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Estado de Minas

Johnny Depp e Amber Heard: 'As pessoas tendem a acreditar em homens poderosos, principalmente algu�m com a popularidade do ator'

Carrie N. Baker, advogada americana especialista em ass�dio sexual, discorre sobre lit�gio entre Amber Heard e Johnny Depp.


14/05/2022 13:20

Amber Heard e Johnny Depp
Processo de difama��o entre Johnny Depp e Amber Heard capturou aten��es nos EUA (foto: Getty Images)

O processo de difama��o entre Johnny Depp e Amber Heard n�o � apenas debatido nos tribunais dos Estados Unidos, mas tamb�m no "tribunal da opini�o p�blica".

As imagens de ambos os atores viralizaram nas redes sociais. Centenas de milhares de pessoas assistem a audi�ncias transmitidas no YouTube ou canais de televis�o.

O julgamento, que acontece no Estado americano da Virg�nia, come�ou em 11 de abril, depois que Depp processou a atriz por uma suposta acusa��o falsa de viol�ncia dom�stica.

Ao longo de tr�s semanas, uma s�rie de testemunhas incluindo os dois artistas revelaram detalhes �ntimos do relacionamento. O j�ri, o juiz e o p�blico ouviram diversas hist�rias do casal sobre brigas, insultos e ci�mes.

Heard afirmou, entre outras coisas, que seu ex-marido, com quem se casou em 2015, abusou sexualmente dela. Enquanto o protagonista de "Piratas do Caribe" insistiu que nunca cometeu tais atos e que, pelo contr�rio, foi v�tima de abuso verbal e f�sico por parte dela.

Algumas vozes sugerem que a opini�o p�blica est� do lado do ator e que isso � demonstrado pelos coment�rios e milh�es de hashtags a seu favor nas redes sociais. Outros alertam que o caso pode ter impacto nas v�timas de viol�ncia dom�stica.

As audi�ncias judiciais est�o em recesso e recome�am no pr�ximo dia 16 de maio.

A BBC News Mundo, o servi�o de not�cias em espanhol da BBC, falou sobre essas quest�es com a professora Carrie N. Baker, que leciona no Smith College e tem doutorado em Estudos da Mulher pela Emory University, nos Estados Unidos.

Baker tamb�m � advogada especializada em ass�dio sexual.

BBC News Mundo: Como a Sra. descreve o processo entre Amber Heard e Johnny Depp?

Carrie N. Baker: Trata-se de um processo por difama��o. � comum que uma pessoa acusada de abuso entre com esses tipos de a��es judiciais. Mas ao contr�rio de outros lugares, como em algumas partes da Europa, nos EUA temos fortes prote��es � liberdade de express�o garantidas pela Primeira Emenda da Constitui��o.

� muito dif�cil ganhar um processo por difama��o, principalmente se voc� for uma figura p�blica como Johnny Depp. No entanto, o p�blico reagiu muito positivamente em rela��o a ele. Ainda assim, ficaria muito surpresa se ele acabar ganhando o caso.

Professora Carrie N. Baker
Carrie N. Baker � advogada experiente em ass�dio sexual. Ela tem Ph.D. em Estudos da Mulher pela Emory University (Estados Unidos) (foto: Carrie N. Baker )

BBC News Mundo: Por que, ent�o, entrar com a a��o se � t�o complicado venc�-la?

Baker: Muitas vezes, � uma tentativa de obter uma audi�ncia p�blica, contestar as acusa��es e limpar seu nome. As pessoas acusadas de abuso t�m mais recursos do que a outra parte. E �s vezes elas esperam resolver antes que o caso termine, extrajudicialmente.

Esta � frequentemente a realidade nos EUA; os casos de difama��o s�o t�o dif�ceis de vencer que acabam sendo resolvidos mais cedo.

