Comparados ao in�cio do ano, os n�meros de v�timas de morte do novo
coronav�rus
ca�ram, e muito. Se em mar�o passado foram registrados em
Belo Horizonte
32.477 diagn�sticos e 493 �bitos, no �ltimo m�s de agosto os n�meros foram, respectivamente, 11.273 e 302. Os �ndices de setembro s� ser�o fechados na pr�xima semana, mas os indicativos s�o de queda.

A luta n�o acabou, mas, gra�as � imuniza��o, desde sempre a nossa �nica certeza no combate � doen�a, h� esperan�a, uma luz no fim do t�nel e a
esperan�a
de que em 2022 poderemos finalmente recolocar a vida nos trilhos.
A ansiedade de um colunista em home office, que sabe que a vacina � o �nico caminho para nos reaproximar, sem estresse, naquele cafezinho de fim de tarde com os colegas de trabalho, por exemplo, acabou servindo de motiva��o para colocar
designers
mineiros em campo. E eles mostraram, com talento, arte e sensibilidade, a necessidade e a urg�ncia da imuniza��o contra a COVID-19.
Nascia assim a campanha
Vacina para Todos
, na qual cada convidado teve liberdade absoluta tanto na cria��o quanto no estilo do trabalho. “A vacina, para mim e para tantos milh�es de brasileiros, tem sido uma grande expectativa. Algo que �s vezes parece estar t�o pr�ximo e que, ao mesmo tempo, ainda � distante e incerto”, disse o designer gr�fico D�lio Faleiro, quando produziu sua pe�a para a campanha.
“A vacina � a nossa perspectiva de futuro, � a possibilidade de exist�ncia de um amanh�. Parti, ent�o, do desejo de criar um cartaz que afirmasse a confian�a na vacina e a cren�a em um amanh� menos obscuro. A cita��o de ‘Apesar de voc�’ surgiu naturalmente no processo de cria��o, refor�ando ainda mais a ideia de resist�ncia como um s�mbolo pol�tico”, explica o artista, referindo-se � can��o lan�ada por Chico Buarque em 1970. “A indigna��o diante de tanto descaso com a vida dos brasileiros foi o combust�vel para uma triste homenagem. O cotidiano, tema recorrente no meu trabalho, aqui � apresentado sob uma diferente perspectiva: o vazio que ele agora representa para tantas fam�lias”, afirma a designer Luiza Maximo.
A��O
Laura Scofield usou como tema de seu trabalho o voc�bulo AR, que na justificativa dela est� presente no verbo vacinar, assim como tantos outros verbos da l�ngua portuguesa que indicam a��o. "� tempo de agir e de se movimentar. O conceito de AR tamb�m presenteia a p�gina impressa do jornal ( o leitor) com uma composi��o visual abstrata e sint�tica que traz respiro e al�vio vi
sual.”
"A iniciativa do colunista Helv�cio Carlos, al�m de discutir um tema urgente, juntou parte da comunidade do design de Minas para mostrar o poder da disciplina em materializar discursos. Vacina para todos! E j�", comenta o designer Gustavo Greco.
O que seria um projeto para dois meses, gra�as � boa repercuss�o, justamente por apresentar trabalhos art�sticos de veteranos e novos talentos, prolongou-se e foi expandido. Em uma primeira fase, a campanha virou estampas de camisetas, cuja renda foi doada ao Sindicato dos Artistas e T�cnicos de Minas Gerais (Sated-MG).
Na segunda fase, o resultado, em parceria com o Movimento Gentileza, � uma interven��o art�stica nos tapumes da obra de reforma do Mercado da Lagoinha. A impress�o e a colagem dos p�steres contaram com o apoio do Restaurante Dona Lucinha, da Fazenda Gongo Soco, do empres�rio Franklin Beth�nico e do Movimento Gentileza.
“A ideia de incentivar a vacina��o por meio da arte � fruto da criatividade e do engajamento do jornalista Helv�cio Carlos, sempre t�o relevante em sua coluna, e de seus parceiros. Participar dessa interven��o, em um ponto hist�rico da cidade, como o Mercado Popular da Lagoinha, � muito importante para n�s, do Movimento Gentileza, que sempre buscamos contribuir para fazer de BH uma cidade mais humana e acolhedora. Al�m da mensagem de extrema import�ncia, a arte vai trazer inspira��o e um pouco de leveza para quem passar por ali”, diz Ana Laender, primeira-dama do munic�pio e diretora do Movimento Gentileza.
Participaram do projeto Gustavo Greco (Greco Design), Matheus Viana (On�a Preta), Mariana Misk (Oeste), Marcos Guimar�es, Renata Polastri (Est�dio Bogot�), Bruno Nunes, Mariana Hardy (Hardy Design), Luciano Ferreira (Est�dio Triciclo), Victor Galuppo e Gustavo Gontijo (Copo Company), Gabriel Figueiredo, Marja Marques (Incontom�veis), Gabriela Silva (Cargo Collective), Pedro Hamdan, Lucas D'Ascen��o, Marco Chagas (Ag�ncia de Iniciativas Cidad�s), coletivo Pontos de luta, Laura Scofield, J�lia Gutierrez, Eduardo Ouvido, Let�cia Naves, Fernanda Zanette, Luiza M�ximo, Ronei Sampaio, Fabiana Baracat, D�lio Faleiros, Paulo Mendon�a, Ana Cec�lia Souza, Leo Fernandes, Camila Fortes, Roberta Monteiro e o coletivo 62 pontos.
N�o h� coisa mais bonita do que uma exposi��o de cartazes
Bruno Porto, Especial para o Estado Minas
Considerado um dos pilares do design gr�fico e da comunica��o visual entre os profissionais da �rea, a verdade � que o cartaz j� n�o goza do prest�gio de outrora h� algumas d�cadas. O protagonismo que adquiriu, sobretudo ap�s as inova��es vivenciadas pela ind�stria gr�fica a partir de meados do s�culo 19, se diluiu diante das mudan�as socioecon�micas, tecnol�gicas e urbanas, entre outras, pelas quais o mundo vem passando nos �ltimos 30 anos.

