
Qual a maneira de um f� chegar o mais pr�ximo poss�vel do seu �dolo ? Tentar uma vaga na fila de camarim? Comprar um ingresso no gargarejo? Segui-lo em hot�is? Colecionar tudo o que sai dele na m�dia? Todas essas op��es s�o v�lidas. Mas e quando o admirado j� se aposentou dos palcos ?
Realizado pela Dan�ar Marketing, mesma empresa que trouxe ao Brasil as exposi��es de Jimi Hendrix (2015) e Nirvana (2017), e com curadoria de Jo�o Lee, filho do meio de Rita e Roberto de Carvalho, e dire��o art�stica do jornalista Guilherme Samora, o evento vinha sendo planejado e negociado desde 2018.
Organizada em 18 �reas tem�ticas, a exposi��o evita a formalidade de uma linha do tempo certinha demais e, de uma maneira l�dica, faz com que a pr�pria Rita conduza os visitantes por sua hist�ria. Uma das maneiras de fazer parte desse universo � acessar os QR codes indicados na sala e ouvir a pr�pria Rita lembrando sua carreira.
A outra, original, que se torna o grande trunfo da mostra, se d� pelos 42 manequins espalhados pelos dois andares do sal�o principal do MIS. Eles vestem figurinos que Rita usou desde os tempos dos Mutantes.
EMPR�STIMO

H�, por exemplo, o vestido que a cantora usou na apresenta��o dos Mutantes no Festival Internacional da Can��o - a foto desse momento estampa a capa do segundo �lbum do grupo, de 1969. A pe�a foi emprestada pela atriz Leila Diniz (1945-1972), que tinha usado na novela “O sheik de Agadir”. Rita jamais devolveu.
Outra pe�a � o figurino completo que Rita vestiu para fazer a foto de capa do �lbum “Fruto proibido'', de 1975, um dos mais celebrados de sua carreira e no qual ela, ao lado do grupo Tutti Frutti, lan�ou sucessos como “Ovelha negra” e “Agora s� falta voc�”. A imagem � reconstru�da em 3D, inclusive com os instrumentos originais utilizados no cen�rio da foto.
Um dos itens mais pedidos pelos f�s, as botas prateadas de plataforma Biba t�m lugar de destaque. Elas foram furtadas por Rita da loja da estilista Barbara Hulanicki, em Londres, em 1973. Anos depois, a designer polonesa passou um tempo no Brasil. Rita a procurou e confessou o crime. No lugar de uma bronca, ganhou os figurinos do show Babil�nia. “Eles” ocupam uma sala toda cor-de-rosa da mostra.
ACUMULADORA
� incr�vel notar como Rita preservou esse e muitos outros figurinos, instrumentos e objetos. "Ela � acumuladora, isso � fato. Mas tamb�m h� o carinho com que tudo isso foi feito ao longo dos anos. Tudo sempre foi pensado, desenhado por ela. Para fazer um trabalho, um show, ela criava sempre um storytelling", explica Jo�o Lee.
Os manequins foram desenvolvidos especialmente para a mostra. N�o havia no mercado pe�as dispon�veis que vestissem de maneira adequada as roupas da cantora. E mais: eles t�m a cara, o cabelo e as express�es de Rita nas diversas fases de sua vida. Os rostos foram desenhados pela cen�grafa Cl�via Cohen.
Tudo isso foi poss�vel gra�as a um velho conhecido da artista, o cen�grafo e carnavalesco Chico Spinosa. O primeiro trabalho que eles fizeram juntos foi em 1982, na TV Globo. Spinosa criou para Rita o cen�rio do especial que ficou conhecido como “O circo''.
Os adere�os est�o reproduzidos na exposi��o. Junto deles, o figurino de gata que Rita usava para cantar “Eu e meu gato'' e o corpete com seios posti�os com o qual ela soltava a voz em “Cor de rosa choque”. Originais, claro.
Samora conta que o trabalho de Spinosa foi feito de forma carinhosa e artesanal. "Ele tem cadernos em que anota tudo. Tinha p�ginas com peda�os de cabelo das perucas, o tom de pele de cada rosto", diz. At� as estrelas prateadas que decoram uma das paredes foram feitas � m�o, uma a uma.
PERUCAS
As perucas foram cortadas por duas cabeleireiras, durante quatro dias de trabalho. Elas mostram a Rita loira da fase Mutantes, o vermelho intenso de quando ela se consagrou como a roqueira nacional, o vermelho mais brando que usou por muito tempo at� chegar �s madeixas brancas que ela ostenta h� alguns anos.
