1� Festival da Voz e Poesia Falada re�ne poetas de v�rias estados

Com o intuito de dar espa�o e visibilidade a uma express�o art�stica que vem, ao longo dos �ltimos anos, ganhando cada vez mais corpo, ser� realizado, a partir da pr�xima quinta-feira (19/08), at� s�bado (21/08), o 1º Festival da Voz e Poesia Falada, que reunir� artistas e poetas de diferentes lugares do Brasil. 

Ao longo dos tr�s dias, debates, apresenta��es e mostra de videopoemas v�o dar um panorama da crescente populariza��o de slams, saraus e rodas de poesia. O evento � organizado pelo coletivo, que, desde 2017, mant�m o projeto RodaBH de Poesia, que se prop�e a juntar artistas de diferentes linguagens ao redor de uma grande mesa de bar, onde, a cada momento, algu�m se levanta e apresenta seu poema, m�sica, texto ou performance.

A poeta N�vea Sabino, uma das integrantes do coletivo, explica que a ideia do 1º Festival da Voz e Poesia Falada deriva da experi�ncia da RodaBH de Poesia. “A gente j� vinha pensando na realiza��o desse festival desde 2017. Em 2018, aprovamos o projeto no Fundo Municipal de Cultura, mas a� veio a pandemia e tivemos que repensar o formato, porque a ideia era reunir artistas de diversas express�es e de diversos lugares. Chegamos agora a esse modelo, que n�o se limita a apresenta��es, vai al�m, prop�e debates, para cruzar as experi�ncias de cada um. Foi no sentido de querer trazer pensamento para esse cen�rio”, diz.

Com o tema “Literatura pela boca”, o debate de abertura, na quinta-feira, vai contar com as presen�as da artista, professora da UFMG e pesquisadora de performances e ritos Leda Maria Martins (MG) e da fil�sofa Abigail Campos Leal, uma das organizadoras do Slam Margin�lia – batalha de poesias feita por e para pessoas trans. 

Na sexta-feira (20/08), o festival promove o encontro entre a poeta e atriz Luiza Rom�o (SP), o ator, poeta e roteirista Uir� dos Reis (CE) e o professor e artista Lucio Agra (BA), na mesa sobre “Voz, corpo e poesia sonora”. 

No s�bado (21/08), �s 12h, a multiartista e chef de cozinha Zora Santos e o fundador do projeto Viva Lagoinha, Filipe Thales, discorrem sobre o tema “Cozinha, quintal e oralidade”, abordando as hist�rias e saberes aprendidos no ambiente de casa por meio de conhecimentos passados de gera��o para gera��o.

"Os temas giram em torno do que a gente vive e observa com as rodas, juntando as linguagens, acreditando numa poesia falada mais ampla, com mais formas de express�o. Os debatedores todos t�m uma bagagem grande de estudo sobre esses temas que a gente est� propondo"

N�vea Sabino,poeta e cofundadora da RodaBH de Poesia

“Os temas giram em torno do que a gente vive e observa com as rodas, juntando as linguagens, acreditando numa poesia falada mais ampla, com mais formas de express�o”, diz N�vea. “Os debatedores todos t�m uma bagagem grande de estudo sobre esses temas que a gente est� propondo. S�o pessoas que trabalham a performance da palavra oral. A mesa ‘Cozinha, quintal e oralidade’, por exemplo, tem a ver com esses lugares da casa que s�o espa�os de mem�ria.” 

O poeta sergipano Pedro Bomba, um dos criadores da RodaBH de Poesia, recorda que essa iniciativa que redundou no festival come�ou a tomar forma a partir de seu encontro com N�vea. “Eu j� tinha vindo a Belo Horizonte em 2014 e em 2015, j� conhecia N�vea. Em 2016,  organizamos em Aracaju o projeto Estados de Poesia”, conta ele. 

“As rodas de poesia s�o muito comuns no Nordeste. Na regi�o de Pernambuco, da Para�ba, v�rios poetas se re�nem para fazer versos de improviso. Em 2017, vim morar em BH e resolvemos fazer a RodaBH de Poesia, que nada mais � do que uma atividade voltada a poetas da poesia falada e artistas que t�m a palavra como principal elemento de sua express�o”, afirma.

Pedro n�o hesita em classificar esse movimento como um dos principais da literatura brasileira na atualidade. “Ele cria uma coisa fundamental para a poesia e para a literatura, de modo geral, que � a retomada de suas origens”, observa. 

