que n�o entra em cena, mas domina o enredo. “� a ‘M�e de Uma de N�s Duas’. Ela se torna uma personagem com esse nome. � uma terceira constru��o, uma mistura de realidade com fic��o”, explica a atriz mineira Denise Stutz, radicada no Rio de Janeiro h� mais de 40 anos, idealizadora do projeto. N�o h� preocupa��o em revelar qual das duas de fato � a filha, embora a hist�ria da carta encontrada seja real.
O di�logo cita trechos da montagem do Galp�o. As personagens tentam entender que aspectos daquela trama poderiam ter levado essa mulher, na �poca com 74 anos, a terminar com seu amante, que era mais jovem.
LEMBRAN�AS
As duas tamb�m compartilham mem�rias que t�m da mulher, ainda que as lembran�as sejam desencontradas. E h� espa�o para afirma��es mais pontuais sobre o passado dela, como o fato de ter tido um filho morto pela ditadura militar.
“O que importa � a tentativa de recuperar a mem�ria. De saber o que aconteceu no ano de 1999. Dizia-se que o mundo ia acabar em 2000; o mundo est� acabando agora, de certa forma. A pe�a n�o deixa de falar do fim do mundo. Ele leva 22 anos para acabar”, afirma Inez Viana, respons�vel pela dramaturgia de “Partida”.
Inez observa que “� muito impressionante o poder do teatro”, citando o exemplo de que “uma mulher assiste a uma pe�a e essa pe�a mexe com a vida inteira dela”. Ela conta que “20 anos depois, eu e Denise nos encontramos para tentar entender essa epifania e, juntas, criarmos uma obra que dialoga com os tempos atuais”.
Parceiras de longa data, as duas lidam agora com um cen�rio diferente ao ter que pensar a atividade teatral com todas as limita��es de intera��o impostas pela pandemia do novo coronav�rus. Al�m da metalinguagem da trama sobre o entrela�amento de outras hist�rias teatrais, a pe�a fala sobre a pr�pria adapta��o ao formato digital. Em cena, elas brincam com os modelos atuais de transmiss�o audiovisual, e Denise simula uma falha na conex�o, deixando sua personagem “travada” por alguns instantes.
"Al�m do nosso encontro, nessa parceria de muitos anos, essa pe�a, sobretudo, � sobre a constru��o de alguma coisa que vir�. Estamos impossibilitados de estar no teatro, como sempre fizemos, e achamos uma maneira de dar uma rasteira nisso tudo, at� na linguagem da internet”, afirma Inez Viana.
“A c�mera parada remete ao teatro filmado, mas trazemos todas essas linguagens com as quais estamos envolvidos atualmente. Ningu�m mais aparece nas imagens sem usar um filtro, ou sem travar, sem dizer ‘oi, est� me ouvindo?’, sempre algu�m cai, se reconecta. S�o coisas que se normalizaram na internet, com as lives. Ent�o trazemos essa ironia dos nossos tempos”, diz.
Inez e Denise se dizem de uma gera��o anterior, menos familiarizada com os meios digitais. Nesse sentido, Denise diz que a dire��o de D�bora Lamm, de 43 anos, facilitou a imers�o da proposta no formato vi�vel para os tempos de pandemia, por meio do v�deo. “A D�bora tem a linguagem do teatro e da com�dia, num tempo diferente do meu”, diz a atriz.
A diretora entende que o formato da pe�a possibilita ainda “espiar a intimidade entre duas pessoas”, algo que se popularizou na contemporaneidade, com os reality shows. “� interessante fazer uma interse��o do teatro com essa linguagem que hoje alcan�a tanta gente”, afirma D�bora, que concilia a carreira de diretora teatral com a de atriz, tanto nos palcos, como no cinema e na TV.
“Essa pe�a, para al�m de tudo, � a celebra��o da rela��o das duas. Uma rela��o que elas constroem h� um tempo, de parceria na vida, no teatro, e o grande lance dessa pe�a � testemunhar a identidade que elas criaram juntas. Comemora essa cumplicidade”, afirma D�bora.
“Partida” foi filmada no Espa�o Cultural S�rgio Porto, no Rio. As exibi��es ser�o gratuitas, no canal do Sesc Rio no YouTube.
“Partida”
Desta sexta-feira (04/06) a 27/06, de sexta a domingo, �s 19h, no canal do Sesc RJ no YouTube (www.youtube.com/portalsescrio). Gratuito.
Dura��o: 35 minutos.
Dura��o: 35 minutos.
Classifica��o et�ria: Livre.