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Estado de Minas M�SICA

Guinga revela seu lado letrista em todas as faixas do disco 'Zaboio'

Autor de melodias que fizeram hist�ria na MPB, compositor carioca decidiu verbalizar os pr�prios sentimentos em seu novo �lbum, produzido por Kassin


20/06/2021 04:00 - atualizado 20/06/2021 08:38

Guinga diz que a música é sua companheira nos momentos de euforia e de tristeza(foto: Renato Mangolin/divulgação)
Guinga diz que a m�sica � sua companheira nos momentos de euforia e de tristeza (foto: Renato Mangolin/divulga��o)
De nome pomposo, Carlos Althier de Souza Lemos Escobar, com o pseud�nimo de Guinga, tornou-se um dos nomes de maior relev�ncia da MPB contempor�nea. Com 18 discos lan�ados, tem m�sicas gravadas por Chico Buarque, S�rgio Mendes, Cauby Peixoto, Ivan Lins, Elis Regina, Beth Carvalho, Clara Nunes, M�nica Salmaso e Leila Pinheiro, al�m do franc�s Michel Legrand.

Com frequentes turn�s e apresenta��es no exterior, Guinga aproveitou a longa quarentena determinada pela pandemia para, isolado em casa, ocupar o tempo com o que mais lhe d� prazer: compor. Nove das m�sicas criadas nesse per�odo, inspiradas em sua mem�ria afetiva, se juntaram a outras duas, feitas anteriormente, no repert�rio de “Zaboio”, �lbum que acaba de chegar �s plataformas digitais.

Chama a aten��o o fato de, durante sua longa trajet�ria art�stica, Guinga lan�ar pela primeira vez um disco em que todas as letras e melodias t�m a sua assinatura. Em algumas can��es, o compositor presta homenagem a pessoas e lugares cujas lembran�as ficaram armazenadas no seu imagin�rio.

� o caso de “Sabi� negritude”, dedicada a M�e Tainha e sua ancestralidade, a quem conheceu na inf�ncia, durante viagem com a fam�lia � Ilha de Itamarac� (PE). “A bailarina e o vaga-lume” ele fez para a neta. Com “Tangar�”, festeja o amigo S�rgio Mendes.

Ao compor “Casa de Francisca”, Guinga se lembrou do Palacete Teresa Toledo, pr�dio paulistano tombado pelo patrim�nio hist�rico, onde encontrou pessoas “que fazem da m�sica um meio de vida material e espiritual”.

“Zaboio”, a faixa-t�tulo, remete a recorda��es da adolesc�ncia de Guinga, �poca em que Jacarepagu�, bairro do Rio de Janeiro, era considerado zona rural.

Produzido por Kassin, o disco foi gravado em fevereiro no est�dio carioca Mariani. Al�m do �lbum, ser�o lan�ados disco em vinil e um document�rio sobre o processo de grava��o, dirigido pelos idealizadores do projeto, Fernanda Vogas e Xabier Monreal.

Como foi a experi�ncia de gravar pela primeira vez um disco em que voc� � autor de todas as melodias e letras?
Realmente, agora, aos 70 anos de idade, � que fui ter essa experi�ncia. Quando comecei a compor, fazia as letrinhas de minhas m�sicas... Mas logo comecei a compor com Paulo C�sar Pinheiro e percebi que tinha de entregar minhas melodias para quem fosse de um talento espec�fico. Fiquei muito feliz em poder fazer essa parceria com Paulinho Pinheiro, e assim seguiu minha carreira... Com o Pinheiro, com o Aldir (Blanc), com um monte de parceiros. At� que chegou um momento da vida, eu com quase 70 anos, em que comecei a sentir vontade de verbalizar algumas coisas, as minhas m�sicas. E at� nas m�sicas de alguns parceiros, como � o caso da Ana Paes, do Ian Faquini e do Jean Charnaux. Comecei a fazer umas letrinhas para eles, e eles gostaram. A� me empolguei.

Como se sente o Guinga letrista?
Estou verbalizando algumas coisas nas minhas m�sicas. Mas acho que tenho esse direito porque, no fundo, as letras que fa�o est�o falando sobre mim mesmo. E, para falar de mim, acho que tenho alguma autoridade (risos). Sou compositor de melodias, mas neste disco assumo totalmente as letras que fiz. Eu gosto, me sinto feliz. D� um sabor � can��o... As can��es fluem como se derretessem na boca. Eu me sinto muito feliz por isso!

Todas as can��es foram compostas no per�odo da pandemia?
N�o! Compostas durante a pandemia tem “Paulistana sabi�”, “Casa de Francisca”, “Zaboio”, “Sa�ra apunhalada” e, talvez, “S�bia negritude”. Mas fiz outras m�sicas, umas sete ou oito. Por�m, nem todas est�o no disco.