“A poesia surge sendo falada e, com os anos, isso vai se perdendo. Os saraus e slams que hoje est�o disseminados pelo pa�s retomam essa tradi��o e criam espa�os de recep��o coletiva desse tipo de literatura. As pessoas v�o para se encontrar e para ouvir poesia. A gente tem isso como a base do nosso festival”, diz. 

Ele cita como exemplos da for�a da poesia falada em Belo Horizonte os poetas Jo�o Paiva e Pi� Sousa, a Pieta Poeta, que j� representaram o Brasil – em 2015 e 2018, respectivamente – na Copa do Mundo de Slam, na Fran�a, ap�s vencerem o Slam BR – campeonato brasileiro de poesia falada. “Temos tamb�m a Camila F�lix, autora do ‘Atlas dos Saraus da RMBH’, que mapeia todos os encontros de poesia falada da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte”, destaca Pedro.

N�vea Sabino concorda e informa que o movimento da poesia falada em Minas Gerais � um dos que mais cresceram no pa�s ao longo dos �ltimos anos. “� um estado que vem com muita for�a nas competi��es. Tem os saraus se multiplicando e cada vez mais estabelecendo pontes com o Duelo de MCs, que � outra forma de express�o que se fundamenta na poesia falada. Hoje a gente tem not�cia de muitos saraus acontecendo em Contagem, Ibirit�, Nova Lima, Betim. A gente mant�m uma rede que vai desde o pessoal de Juiz de Fora at� Uberaba”, ressalta. 

“Essa coisa da oralidade � muito caracter�stica do estado. Belo Horizonte traz essa heran�a interiorana da conviv�ncia comunit�ria, nos bares, na ocupa��o dos espa�os urbanos”, aponta.

Um dos destaques do 1º Festival da Voz e Poesia Falada, conforme os organizadores, � a Mostra Olho de Boca de videopoesia, que selecionou quatro trabalhos a serem exibidos no �ltimo dia do evento, �s 18h – “Estranho animal”, de Arthur Senra (DF), “Avesse”, de Eli Nunes (BH), “Templo – Poesia armada”, de Elisa de Sena (BH), e "Nome pr�prio", de Yasmin Bidin (S�o Carlos, SP). 

“O chamado para essa mostra foi aberto para todo o Brasil. Existem muitos poetas que t�m produzido diferentes videopoemas. � uma linguagem mais ou menos recente, a gente vive um momento de democratiza��o da produ��o audiovisual, no sentido de que filmar e editar ficou mais f�cil com os celulares, ent�o muitos poetas t�m recorrido a isso para divulgar seus trabalhos”, diz Pedro Bomba.

"A poesia surge sendo falada e, com os anos, isso vai se perdendo. Os saraus e slams que hoje est�o disseminados pelo pa�s retomam essa tradi��o e criam espa�os de recep��o coletiva desse tipo de literatura"

Pedro Bomba,�poeta e cofundador da RodaBH de Poesia

Ele comenta que, “para a gente que � da poesia falada, o v�deo � um grande aliado, porque abarca o corpo, a voz, o gesto, a entona��o. Num livro, voc� s� encontra o texto”. Segundo Pedro,  j� existem algumas mostras de videopoemas Brasil afora, e v�rios pa�ses abrigam festivais dedicados a essa forma de express�o. 

A Mostra Olho de Boca de videopoesia foi pensada, conforme diz, para ajudar a ampliar e consolidar esse cen�rio em �mbito nacional. “Pensamos nessa mostra para contribuir, ajudar a firmar esse espa�o de compartilhamento, onde se pode fruir a poesia coletivamente – ainda n�o vai ser agora, porque cada um vai assistir da sua casa, mas digo j� pensando numa segunda edi��o”, afirma. 

“A ideia � que a gente dedique um olhar para essas obras. �s vezes, s�o trabalhos ainda muito ligados aos livros, e a gente quer olhar para eles de maneira independente, como obras que falam por si s�s, n�o necessariamente tendo uma rela��o com o livro, n�o � um teaser ou um book trailer. A mostra tem este intuito: permitir momentos coletivos e dedicar uma reflex�o a esse tipo de express�o.”

O encerramento do festival ficar� por conta da edi��o especial on-line da RodaBH de Poesia, com as presen�as de Karine Bassi, Isabella Alves, Elzelina D�ris, Coral, Fellipe Belluk, Eneida Bara�na, Pedro Bomba e N�vea Sabino.