BBC News Mundo: A Sra. alega, ent�o, que Depp est� usando o sistema de justi�a dos EUA para limpar seu nome

Baker: Sim. Esta � uma oportunidade para ele veicular seus argumentos. No tribunal da opini�o p�blica, Johnny Depp tem tido muito sucesso em se projetar como v�tima.

Veremos o que acontece no final, mas � muito dif�cil para as mulheres ter controle nesses casos.

Mesmo que Depp n�o ganhe o processo, as pessoas s� v�o se lembrar do que aconteceu durante o julgamento. E ele aparece como se tivesse sido a v�tima.

BBC News Mundo: A Sra. poderia explicar o conceito de "tribunal da opini�o p�blica"?

Baker: � o que as pessoas percebem de uma audi�ncia judicial e como os participantes do processo legal s�o apresentados na m�dia.

Ele (Johnny Depp) � uma figura p�blica e obviamente teve muitos problemas comportamentais. E est� tentando recuperar sua reputa��o.

A possibilidade de ele e seus advogados argumentarem na Justi�a que ela, Heard, � quem fez o mal permite que eles recalibrem a percep��o de sua imagem.

Heard � vista como mentalmente desequilibrada e menos cr�vel. Tudo isso � constru�do sobre estere�tipos sobre as mulheres como pessoas mais emocionais e exageradas. Essas narrativas sobre o comportamento masculino e feminino jogam a seu favor (do ator).

Acredito que o sistema � parcial a favor dos homens.

BBC News Mundo: Mas h� quem afirme que ambos os atores foram violentos. A Sra. acha que h� um caso de viol�ncia de m�o dupla aqui?

Baker: Certamente, as mulheres podem cometer viol�ncia contra os homens. Mas as estat�sticas de viol�ncia de homens contra mulheres s�o maiores. E quando os homens cometem viol�ncia dom�stica, eles tendem a faz�-lo com mais seriedade. Geralmente, s�o mais propensos a agredir suas parceiras.

Isso tem muito a ver com o fato de que na sociedade a viol�ncia masculina � mais aceita.

Al�m disso, quando as mulheres se comportam de forma violenta, a propor��o de abuso f�sico tende a ser menor, tende a ser outro tipo de abuso, como o psicol�gico.

E sim, isso pode ajudar Amber Heard, porque as pessoas est�o mais inclinadas a ver mais mulheres como v�timas de viol�ncia dom�stica.

Johnny Depp
Depp acusou Heard de abuso f�sico e verbal (foto: Getty Images)

BBC News Mundo: Como esse caso altamente divulgado na m�dia pode influenciar pessoas que foram v�timas de viol�ncia dom�stica?

Baker: Acho que quando algumas mulheres veem como outras mulheres s�o tratadas quando elas decidem denunciar o abuso que sofreram, isso pode desencoraj�-las a falar. Elas n�o querem ser tratadas como Amber Heard foi tratada.

Mas elas podem se sentir identificadas. H� exemplos hist�ricos, como quando Anita Hill (advogada e professora americana) acusou (atualmente, juiz associado da Suprema Corte dos EUA) Clarence Thomas de ass�dio sexual. Nas audi�ncias perante o Comit� Judici�rio (do Senado dos EUA) para a confirma��o de Thomas no cargo, Hill foi maltratada.

Mas depois dessas audi�ncias p�blicas, muitas mulheres come�aram a denunciar casos de ass�dio e agress�o sexual. O n�mero de queixas aumentou. Tudo porque as mulheres se identificavam com Anita Hill.

Elas podem se sentir validadas porque veem que n�o est�o sozinhas.

BBC News Mundo: Como um relacionamento abusivo muda quando uma das partes � uma pessoa famosa ou poderosa?

Baker: Eles poderiam ter mais poder e recursos para contratar advogados. � por isso que muitos homens poderosos usam os tribunais como t�tica de abuso. Eles querem silenciar as pessoas que os exp�em. Movem a��es judiciais para intimidar.

