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Estado de Minas AUDIOVISUAL

Grupo Galp�o lan�a em seu YouTube o filme 'Febre', um del�rio sobre o fim

Com dire��o de Marcio Abreu, a partir de texto de Paulo Andr�, curta de 23 minutos � uma narrativa 'on�rica e delirante' escrita durante a pandemia


04/03/2022 04:00 - atualizado 04/03/2022 09:36

Atores do grupo galpão sentados em cadeiras de praia, de olhos fechados e com roupa de banho, com o sol batendo sobre seus corpos e árvores ao fundo, em cena do filme 'Febre'
Dividido entre o 'tempo da fuga', o 'tempo do sonho' e o 'tempo da lembran�a', filme teve grava��es em ruas do Centro de BH, no Teatro Mar�lia e num s�tio (foto: Grupo Galp�o/divulga��o )

Criado no primeiro semestre do ano passado pelo Grupo Galp�o, o projeto “Dramaturgias – Cinco passagens para agora” trouxe a p�blico, at� o momento, quatro experimentos c�nicos e audiovisuais resultantes de parcerias com artistas como Yara de Novaes, Pedro Br�cio, Newton Moreno e Silvia Gomez. 

Quinta “passagem para o agora”, o filme “Febre”, nascido a partir de um texto escrito pelo ator Paulo Andr�, com dire��o de Marcio Abreu, ser� lan�ado nesta sexta-feira (4/3), �s 20h, no canal do Grupo Galp�o no YouTube, fechando o projeto.

O curta-metragem de 23 minutos – que re�ne no elenco Antonio Edson, Eduardo Moreira, J�lio Maciel, Lydia Del Picchia, Teuda Bara e o pr�prio Paulo Andr� – tem o seu embri�o em 2020, quando o ator, que integra a trupe desde 1994, a partir do espet�culo “A rua da amargura”, resolveu participar do n�cleo de dramaturgia do Galp�o Cine Horto, conduzido naquele ano pelo ator, dramaturgo, diretor e pesquisador teatral Vin�cius de Souza.

“Eu sempre quis fazer muito esse curso, mas ainda n�o tinha tido a chance, ent�o, quando come�ou a pandemia, veio a possibilidade”, conta Paulo Andr�, que apresentou, como resultado desse processo, um texto po�tico que, num primeiro momento, n�o tinha nome.

“Esse texto n�o tinha nem t�tulo, eu n�o conseguia dar um t�tulo e achava que estava bom assim, ficava mais curioso para quem abrisse e fosse ler, porque ele tem o formato de um grande poema. Pensei que podia ficar interessante sem t�tulo”, diz.

O texto traz a hist�ria de um casal – interpretado por tr�s duplas distintas de atores do Galp�o, que se revezam ao longo da obra –  diante da imin�ncia de um fim, vivendo as �ltimas horas dos �ltimos dias do mundo como o conhecemos.

''A gente foi adaptando para transformar numa linguagem cinematogr�fica. � um texto aberto, com uma estrutura bem perme�vel e com uma dimens�o po�tica muito evidente, ent�o isso resultou num filme-fluxo, com muitas vias de acesso para o espectador, que � tocado pelo lado da sensibilidade''

Marcio Abreu, diretor

 

Paulo Andr� entregou esse texto para algumas pessoas, entre elas o ator, diretor e dramaturgo Marcio Abreu, da Companhia Brasileira de Teatro, que dirigiu o Galp�o nos espet�culos “N�s” (2016) e “Outros” (2018). “Ele leu e gostou muito, disse que gostaria de adaptar e dirigir esse texto um dia”, conta o ator. 

A cria��o do projeto Dramaturgias abriu essa possibilidade. Abreu afirma que, quando foi chamado para trabalhar mais uma vez com o Galp�o, criando para o Dramaturgias, prop�s algo relacionado ao texto, que, afinal, ganhou o t�tulo de “Febre” no final do ano passado, quando Paulo Andr� contraiu COVID-19 e, nas reuni�es virtuais com o grupo, compartilhou sua situa��o.

ELIPSES 

“Acho que o texto tem muito de um estado febril, com muitas elipses, muitas reitera��es, uma sucess�o e uma varia��o grande de imagens. Ele tem realmente essa lat�ncia da febre. Encontrar esse t�tulo nos ajudou muito na feitura do filme, porque nos orientou no sentido de produzir, na tela, esse estado febril, essa coisa meio delirante, meio on�rica”, diz o ator.

