Teatro experimentou a conviv�ncia entre o presencial e o virtual em 2021
A atividade teatral em BH foi marcada pela volta das sess�es presenciais e a vinda de espet�culos de fora, mas tamb�m pelas transmiss�es on-line
A atriz Laila Garin em cena de 'A hora da estrela ou O canto de Macab�a', que cumpriu temporada no CCBB-BH no m�s de julho (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Todas as formas de express�o art�stica foram impactadas pela chegada da pandemia, mas, talvez, nenhuma de modo t�o contundente quanto o teatro. Afinal, essa � uma linguagem que tem o encontro entre artista e p�blico como premissa; � a arte da presen�a e do momento, o que se tornou invi�vel diante da necessidade do isolamento social.
Se em 2020 ainda se discutia se era teatro ou n�o o que chegava ao p�blico por meio da tela do computador, este ano marcou o retorno das produ��es c�nicas ao seu lugar de fato e de direito: o palco.
A reabertura dos espa�os culturais e a retomada das atividades presenciais em BH foi autorizada nos primeiros dias de julho, seguindo r�gidos protocolos e com capacidade de p�blico reduzida. Naquele momento, o cen�rio ainda era de incerteza e muitos artistas e produtores optaram por seguir on-line. O festival de pe�as curtas promovido pelo La Movida, realizado entre 22 e 31 de julho, transmitiu pelo Instagram os 16 espet�culos selecionados.
Uma das primeiras pe�as a ir ao encontro presencial do p�blico foi a recordista de longevidade “Acredite, um esp�rito baixou em mim”, encenada no Cine Theatro Brasil Vallourec em 24 e 25 de julho. A reabertura propiciou a volta da circula��o nacional de espet�culos de outros estados, que aportaram na capital mineira.
O primeiro “visitante” foi o musical “A hora da estrela ou O canto de Macab�a”, com Laila Garin, que estreou no CCBB-BH em 14 de julho e teve sess�es esgotadas na temporada que cumpriu at� 26/7.
“As pessoas est�o muito felizes de voltar ao teatro. D� para perceber a emo��o de quem assiste ao espet�culo. Ainda falta muito para a gente conseguir entrar num estado de normalidade, mas para a gente foi muito importante essa temporada em BH”, disse, � �poca, a produtora do espet�culo, Andr�a Alves. Todo o elenco (atores e m�sicos) atuou de m�scara.
Elenco da pe�a 'Incomoda, Incomoda, Incomoda', que marcou o retorno do p�blico ao Grande Teatro do Pal�cio das Artes (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
VIRTUAL
As transmiss�es on-line, contudo, seguiam prevalentes. No final de julho, a diretora Sara Rojo, � frente do grupo Mulheres M�ticas, apresentou o projeto – que ela classifica como videoteatro – “Hilda Penha”, protagonizado pela atriz Marina Viana, que marcou seus 40 anos de trajet�ria. Quem tamb�m celebrou uma efem�ride de modo remoto foi a Cia. Luna Lunera, que festejou suas duas d�cadas de trajet�ria com a “Mostra Luna Lunera 20 anos”, entre agosto e outubro.
Espet�culos de duas diferentes turmas de formandos do Cefart chegaram ao p�blico de formas distintas. “Incomoda, incomoda, incomoda”, apresentado no dia 6 de agosto, marcou o retorno ao formato presencial no Grande Teatro Cemig do Pal�cio das Artes e tamb�m foi transmitido pelo YouTube da Funda��o Cl�vis Salgado. J� “Haver� festa com o que restar”, apresentado no dia 19 do mesmo m�s, ficou apenas no modelo remoto, com transmiss�o ao vivo, mas sem a presen�a de pessoas na plateia.
Ainda em junho, o Grupo Galp�o lan�ou o projeto Dramaturgias – Cinco Passagens para Agora, com o objetivo de desenvolver espet�culos em parceria com dramaturgos e diretores convidados. A iniciativa desembocou, primeiramente, nos espet�culos “Como os ciganos fazem as malas” e “Sonhos de uma noite com o Galp�o”, que estreou virtualmente em 21 de agosto.
