Narrativa refor�a necessidade de empoderamento aos povos negros: Rosilene Oliveira, m�e do diretor Stanley Albano, � uma das atrizes (foto: Raul Lansky/Divulga��o)
Mais do que as narrativas dos povos negros, propor um fio condutor do debate sobre o racismo estrutural na sociedade brasileira. Com o curta “Angu recheado de senzala”, o diretor e produtor Stanley Albano foi buscar um tempero para esse olhar cr�tico ao destacar a contribui��o de pessoas escravizadas na origem do pastel de angu.
A proposta do filme, viabilizado pela Lei Aldir Blanc e dispon�vel no YouTube, est� diretamente vinculada � carreira de Albano, de 27 anos, natural de Jo�o Monlevade, Regi�o Central de Minas. Entre cargos em telemarketing, a�ougues e carpintaria, aos 15 anos, ele come�ou a trabalhar como gar�om. Ali viu ser despertado o gosto pela cozinha. Em 2019, abriu seu pr�prio bar, o MandakNega, em Belo Horizonte, onde foi praticando suas experi�ncias culin�rias.
Em decorr�ncia da pandemia de COVID-19, Stanley passou a atuar exclusivamente por delivery e a produzir v�deos para divulgar o neg�cio nas redes sociais. A experi�ncia audiovisual serviu para retomar a queda pelo cinema e a atua��o – esquecida nas aulas de teatro na inf�ncia. Em 2020, ele lan�ou seu primeiro curta-metragem “Morde & assopra”, sobre algumas experi�ncias profissionais. O filme foi exibido no ForumDoc, Mix Brasil, Mostra 10 Olhares, entre outros festivais.
“Angu recheado de senzala” � sua segunda produ��o. A proposta surgiu depois de receber a demanda para vender past�is de angu em um evento. Na pesquisa sobre a receita, ele descobriu a origem vinculada � escravid�o.
“A pandemia fez gritar a quest�o da desigualdade. Ent�o, comecei a juntar um pouco da pol�tica, do social, com a comida. Deu certo para mim. � uma coisa que eu j� venho estudando, pesquisando, e est� funcionando. S� demorou demais para casar isso (comida e cinema), mas rolou”, descreve Albano, que assina a produ��o, roteiro e dire��o do curta, al�m de tamb�m atuar.
O filme come�a expondo o h�bito das mucamas, de esconderem os restos de comida dos senhores dentro do angu para alimentar os escravos. Aos poucos, elas passaram a fritar o ingrediente recheado com carne e a receita conquistou a mesa da Casa Grande. De forma delicada, a obra vincula o prato, patrim�nio cultural de Minas Gerais, ao racismo estrutural presente na sociedade brasileira.
Stanley afirma que a proposta � uma maneira de propagar as narrativas do povo negro, que ainda tem pouco espa�o no cinema nacional. “� uma forma de empoderar pessoas negras. Busco passar essa linguagem n�o s� para as pessoas negras, como para os patr�es. Tenho certeza que ainda h� muitas pessoas que, �s vezes, tratam seus funcion�rios de forma desrespeitosa”, aponta.
Em “Angu recheado de senzala”, ele conecta a escravid�o � realidade das dom�sticas. “As pessoas ainda sofrem muitos abusos trabalhistas na rela��o diferenciada com os patr�es, que parece ser levada como natural. �s vezes, elas n�o tem muita ci�ncia disso. At� hoje tem gente que dorme na casa do patr�o, n�o tem o h�bito de poder comer no mesmo lugar ou a mesma comida. Em pleno s�culo XXI, a gente ainda mant�m v�rios v�nculos escravocratas, por mais que se fa�a de liso”, destaca.
S� EMPREGADAS
Na atua��o, o diretor decidiu trabalhar somente com pessoas de seu conv�vio, sem forma��o em cinema, que j� foram empregadas dom�sticas. � o caso da sua m�e, Rosilene de Oliveira, e de T�nia Maria de Oliveira, coadjuvantes. A narrativa mescla presente e passado. A transi��o � a cena do escravo, interpretado por Stanley, fugindo da fazenda com a ajuda das companheiras. “A fuga, para mim, � o momento �pice. � a hora que a gente tem coragem de tentar fazer alguma coisa diferente, sair do normal, que � simplesmente o negro ser s� o empregado dom�stico, o pedreiro. � fugir para se libertar e fazer o que quer”, comenta.
A narrativa segue no Restaurante de MandakNega com os mesmos atores contando suas hist�rias profissionais e gastron�micas, enquanto comem pastel de angu. “Em 1851, uma escrava esconde dentro de um bolinho de fub� um peda�o de carne que sobrou da refei��o do prato do seu patr�o. Em 1920, uma filha de escravo alimenta seus filhos com pastel de angu. Em 1987, uma mulher branca abre um restaurante na Zona Sul e fica milion�ria vendendo pastel de angu. Em 2020, um homem negro serve past�is de angu feitos por sua m�e”, destaca a narra��o do curta, vinculado tamb�m � hist�ria de Stanley Albano.
*Estagi�rio sob a supervis�o do subeditor Eduardo Murta
“ANGU RECHEADO DE SENZALA”
(20 min)
.Roteiro e Dire��o: Stanley Albano
.Dispon�vel no Canal da MandakNega no Youtube: https://www.youtube.com/channel/ UCNKMCl9SmFJqgjOm51054XA