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Estado de Minas LITERATURA

Valter Hugo M�e lan�a nesta segunda (18/7) em BH "As doen�as do Brasil"

O autor portugu�s fala sobre seu novo livro, ambientado na Amaz�nia e que tem como protagonistas um ind�gena e um negro, no Sempre um Papo


17/07/2022 07:35 - atualizado 17/07/2022 07:42

 de camisa e óculos pretos, valter hugo mãe posa para fotografia tendo uma árvore ao fundo
Valter Hugo M�e diz que teve que ''conquistar n�o s� o assunto, mas o linguajar'' de seu livro ambientado no Brasil (foto: Ana Esteves Brand�o/Divulga��o)

O escritor portugu�s Valter Hugo M�e � um apaixonado pelo Brasil e, desde que colocou os p�s por aqui pela primeira vez, h� mais de uma d�cada, sentia o desejo de escrever um romance que se passasse no pa�s. 

Foi assim que o livro "As doen�as do Brasil", publicado pela editora Biblioteca Azul em novembro de 2021, come�ou a nascer. O romance se passa na Amaz�nia e conta uma hist�ria de invas�o e genoc�dio promovidos pelo europeu durante a coloniza��o.

A hist�ria acompanha os personagens Honra e Meio da Noite. O primeiro � fruto de um estupro de um homem branco contra uma mulher ind�gena, e o segundo, um negro aprisionado pelos Abaet�s que acaba unindo for�as com os ind�genas contra a amea�a dos brancos.

Para escrever a obra, Valter Hugo M�e conviveu com comunidades ind�genas durante momentos em que esteve na Amaz�nia, leu textos dos ianom�mis, como os livros de Davi Kopenawa, e lan�ou m�o, principalmente, de sua capacidade de criar personagens profundos e estranhos. "O contato com os textos e as visitas que fiz � Amaz�nia foram fundamentais, mas foi muito importante partir para uma coisa mais solit�ria", ele afirma.

No Brasil para cumprir uma s�rie de compromissos liter�rios e divulgar seu livro mais recente, lan�ado em meio � pandemia, ele � o convidado da edi��o do Sempre um Papo desta segunda-feira (18/7), �s 19h, no Grande Teatro do Pal�cio das Artes. 

Al�m de participar de um debate, mediado pelo jornalista Afonso Borges, no qual ir� responder perguntas da plateia, o autor autografa "As doen�as do Brasil".  

Antes de desembarcar em Belo Horizonte, Valter Hugo M�e conversou, por telefone, com o Estado de Minas e deu detalhes sobre o processo de escrita do romance. Segundo ele, escrev�-lo foi ocupar "o lugar menos confort�vel", mas lan��-lo "� urgente", j� que o livro joga luz no exterm�nio dos povos ind�genas.

O autor tamb�m comenta o atual momento que o Brasil atravessa, com casos recentes que exp�em a misoginia, a intoler�ncia pol�tica e o racismo no pa�s, e afirma que "pol�tica n�o pode ser desumanidade, agress�o ou guerra". E tamb�m revela estar escrevendo um novo livro, que se passa na Ilha da Madeira, e deve ser lan�ado no ano que vem.

"Ao inv�s de abordar o Brasil a partir de uma perspectiva muito branca, europeizada e burguesa, eu quis abord�-lo a partir de um ponto de vista dos povos origin�rios, que n�o � absolutamente aquilo que aprendi na escola. Essa narrativa � urgente nos dias de hoje. O ataque aos povos ind�genas tem sido intensificado e o exterm�nio deles tem sido continuado e talvez at� acelerado"

Valter Hugo M�e, escritor

 

Nesta segunda (18/7), voc� lan�a em Belo Horizonte seu oitavo romance, "As doen�as do Brasil", cuja hist�ria traz os povos ind�genas no centro da narrativa, para falar da invas�o e do genoc�dio causados pelos europeus. Por que voc� decidiu escrever uma hist�ria sob essa perspectiva?

Por v�rios e muitos motivos. Nos meus livros mais recentes, tenho tentado problematizar a minha posi��o. N�o t�m me interessado livros que venham muito diretamente ligados � minha cultura ou � minha identidade. Me interessam livros e fic��es que tenham a ver com outro tipo de vis�o de mundo e cultura.

