Lucas Silveira, Gustavo Mantovani e Thiago Guerra, da banda Fresno, sa�ram da zona de conforto com o novo disco
Camila Cornelsen/Divulga��o
"Desde quando o Lulu (Santos) topou estar nela (na faixa 'J� faz tanto tempo'), j� sab�amos que ia ser um neg�cio especial. � uma m�sica muito forte, ent�o a gente n�o poderia lan��-la de qualquer jeito. Ela tem uma estrutura bem pop"
Lucas Silveira, vocalista da banda Fresno
N�o � exagero dizer que a banda Fresno � uma sobrevivente das duas primeiras d�cadas dos anos 2000. O grupo formado em Porto Alegre despontou como um dos principais representantes do emo e conseguiu continuar na ativa quando a popularidade desse estilo de rock come�ou a cair, isso sem contar com as entradas e sa�das de integrantes – a mais recente foi a do tecladista Mario Camelo, que deixou a banda em agosto passado – e os contratos e distratos com gravadoras.
Com 20 anos de carreira, a Fresno chega em 2021 como um dos nomes mais relevantes do rock nacional e se mostra disposta a abdicar de qualquer zona de conforto em nome da m�sica. Prova disso � o disco "Vou ter que me virar", lan�ado nas plataformas digitais na sexta-feira (5/11).
Nele, a banda – formada pelo trio Lucas Silveira, Gustavo Mantovani e Thiago Guerra (a sa�da de Mario Camelo foi anunciada em agosto passado) – aposta em nova t�nica musical ao trazer uma roupagem moderna para suas tradicionais guitarras e estabelece conex�o com ningu�m menos que Lulu Santos, parceiro do grupo na faixa "J� faz tanto tempo".
"Desde quando o Lulu topou estar nela, j� sab�amos que ia ser um neg�cio especial. � uma m�sica muito forte, ent�o a gente n�o poderia lan��-la de qualquer jeito. Ela tem uma estrutura bem pop. Sempre temos m�sicas que v�o para esse lado, mas desta vez percebemos que tinha muito a ver com o trabalho. Para mim, ele � o rei da composi��o da m�sica pop do Brasil, curto muito o que ele faz e � um �dolo para n�s", afirmou Lucas Silveira, o vocalista, durante bate-papo da banda com a imprensa realizado em 28 de setembro.
Segundo ele, "J� faz tanto tempo" flerta com a est�tica dos anos 1980, da qual os tr�s s�o bastante f�s. "Gostamos muito de coisas dessa �poca, dos sintetizadores, do rock dan�ante. Trouxemos isso e o Lulu empacotou tudo muito bem."
Se associar a nomes antes improv�veis tem sido uma das principais caracter�sticas dos �ltimos trabalhos da Fresno. Tanto � que eles colecionaram parceiros como as bandas Tuyo e Terno Rei, e as cantoras Jade Beraldo e Jup do Bairro. No novo disco, a banda tamb�m divide uma m�sica com o cantor, instrumentista e produtor Scarypoolparty e a guitarrista Yvette Young, ambos norte-americanos. Os dois s�o os parceiros da Fresno na faixa "Tell me lover".
REF�GIO
Thiago Guerra, o baterista, acredita que a internet facilitou a troca com artistas de outros g�neros e at� pa�ses, principalmente durante o �ltimo ano. Segundo ele, essas parcerias "n�o estavam preparadas", ou seja, surgiram de forma natural. "O Lucas foi se comunicando com os outros artistas mandando mensagem pelo Instagram", ele conta.
Ao longo do �ltimo ano, a internet serviu de ref�gio para a banda, impedida de realizar shows presenciais com p�blico por conta da pandemia. Eles abriram um canal no Twitch para fazer lives e investiram no lan�amento de 20 singles antes de soltar o �lbum completo – reunidos na playlist "Invent�rio". Boa parte destas m�sicas n�o entrou no corte final do �lbum, que teve uma s�rie de vers�es at� a que chegou ao p�blico.
