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Estado de Minas LITERATURA

Tony Bellotto comenta obra de Leminski, e Malu Mader l� textos do poeta

Autor curitibano � tema da �ltima edi��o deste ano do projeto Letra em Cena, nesta ter�a-feira (16/11)


16/11/2021 06:00 - atualizado 16/11/2021 08:04

Close em Paulo Leminski, com óculos quadrados
Paulo Leminski era admirador da poesia de Arnaldo Antunes e frequentou ensaios dos Tit�s, conforme diz o guitarrista Tony Bellotto (foto: TV Brasil/Divulga��o)


Nos anos 1980, nos ensaios dos Tit�s, Paulo Leminski (1944-1989) eventualmente aparecia, ficava assistindo e, diletante, pedia para tocar um pouco de guitarra. A lembran�a � do m�sico e escritor Tony Bellotto, convidado do projeto “Letra em Cena. Como Ler...” para falar sobre a vida e a obra do poeta curitibano. 

Conduzido pelo jornalista Jos� Eduardo Gon�alves, o programa liter�rio ser� transmitido pelo canal oficial do Minas T�nis Clube no YouTube. A edi��o desta ter�a-feira (16/11) encerra a temporada 2021 do programa. Entremeando a conversa, haver� a leitura de textos de Leminski feita por Malu Mader, atriz e esposa de Bellotto.

“N�s todos da gera��o do rock dos anos 80 fomos muito influenciados pela poesia dele. Foi um privil�gio podermos t�-lo conhecido pessoalmente. Ele gostava das nossas m�sicas, admirava a poesia do Arnaldo (Antunes)”, diz o guitarrista remanescente da forma��o original dos Tit�s. 

Bellotto conta que Leminski era um homem muito doce, divertido e espirituoso. “Ele tinha um grande conhecimento, sabia de tudo, e o que n�o sabia ele chutava. Qualquer coisa que a gente estivesse conversando, ele tinha opini�o, tinha algo para dizer a respeito. Ele era vaidoso dessa sabedoria, mas n�o era arrogante, tinha a capacidade de rir de si mesmo”, diz.
O que mais chama a aten��o na obra de Leminski, ele aponta, � a precis�o, a habilidade de dizer as coisas da maneira mais simples e, ao mesmo tempo, mais aguda poss�vel. Bellotto diz que sempre foi fascinado pela capacidade do poeta de dizer tanto com t�o pouco. 

“E a poesia do Leminski tamb�m � surpreendente. Ele lutava carat� e, de alguma forma, isso est� na obra dele. Voc� est� lendo o poema e, de repente, ele te d� um golpe, tem uma palavra, uma express�o que te pega de jeito”, observa.

Haicai

O poder de s�ntese e concis�o se relaciona tamb�m, segundo Bellotto, com o profundo interesse que Leminski sempre nutriu pelo haicai, secular modalidade po�tica japonesa que consiste num registro curto, de tr�s versos, a partir de observa��es da natureza, sobretudo. O poeta curitibano foi tradutor e estudioso de Matsuo Bash� (1644-1694), maior expoente do haicai, de quem escreveu uma biografia.

“Eu confesso que comecei a ler haicai por meio de Leminski. Ele inventou uma forma de fazer um haicai brasileiro, um haicai ocidental. N�o conhe�o nenhum outro poeta que trabalhou tanto o haicai quanto ele. Mill�r Fernandes fazia tamb�m, nessa linha pouco ortodoxa, mas foi a partir do Leminski que, por exemplo, conheci Bash�”, diz Bellotto. 

Ele destaca que essa rela��o com o g�nero tamb�m foi uma influ�ncia forte para os Tit�s. “Muitas das nossas letras que buscam uma ess�ncia, como ‘Jesus n�o tem dentes no pa�s dos banguelas’, que � s� essa frase que fica sendo repetida a m�sica inteira, v�m da�”, aponta.

Bellotto observa que “ningu�m vive de poesia” e que, por isso, Leminski trabalhava tamb�m em publicidade, para ganhar um dinheiro extra. “Acho que essa op��o era porque na publicidade ele conseguia criar de uma maneira mais pr�xima da poesia dele. A publicidade tamb�m tem essa pegada direta e sint�tica”, diz.