Abreu, por sua vez, chama a aten��o para a forma como o texto reverbera e reflete sobre quest�es urgentes, relativas ao tempo presente, de maneira po�tica. Ele conta que n�o queria fazer uma pe�a virtual ou algo do tipo, da� surgiu a ideia de um filme. 

“A gente foi adaptando para transformar numa linguagem cinematogr�fica. � um texto aberto, com uma estrutura bem perme�vel e com uma dimens�o po�tica muito evidente, ent�o isso resultou num filme-fluxo, com muitas vias de acesso para o espectador, que � tocado pelo lado da sensibilidade.”

O diretor assinala que, apesar dessa caracter�stica, o curta “Febre” tem um enredo delineado. “A gente tem um casal, uma dupla em meio � imin�ncia do fim das coisas, em um movimento de deslocamento. Essa dupla sai de casa, vai viver e olhar os �ltimos momentos de algo que parece estar no fim. Isso tem uma dimens�o dram�tica, mas tamb�m tem humor e tem um senso cr�tico”, aponta.

LOCA��ES EM BH

Abreu veio a Belo Horizonte no in�cio deste ano, quando, num prazo de nove dias, foram realizadas as grava��es, em tr�s loca��es distintas, que comp�em um percurso dos personagens, numa esp�cie de fuga. 

Essas loca��es foram pensadas segundo temporalidades distintas: o “tempo da fuga” aparece nas externas noturnas, em ruas do Centro de Belo Horizonte; o “tempo do sonho”, com imagens estranhas e desconexas, no Teatro Mar�lia; e o “tempo da lembran�a” se concretiza nas cenas gravadas em um s�tio, onde se vivem as mem�rias de um passado feliz.

“O filme, na verdade, � o del�rio de algu�m, como se a pessoa tivesse muita febre. Quando estamos assim, deliramos”, diz Marcio Abreu, ao explicar que o curta mostra o que se passa na mente desse algu�m: “Um dos del�rios diz respeito � fuga, como se o mundo estivesse acabando e as pessoas fugissem para algum lugar. Ao mesmo tempo, � uma hist�ria de amor”, sublinha.

Paulo Andr� observa que as filmagens foram realizadas num tempo muito curto, mas que isso n�o implicou nenhum tipo de preju�zo para a obra. “Foram nove dias para roteirizar, decupar, ensaiar e filmar, ent�o trabalhamos com muita abertura para o improviso. O Marcio � um artista muito sens�vel, ele sabia que muita coisa ia acontecer na hora, ent�o deixou esse espa�o para o improviso. Foi corrido, mas foi muito prazeroso esse trabalho nas madrugadas pelas ruas de BH, filmando, inventando, imaginando o que poderia resultar”, conta.

ENGAJAMENTO 

“O tempo era muito ex�guo, mas havia grande engajamento de todas as pessoas envolvidas, dos atores � fotografia, da produ��o � assist�ncia de dire��o e � trilha sonora”, comenta Abreu, aludindo a nomes como Luiz Felipe Fernandes, Gilma Oliveira, Alexandre Baxter e Flora Guerra, que comp�em a equipe do filme, e � prem�ncia que guiou a realiza��o de “Febre”. “O processo foi muito bonito e corajoso”, acrescenta.

O diretor destaca que a ideia de fim que atravessa o filme n�o deve ser encarada de forma objetiva ou redutora. Ela pode ser entendida como o fim de uma trajet�ria ou de um determinado modo de se verem as coisas. 

“� um pouco mais amplo do que a ideia estrita do fim do mundo. Claro, tem a pandemia, tem guerra, tem extrema-direita se expandindo, ent�o a gente tem um pouco essa percep��o do planeta sendo destru�do, mas n�o quis me debru�ar muito nisso”, afirma.

“Prefiro ver de forma mais relativa: se a gente olha para as popula��es ind�genas do Brasil, por exemplo, elas j� viveram v�rios fins do mundo, o primeiro deles, talvez, com a chegada dos portugueses. Eu recuso um pouco a ideia generalizante de fim do mundo; ela � fruto de uma esp�cie de apropria��o de discurso, de manipula��o de entendimento da popula��o.”