Na verdade, s� tr�s delas fazem parte do disco: "Eles odeiam gente como n�s", "Agora deixa" e "6h34 (Nem liga guria)". As oito m�sicas in�ditas do disco – entre elas, "J� faz tanto tempo" e "Tell me lover" – mostram a Fresno encarando de frente ang�stias do mundo contempor�neo enquanto passeia por diferentes sonoridades.
Quem ouvir o disco na ordem em que as m�sicas est�o apresentadas pode se enganar pela primeira m�sica. A faixa-t�tulo, respons�vel por abrir o �lbum, traz uma s�rie de elementos da m�sica eletr�nica.
J� na faixa seguinte, "Fudeu!!!", a banda volta a recorrer ao rock mais tradicional. "Casa assombrada" e "Caminho n�o tem fim" resgatam o pop rock que eles faziam no in�cio da carreira, enquanto "Essa coisa (Acorda – trabalha – repete – mant�m)" soa como um emocore renovado. A derradeira "Grave acidente" aponta para o mesmo caminho da primeira m�sica, carregada de elementos eletr�nicos.
A diversidade das m�sicas em um disco t�o enxuto se justifica pela forma como a Fresno trabalha hoje. Lucas Silveira conta que est� sempre compondo e a banda tem uma s�rie de composi��es engavetadas. Ali�s, algumas das m�sicas presentes em "Vou ter que me virar" s�o da mesma �poca do lan�amento do �lbum "Sua alegria foi cancelada" e iam ser lan�adas em uma vers�o estendida do disco.
SEM FILTRO
"Elas surgiram, mas traziam temas t�o fortes que justificavam um �lbum inteiro. Ficamos trabalhando nelas em 2020, cada um em sua casa. No final do ano, o disco j� existia e a gente decidiu que s� iria lan�ar quando chegasse uma hora mais apropriada. Mas essa hora nunca chegou, ent�o fomos fazendo mais e mais m�sicas", conta Lucas.
Ele defende que o melhor jeito de compor � "sem filtro", o que gera mais identifica��o com os f�s. "Quanto mais transparente a gente �, quanto mais as letras refletem o que estamos vivendo, mais as pessoas se veem nas m�sicas e nossa m�sica fica diferente das outras bandas."
Essa l�gica se aplica, por exemplo, na faixa que d� nome ao disco. Apesar de parecer ecoar as preocupa��es suscitadas pela pandemia e suas consequ�ncias, "Vou ter que me virar'' foi escrita antes da crise sanit�ria. O vocalista afirma que � uma ironia o quanto ela se encaixa no momento atual de incerteza que muita gente est� vivendo.
"Ela fala exatamente o que est� acontecendo agora e imagino que na cabe�a dos nossos f�s isso tamb�m se reflita. Todos est�o tendo que se virar de alguma maneira. Infelizmente, muitas pessoas n�o conseguiram. (A pandemia) � algo que prejudicou a todos n�s. Mas vamos sair dessa", afirma Lucas.
LOLLAPALOOZA
Um exerc�cio que tem ajudado os tr�s a encarar a realidade com mais calma � focar no futuro. A Fresno est� escalada para o Lollapalooza, programado para mar�o de 2022. Eles estavam confirmados na edi��o 2020, adiada por conta da pandemia. O show no festival, que acontece no mesmo dia que o dos Foo Fighters, ser� a estreia ao vivo do novo disco.
Questionados sobre a expectativa de estrear no Lolla, o guitarrista Gustavo Mantovani afirma que, quando a apresenta��o acontecer, a banda ter� completado mais de dois anos longe dos palcos. "Por conta disso, j� estar�amos ansiosos. Como se trata do Lollapalooza, multiplica isso por sete", ele diz.
Thiago Guerra concorda e avalia que este � um show que est� "travado na garganta". "Era para ter acontecido j� e n�o aconteceu. Vai ser feito com mais gosto ainda. Queremos subir no palco e celebrar a vida."
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