Para o m�sico e escritor, Leminski se situa no pante�o dos maiores poetas brasileiros do s�culo 20, ao lado de Drummond, Manuel Bandeira e Jo�o Cabral de Melo Neto. Na opini�o do guitarrista, ele ocupa esse lugar gra�as � sua capacidade de fazer uma poesia de qualidade, sofisticada e, ao mesmo tempo, conseguir ser popular. 

“Era um homem muito erudito, poliglota, com um conhecimento enciclop�dico e acad�mico, mas que conseguia se comunicar com extrema facilidade. O grande legado dele � mostrar que � poss�vel fazer poesia com qualidade e sem afeta��o intelectual. � uma poesia que fala com qualquer pessoa”, ressalta.

Can��o

Autor de 10 romances, Bellotto diz que sempre manteve uma dist�ncia respeitosa da poesia. Ele confessa que, como qualquer pessoa interessada em literatura, j� se aventurou por essa seara, mas nunca achou que sua produ��o fosse digna de divulga��o. 

“Acho muito dif�cil. O mais perto que chego da poesia de maneira satisfat�ria � na letra da can��o, que eu entendo como a forma liter�ria mais pr�xima. Na feitura das letras, existe muito o rigor da poesia, mas com o apoio do ritmo e da melodia”, aponta. “Meu neg�cio � escrever romance e fazer m�sica. O grande poeta que existe em mim ainda n�o brotou”, afirma.

Por falar em romance, o mais recente de Bellotto, “Dom” (2020), baseado na hist�ria real de Pedro Dom, jovem nascido em uma fam�lia de classe m�dia carioca que, aos 20 anos, j� era um assaltante procurado pela pol�cia, tem garantido muitos louros ao autor, mas tamb�m alguma dor de cabe�a. A obra, apontada por cr�ticos como a melhor de Bellotto, deu origem a uma s�rie brasileira hom�nima que �, no momento, a de maior sucesso da Amazon Prime Video.

Mas junto com o sucesso vieram a p�blico as contrariedades da m�e de Pedro Dom, N�dia Almeida, e de uma de suas irm�s, �rika Grandinetti, com rela��o � produ��o protagonizada por Gabriel Leone – uma vers�o ficcional do Pedro Dom real, que foi morto pela pol�cia em 2005, quando tinha apenas 23 anos. As duas tentaram barrar na Justi�a a exibi��o da s�rie, criada e dirigida por Breno Silveira, e sua continuidade, tendo sido derrotadas em duas inst�ncias.

A origem do livro e da s�rie dele derivada est�, na verdade, em um roteiro para um longa-metragem que come�ou a ser escrito em 2009, quando Luiz Victor Lomba, pai de Pedro Dom, procurou por Silveira e Bellotto. � �poca, a produ��o foi cancelada, em raz�o das negativas da m�e e da irm�. 

Em 2015, contudo, a decis�o do STF de derrubar a necessidade de autoriza��o pr�via de biografados ou parentes de biografados mortos reacendeu a possibilidade da obra, que voltou a ser discutida entre Silveira, Bellotto e Lomba, o principal interessado em contar a hist�ria do filho.

“J� escrevi 10 romances, e o ‘Dom’ foi o primeiro baseado numa hist�ria real, � algo que eu nunca tinha feito. Quando voc� est� trabalhando com fatos reais, est� lidando tamb�m com pessoas reais, ent�o realmente tive alguns questionamentos, alguns conflitos em rela��o a levar adiante esse trabalho”, comenta Bellotto. 

Ele pontua, no entanto, que resolveu seguir com o projeto do livro a pedido de Lomba, um homem, conforme diz, que sentia muita culpa por ter perdido o filho, por n�o ter conseguido tir�-lo do crime. “Ele me dizia que contar essa hist�ria o redimiria um pouco da culpa”, afirma.