Mudan�as de h�bitos, a era digital e o constante surgimento de novas tecnologias e meios de comunica��o mitigaram o alcance do cartaz como mensageiro de produtos, ideias e informa��es.
Dito isso, n�o h� coisa mais bonita do que uma exposi��o de cartazes. O impacto de um conjunto, homog�neo ou heterog�neo, de linguagens e mensagens gr�ficas � sempre en�rgico, rico, vivo. O desequil�brio entre pe�as mais ou menos marcantes – que sempre existe, independentemente da curadoria – desaparece diante do intenso vaiv�m de propor��es, dist�ncias, formas, cores e inten��es.
A mostra de cartazes em prol da vacina��o contra a COVID-19 idealizada pelo jornalista Helv�cio Carlos n�o � exce��o. Veiculados originalmente na coluna HIT do jornal Estado de Minas, e agora reunidos em uma exposi��o n�o virtual (nos dias de hoje, � sempre bom deixar claro) no Mercado da Lagoinha, em Belo Horizonte, os 31 cartazes reunidos subvertem desde sua concep��o as rela��es ergon�micas que, habitualmente, regem o design de um cartaz, feito para ser visto a uma certa dist�ncia, �s vezes em determinada altura, com ou sem suporte de elementos verbais, etc.
� o caso de “Cart�o de vacina”, contundente trabalho d’A On�a Preta, que se vale da imagem vernacular de um surrado cart�o de vacina��o que apresenta todos os campos destinados aos comprovantes de vacina��o em branco, enquanto ostenta v�rios carimbos e selos em uma �rea denominada DESCASO, com datas identificando a escalada de mortes no pa�s.

O que talvez funcione muito bem nas p�ginas do jornal – como charge, que, no fundo, �, denunciando a desastrosa atua��o do atual governo federal – pode n�o ter o mesmo impacto em grande escala, como certamente ter�o as inspiradas – e mais esperan�osas – ilustra��es de Bruno Nunes (“Cole aqui”), Fabiana Baracat (“Abra�os sem medo”) e Pedro Hamdam (“Boneca”).
H�, no entanto, belos trabalhos que certamente se intensificar�o ao pular da p�gina para a parede, como as bem constru�das composi��es “Ar”, “Apesar de voc�” e “Jacar�”, de Laura Scofield, Delio Faleiro e Greco Design, respectivamente, que se beneficiam de boas escolhas tipogr�ficas e de algumas doses de bom humor.
Mas, entre as pe�as que s�o eficientes ao transmitir sua mensagem em ambos os suportes – e que certamente renderiam em outras m�dias, de pequenas telas a empenas de pr�dios, est�ticas ou animadas – destaca-se a colagem “Dar o bra�o”, de Seulu, que parte de um poderoso elemento gr�fico universalmente compreendido – um curativo em X aplicado em bra�os vacinados – para produzir uma representa��o t�o simples como ampla do que o Brasil � e precisa.

Independentemente dos suportes em que est�o apresentados, os cartazes reunidos nesta necess�ria exposi��o cumprem sua fun��o como ve�culos de manifesta��es pessoais e coletivas de esperan�a, tristeza, solidariedade e raiva, com as quais nos identificamos em diferentes escalas. ‘Manifesto’, ali�s, � a palavra italiana para ‘cartaz’. Manifestemo-nos!
*Bruno Porto (1971) � designer, pesquisador e curador de mostras de design e artes gr�ficas no Brasil e no exterior. Atualmente, vive na Holanda