
Pode ser vista tamb�m como uma esp�cie de “A rede social” (o filme de 2010 sobre a cria��o do Facebook) �s avessas. Aqui, o que est� em jogo n�o � a trajet�ria dos vencedores no universo da tecnologia, e sim a dos vencidos.
No Terravision, os usu�rios podem navegar pelo globo do macro ao micro: superf�cie terrestre, continentes, pa�ses, cidades e pr�dios. Mas n�o � isso que, grosso modo, o Google Earth faz?
DISPUTA
Pois bem, o sistema americano teve sua primeira vers�o em 2001 e, em 2005, ganhou o mundo, quando foi adquirido pelo Google. E foi a� que os dois jovens descobriram que sua inven��o havia sido “roubada” do outro lado do Atl�ntico. Em 2014, entraram com uma disputa judicial por quebra de patente contra a megacorpora��o.
A narrativa intercala dois momentos temporais. O in�cio dos anos 1990, quando os dois jovens come�am a trabalhar juntos, e a briga nos tribunais, na d�cada passada. A produ��o toma v�rias liberdades diante dos fatos. Os nomes dos personagens, por exemplo.
Na fic��o, a dupla � Carsten Schl�ter, o artista (vivido por Leonard Scheicher na juventude e Mark Waschke, que participou de “Dark”, na idade adulta) e Juri M�ller, o programador (Marius Ahrendt e Misel Maticevic, respectivamente).
Carsten, em 1993, era um estudante de arte que se interessava por arte digital. Exibia suas cria��es em clubes de Berlim. Numa noite, o recluso programador Juri v� um trabalho dele, grande na ideia, mas com problemas t�cnicos.
Os dois se aproximam e Juri diz que poderia resolver as quest�es de programa��o que atrapalhavam as obras. A dupla se une e Carsten tem a ideia, ainda como um projeto de arte digital, do que seria a g�nese do Terravision. Precisavam de dinheiro e de um supercomputador que permitisse opera��es impens�veis na �poca.
FINANCIAMENTO
Conseguem, contra todas as possibilidades, o financiamento da Deutsche Telekom, prometendo que dali a um ano o software estaria pronto para ser exibido em uma confer�ncia mundial, em Kyoto. Bem, as agruras sofridas pela dupla – outros jovens entram no projeto – d�o lugar ao �xito, quando o Terravision se torna a sensa��o do evento no Jap�o. O reconhecimento, que lhes valeu reportagens internacionais, levou-os para o Vale do Sil�cio.
� ali, no para�so da tecnologia, que os dois conhecem seu maior �dolo, Brian Anderson (Lukas Loughran), um g�nio visto como deus pelos nerds, que logo se interessa pelo algoritmo do Terravision. Tal personagem � ficcional, e representa Brian McClendon e Michael T. Jones, os fundadores da Keyhole, que desenvolveu o navegador planet�rio posteriormente vendido para o Google.
CORPORA��ES
A narrativa � romanceada, colocando os dois jovens como idealistas que queriam mudar o mundo com a tecnologia. No momento em que o mundo est� apenas despertando para a internet, eles aprenderam da pior maneira que, apesar de serem empresas coloridas, sem hierarquia, povoadas de jovens e de m�quinas de espresso, as corpora��es sabem, sim, como puxar o tapete de gente despreparada para o jogo capitalista.
Entremeando os flashbacks, acompanhamos os dois, que h� muitos anos n�o se falavam mais, se preparando com uma dupla de advogados para o processo – o �ltimo epis�dio mostra o embate nos tribunais. As cenas s�o duras e de alta tens�o.
Assim que terminar a miniss�rie, assista ao making of disponibilizado na plataforma. O programa, com meia hora, traz depoimentos de atores e v�rios personagens reais da hist�ria, inclusive a dupla Pavel Mayer (o programador) e Joachim Sauter (o artista). Este �ltimo morreu em julho passado, aos 62 anos.
“BATALHA BILION�RIA: O CASO GOOGLE EARTH”
• Miniss�rie em quatro epis�dios, dispon�vel na Netflix