Rock in Rio acabou, mas o 'folclore' sobre megafestival nunca sai de cena
Livro de Luiz Felipe Carneiro revela casos curiosos envolvendo Axl Rose, Bruce Springsteen, Drake, James Taylor e AC/DC em shows realizados no Rio de Janeiro
Bruce Springsteen foi praticamente "expulso" do palco em meio ao foguet�rio, em 2013, mas voltou para o bis (foto: Yasuyoshi Chiba/AFP/22/9/13)
Axl Rose perambula de cueca e roup�o pelo palco do Maracan� j� com o est�dio vazio, depois do show do Guns N' Roses na segunda edi��o do Rock In Rio, em 1991. Procura a jaqueta de couro branco com a qual havia entrado em cena. Quando volta para o camarim, sua banda j� havia ido embora.
Ao ouvir de Amin Khader, coordenador de backstage, se queria que a farta macarronada encomendada por ele fosse enviada ao hotel, decide convidar para jantar ali mesmo os funcion�rios que ainda trabalhavam at� aquela hora. Faxineiros, camareiras, gar�ons e seguran�as se juntam ao rockstar para o banquete, assim como Roberto Medina, que chega e v� a cena sem entender nada.
A hist�ria � uma das saborosas curiosidades que se espalham pelas quase 500 p�ginas de “Rock in Rio: A hist�ria – Bastidores, segredos, shows e loucuras que marcaram o maior festival do mundo”, publicado pela Globo Livros, do jornalista Luiz Felipe Carneiro.
Lan�ado em 2011, dando conta das tr�s primeiras edi��es do festival (1985, 1991, 2001), o livro foi reeditado e ampliado para cobrir tamb�m as outras cinco realizadas no Brasil, em 2011, 2013, 2015, 2017 e 2019.
Bruce tocou Raul em 2013
A edi��o original vendeu 20 mil exemplares e estava esgotada. “A editora me convidou para fazer essa amplia��o, e imaginei a princ�pio que a hist�ria de 2011 para c� fosse menor. Mas vi que n�o era assim”, diz o autor. “A passagem de Bruce Springsteen em 2013 por aqui, por exemplo, est� entre as mais folcl�ricas e incr�veis do festival.”
Como lembra o livro, o cantor em sua temporada carioca tocou viol�o no cal�ad�o de Copacabana, passou uma noitada na Lapa, abriu o show com “Sociedade Alternativa”, sucesso de Raul Seixas. Quando beirava tr�s horas de apresenta��o, foi praticamente expulso do palco pelos fogos de artif�cio detonados pela produ��o enquanto ainda cantava. Depois do espet�culo pirot�cnico, ainda voltaria para um derradeiro bis de voz e viol�o.
Carneiro teve o aux�lio do pesquisador Tito Guedes, com quem assina “Lado C”, sobre a chamada Trilogia C� de Caetano Veloso.
Bojn Jovi fez quest�o de solicitar um rodo para seu camarim no Rock in Rio (foto: Mauro Pimentel/AFP/23/9/17)
Al�m de levantar os dados sobre o festival de 2011 para c�, Guedes organizou e incrementou a pesquisa que ele havia feito para a primeira edi��o. “Com as informa��es novas, reescrevi a parte referente ao Rock in Rio de 1985, 1991 e 2001”, conta o autor.
O jornalista procurou ver e comentar todas as apresenta��es do festival, recorrendo ao YouTube (para as edi��es mais recentes) e a colecionadores. “Vi shows na �ntegra que nem sabia que haviam sido registrados, como Gilberto Gil, Rita Lee e Lulu Santos em 1985. Os que tive mais dificuldade de encontrar foram os de 1991.”
Para a primeira edi��o do livro, foram entrevistados muitos artistas, inclusive estrangeiros, como Brian May e Neil Young. “Encontrei-o na rua em Nova York e fiquei conversando sobre seu show no Rock in Rio”, conta Carneiro.
Sai u�sque, entra suco natural
Para a nova vers�o, foram importantes as entrevistas com pessoas que participaram da produ��o do festival. Al�m do idealizador Roberto Medina, o autor conversou com Ingrid Berger, que cuida dos camarins desde 2001, e relatou a mudan�a de postura das grandes estrelas.
“Ela lembrou que antes enchia carrinhos de supermercado com caixas de u�sque, mas na �ltima edi��o foram s� duas caixas. Os artistas hoje pedem sucos naturais.”
Elton John exigiu buqu�s de rosas milimetricamente medidas para seu camarim (foto: Tasso Marcelo/AFP/20/9/15)
Mas as exig�ncias folcl�ricas tamb�m est�o l�. “O arranjo de rosas de Elton John tem que ter exatamente tantos cent�metros, por exemplo”, diz o autor.
“Jon Bon Jovi exigiu um rodo. Janelle Mon�e quis dezenas de l�nguas-de-sogra, de soprar em festas de anivers�rio. E James Taylor deu uma dor de cabe�a ao pedir o jornal de Boston do dia. Isso em 1985, quando algo assim exigia uma enorme opera��o!”.
Drake deu piti em 2019
A hist�ria da produ��o de um evento da dimens�o do Rock in Rio � uma hist�ria de dores de cabe�a. Drake, em 2019, fez funcion�rios chorarem nos bastidores porque minutos antes do show amea�ou n�o entrar no palco. “Primeiro reclamou do som, depois da luz e, finalmente, n�o autorizou que seu show fosse transmitido pela televis�o”, afirma Carneiro.
A tens�o vinha desde a passagem de som, no dia anterior, quando ele demitiu seu designer de luz, recontratado pouco antes da apresenta��o.
Outro perrengue hist�rico foi com o sino de duas toneladas que compunha o cen�rio do AC/DC, em 1985. Era exig�ncia contratual da banda que ele fosse pendurado no palco. Ou seja, sem sino, sem show.
O sino foi trazido de navio, “mas a produ��o percebeu que a estrutura do palco n�o suportaria o peso”, diz Carneiro.
“Ent�o, sem contar a ningu�m, o cen�grafo M�rio Monteiro fez uma r�plica em gesso, que foi usada sem que a banda percebesse.” A substitui��o s� foi informada ao AC/DC depois das apresenta��es da banda no festival. A rea��o? Eles pediram para levar a r�plica, porque n�o era a primeira vez que tinham problemas do tipo com a pe�a.
Palco pol�tico
Al�m das curiosidades de bastidores, o livro procura contextualizar historicamente o evento, levando em conta o cen�rio pol�tico brasileiro. Aparecem ali a disputa de Medina e o ent�o governador Leonel Brizola, que amea�ou impedir a realiza��o do festival �s v�speras da estreia.
A elei��o indireta de Tancredo Neves, primeiro presidente civil desde o in�cio da ditadura militar em 1964, foi transmitida nos tel�es do festival e lembrada no palco por atra��es como Lulu Santos e Bar�o Vermelho.
O Plano Collor e seus efeitos na economia em 1990 tamb�m aparecem l�. Da mesma forma, a indigna��o recente com os rumos do pa�s est�o registradas, como nota o autor. “O t�tulo de um dos �ltimos cap�tulos do livro � 'Ei, Bolsonaro, vai tomar no c*', grito recorrente na plateia em 2019.”
(foto: Globo Livros)
ROCK IN RIO A HIST�RIA
Bastidores, segredos, shows e loucuras que marcaram o maior festival do mundo
• De Luiz Felipe Carneiro
• Globo Livros
• 504 p�ginas
• R$ 69,90
• R$ 39,90 (ebook)
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