
A crise pand�mica foi o principal empecilho para a Autoramas manter-se em atividade nos �ltimos dois anos. A banda liderada pelo guitarrista e vocalista brasiliense Gabriel Thomaz tinha projeto de gravar um disco — o nono da carreira — h� dois anos.
Mas, em raz�o da COVID-19, o projeto precisou ser adiado. J� com composi��es prontas, os m�sicos, observando os protocolos determinados pelas autoridades sanit�rias, voltaram a se reunir em 2021, num est�dio montado na casa do baixista Jairo Fajerstain, em Itatiba, no interior de S�o Paulo, para fazer o registro do trabalho.
O �lbum recebeu o nome de “Autointitulado” e chegou neste m�s �s plataformas digitais. Antes, houve o lan�amento de um single com a m�sica “A cara do Brasil”, parceria com Rodrigo Lima, do grupo capixaba Dead Fish, que ganhou videoclipe.
A faixa reflete de forma ir�nica o momento vivido pelo pa�s. O verso inicial da letra diz: "Tem chacina/N�o tem vacina/ Cloroquina/ Ivermectina/ T� tocando na piscina/ Ci�ncia n�o!/ Ele n�o! Essa n�o..."
No repert�rio do �lbum, “A cara do Brasil” se junta a “Estupefaciante”, “No dope”, “N�ias normais”, “Dia da marmota”, “Sem tempo” e “Eu tive uma vis�o”. "Este � um disco de sobreviv�ncia: no tempo, no lugar e nas condi��es que estamos vivendo. Passamos dramaticamente pela crise, pela COVID, nos adaptamos a tudo sem nunca parar de produzir, sempre pensando no trabalho, na m�sica e no que a Autoramas significa", ressalta Gabriel Thomaz. Ele tem como companheiros de banda �rica Martins (voz, miniguitarra, �rg�o, �rg�o e theremon �ptico), D�bio Lima (bateria) e Jairo Fajersztain (baixo).
Para Thomaz, com “Autointitulado”, que tem projeto gr�fico de Gustavo Cruzeiro, a Autoramas busca manter sua assinatura e continua sempre pensando em cair na estrada, que considera o "h�bitat". O CD saiu no Brasil pelo selo Maxilar, com distribui��o da Ditto Music Brasil; e, na Europa, pelo Soundflat Records. A pr�-venda da vers�o em vinil teve in�cio pelo Clube da Vinil Brasil. Leia a seguir entrevista com Gabriel Thomas.
H� quanto tempo a banda estava sem lan�ar disco?
O �ltimo de in�ditas foi “Libido”, de 2018, ent�o escolhido como �lbum do ano por diversas publica��es por todo o mundo. E, depois disso, em 2020 e 2021, lan�amos dois �lbuns de B-Sides & Extras, tudo dispon�vel nas plataformas digitais.
De que forma a Autoramas ocupou o tempo durante a longa quarentena determinada pela pandemia da COVID-19?
Fizemos muita coisa: a mais trabalhosa foi organizar toda a nossa extensa discografia nas plataformas digitais. Depois de quase dois anos (de trabalho), ainda n�o est� completa. N�o t�nhamos tempo de fazer isso enquanto nossa agenda estava normal. Come�amos a gravar esse novo �lbum em 2020. Duas m�sicas gravadas em 2020 (antes da pandemia) entraram no �lbum e com mais outras duas lan�amos um EP em vinil 7 polegadas, que s� saiu na Europa e esgotou rapidamente. Em mar�o de 2021, eu e �rika contra�mos o coronav�rus e fiquei 22 dias internado e mais um temp�o me recuperando. Nesse tempo, de casa, desenvolvi meu selo – Maxilar – e, em 2021, lan�amos 22 artistas, al�m de produzir a nona edi��o do Pr�mio Gabriel Thomaz de M�sica Brasileira, que passou at� na TV, no canal Music Box Brasil. �rika e eu tamb�m fizemos muitas lives tocando e discotecando. Quando o protocolo de distanciamento flexibilizou um pouco, voltamos a ensaiar e a gravar o restante das m�sicas. E o novo �lbum saiu agora.
As m�sicas do novo trabalho foram compostas nesse per�odo?
Sim. Quase todas antes da minha interna��o.
Nas grava��es, os tais equipamentos vintage se juntaram a instrumentos, digamos, modernos?
Sim, gravamos tudo no modern�ssimo Est�dio Vegetal, que pertence ao nosso baixista Jairo Fajer, com os melhores e mais modernos recursos.
Os tempos vividos no pa�s atualmente s�o refletidos intencionalmente em “A cara do Brasil”, a m�sica lan�ada como primeiro single?
Sim, fizemos esta parceria com nosso amigo Rodrigo Lima, vocalista do Dead Fish, e lan�amos antes como single digital, com videoclipe no mesmo teor. Muitos amigos me mandaram prints com minha masculinidade sendo questionada nos mais tenebrosos grupos de WhatsApp.
H� a preocupa��o nas outras faixas de colocar em relevo as mazelas com as quais setores da vida nacional – inclusive o da cultura – s�o obrigadas a conviver no momento?
“A cara do Brasil” com certeza � a menos sutil. Em outras letras, como as de “Dia da marmota”, “Estupefaciante” e “Eu tive uma vis�o”, abordamos mais temas relativos � pandemia.
Como avalia a trajet�ria de quase 25 anos da banda?
A banda foi formada em 1998, completaremos 24 anos neste 2022. Estamos no nosso nono �lbum, sempre produzindo, fazendo muitos shows e lan�amentos, turn�s pelo mundo todo. Vejo muitos colegas reclamando do mundo da m�sica. No nosso caso, n�o temos muito do que reclamar, fazemos o que gostamos com tranquilidade e produtividade sempre est�vel, e um p�blico muito fiel. J� tocamos em todos os estados do Brasil, completamos o �lbum, al�m de shows, festivais, lan�amentos de discos e turn�s por 23 diferentes pa�ses.
� poss�vel sobreviver sem fazer parte do mainstream do rock nacional?
A Autoramas e outros artistas est�o a� para comprovar isso. Acredito que n�o exista mais mainstream do rock nacio- nal. O mainstream hoje � formado pelo sertanejo e uma ou outra cantora de funk. Nunca o mercado foi t�o fechado, apesar de o Brasil ser talvez o pa�s mais musical do mundo, com centenas de g�neros populares. At� desenvolvi um bord�o: o Brasil sempre foi um supermercado musical, mas hoje s� o a�ougue tem vitrine.
O som da banda � segmentado ou � bem absorvido por roqueiros diversos?
Nosso show � um verdadeiro ‘junta tribo’, e uma coisa da qual me orgulho � que vai gente de todas as idades — crian�ada, por exemplo, adora. Os pais levam, acho sensacional.
Que tipo de acolhida voc�s t�m na Europa e no Jap�o, onde costumam se apresentar?
Sempre excelente. Tocamos muito tamb�m na Am�rica Latina, meu pa�s preferido � o M�xico.

“AUTOINTITULADO”
Autoramas
Sete faixas
Maxilar
Dispon�vel nas plataformas digitais