Criadora inquieta, Maricenne Costa foi pioneira da bossa nova em S�o Paulo, fez discos com Tinhor�o, gravou com Inocentes e com o grupo de rap Moleque de Rua (foto: Ana Komel/divulga��o)
Paulista de Cruzeiro, Maricenne Costa, de 86 anos, � uma das cantoras mais importantes do pa�s. Foi a primeira int�rprete a gravar uma can��o de Chico Buarque – “Marcha para um dia de sol”, em 1965 – e Jo�o Gilberto dizia que ela tinha a voz colorida. Viveu o auge da bossa nova em S�o Paulo, representou a m�sica brasileira em Portugal e nos Estados Unidos. Fazia parte da gera��o de Ala�de Costa e Claudette Soares.
Antenada, dialogou com v�rias gera��es – de Tinhor�o a Tom Z�, rappers e punks. Esta rica trajet�ria � contada no livro “Maricenne Costa – A cantora de voz colorida” (�lbum de Fam�lia), lan�ado pela psiquiatra Elisabeth Sene-Costa, irm� da artista, e pela jornalista La�s Vitale de Castro.
“Maricenne cantou em diversos festivais de MPB nos anos 1960. E tamb�m fez parceria com o grupo punk Inocentes na d�cada de 1990”, afirma Elisabeth.
''Maricenne n�o primou somente pelo ecletismo, mas tamb�m pelo pioneirismo''
Elisabeth Sene-Costa, bi�grafa
Por�m, a cantora e compositora n�o se limitou � m�sica. Tamb�m fez teatro – ficou mais de um ano em cartaz com o espet�culo “Morte e vida severina”, de Jo�o Cabral de Melo Neto.
Os cap�tulos da biografia oferecem amplo panorama da multifacetada trajet�ria de Maricenne. Entre eles, “Atr�s do sonho: de Bach a Noel Rosa”, “Sucesso na terra de tio Sam”, “Jo�o Gilberto”, “Amaz�nia”, “O quadril�tero da m�sica”, “Abduzida pelos palcos teatrais”, “Descobridora de talentos”, “O moderno pelo eterno”, “N�o importa onde v�” e “Bossa nova e o amor por S�o Paulo”.
“Maricenne come�ou nos anos 1950 e ganhou um pr�mio importante no concurso nacional A Voz de Ouro ABC”, diz Elisabeth. Ao se integrar ao movimento da bossa nova, foi acompanhada pelos melhores pianistas da �poca, como C�sar Camargo Mariano e Walter Wanderley.
“Ela viajou para os Estados Unidos, onde se apresentou e foi citada pela famosa revista DownBeat. Na plateia estavam Tony Bennett, Judy Garland e Eddie Fisher.”
Em S�o Paulo, Maricenne costumava cantar em palcos que fizeram hist�ria, como Jo�o Sebasti�o Bar, Cambridge Hotel e Captain’s Bar. Tom Jobim, Roberto Menescal, Ronaldo B�scoli, Walter Santos e Peri Ribeiro foram alguns dos compositores presentes nos discos dela.
Nos anos 1970, uma virada na carreira: Maricenne fez teatro com Myriam Muniz, Ricardo Blat e Marcos Caruso, respeitados atores. Depois, voltou � m�sica para chamar muita aten��o, ao lado de destaques da cena noventista.
Maricenne gravou o LP “Correntes alternadas”, produzido por Paulo Barnab�, nome de ponta daVanguarda Paulista. O �lbum juntava o punk do Inocentes, o rap do Moleque de Rua e a ousadia do tropicalista Tom Z�.
''Sua voz tamb�m � colorida. Que mensagem linda tem a sua voz. Ela tem cores, n�o cale nunca esta voz colorida''
Jo�o Gilberto (1931-2019), em conversa com Maricenne Costa, nos anos 60
Vanguarda e Tinhor�o
De um lado, Maricenne dialogava com a vanguarda. De outro, com a tradi��o. Foi assim com o disco “Como tem passado!!!” (1999), baseado na pesquisa encomendada por ela ao historiador Jos� Ramos Tinhor�o (1928-2021). O repert�rio reunia m�sicas inaugurais de v�rios ritmos brasileiros. Elisabeth Sene-Costa diz que este projeto foi sucesso de cr�tica e p�blico.