Ressalto que essa � uma t�cnica comum.

As pessoas tendem a acreditar em homens poderosos, especialmente algu�m com a popularidade de Johnny Depp. Todos n�s j� vimos isso em filmes. Todos o amam em "Piratas do Caribe".

Ele � um dos atores mais populares do mundo e acho que isso pode ser um fator importante em como ele � percebido e no n�vel de simpatia que as pessoas t�m por ele.

Amber Heard
Heard alega que foi v�tima de viol�ncia dom�stica (foto: Getty Images)

BBC News Mundo: Os advogados perguntaram a Amber Heard por que ela n�o terminou o relacionamento depois de ser abusada. Ela respondeu que amava Johnny Depp. O que acontece com uma v�tima de abuso que pode ter dificuldade em deixar seu parceiro, apesar da situa��o em que se encontra?

Baker: � muito dif�cil para uma pessoa que foi abusada deixar um relacionamento. �s vezes, deixar o relacionamento pode ser perigoso. Pode desagradar o agressor. Muitas mulheres tamb�m s�o financeiramente dependentes de seus agressores. Embora n�o ache que este seja o caso em quest�o.

Outras vezes h� filhos envolvidos e elas se preocupam em proteg�-los. Sentem que vai ser melhor para eles ter os pais juntos.

H� tamb�m outra coisa chamada "ciclo de abuso". Acontece quando uma pessoa abusa de algu�m, mas depois pede desculpas e promete n�o fazer isso novamente. Inicia uma s�rie de comportamentos para manter a pessoa abusada por perto. Mas ent�o o abuso come�a novamente e pode at� aumentar.

�s vezes, acontece em casais que t�m um relacionamento longo e se amam. Portanto, pode ser muito dif�cil para uma mulher sair desse relacionamento violento.

BBC News Mundo: Durante o julgamento, nenhum especialista em viol�ncia dom�stica testemunhou. Como isso poderia mudar a opini�o do j�ri?

Baker: H� especialistas que podem testemunhar o que muitas vezes � chamado de s�ndrome da mulher maltratada. Isso para educar o j�ri sobre por que as mulheres podem permanecer em um relacionamento abusivo, apesar dos maus-tratos.

Muitas pessoas n�o entendem que est�o sendo abusadas.

Amber Heard
Audi�ncias v�m sendo assistidas e comentadas por milh�es de pessoas dentro e fora das redes sociais (foto: Getty Images)

BBC News Mundo: Isso tamb�m pode influenciar a percep��o do p�blico

Baker: Sim. Mas o que est� acontecendo no tribunal � uma coisa e o que est� acontecendo nas redes sociais e na m�dia � outra.

No tribunal, h� restri��es sobre quais provas podem ser apresentadas diante do j�ri. Mas no tribunal da opini�o p�blica n�o h� restri��es.

BBC News Mundo: Amber disse que h� testemunhas oculares de alguns atos violentos perpetrados por Depp. Ela poderia apresentar essas testemunhas durante o julgamento?

Baker: Claro, absolutamente. Mas ela n�o tem o �nus de provar nada. Ele a processou por difama��o e tem o �nus de provar isso.

BBC News Mundo: O que poderia ser um poss�vel resultado deste caso?

Baker: � dif�cil responder. Mas, como disse, � dif�cil ganhar um processo por difama��o nos tribunais dos Estados Unidos. Ainda mais como figura p�blica.

Se voc� � um cidad�o comum e entra com um processo por difama��o, � mais f�cil ganhar. Basicamente, isso ocorre porque, se voc� se tornar uma figura p�blica, estar� abrindo a porta para as cr�ticas do p�blico. Mas figuras p�blicas ganharam casos de difama��o.

Geralmente tem que ser um caso muito forte e este n�o parece ser. Mas cabe ao j�ri analisar todas as evid�ncias e determinar se elas t�m credibilidade ou n�o.


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