“Ser� que � t�o errado o cara querer estar em casa com sua cole��o de discos? N�o que colecionar discos seja a mesma coisa que colecionar selos, ou bolachas de cerveja, ou dedais antigos. Tem um mundo inteiro na minha cole��o, um mundo mais legal, mais sujo, mais violento, mais pac�fico, mais colorido, mais vulgar, mais perigoso, mais amoroso do que o mundo em que vivo.”
A vida atrav�s da m�sica – ou dos filmes, dos livros, das s�ries – �, por vezes, muito mais do que a vida aqui fora. Um livro conseguiu, 26 anos atr�s, traduzir exatamente o que leitores – e ouvintes e espectadores – sentiam quando eram tomados por uma obra. “Alta fidelidade” (1995), o drama amoroso sobre Rob Fleming, um cara aficionado por (boa) m�sica pop que, atrav�s de listas, tentava se reconciliar com a pr�pria vida, �, at� hoje, o grande romance do escritor brit�nico Nick Hornby.
A partir desse livro, que influenciou gera��es de leitores e criadores – gerou filme (2000), pe�a de teatro (2000), s�rie (2020), e referendou a produ��o em massa de listas que assola o mundo virtual –, o jornalista e professor Thiago Pereira Alberto come�ou a trabalhar o universo de Hornby.
Defendida em 2012 na PUC Minas, sua disserta��o de mestrado � publicada agora em livro. “Vida pop – Representa��es e reconhecimentos da cultura pop em fic��es de Nick Hornby” (Editora Appris) ter� lan�amento virtual nesta sexta (27/08), por meio da plataforma Zoom.
QUESTIONAMENTO
Para sua pesquisa, Thiago se pautou em “Alta fidelidade” e em “Juliet nua e crua” (2009), na �poca de sua disserta��o o romance mais recente de Hornby. “Os dois livros me ajudaram a pensar sobre o sujeito que habita essa grande coisa chamada cultura pop. Os romances t�m uma esp�cie de arco hist�rico em rela��o a este sujeito. Em ‘Alta fidelidade’, o tom � absolutamente celebrat�rio, em que ele se v� reconhecido naquele lugar. J� ‘Juliet’ � o lugar do questionamento, da tens�o, pois mostra que essa vida referenciada pelos discos, m�sicas e s�ries n�o d� conta de tudo”, afirma.Hornby, segundo Thiago, � muito estudado na academia na Inglaterra. “No Brasil, s�o pouqu�ssimas refer�ncias de estudos acad�micos.” Para a publica��o do livro, ele reviu sua disserta��o. Quase uma d�cada depois de sua defesa, faz uma autocr�tica pautada pelo �ltimo desdobramento do romance “Alta fidelidade”, a s�rie hom�nima lan�ada no ano passado.
Na produ��o, que teve uma s� temporada (no Brasil, dispon�vel na plataforma Starzplay), � uma mulher, Rob Brooks, interpretada por Zoe Kravitz, a protagonista. “Nos dois livros analisados, a representa��o do sujeito pop era um homem h�tero, branco, anglo-sax�o, com a idade avan�ando. Acredito na ideia do sujeite pop, e a vers�o da s�rie faz isso com maestria ao colocar uma mulher negra fluida sexualmente como protagonista.”
Para Thiago, tal atualiza��o � instigante, “pois a cultura pop atravessa todos”. “A s�rie amplia o espa�o da representa��o, que vai gerar outros sujeitos pop, pois qualquer pessoa pode ser muito atravessada pelos elementos do grande guarda-chuva que � a cultura pop. A s�rie afirma que isso � para todo mundo, que a cultura pop n�o tem marca��o absoluta de g�nero, sexualidade. S�o muitas representa��es poss�veis.”
O autor, que na apresenta��o do livro faz essa atualiza��o, assim como os personagens de Hornby, continua pautado pela cultura pop. Defendeu, em abril, pela Universidade Federal Fluminense (UFF), sua tese de doutorado: "’But don't forget the songs that saved your life’: The Smiths, YouTube e nostalgia no pop contempor�neo”.
“VIDA POP – REPRESENTA��ES E RECONHECIMENTOS DA CULTURA POP EM FIC��ES DE NICK HORNBY”
De Thiago Pereira Alberto. Editora Appris, 175 p�ginas. R$ 57,60 (editoraappris.com.br). O lan�amento virtual ser� nesta sexta (27/08), a partir das 19h, via plataforma Zoom (https://bit.ly/37RUCs4). Al�m do autor, estar�o no bate-papo sobre cultura pop Simone Pereira de S� (UFF), coordenadora do LabCult, que lan�a o livro "M�sica pop-perif�rica brasileira"; N�sio Teixeira (UFMG), Thiago Soares e Geg� Albuquerque (UFPE)