E a cantora n�o sossegou. “Em 2002, foi a vez do show ‘S�bios costumam mentir’, com a obra de Waly Salom�o (1943-2003). Em 2005, ela lan�ou ‘Movimento circular’, com produ��o de Tuco Marcondes e Fernando Nunes, da banda de Zeca Baleiro”, diz a irm�. O repert�rio desse �ltimo reunia in�ditas dos jovens Fernanda Porto e Mois�s Santana, al�m do veterano Johnny Alf, um dos pais da bossa nova.
Elisabeth destaca outro �lbum: “Bossa SP”, lan�ado em 2009, reunindo paulistas. “Ela trouxe convidados de diferentes gera��es, como a cantora Ala�de Costa, Eduardo Gudin, Mois�s Santana e o gaitista Vitor Lopes”, relembra.
A autora diz que a trajet�ria de Maricenne n�o pode ser relegada a segundo plano, sobretudo pela atua��o dela a partir de S�o Paulo. “Resolvi homenagear a minha irm� em vida. Achei que ela merecia esse livro por ter sido cantora importante, principalmente na d�cada de 1960. E come�ou j� fazendo sucesso, pois ganhou o Voz de Ouro ABC, concurso com cerca de tr�s mil concorrentes”, afirma.
“Maricenne n�o primou somente pelo ecletismo, mas tamb�m pelo pioneirismo. Come�ou na bossa nova, gravou Inocentes, Moleque de Rua, Ritchie e Zequinha de Abreu, entre tantos outros.”
A paulista se preocupou em n�o ficar limitada � bossa nova. “Ela sempre gostou de pesquisar”, diz Elisabeth. No caso da parceria com o historiador Jos� Ramos Tinhor�o, Maricenne pretendia resgatar a hist�ria da m�sica brasileira.
“Ela queria que Tinhor�o descobrisse quais foram os primeiros ritmos brasileiros. O primeiro samba, o primeiro samba-can��o, a primeira marchinha, o primeiro tango, a primeira marchinha carnavalesca”, afirma.
Jo�o Gilberto
Maricenne era amiga do cantor baiano Jo�o Gilberto. “Ela cantava na boate do Hotel Cambridge, em S�o Paulo. Jo�o foi l� certa vez e ela ficou emocionada”, relembra Elisabeth. “Maricenne e Pedrinho Mattar, que a acompanhava, sentaram-se ao lado de Jo�o e ficaram ouvindo-o cantar. E ele falava: ‘Este tom azul � para tal pessoa. Este tom verde � de tal pessoa'. A�, virou-se para a Maricenne e falou: ‘Sua voz tamb�m � colorida. Que mensagem linda tem a sua voz. Ela tem cores, n�o cale nunca esta voz colorida’.”
Elisabeth acredita que o livro sobre a irm� traz contribui��o importante para a hist�ria da m�sica popular brasileira. Explica que a jornalista La�s Vale de Castro entrevistou Maricenne, cantores, compositores, produtores e jornalistas, entre outros.
“Maricenne gostava de escrever e tinha v�rios cadernos. Era tamb�m compositora, tanto que os discos dela trazem m�sicas autorais. Comecei a ler esses cadernos e muitas hist�rias, inclusive a do Jo�o Gilberto, e achei que daria um livro”, finaliza Elisabeth.
(foto: �lbum de Fam�lia/reprodu��o)
"MARICENNE COSTA – A CANTORA DE VOZ COLORIDA”
• De Elisabeth Sene-Costa e La�s Vale de Castro
• Editora �lbum de Fam�lia
• 260 p�ginas
• R$ 60 (edi��o colorida)
• R$ 40 (edi��o preto e branca)
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