Esse tom cobre o manequim em que est� a roupa que Rita exibiu em seu �ltimo evento p�blico, em 2019, quando lan�ou o livro infantil “Amiga ursa”. A roupa foi batizada por Rita como "Fada vegana".
Todo esse capricho impressiona os f�s que visitam a exposi��o. Uma mulher, com l�grimas nos olhos, mostra o bra�o arrepiado para Jo�o Lee. "Isso acontece direto", comenta ele com a reportagem.
HOMENAGEM
A engenheira Karla Carvalhal, de 45 anos, foi vestida de Rita Lee. Era uma homenagem para a artista que ela venera e que lhe trouxe li��es de vida. "Hoje se fala de empoderamento, mas Rita fazia isso l� atr�s", diz. "Com seu legado, ela promove a expans�o da consci�ncia at� mesmo das crian�as", afirma.
De acordo com Jo�o, Rita "tem e n�o tem" consci�ncia de que � uma verdadeira estrela da m�sica brasileira. "Eu tamb�m demorei a ter. S� a enxergava como pessoa e n�o como artista", diz.
PRIS�O
Os jovens, de fato, e muitos nem a viram no palco, se interessam pela mostra. Misturam-se aos f�s mais antigos e olham com aten��o um corredor estreito no qual - n�o por acaso - foram colocados registros da censura nacional e da ditadura militar. S�o acusa��es de "comunista", letras censuradas e uma carta que recebeu da m�e durante o tempo em que ficou na pris�o, acusada de porte de maconha.
Em uma sala batizada de "est�dio" � poss�vel ouvir m�sicas como “Atl�ntida” e “Baila comigo” remasterizadas com a tecnologia Dolby Atmos, que simula o �udio em 3D. Em breve, “Change”, can��o que Rita lan�ou no �ltimo dia 27, tamb�m estar� dispon�vel.
Composta em parceria com Roberto de Carvalho e com participa��o do DJ Gui Boratto, a can��o, cantada em franc�s e ingl�s, fala sobre mudan�as e questiona o sentido da vida. Com pegada eletr�nica, ela tem atmosfera dos anos 1980.
EXIG�NCIA
Rita, de 73 anos, se trata atualmente de um c�ncer de pulm�o. Segundo Jo�o e Samora, ela se recupera bem e entrou na fase final do tratamento. Acompanhou de longe a montagem da exposi��o por meio de chamadas de v�deos. "A �nica exig�ncia dela foi a de que as pessoas sa�ssem felizes daqui", diz Samora.
Segundo os organizadores, a ideia � que a mostra percorra as principais capitais brasileiras. A pr�xima cidade a receb�-la - ainda sem data prevista - provavelmente ser� o Rio de Janeiro. H� ainda o projeto de lev�-la para outros pa�ses. Portugal e Estados Unidos s�o lugares j� cogitados.
A exposi��o ficar� em cartaz no MIS, em S�o Paulo, at� o dia 28 de novembro, com visita��o de ter�a a domingo. Os ingressos custam R$ 50 e est�o � venda nas plataformas Ingresso R�pido e Inti.
HITS
Confira alguns destaques da mostra, que ficar� em cartaz em S�o Paulo at� novembro
• A blusa e a cal�a que Rita usou na capa do LP de 1980, o que tem “Lan�a perfume”, e no especial “Grandes nomes”, da TV Globo. Elis Regina gostou tanto do modelo que pediu para fazer um parecido para seu derradeiro show, em 1981.
• O piano de quase 100 anos que pertenceu � m�e de Rita, Chesa. Nele, a cantora comp�s “Coisas da vida”. Foi a pe�a que ela mais relutou em ceder para a mostra.
• O figurino que a cantora usou na turn� “Refestan�a”, que fez ao lado de Gilberto Gil, em 1977. Os dois haviam acabado de sair da pris�o. A pe�a, impecavelmente conservada, foi costurada por Chesa.
• O �lbum de figurinhas de Peter Pan, dos anos 1950, que a pr�pria Rita cortou e colou cuidadosamente. Tanto tempo depois, � poss�vel ver o capricho com o qual ela completou o livrinho. A cara dela.
• Em uma estante, objetos da casa de Rita. Muitos ficam em seu altar particular, como � o caso de um boneco do Dr. Spock. Entre as rel�quias, um quadro pintado pela atriz Elvira Pag�.
• Em uma ala da exposi��o, que � dedicada ao amor de Rita e Roberto, h� uma letra in�dita, “Prometida”, vetada pela censura na �poca. Composta antes de “Mania de voc�”, era para ser a primeira can��o sensual do casal.