Optou por preencher a intermin�vel quarentena com m�sica?
A m�sica sempre ajuda nos momentos de euforia, nos momentos de tristeza. A m�sica � uma companheira. Ela n�o � tudo na minha vida, mas � grande parte da minha vida. N�o vou dizer que � mais importante do que minha fam�lia, as pessoas que me amam e que eu amo, mas a m�sica � um peda�o muito importante da minha vida. N�o acho que a m�sica seja mais importante do que o ser humano. O ser humano � a grande obra da natureza. Ela me preencheu muito na pandemia, mas tamb�m fui preenchido pelo amor das pessoas. E, na medida do poss�vel e do que cabe no meu cora��o, tento retribuir.

Quais foram as fontes de inspira��o para as novas can��es?
Minha fonte de inspira��o � minha vida! O que observo no cotidiano e no sentimento alheio. Nada diferente de qualquer outra pessoa que escreve. Alguns fazem isso com uma estatura gigantesca. Eu tento fazer de uma forma que o conjunto de m�sica e letra me preencha, usando o filtro da minha cr�tica.

Quanto tempo durou a produ��o do seu disco “Zaboio”?
A Fernanda Vogas, idealizadora e produtora do projeto, me procurou em janeiro deste ano propondo a grava��o de um disco com m�sicas de letras e melodias minhas. Ela admira muito minhas m�sicas. A empresa dela, a Vogas Produ��es, criou um selo fonogr�fico para gravar o meu disco e minhas m�sicas. Foram cinco meses, da idealiza��o do projeto, escolha de repert�rio, grava��o, mixagem, masteriza��o e toda a parte de licen�a, � distribui��o digital.

“Tangar�” voc� dedicou a S�rgio Mendes. Por que quis homenage�-lo?
Homenageei o S�rgio porque � um grande artista, um grande vencedor, que elevou o nome do Brasil, divulgou o nome do Brasil pelo mundo. S�rgio � um sucesso em todas as acep��es da palavra. Mas n�o s� por isso. � um grande amigo, um dos poucos que tenho. Tenho um amor muito profundo por ele e por toda a fam�lia dele. Ent�o, fazer uma m�sica para o S�rgio � quase uma obriga��o.

M�nica Salmaso gravou um CD cujo repert�rio � formado por m�sicas que voc� comp�s com Paulo C�sar Pinheiro. Qual � a import�ncia de incluir a cantora paulistana em “Zaboio”?
A M�nica � uma defensora da minha m�sica. At� brinco que ela � o goleiro do meu time. N�o passa nada, ela defende tudo! Pela minha obra, ela d� a vida. Al�m disso, ela d� a genialidade que recebeu de algo superior, que apontou o dedo pra ela e disse: “A voc� eu vou dar toda a arte poss�vel que uma cantora pode ter”. A M�nica � isso! Por sorte minha, ela cruzou meu caminho e ama minhas m�sicas. Da mesma forma que a amo cantando minhas m�sicas. E amo essa minha amiga como se fosse uma filha minha.

O que vem a ser zaboio?
Zaboio �, na realidade, aboio. Fui criado em zona rural, fazendo ra��o para cavalo, cortando capim para cavalo, ajudando a raspar o pelo do cavalo, ajudando a levar cavalo para o pasto. Mesmo sem gostar – eu n�o gostava de nada disso. Mas era a minha cota, que tinha de fazer na casa onde fui criado, casa da minha av�. Os tios pediam para ajudar, e era quase minha obriga��o. Afinal de contas, minha av� me dava casa e comida, meus tios ajudavam a me criar. Eu fazia isso a contragosto, nunca tive liga��o com cavalhada. Mas depois de velho, agora fui entender, senti saudade de tudo aquilo que vivi. Todo aquele ambiente que parecia um verdadeiro faroeste, aquela cavalhada toda. Cresci assim; isso acompanhou minha vida at� os 17 anos. A Fernanda, idealizadora e produtora do disco, perguntou: 'O que � essa m�sica?' Respondi: ‘Ah, isso s�o meus aboios’. Mas o som saiu como ‘meus zaboios’. � calcado no som, mas, no fundo, � meu aboio!

Al�m do �lbum, voc� vai lan�ar um vinil e um document�rio sobre a produ��o de “Zaboio” neste momento em que a cultura no Brasil passa pelo processo de desvaloriza��o por parte de �rg�os governamentais. Voc� encarou as dificuldades assim mesmo?
Na vida, estou habituado a enfrentar dificuldades. Forjei minha personalidade nos revezes, ent�o at� hoje n�o tive medo, n�o! At� hoje consegui superar. L�gico que n�o superei sozinho, porque sozinho n�o se faz nada na vida. Sempre com algumas ajudas. Algu�m dividindo os fardos, os bons momentos. E a vida s� tem raz�o assim, quando voc� tem algu�m para dividir os bons e os maus momentos.

(foto: Xabier Monreal/divulgação)
(foto: Xabier Monreal/divulga��o)


“ZABOIO”
.Disco de Guinga
.11 faixas
.Tratore
.Dispon�vel nas plataformas digitais







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