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Estado de Minas CULTURA NA GUERRA

Ucr�nia tenta "vencer" a guerra usando a arte fonte de cura

Crian�as ucranianas voltam �s aulas de canto entre as ru�nas de Borodianka. J� em Kiev, sala de cinema em por�o vira ref�gio contra bombas


21/07/2022 04:00 - atualizado 20/07/2022 21:04

Tetiana Kryvosheienko dá aula de música para alunos em Borodianka, na ucrânia
Tetiana Kryvosheienko d� aula para alunos no c�modo que sobrou de uma escola de m�sica em Borodianka (foto: IONUT IORDACHESCU/AFP )

A professora de piano Oksana Shevchenko, de 53 anos, aponta para uma pilha de metal retorcido e cimento. Isso � tudo o que resta da escola onde trabalhou por 30 anos, destru�da durante a ocupa��o russa de Borodianka, nos arredores de Kiev. "Um terreno baldio queimado substituiu o local onde as crian�as estudavam. � o exterm�nio da cultura e dos ucranianos pelos invasores russos", afirma.

A uma hora de carro de Kiev, Borodianka, uma cidade que tinha uma popula��o de 14 mil habitantes antes da invas�o russa iniciada em 24 de fevereiro, carrega as profundas cicatrizes da tentativa fracassada de Moscou de tomar a capital ucraniana. Com a maioria dos edif�cios reduzidos a escombros ou danificados, a rua principal � um testemunho da devasta��o.

Segundo autoridades locais, 12 pr�dios residenciais foram arrasados e 24 danificados. Mais de 400 casas foram afetadas. Ap�s a destrui��o de seus pr�dios, a pol�cia, o Minist�rio P�blico, os correios e a prefeitura agora dividem o espa�o de uma escola que escapou dos bombardeios.

Shevchenko tamb�m d� aulas de m�sica para crian�as que retornaram ap�s a liberta��o de Borodianka, em 1º de abril. Elas cantam o hino ucraniano acompanhadas por um piano. "Nos reunimos de novo e criamos de novo. Foi doloroso quando tiraram isso de n�s", explica, dentro de uma pequena sala de aula, cheia de instrumentos musicais, cadeiras, bancos e caixas. "Quando voc� perde sua profiss�o favorita e as crian�as suas atividades favoritas, � estressante", detalha.

"A m�sica cura porque ajuda voc� a se desconectar de seus problemas. E as crian�as me pediram para voltar �s aulas, mesmo aquelas que est�o no exterior"

Tetiana Kryvosheienko, professora de m�sica


Doa��es 

A escola de m�sica, que segundo Shevchenko tinha 160 alunos antes da guerra, beneficiou-se de v�rias doa��es de ONGs e de indiv�duos ucranianos e estrangeiros. Recentemente, um grupo de rock metal lhes ofereceu teclado, bateria e guitarra. “H� crian�as que querem voltar, alguns professores tamb�m. Por conta pr�pria, e com a ajuda de institui��es de caridade e pessoas benevolentes, come�amos a renovar nossos suprimentos”, explica Shevchenko.

Diana Kovtun, de 15 anos, canta uma m�sica folcl�rica ucraniana. Ela deixou Borodianka no primeiro dia da guerra, mas voltou. "Antes eu me perguntava se deveria ir para o exterior para trabalhar ou estudar. Agora tenho certeza de que quero estudar aqui na Ucr�nia. Quero morar aqui", disse.

A professora de guitarra Tetiana Kryvosheienko tamb�m voltou a lecionar. Seu l�bio treme e ela mal segura as l�grimas enquanto conta sua fuga de Borodianka. "Para evitar cruzar com os russos, caminhamos 10 quil�metros � noite pelos campos at� a cidade vizinha de Zagaltsi", detalhou. "As crian�as estavam chorando. Suas m�os do�am porque est�vamos arrastando elas", lembra. Ela, ent�o, viajou at� o Oeste da Ucr�nia antes de retornar a Borodianka no in�cio de maio.

"A m�sica cura porque ajuda voc� a se desconectar de seus problemas. E as crian�as me pediram para voltar �s aulas, mesmo aquelas que est�o no exterior", explica Kryvosheienko.