Isso aconteceu com a Isl�ndia (no livro "A desumaniza��o") e aconteceu com o Jap�o (em "Homens imprudentemente po�ticos") e, ao acontecer com o Brasil, julgo que � talvez o lugar menos confort�vel. Ao inv�s de abordar o Brasil a partir de uma perspectiva muito branca, europeizada e burguesa, eu quis abord�-lo a partir de um ponto de vista dos povos origin�rios, que n�o � absolutamente aquilo que aprendi na escola.

Essa narrativa � urgente nos dias de hoje. O ataque aos povos ind�genas tem sido intensificado e o exterm�nio deles tem sido continuado e talvez at� acelerado.

Quais foram as suas ferramentas para escrever uma hist�ria ambientada no Brasil?

Eu li o que devia e talvez o que n�o devia. Procurei, sobretudo, prestar aten��o �s vozes diretas de alguns povos ind�genas e colhi muito de livros de Davi Kopenawa, alguns textos dos povos yanomami e tamb�m de Ailton Krenak.

Em dada altura, confesso que foi necess�rio deixar de ler porque eu precisava de um espa�o vago na minha imagina��o no qual eu pudesse imaginar e inventar.

O contato com esses textos e as visitas que eu fiz � Amaz�nia foram fundamentais, mas foi muito importante partir para uma coisa mais solit�ria, que fosse substancialmente minha e correspondesse � minha capacidade de inventar alguma coisa. Passou muito por a�. Por essa companhia inicial e por uma esp�cie de fuga para ficar sozinho.

Antes de lan�ar "As doen�as do Brasil" voc� teve receio de os brasileiros criticarem o fato de um estrangeiro escrever uma hist�ria sobre o pa�s?

Olha, eu j� n�o tenho medo de muita coisa. E n�o � de hoje que eu lido com o preconceito que algumas pessoas de um determinado lugar podem ter ao receber o texto de um estrangeiro. Isso j� havia acontecido um pouco com a Isl�ndia e com o Jap�o. Por outro lado, quando as pessoas leem, elas entendem o esfor�o que foi feito para criar determinada hist�ria.

Eu n�o quero ocupar o lugar de fala de ningu�m. Os meus livros s�o o meu lugar de escuta e s�o um exerc�cio de empatia, de entender como � a cultura do outro. Eu j� sabia que muita gente poderia estranhar o tema do livro ou o pr�prio t�tulo dele.

A passividade diante do genoc�dio dos povos ind�genas � comum, infelizmente. Por isso eu entendo que muita gente n�o se sinta bem ao ver que um livro possa fazer uma defesa da dignidade dos povos ind�genas, que t�m sido t�o perseguidos e massacrados. 

"Pol�tica n�o pode ser desumanidade, agress�o ou guerra. Pol�tico, mesmo que burro, n�o pode excluir. Isso n�o cabe na cabe�a de ningu�m. � muito bizarro que, de repente, estamos debatendo com pessoas que deminuem as mulheres, os negros, os homossexuais... No fundo, diminui toda a gente. Quem sobra depois de tantos exclu�dos? N�o sobra ningu�m. E os que sobram tem que ser muito imbecis. Eu n�o gostaria de participar de um coletivo que fosse o resultado de tanta exclus�o para sobrar s� eu"

Valter Hugo M�e, escritor



"As doen�as do Brasil" � o seu primeiro romance em cinco anos. Por que voc� ficou esse tempo afastado do g�nero?

Nunca deixei de escrever. Durante todo esse tempo eu fui escrevendo sempre. Esse livro me exigiu um pouco mais de tempo. � um livro que eu precisava conquistar n�o s� o assunto, mas o linguajar. A linguagem nele � muito peculiar e especial. Precisei de v�rias tentativas.

O pr�prio livro me obrigou a demorar um pouco mais. N�o foi uma decis�o minha, portanto, passar um tempo de f�rias. N�o estive de f�rias, na verdade, estive em trabalhos redobrados.

Estamos passando por um momento delicado no Brasil, com casos recentes que exp�em a misoginia, a intoler�ncia pol�tica e o racismo. Como voc� enxerga esse per�odo?