TEATROS MUNICIPAIS
No in�cio de setembro, a PBH anunciou a reabertura dos teatros municipais, o que contribuiu para aquecer a cena local. A primeira pe�a a ocupar o Teatro Francisco Nunes, entre 10/9 e 19/9, foi “Acredite, um esp�rito baixou em mim”.
No Teatro Mar�lia, a retomada ficou a cargo da Cia. Produz A��o C�nica, que entre os dias 8 e 12 apresentou os espet�culos “A porta e o vestido” e “O homem do caminho”. Na sequ�ncia, entre os dias 18 e 26, o mesmo palco foi ocupado pela pe�a “Capit�o fracasso”, dirigida por Luiz Paix�o. J� o Teatro Raul Bel�m Machado reabriu as cortinas com a montagem “Di�genes”, dirigida por Fernando Chagas, em 5 de setembro.
O fato de os espa�os culturais estarem novamente abertos n�o significou, no entanto, uma ades�o integral de artistas e produtores ao formato presencial. Entre 10/9 e 2/10, sempre aos s�bados, o ator Odilon Esteves apresentou a “pe�a-liter�ria” on-line e interativa “Na sala com Clarice”, com textos da autora de “A hora da estrela” escolhidos pelo p�blico e interpretados por ele, via plataforma Zoom.
Na rota da circula��o nacional de artistas e espet�culos, a capital mineira recebeu uma verdadeira maratona da atriz carioca Clarice Niskier, que entre 10 e 12 de setembro apresentou tr�s pe�as – “A alma imoral”, “A lista” e “A esperan�a na caixa de chicletes Ping Pong” – no Cine Theatro Brasil Vallourec, com a presen�a do p�blico.
Na sequ�ncia, cumpriu temporada do espet�culo “Cora��o de campanha” no CCBB-BH, de 17/9 a 18/10, atraindo um grande n�mero de espectadores com uma hist�ria que partia de sua pr�pria experi�ncia na pandemia.
O CCBB-BH tamb�m recebeu, entre 18/9 e 11/10, o espet�culo infantil vencedor do pr�mio APCA (Associa��o Paulista dos Cr�ticos de Arte) “Vamos comprar um poeta”, inspirado no livro hom�nimo de Afonso Cruz e dirigido por Duda Maia.
IMPACTOS
J� no final de setembro, a presidente do Sindicato dos Artistas e T�cnicos em Espet�culos de Divers�es do Estado de Minas Gerais (Sated), Magdalena Rodrigues, identificava uma movimenta��o ainda t�mida de atores e produtores mineiros no sentido de retomar as atividades presenciais.
“Ningu�m tem dinheiro para colocar um espet�culo em cartaz, porque isso tem um custo com transporte, alimenta��o, equipamento, enfim, mesmo pensando em despesas m�nimas, o pessoal est� sem dinheiro”, disse, � �poca.
A despeito da situa��o de pen�ria apontada por Magdalena, alguns representantes da classe teatral de Belo Horizonte emplacaram com �xito montagens no formato presencial. O espet�culo “Wilde.Re/Constru�do”, com texto e dire��o de Sergio Abritta, fez quatro sess�es no Teatro Jo�o Ceschiatti, do Pal�cio das Artes, em setembro, e uma no Cine Theatro Brasil Vallourec, onde havia estreado virtualmente, em outubro.
A crescente retomada do modelo presencial n�o aboliu, contudo, as apresenta��es on-line e h�bridas. “Di�genes”, que j� havia sido visto pelo p�blico no Teatro Raul Bel�m Machado, foi exibido, em 30/9, pelo canal do Memorial Vale no YouTube; A-Mostra.lab tamb�m transmitiu, pelo YouTube, entre 22/9 e 27/9, as 26 obras que compunham sua programa��o, com algumas delas disponibilizadas tamb�m no Instagram; e o musical “Aladim – Pocket show” teve exibi��o no formato drive-in, no in�cio de outubro, no estacionamento do Minas Shopping, com transmiss�o ao vivo pelo canal da Funda��o ArcelorMittal no YouTube, dentro do projeto Divers�o em Cena.
