
Um grande painel do viol�o brasileiro come�a a ser montado em Belo Horizonte a partir da pr�xima quinta-feira (2/6), quando diversos representantes do instrumento, de diferentes escolas, se apresentam no Centro Cultural Banco do Brasil.
Idealizada e dirigida pelo pesquisador, violonista, compositor e arranjador Thiago Delegado, a primeira edi��o do Encontro do Viol�o Brasileiro vai trazer � cidade, para uma s�rie de shows, que se estendem at� 5/6, artistas como Guinga, Z� Paulo Becker e o Duo Siqueira Lima.
Delegado atuar� como anfitri�o, fazendo alguns n�meros de abertura em cada noite de apresenta��es, antes de anunciar e receber os convidados. Depois de Belo Horizonte, o Encontro do Viol�o Brasileiro ser� realizado tamb�m em Bras�lia, Rio de Janeiro e S�o Paulo, nas unidades do CCBB.
Para cada cidade foi escalado um grupo diferente de m�sicos – o que, no conjunto, congrega os nomes de Rog�rio Caetano, Toninho Horta, Lula Galv�o, Nelson Faria e Ulisses Rocha.
Para cada cidade foi escalado um grupo diferente de m�sicos – o que, no conjunto, congrega os nomes de Rog�rio Caetano, Toninho Horta, Lula Galv�o, Nelson Faria e Ulisses Rocha.
Trata-se de um recorte que mostra a riqueza do instrumento, trazendo novos talentos em di�logo com nomes j� consolidados, segundo Delegado. Ele aponta que o fato de ser realizado em mais de uma cidade se configura como uma oportunidade para pessoas de Minas e de outros estados se apresentarem em lugares diferentes, cada um com suas influ�ncias, que passam pelo erudito, jazz, samba e choro, mostrando essa diversidade.
CURADORIA

O idealizador do evento observa que, quando o assunto � o viol�o, o Brasil tem um cen�rio que repercute em todo o mundo, da� a natural dificuldade de se fazer a curadoria para um encontro como esse.
“A gente se orientou por nomes que v�m escrevendo a hist�ria do viol�o, trazendo m�sicos que t�m uma longa trajet�ria e tamb�m contempor�neos meus, que mant�m a tradi��o do instrumento, como Z� Paulo Becker ou Rog�rio Caetano, al�m de um pessoal da nova gera��o, que est� chegando agora”, diz.
Ele cita como exemplo a jovem Gabriele Leite, tida como uma das grandes revela��es do viol�o na atualidade. Ter uma representa��o feminina na sele��o dos m�sicos convidados a participar deste primeiro Encontro do Viol�o Brasileiro foi uma preocupa��o da curadoria, segundo Delegado.
Ele observa que o Brasil n�o tem uma tradi��o de mulheres instrumentistas, mas que esse cen�rio vem mudando aos poucos.
“Se voc� pegar um pr�mio como o BDMG Instrumental, por exemplo, que � realizado h� mais de duas d�cadas, s� quatro mulheres ganharam ao longo dessa hist�ria – tr�s delas nas quatro �ltimas edi��es. No Brasil, as mulheres sempre ocuparam o posto de cantoras, n�o havia um incentivo para as instrumentistas. Isso est� mudando, � um caminho a ser percorrido, a gente tem que dar esse est�mulo para que as mulheres ocupem esse espa�o”, diz.
Ele destaca que, al�m de Gabriele, a sele��o de m�sicos que se apresenta em Belo Horizonte inclui Cec�lia Siqueira, do Duo Siqueira Lima, “um talento incr�vel”. Delegado diz que n�o houve, por parte da curadoria, o intuito deliberado de contemplar diferentes escolas do viol�o brasileiro, mas que, naturalmente, isso acabou ocorrendo.

“A gente se preocupou mais em pegar nomes que fossem representativos do viol�o brasileiro, mas o pa�s � um celeiro muito rico. O Toninho Horta � um viol�o brasileiro completamente diferente do Ulisses Rocha, que � mais ligado ao ambiente erudito, e ambos s�o diferentes do Guinga, que � de outra escola”, observa.
“A maneira como Rog�rio Caetano toca o viol�o de sete cordas de a�o � um neg�cio totalmente �nico. � uma quest�o de ver a pluralidade. Chegamos a essa sele��o de forma natural”, acrescenta.
REPERT�RIO
Cada artista convidado teve liberdade para escolher seu repert�rio. “Os violonistas v�o apresentar aquilo que quiserem tocar; cada um faz da forma que se sente mais � vontade. O viol�o solo pede isso”, comenta Delegado. Ele diz que pode, eventualmente, fazer uma participa��o especial no show de algum dos m�sicos escalados, mas que isso n�o � algo programado.
“Meu papel � de anfitri�o mesmo. A ideia � que eu abra a noite, toque duas ou tr�s m�sicas, me apresente, receba o convidado, fale um pouco da pessoa, da carreira dela, e deixe o palco com ela. Nada impede que um ou outro me chame para tocar junto algum n�mero, mas isso n�o est� no script.”