Eu enxergo como um tempo que tem que resultar numa mudan�a. Eu acho que as pessoas precisam se lembrar que, acima de tudo, pol�tica n�o pode ser desumanidade, agress�o ou guerra. Pol�tico, mesmo que burro, n�o pode excluir.

Isso n�o cabe na cabe�a de ningu�m. � muito bizarro que, de repente, estamos debatendo com pessoas que deminuem as mulheres, os negros, os homossexuais...

No fundo, diminui toda a gente. Quem sobra depois de tantos exclu�dos? N�o sobra ningu�m. E os que sobram tem que ser muito imbecis. Eu n�o gostaria de participar de um coletivo que fosse o resultado de tanta exclus�o para sobrar s� eu.

Ou ent�o nem eu sobraria porque eu pr�prio caminharia com os meus pr�prios p�s para fora desse grupo. Eu espero que o Brasil e o mundo voltem �s narrativas de integra��o human�stica e que o ser humano seja colocado no centro das quest�es com suas peculiaridades, estranhezas e at� com suas falhas. N�s n�o temos de ser eliminados por falhar.

Voc� foi um dos autores convidados da 26ª Bienal Internacional do Livro de S�o Paulo, realizada entre os dias 2 e 10 de julho passado, na capital paulista. Como foi a experi�ncia de participar do evento?

Foi lindo. Um encontro com um oceano de gente e um pouco tumultuado. Acho que eles admitiram tanta gente que muitas pessoas n�o devem nem ter tido a oportunidade de comprar livros porque as filas eram gigantes. Enquanto autor, foi gratificante ver tantas pessoas, fazer v�rias falas e ver a plateia sempre cheia.

� uma coisa muito concreta ver tanta gente entrando numa Bienal, querendo comprar livros. Sempre se fala da crise do livro, da falta de leitores, mas a prova est� a�: gente querendo ler existe. Temos todos de continuar a lutar por isso e acreditar que o conhecimento e o texto nos trazem liberdade. O livro e o pensamento livre ainda v�o nos ajudar em muitas situa��es.

Foi a sua primeira Bienal?

Eu j� tinha estado em alguns eventos desse tipo. Aqui no Brasil, inclusive, j� tinha estado em algumas bienais, mas n�o necessariamente na de S�o Paulo. Das de grandes propor��es, estive nas do M�xico e da Col�mbia.

Mas a Bienal de S�o Paulo talvez tenha sido a que eu tenha visto com mais gente ao mesmo tempo dentro do mesmo recinto. Nunca vi um evento de livros onde quase n�o se pudesse circular por conta da quantidade de gente que estava nos corredores.

Por que voc� acha que seus livros e suas hist�rias s�o t�o bem recebidos pelos leitores brasileiros?

Eu n�o sei. As pessoas gostam da poesia dos meus livros. Gostam do trabalho de linguagem, do desafio de encontrar express�es que n�o s�o t�o comuns e n�o correspondem � normalidade.

Gostam tamb�m da coragem de alguns personagens e da estranheza que eles podem causar. E eu creio que passa um pouco por a�. E tamb�m porque elas se identificam comigo. Por eu pr�prio acreditar numa cultura de aceita��o e entendimento. Nos meus livros, existe uma defesa da paz e do respeito.

Voc� est� escrevendo um novo livro?

Estou trabalhando h� alguns anos em um novo romance. Ele inclusive � anterior ao "As doen�as do Brasil". Se passa em uma quarta ilha depois da Isl�ndia, do Jap�o e das ilhas do Abaet�.

� uma hist�ria que se passa na Ilha da Madeira e traz � tona um conjunto novo de personagens bem estranhos e um pouco rejeitados e inexplic�veis. � o que tem me ocupado. Espero termin�-lo ainda neste ano para ser lan�ado no pr�ximo.

Capa do livro 'AS DOENÇAS DO BRASIL'
(foto: Editora Biblioteca Azul/Reprodu��o)


"AS DOEN�AS DO BRASIL"
• De Valter Hugo M�e
• Editora Biblioteca Azul (208 p�gs.) 
• R$ 64,90

• Lan�amento nesta segunda-feira (18/7), �s 19h, no projeto Sempre um Papo, no Grande Teatro do Pal�cio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. Entrada franca, por ordem de chegada, sem necessidade de retirada de ingressos.


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