A montagem “P� de cal (Ray-lux)”, da carioca Cia. Teatro Independente, � outra que veio de fora do estado neste per�odo de retomada das atividades presenciais. Com dramaturgia de J� Bilac e dire��o de Paulo Verlings, cumpriu temporada entre 23/10 e 15/11 no CCBB-BH. “Tenho a impress�o de que o ‘pr�-pandemia’, quando essa pe�a foi escrita, foi no s�culo passado. Tenho consci�ncia de que muitas coisas mudaram”, disse Bilac.
Em 23 de outubro, o grupo Armatrux abriu as portas de seu espa�o, o C.A.S.A. – Centro de Arte Suspensa & Armatrux, em Nova Lima, para um evento presencial e gratuito que marcou o in�cio das comemora��es por seus 30 anos, com a apresenta��o dos espet�culos “Armatrux: A banda” e “Seu Geraldo”, da Cia. Pigmale�o. No final daquele m�s, nos dias 29 e 30, Diogo Vilela trouxe a BH a pe�a “Cauby, uma paix�o”, apresentada no Cine Theatro Brasil Vallourec.
O m�s de novembro come�ou com o Festival Estudantil de Teatro (Feto) apresentando, ao longo de nove dias, sua programa��o totalmente on-line, recheada de cenas curtas que flertavam com a linguagem cinematogr�fica. Mas tamb�m foi um m�s marcado pela definitiva inclus�o de BH no roteiro das apresenta��es presenciais de espet�culos vindos de fora.
Ao longo do m�s, passaram pela cidade Let�cia Sabatella e Fernando Alves Pinto, com o espet�culo “Piaf e Brecht – A vida em vermelho”, no dia 5; Grace Gianoukas, com o show de humor “Grace em revista”, no dia 15; Mait� Proen�a, com a pe�a “O pior de mim”, no dia 20; e a Cia. de Com�dia Os Melhores do Mundo, com a montagem “Hermanoteu na terra de Godah”, no dia 21. As tr�s primeiras foram apresentadas no Cine Theatro Brasil Vallourec, enquanto Os Melhores do Mundo subiram ao palco do Grande Teatro Cemig do Pal�cio das Artes.
Em 4 e 5 de dezembro, Belo Horizonte ainda seria palco para a apresenta��o da pe�a “A lista”, protagonizada por Lilia Cabral e por sua filha, Giulia Bertolli, tamb�m no Cine Theatro Brasil Vallourec.
REENCONTRO
Um evento marcante da retomada das atividades presenciais na esfera teatral foi a Mostra Reencontro, promovida pelo Galp�o Cine Horto, que, ap�s quase dois anos de portas fechadas, abrigou, ao longo do m�s de novembro, 10 espet�culos de diferentes companhias da cidade.
Sem descartar o modelo do p�blico presente, o Grupo Galp�o manteve tamb�m suas atividades no on-line e estreou, no �ltimo dia 4, em seu canal no YouTube, a pe�a-filme “Partida de v�lei � sombra do vulc�o”, novo fruto do projeto Dramaturgias – Cinco Passagens para Agora.
No atual momento, uma parte da produ��o local vai ao encontro do p�blico, ao passo que outra ainda opta pelo ambiente digital. Na primeira categoria est�, por exemplo, a montagem “Sal”, da Margem Cia. de Teatro, com dire��o de Rita Clemente, apresentada no in�cio deste m�s no Galp�o Cine Horto.
Seguiram no modelo remoto os espet�culos “Ali� n’pa�s d’jogo d’bich”, dos formandos do Cefart, apresentado em novembro; “�s que aqui ficaram”, da Tr�ade Cia. de Teatro, que estreou no �ltimo dia 5 e segue em temporada at� janeiro, com transmiss�o on-line e ao vivo, diretamente do Teatro Espanca!; e “Cora��es trapezistas”, do Circo Sufoco, com dire��o de Chico Pel�cio, que fica dispon�vel gratuitamente at� o pr�ximo dia 18 no canal da trupe no YouTube.