Ele aponta que pelo fato de essa ser a primeira edi��o do encontro, que tem em Belo Horizonte sua primeira pra�a, “vamos descobrir essa din�mica com a coisa acontecendo”. Delegado afirma que vem gestando a ideia do Encontro do Viol�o Brasileiro desde antes da pandemia, juntamente com a produtora Renata Chamilet, que responde pela dire��o-geral do evento e tamb�m pela curadoria.
Nesse percurso, dos primeiros esbo�os at� agora, pontuaram, para Delegado, alguns est�mulos para levar adiante o projeto. Um deles foi participar, no ano passado, da edi��o on-line do Festival Internacional de Viol�o, precursor desse formato em Belo Horizonte, criado em 2005 por Juarez Moreira, Fernando Ara�jo e Ali�ksey Vianna.
“N�o tenho um trabalho solo; at� agora, sempre atuei acompanhado de banda, ent�o a participa��o no Festival Internacional de Viol�o foi um est�mulo a mais para mostrar esse meu lado. O Juarez (Moreira), que � meu amigo, meu professor, um m�sico por quem tenho uma considera��o enorme, indiretamente me incentivou a promover esse Encontro”, ressalta.
Ele adianta que, nos momentos em que estiver em cena, vai apresentar arranjos para obras cl�ssicas de autores como Pixinguinha e Dilermando Reis, entre outros, e tamb�m mostrar sua lavra pr�pria, registrada nos quatro �lbuns que j� lan�ou at� aqui.
“Como tudo o que registrei nesses discos foi com banda, ent�o vou trazer essas coisas de volta para o viol�o solo, que, afinal, � onde elas foram compostas. Estou achando bom exercitar esse lado. A pandemia me trouxe para mais perto do viol�o, porque, com a agenda de shows parada, foi o que restou. No Encontro do Viol�o Brasileiro vou mostrar as coisas que gosto de tocar sozinho.”
ESPA�O
Atra��o da terceira noite do evento, no pr�ximo s�bado, Z� Paulo Becker, um dos fundadores do Trio Madeira Brasil, diz que ficou muito feliz com o convite para participar dessa primeira edi��o. Ele sublinha a import�ncia de iniciativas como essa.
“O viol�o brasileiro precisa desse espa�o, porque � um viol�o �nico, que se destaca no mundo inteiro. Fiz uma turn� recente pelos Estados Unidos e voc� percebe isso claramente. Acompanho o trabalho do Thiago e acho que ele fez uma sele��o que abra�a um espectro grande de estilos, do Duo Siqueira Lima a Guinga. Fiquei honrado com o convite, porque tem nomes muito representativos participando”, diz.
Z� Paulo Becker est� lan�ando um livro, intitulado precisamente “Viol�o brasileiro”, que re�ne arranjos para o instrumento de temas de Chico Buarque, Edu Lobo, Guinga, Cartola, Sivuca e Tom Jobim, entre outros, al�m de composi��es pr�prias. Esse � o repert�rio que ele pretende apresentar em Belo Horizonte. “Feira de Mangaio”, de Sivuca; “Amor proibido”, de Cartola, e “Chovendo na roseira”, de Jobim, s�o algumas das m�sicas presentes no roteiro do show.
Composi��es in�ditas tamb�m ser�o executadas, j� que o instrumentista est� em processo de lan�amento de um novo �lbum. “Tenho lan�ado singles. Um pr�ximo, que j� est� no prelo, se chama ‘Minas dos tambores’ e reflete essa liga��o que tenho com o estado, at� pelo la�o acad�mico, porque sou professor da Universidade Federal de Juiz de Fora”, diz.
Ele diz que neste novo trabalho, que est� apresentando em doses homeop�ticas, sai de sua zona de conforto. Afeito ao universo do choro, que pratica com o Trio Madeira Brasil, Becker investe agora em uma sonoridade mais jazz�stica.
“O �lbum vai se chamar ‘Outro mundo’ e nele toco viol�o e guitarra, com uma forma��o de banda, com baixo, bateria, e influ�ncia da m�sica mineira, Milton Nascimento, Toninho Horta, e tamb�m Pat Metheny. � ‘Outro mundo’ porque, justamente, tem essa ideia de ser uma coisa diferente do que normalmente fa�o.” O m�sico come�ou tocando viol�o cl�ssico, dos 10 aos 20 anos, antes de abra�ar o choro.
Ele aponta que ter vivenciado esses dois universos lhe permite ver em perspectiva que, ao longo dos �ltimos anos, as fronteiras entre eles est�o ficando cada vez mais borradas. “No meu tempo de estudante, a coisa era mais claramente dividida. Hoje j� tem uma garotada que traz todas essas informa��es, do erudito e do popular, misturadas, faz esse crossover, o que acho que � uma tend�ncia mundial.”
THIAGO DELEGADO RECEBE
Confira a programa��o do encontro, cujos shows est�o marcados para as 20h
» QUINTA-FEIRA (2/6)
Guinga
Gabriele Leite
» SEXTA-FEIRA (3/6)
Celso Moreira
Carlos Walter
Lucas Telles
» S�BADO (4/6)
14h – Masterclass com
Thiago Delegado
20h – Z� Paulo Becker
» DOMINGO (5/6)
Duo Siqueira Lima
ENCONTRO DO VIOL�O BRASILEIRO