“A m�e e a irm� se recusaram a ler o roteiro, quando ainda t�nhamos o filme em mente, e em momento algum depois daquele projeto inicial quiseram falar comigo, porque esse era um assunto que trazia muita dor a elas”, diz, acrescentando que se compadece, mas ressalvando que acredita n�o ter agido errado. 

“Acho que a hist�ria est� contada de uma maneira que n�o denigre em nada ningu�m, pelo contr�rio, depois que o livro foi lan�ado, muita gente veio agradecer, dizendo que tinha na fam�lia uma hist�ria parecida. Fico um pouco chateado com essa diverg�ncia da m�e e da irm�, mas tenho a consci�ncia tranquila, porque � um trabalho que edifica a vida desse rapaz, que teve uma trajet�ria muito tr�gica.”

“Letra em Cena on-line. Como ler Paulo Leminski”

Com Tony Bellotto e leitura de trechos da obra de Leminski por Malu Mader. Nesta ter�a-feira (16/11), �s 20h, com transmiss�o pelo canal oficial do  Minas T�nis Clube no YouTube

Tit�s 40 anos

Tony Bellotto de camisa azul e braços cruzados
(foto: Silmara Ciuffa/Divulga��o)

"Ele (Paulo Leminski) tinha um grande conhecimento, sabia de tudo, e o que n�o sabia ele chutava. Qualquer coisa que a gente estivesse conversando, ele tinha opini�o, tinha algo para dizer a respeito. Ele era vaidoso dessa sabedoria, mas n�o era arrogante, tinha a capacidade de rir de si mesmo"

Tony Bellotto, m�sico e escritor


Da literatura para a m�sica, Tony Bellotto diz que seu principal foco agora s�o as comemora��es, em 2022, pelos 40 anos de trajet�ria dos Tit�s. Ele revela que os integrantes da banda est�o come�ando as grava��es de um novo �lbum de in�ditas que vai marcar a efem�ride. Juntam-se a isso outras a��es em torno dessa data, que tamb�m marca a retomada mais efetiva das atividades do grupo, que hibernou durante a pandemia.

“Fizemos para a Net Geo um document�rio que deve ser lan�ado no final deste ano ou no in�cio de 2022, e a nossa biografia, ‘A vida at� parece uma festa - Toda a hist�ria dos Tit�s’ (2002), escrita pela H�rica Marmo e pelo Luiz Andr� Alzer, vai ganhar uma vers�o atualizada. Al�m disso, j� estamos come�ando a organizar um show ou uma turn� para celebrar esses 40 anos”, conta. Ele diz que, passado o per�odo de inatividade, a banda est� gradualmente voltando aos palcos, com alguns shows em teatros e eventos fechados, para empresas.

No pr�ximo s�bado (20/11), os Tit�s far�o sua primeira grande apresenta��o, no Anhembi, em S�o Paulo, em um evento anual da revista “Rolling Stone”. Bellotto diz que o reencontro com o p�blico tem sido melhor do que ele imaginava. 

“J� nos primeiros shows que a gente fez, percebi o quanto aquilo estava me fazendo falta, mais do que eu estava conseguindo elaborar racionalmente. Agora que as coisas est�o entrando nos eixos, sinto como se fosse a recupera��o de uma fun��o vital”, ressalta.

Bellotto revela que para ele e sua fam�lia todo esse per�odo, desde o in�cio da pandemia, foi muito dif�cil e angustiante. Ele conta que o trabalho da banda foi interrompido bruscamente, muitos shows foram cancelados e outros tantos, adiados. “Ainda estamos reagendando e reorganizando compromissos de mar�o do ano passado”, aponta.

“Em tese, a gente estava, com essa pausa, ganhando um tempo ocioso em casa para se ocupar de outras coisas, mas fiquei muito angustiado, n�o conseguia fazer muita coisa, ficava pensando em trabalhar, compor, escrever, mas, ao mesmo tempo, com a cabe�a muito cheia, recebendo not�cia de gente pr�xima doente, de amigos morrendo. Consegui fazer algumas can��es, desenvolver algumas ideias durante esse per�odo da pandemia, pensando no disco novo, mas foi um tempo muito pesado, de muita afli��o.”


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