''O Marcio (Abreu) � um artista muito sens�vel, ele sabia que muita coisa ia acontecer na hora, ent�o deixou esse espa�o para o improviso. Foi corrido, mas foi muito prazeroso esse trabalho nas madrugadas pelas ruas de BH, filmando, inventando, imaginando o que poderia resultar''

Paulo Andr�, autor de 'Febre"



Paulo Andr� conta que, em 2020, quando escreveu o texto, estava efetivamente sob o impacto de um cen�rio muito adverso. “� uma hist�ria de amor p�s-pand�mica, onde o mundo que a gente conhece est� acabando, pelo menos para aquelas pessoas ali, que sentem que esse mundo est� deixando de existir, esgotou, e elas n�o sabem se algum outro mundo vai surgir depois, ou qual mundo ser�. Escrevi num momento muito sem perspectiva de tudo, de um porvir, de um trabalho, de um encontro com os amigos.”

Ele pondera que, a despeito do tom aparentemente pessimista, “Febre” n�o tem exatamente essa pegada, j� que os personagens n�o est�o passivamente esperando o mundo acabar: eles saem para a rua, s�o ativos, v�o ao encontro deste fim de mundo. “� nesse deslocamento que se d� o texto, pelas passagens, pelos encontros, pelos acontecimentos”, ressalta.

“Escrevi num momento de falta de perspectiva, n�o s� pela pandemia, mas pela situa��o do pa�s neste momento, com esse desmonte de todas as �reas, principalmente a cultura, mas n�o sinto o texto como pessimista, apesar do mote. � um grande poema, uma hist�ria de amor entre pessoas que se deslocam”, acrescenta o ator.

VIRADA E RUPTURA

Ele diz que, particularmente, acredita que este momento seja de virada para a humanidade, de ruptura, e que isso pode trazer algum aprendizado para um novo tempo. Como o momento, em sua opini�o, � de mudan�as – seja pela pandemia, pela quest�o clim�tica, pelos conflitos em geral –, h� que se aproveitar para “dar um salto e sair desse buraco”.

“Ou�o as pessoas falando sobre a vida voltar ao normal; eu n�o espero isso e n�o acho que seja poss�vel. Parece papo ret�rico, mas realmente acredito nisso, que este mundo em que a gente vive est� esgotado, n�o tem mais para onde ir. Quero que as coisas mudem, n�o quero voltar � normalidade de antes. N�o sou o mesmo de 2020. Ainda bem. A gente tem que crescer um pouco, olhar para o outro com mais empatia. N�o d� mais para viver neste mundo ego�sta, com cada um se virando para salvar o seu; n�o cabe mais isso”, opina.

A constru��o do texto e do filme remonta � tradi��o do Grupo Galp�o de convocar seus atores e suas atrizes a desafios em �reas para al�m da atua��o. “Trabalhamos muito com o esquema do que chamamos de workshop, nos quais somos provocados a tamb�m escrever, dirigir, iluminar, fazer figurino etc. Temos muito est�mulo e fazemos um pouco de tudo”, observa Paulo Andr�, ao lembrar as motiva��es para a cria��o da escrita de “Febre”.

Ele j� escreveu outros textos para o Grupo, como “Arande Gr�vore" (2008), no projeto Cine Horto P� na Rua, dirigido pela atriz In�s Peixoto, e “Outros” (2018), junto a Eduardo Moreira e Marcio Abreu, para quem esse novo trabalho conjunto reafirma um “encontro de vida e os v�nculos que permanecem, que tomam outras formas e geram novas experi�ncias”.

O diretor considera muito significativo conseguir realizar um filme em t�o pouco tempo, num momento t�o dif�cil, cheio de entraves e empecilhos. “Esse desmonte da cultura, das artes, com n�s, artistas, sendo colocados no alvo… S�o v�rios elementos que dificultam qualquer movimento, ent�o estar afinados, em sintonia, estabelecendo uma parceria de confian�a, isso faz muita diferen�a. Vejo esse trabalho como uma consequ�ncia do encontro. Voc� vai criando amizades art�sticas e de vida que v�o gerando esses campos de atra��o e de coopera��o que tornam tudo melhor”, afirma.

“FEBRE”

Filme do Grupo Galp�o, com dire��o de Marcio Abreu, a partir de texto de Paulo Andr�. 23min. Estreia nesta sexta-feira (4/3), �s 20h, no canal do Galp�o no YouTube, onde permanece em cartaz at� 13/3


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