
Foi no Corpo que eles se encontraram. O belo-horizontino Rodrigo Quik tinha 17 anos em 1984, quando entrou para a companhia. A santista Let�cia Carneiro, cinco anos mais velha, mudou-se para BH em 1985, ap�s sele��o para o grupo. Durante viagens, ensaios e muitos pas de deux, os dois se apaixonaram, casaram-se e tiveram a primeira filha. Em 1996, deixaram o Corpo para formar sua pr�pria companhia.
A Quik Cia. de Dan�a chega aos 21 anos e, em meio �s dificuldades impostas � cultura, celebra a maioridade com inven��o. “A gente trabalha com videodan�a desde 2006, muito antes da pandemia”, comenta Rodrigo. A companhia, que hoje tem somente o casal como integrante, trabalhando com artistas convidados a cada projeto, d� in�cio nesta semana a uma temporada on-line.
DIGITAL
A partir de s�bado (11/09) ser�o lan�ados, no YouTube, tr�s trabalhos: dois solos in�ditos, criados durante a pandemia, e a nova vers�o, agora pensada para o formato digital, de uma montagem anterior. As transmiss�es ser�o seguidas de bate-papos com v�rias profissionais (artistas, bailarinas, psic�logas), todas mulheres, que falaram sobre as rela��es da dan�a com outras express�es art�sticas a partir do trabalho da Quik.

Os v�deos foram realizados na regi�o de Nova Lima, onde Rodrigo e Let�cia moram e atuam. No dia 11, o solo “De que somos feitos”, de Rodrigo, abre a temporada – as transmiss�es ocorrer�o ao longo dos tr�s pr�ximos fins de semana. A rela��o do corpo com a natureza � o mote do trabalho.
“Com a COVID, a gente viu que o que tem de mais importante � cuidar do corpo, o ser humano n�o deve se colocar acima da natureza. Tenho a sorte, onde moro, de estar entre duas fazendas e frequento os lugares como extens�o da minha casa. Estudei v�rias loca��es e n�s filmamos de acordo com cada elemento (fogo, terra, �gua e ar)”, conta Rodrigo.

Para a �gua, por exemplo, ele gravou a performance em um riacho; para o ar, em uma pedreira, que fica em uma regi�o mais elevada; para a terra, numa �rea com o solo muito marrom.
Com lan�amento em 18 de setembro, “De n�s dois” re�ne Rodrigo e Let�cia na vers�o digital de um espet�culo do repert�rio da Quik. Em cena, o casal de bailarinos e core�grafos – eles s�o pais de Marina Carneiro, artista visual de 34 anos, e de Helena Carneiro, bailarina de 22 – exp�e os afetos, amores, fragilidades que os acompanham na vida e na arte h� tr�s d�cadas.
�ltimo dos trabalhos, o solo “Prima-veras” ser� lan�ado em 25 deste m�s, anivers�rio de Let�cia. Fala das esta��es, das mudan�as de ciclos da vida e do envelhecimento.
Com a COVID, a gente viu que o que tem de mais importante � cuidar do corpo, o ser humano n�o deve se colocar acima da natureza"
Rodrigo Quik, core�grafo e bailarino
“Ele come�ou a ser pensado em 2017 e traz uma parceria importante, a Lu Favoreto, da Cia. Oito Nova Dan�a, de S�o Paulo. Nos �ltimos tempos, constru� um est�dio em casa e esse ‘novo ch�o’ traz muito da passagem do tempo e da vida”, conta Let�cia.
“Prima-veras”, diz ela, � muito autobiogr�fico. � homenagem � m�e da bailarina, que sofre de Alzheimer – Let�cia usa um vestido dela durante o trabalho.
“A cria��o das coreografias � improvisada, mas traz estruturas bem definidas. O v�deo foi feito em casa, com mem�rias de fotos, das rela��es com a minha m�e. O corpo est� sempre em movimento”, conta ela.
O v�deo foi feito em casa, com mem�rias de fotos, das rela��es com a minha m�e. O corpo est� sempre em movimento"
Let�cia Carneiro, core�grafa e bailarina
Al�m de dan�ar, Let�cia toca djamb�, desenha e canta durante a apresenta��o. “S�o conversas com outras linguagens, algo bem desafiador para o espectador.”
Da sa�da do Grupo Corpo para a cria��o da Quik foram quatro anos. “Tivemos que aprender a dar aulas, estudar, criar e produzir espet�culos”, conta Rodrigo. Mais recentemente, o trabalho de pesquisa se aprofundou na improvisa��o. “� muito do instante e do ao vivo”, acrescenta Let�cia.
Ao longo de duas d�cadas, al�m do trabalho autoral, a companhia passou a atuar em um vi�s socioeducacional. Com sede no Jardim Canad�, trabalha junto a comunidades desse bairro e do vizinho, �gua Limpa, por meio do Quik Cidadania. O projeto existe h� 19 anos e atende 80 crian�as e jovens com aulas de dan�a, m�sica e artes pl�sticas.
Durante a pandemia, houve aulas on-line. Mas uma das maiores alegrias ocorreu recentemente, quando os dois se reencontraram com 20 fam�lias atendidas pelo projeto.
DELIVERY
Em agosto, a Quik realizou o “Deliveries art�sticos”. O nome � literal, pois levou sua arte a fam�lias da regi�o. “Desc�amos da van e na porta de cada casa, com hor�rio marcado, apresentamos um extrato de nossos trabalhos”, conta Rodrigo. “� uma comunidade que conhece a gente. Temos sete professores e tivemos que reformular a maneira de trabalhar”, acrescenta Let�cia.
A temporada no m�s passado foi o �nico encontro presencial da Quik no �ltimo ano e meio. Todos os projetos t�m sido on-line. “Esse neg�cio de desenho de palminha n�o � a mesma coisa”, diz Let�cia sobre os “aplausos” nos chats.
“Tenho saudade do p�blico. As artes c�nicas s�o de muita vida, suor, respira��o, de um momento de energia. � bom fazer de outras maneiras. Eu nem tinha perfil no Instagram (antes da pandemia). Adoraria que a temporada agora fosse com p�blico, mas, por outro lado, estamos atingindo (por meio de projetos on-line) muita gente, inclusive fora do pa�s. Ent�o, tem muita coisa acontecendo, o pulso da cria��o continua.”
TEMPORADA ON-LINE: 21 ANOS QUIK CIA DE DAN�A
Transmiss�es no canal da Quik no YouTube (https://bit.do/Quik-Canal)“De que somos feitos”
S�bado (11/9), �s 20h, seguido de bate-papo com a artista audiovisual M�nica Toledo e a bailarina e core�grafa Patr�cia Wernek. Domingo (12/9), �s 17h.
“De n�s dois”
S�bado (18/9), �s 20h, seguido de bate-papo com a bailarina e core�grafa Lu Favoreto e a psic�loga C�rise Alvarenga. Domingo (19/9), �s 17h.
“Prima-veras”
S�bado (25/9), �s 20h, seguido de bate-papo com as bailarinas e core�grafas Lu Favoreto e Raquel Pires e a artista visual Deise Oliveira. Domingo (26/9), �s 17h.