(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas AUDIOVISUAL

Obcecada pelo sucesso, blogueira vira serial killer em 'As seguidoras'

S�rie nacional em seis epis�dios estrelada por Maria Bopp e criada por Manuela Cantu�ria chega neste domingo (6/3) ao Paramount+


05/03/2022 04:00 - atualizado 04/03/2022 23:11

A atriz Maria Bopp com o rosto coberto de tinta vermelha e camiseta que mostra lábios femininos em cena da série As seguidoras
A atriz Maria Bopp vive na s�rie uma blogueira da vida saud�vel que ela define como 'gratiluz-goodvibes-vegana' (foto: Paramount+/divulga��o)

Em tempos de m�dias digitais, Liv seria apenas mais uma influenciadora que quer a todo custo conquistar seguidores. O problema � que a obsess�o pelo sucesso transforma a influenciadora em uma serial killer. “Ela � blogueira-gratiluz-goodvibes-vegana”, define, bem-humorada, a atriz Maria Bopp, que interpreta a personagem da s�rie “As seguidoras”, que ser� lan�ada neste domingo (6/3) pelo Paramount+.

O mundo maravilhoso e irreal de Liv come�a a desandar quando Antonia (Gabz), uma podcaster de crimes reais, percebe alguma coisa muito estranha em uma s�rie de assassinatos e coloca a blogueira no radar. No meio dessa hist�ria, Liv ainda precisar sustentar uma amizade falsa com Ananda (Raissa Chaddad), influencer mais prestigiada do que ela.

Criada por Manuela Cantu�ria e dirigida por Mariana Youssef e Mariana Bastos, a s�rie tem seis epis�dios. Todos ser�o liberados neste domingo.

Em entrevista coletiva virtual sobre a s�rie, Manuela Cantu�ria contou que a ideia de colocar uma mulher como assassina em s�rie foi uma forma de mudar um pouco a maneira como as hist�rias s�o contadas, protagonizadas por detetives, pela figura do investigador, do policial traumatizado.

“Sempre girou em torno de homens, ent�o foi um exerc�cio muito interessante para a gente", diz a autora. Para entender como uma mulher se comportaria no contexto da investiga��o, do thriller, da viol�ncia, ela trabalhou com uma equipe composta majoritariamente por mulheres – e n�o apenas no roteiro, mas tamb�m na produ��o.

'Queria escrever uma s�rie sobre como as redes sociais enlouquecem as pessoas e surgiu a ideia dessa personagem, a Liv, que � pura vida, que se diz contra todo tipo de crueldade contra os seres humanos, contra os animais e � muito obcecada pela pr�pria imagem a ponto de viver uma farsa'

Manuela Cantu�ria, criadora da s�rie


 

ABSURDOS 

“Desde a �poca de Tony Soprano (“Fam�lia Soprano”), Don Draper (“Mad men”), Walter White (“Breaking bad”), o Dexter, a gente ama esses caras mesmo eles fazendo absurdos, por que a gente n�o pode amar uma mulher tamb�m que faz isso?”, questiona.

O roteiro come�ou a ser pensado quando Manuela dava seus primeiros passos nas redes sociais e entendeu que o discurso de autoestima, de vida saud�vel de certas blogueiras era um mecanismo perverso, por mostrar uma rotina de vida praticamente inalcan��vel como modelo a ser seguido. 

“Queria escrever uma s�rie sobre como as redes sociais enlouquecem as pessoas e surgiu a ideia dessa personagem, a Liv, que � pura vida, que se diz contra todo tipo de crueldade contra os seres humanos, contra os animais e � muito obcecada pela pr�pria imagem a ponto de viver uma farsa”, conta. Dar a ela a caracter�stica de assassina deu contraste maior � farsa.

Quando a equipe de roteiristas se reuniu, a complexidade da personagem cresceu. “A gente tem uma personagem que � uma assassina, mas tamb�m temos que entender qual � o gatilho dela, o que a motiva, o que se passa na sua cabe�a dela. Quer�amos explorar a ironia disso tudo. Foi um processo muito rico para a gente, porque � um tema muito atual, que estamos vivendo aqui o tempo todo.”

As personagens s�o ficcionais, mas Manuela Cantu�ria diz que especialmente Liv e Ananda foram constru�das a partir da rotina de influenciadoras famosas. “Como � que � voc� acordar e ter que filmar o seu caf� da manh� e estar o tempo inteiro vivendo uma vida que talvez de fato voc� n�o estaria vivendo? Tem um ponto de vista a� que � cr�tico, e eu prefiro deixar para o p�blico olhar e falar: ‘Nossa, me lembra fulana!’.”

Manuela viu v�deos de blogueiras supostamente abrindo o cora��o sobre a autoestima e, de repente, fazendo um an�ncio publicit�rio no meio da transmiss�o, dizendo, por exemplo, que agora come�ou a aceitar o pr�prio corpo. 

MECANISMO 

“� muito louco como essas megainfluenciadoras operam. Acho que � um mecanismo que faz com que seja assim. Gra�as a Deus,  n�o existe uma blogueira ‘pura vida’ que est� matando gente por a�”, ironiza. Mas Liv, como todas as blogueiras, tem medo do cancelamento, sofre com a ansiedade que isso gera, com os efeitos que deixam a cabe�a ruim, tudo levado ao absurdo.