Borodianka bombardeada pelos russos
Borodianka, que tinha 14 mil moradores antes da guerra, agora tem 9 mil e com a maioria dos edif�cios reduzidos a escombros (foto: IONUT IORDACHESCU/AFP)

Sem moradia 

Mais de 150 pessoas foram mortas em Borodianka durante a ofensiva russa, incluindo oito crian�as. Segundo o prefeito interino Gueorgui Ierko, cujo gabinete improvisado tamb�m fica na escola, atualmente restam cerca de 9 mil pessoas na cidade. Quase metade n�o tem onde morar. "A guerra vai acabar e a vida vai continuar. As pessoas voltaram e devem viver em condi��es normais. Estamos trabalhando duro para conseguir isso", conclui. 

"Um terreno baldio queimado substituiu o local onde as crian�as estudavam. � o exterm�nio da cultura e dos ucranianos pelos invasores russos"

Oksana Shevchenko. professora de piano



Ilko Gladshtein, sócio-gerente do KINO42, cinema em kiev, na ucrânia
Ilko Gladshtein, s�cio-gerente do KINO42, diz que sala no por�o ganhou status de "cinema-ref�gio" em Kiev (foto: SERGEI CHUZAVKOV / AFP )


Cinema subterr�neo serve tamb�m como prote��o   

As salas de cinema come�am a reabrir suas portas na Ucr�nia, ap�s permanecerem fechadas por v�rios meses desde a invas�o russa em fevereiro, oferecendo aos cin�filos algumas horas de sossego para amenizar a rotina cruel da guerra. No Centro de Kiev, o KINO42 � um dos 20 cinemas que abriram nas �ltimas semanas, mas � o �nico subterr�neo.

Constru�da a quatro metros de profundidade, a sala de 42 assentos � a �nica que ostenta seu status de "cinema-ref�gio" para se proteger dos bombardeios russos. "� literalmente um cinema-ref�gio, porque est� em um por�o", explica Ilko Gladshtein, um dos donos, durante o lan�amento de sua programa��o de cl�ssicos ucranianos.

Inaugurado em 2019, o cinema sempre esteve em um por�o. Isso j� foi um detalhe incomum de sua arquitetura, mas agora � sua principal atra��o, diz Gladshtein. "KINO42 � o cinema mais seguro de Kiev no momento. N�o interrompemos as exibi��es durante os ataques a�reos", comentou.

"KINO42 � o cinema mais seguro de Kiev no momento. N�o interrompemos as exibi��es durante os ataques a�reos"

Sess�es esgotadas

O produtor cinematogr�fico de 37 anos se surpreendeu com a quantidade de gente que chega para as proje��es noturnas, que foram adiantadas devido ao toque de recolher das 23h. "Junho � um m�s dif�cil para a distribui��o de filmes, mas vejo que as pessoas est�o famintas por cinema. Fizemos tr�s exibi��es de arrecada��o de fundos e enviamos mil d�lares para o Ex�rcito ucraniano", disse ele. "Isso nos d� a confian�a de saber que n�o estamos apenas entretendo as pessoas, mas tamb�m fazendo algo importante para os soldados na linha de frente", acrescentou.

O KINO42 sempre priorizou o cinema ucraniano e a preserva��o da identidade cultural do pa�s se tornou importante desde a invas�o. O cinema fez parceria com o Centro Dovzhenko, o maior arquivo cinematogr�fico do pa�s e passou de uma exibi��o semanal para tr�s, todas com a casa cheia.

Na semana passada, KINO42 apresentou "Estanho, bizarro e fant�stico" (tradu��o livre), uma s�rie de curtas animados dos anos 1980 e 1990. Os ingressos esgotaram tr�s dias antes da estreia.

Cataclismo social

Stanislav Bitiutskiy, pesquisador de 38 anos do Centro Dovzhenko, diz que todo cataclismo social, ou pol�tico, imp�e um acerto de contas com a identidade ucraniana. "Aconteceu pela primeira vez com a Revolu��o Maidan", contou ele, referindo-se aos confrontos mortais de 2014 entre manifestantes e for�as de seguran�a que levaram � queda do ent�o presidente pr�-russo Viktor Yanukovych. "Agora, novamente, precisamos redefinir nossa identidade por meio da arte", considerou. 


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