Manuela elogia o que considera um equil�brio muito bom no roteiro entre o drama, a complexidade, a leveza e a com�dia. “A gente quer que as pessoas reflitam, mas a gente quer que as pessoas achem gra�a na ironia disso tudo”, pondera.

'Se voc� critica essas pessoas que t�m milh�es de seguidores, voc� tem todo um ex�rcito de pessoas chamando voc� de invejosa, moralista, falando que voc� na verdade queria ser essa mulher, que n�o sei o qu�'

Maria Bopp, atriz



BLOGUEIRINHA 

Liv n�o � a �nica influenciadora entre as personagens da carreira de Maria Boop. Criadora da Blogueirinha do Fim do Mundo, que tem mais de 1 milh�o de seguidores no Instagram, h� um bom tempo a atriz exerce um olhar cr�tico sobre as blogueiras, mas, desta vez o desafio foi fazer uma blogueira sem critic�-la. 

“Eu tinha que acreditar na Liv, acreditar no que ela fazia. Fiz um estudo sob outra �tica, com outro objetivo dessas blogueiras. A Liv, tanto no lado de serial killer quanto no lado blogueira, tem esse desejo por reconhecimento, por notoriedade. Estudei muitas blogueiras e muitos serial killers e esse desejo de chamar a aten��o � um ponto-chave comum entre esses dois mundos, que aparentemente n�o se encontram.”

A atriz cita o v�deo de uma garota fazendo uma dancinha com a m�e no leito de morte como um dos grandes absurdos que refletem essa necessidade de chamar a aten��o. “A cada semana,  temos exemplos de como as pessoas levam at� �s �ltimas consequ�ncias o desejo de ganhar destaque na internet. Inclusive entrando em temas pol�micos, como nazismo, racismo. As pessoas usam de pol�micas para ganhar engajamento, para ganhar destaque na m�dia, para voltar para as manchetes de jornal. Isso tamb�m foi um material de estudo para mim”, afirma.



Colega de Maria Bopp no elenco da s�rie, Raissa Chaddad usa as redes sociais como vitrine para o seu trabalho. Ela diz que n�o se doa 100% para as redes sociais, por ser algo muito t�xico. “Muitas vezes eu n�o quero ver nada.” Reconhecendo que rede social tamb�m deixa muita gente mal, ela acredita que exista um lado bom na internet, como a facilidade de comunica��o entre as pessoas que ela proporciona.

Gabz tem uma rela��o mais estreita com a internet. Ela surgiu no mundo digital por meio de uma slam (batalha de poesia) e sabe que, se n�o fosse a internet, a mensagem n�o chegaria a tantas pessoas. 

Tenho recorda��es da internet construindo a minha autoestima. Eu sou uma menina negra no Brasil, que n�o tinha acesso a diversas est�ticas. Estava em um lugar em que a internet me permitiu participar de grupos de literatura nos quais pessoas da periferia n�o t�m acesso a material de estudo que s� as faculdades t�m”, diz.

Ela, contudo, aponta que o modo como a internet � usada reflete um comportamento mais geral da sociedade. “Se vivemos em uma sociedade racista, gordof�bica, uma sociedade extremamente capitalista e neoliberal, a internet n�o vai funcionar de forma diferente, ela vai funcionar do mesmo jeito. Quem vai ter mais seguidores na internet ser�o meninas brancas, vendendo corpos imposs�veis, estilos de vidas imposs�veis, porque assim � como a sociedade se reproduz, e o algoritmo tamb�m reproduz isso.”

Sobre seu papel em rela��o ao uso da internet, a atriz e poeta diz: “N�o adianta projetar um futuro da internet como se a internet fosse um assunto descolado do mundo, eu tenho que fazer o que eu j� fa�o, que � batalhar por novas narrativas do lado de fora, porque s� assim vai ecoar do lado de dentro, sabe?”

Ela acrescenta: “Eu tenho que batalhar para influenciar as pessoas com conte�dos que acrescentem � vida delas, que resgatem a autoestima delas, que ofere�am acesso � literatura, as coisas que eu acho que s�o positivas para essas pessoas. � muito menos sobre a internet e muito mais sobre a gente, como a gente est� mudando essa estrutura a�, mudando esse sistema que sempre acaba se reproduzindo em qualquer lugar, em qualquer espa�o”.

CAMPO DE BATALHA

Maria Bopp concorda com Gabz e define a internet como um campo de batalha. Em sua opini�o, a pauta cr�tica da internet est� crescendo. Mesmo assim, ela se diz assustada com o n�mero de mulheres influenciadoras que t�m milh�es de seguidoras com a��es extremamente irrespons�veis. 
“Se voc� critica essas pessoas que t�m milh�es de seguidores, voc� tem todo um ex�rcito de pessoas chamando voc� de invejosa, moralista, falando que voc� na verdade queria ser essa mulher, que n�o sei o qu�.”

Maria n�o sabe o que esperar da internet nos pr�ximos tempos. “Hoje em dia eu fa�o um v�deo de tr�s minutos e tem gente falando que s�o muito longos, sabe? Daqui a pouco um minuto vai ser longo, talvez, n�o sei.”






receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)