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Estado de Minas LUTO NO CINEMA

Morre Jean-Luc Godard: 9 curiosidades sobre o homem que reinventou o cinema

Ao longo de uma prol�fica carreira de mais de meio s�culo, Jean-Luc Godard provocou, desconcertou, encantou e inspirou


13/09/2022 11:19 - atualizado 13/09/2022 11:55


Godard no set de filmagem de 'O Demônio das Onze Horas'
Godard no set de filmagem de 'O Dem�nio das Onze Horas' (foto: Getty Images)

Jean-Luc Godard, que morreu nesta ter�a-feira (13/09) aos 91 anos, foi um dos diretores mais influentes da hist�ria do cinema.

O cineasta franco-su��o ganhou fama no final dos anos 1950 como uma dos protagonistas do movimento franc�s conhecido como Nouvelle Vague, dirigindo dezenas de filmes em uma carreira que durou mais de meio s�culo.

A seguir, confira nove curiosidades sobre Godard:

 

1. Ele mudou o cinema com uma garota e uma arma

Tudo o que voc� precisa para fazer um filme, escreveu Godard certa vez, � uma "garota e uma arma". Ele provou isso durante sua estreia em 1960, com Acossado.

A garota, Patricia, est� envolvida com um criminoso, Michel, que est� fugindo por ter atirado em um policial. Ela o trai, e a pol�cia o mata na rua.

Acossado lembra um drama policial, mas como em muitas de suas obras, o enredo era apenas uma moldura para Godard explorar a cultura, experimentar a imagem e analisar o pr�prio cinema.

Teve um impacto instant�neo, sendo aclamado e gerando um enorme lucro sobre seu parco or�amento.

Quase 60 anos depois, � amplamente reconhecido como um cl�ssico — e sua for�a ainda surpreende.

2. Ele rompeu com a conven��o

Um dos elementos mais radicais de Acossado foi o uso proeminente da t�cnica de edi��o conhecida como jump cut.

A produ��o cinematogr�fica antes e depois da estreia de Godard favorece em grande parte a edi��o suave para dar a ilus�o de tempo cont�nuo.

Em contrapartida, em Acossado, Godard cortava a cena bruscamente, fazendo o tempo parecer saltar para a frente.

� desconcertante, como Godard certamente pretendia que fosse. No m�nimo, prende a aten��o do espectador, mas tamb�m foi interpretado como reflexo do t�dio de Michel ou como uma tentativa de Godard de for�ar seu p�blico a refletir sobre a natureza do cinema.

Ao longo de sua carreira, Godard brincaria com a gram�tica da produ��o cinematogr�fica.

3. Ele reescreveu o roteiro

Tiveram outras inova��es. Acossado foi filmado em loca��es, usando c�meras port�teis de m�o, com Godard escrevendo o roteiro no dia e fornecendo as falas aos atores enquanto gravavam.

Esta foi outra ruptura com a tradi��o, diante dos filmes caros liderados por est�dios que dependiam de roteiros bem amarrados, grandes equipes e storyboards.


Jean-Luc Godard durante as filmagens do filme 'O Desprezo'
Godard concebeu novas formas de fazer cinema, mas eram uma dor de cabe�a para os outros envolvidos (foto: Getty Images)

A t�cnica usada por Godard d� a Acossado uma grande espontaneidade e uma sensa��o de document�rio.

Ele a usaria em muitos de seus filmes, enfurecendo as estrelas que chegavam ao set de filmagem ainda sem saber quais seriam suas falas.

Godard e seus contempor�neos da Nouvelle Vague viam os verdadeiros grandes filmes como aqueles carimbados com a vis�o do diretor — e que melhor maneira de controlar um filme se voc� est� de fato criando � medida que acontece.

4. Ele era um grande cin�filo

Godard pode ter sido um iconoclasta, mas veio de um lugar de profundo conhecimento e afei��o pelo cinema.

Antes de se tornar diretor, ele era um �vido cin�filo — �s vezes, assistia ao mesmo filme v�rias vezes no mesmo dia nos clubes que ele e outras figuras da Nouvelle Vague frequentavam.

Como outras figuras da �poca, ele foi primeiro cr�tico, desenvolvendo suas ideias sobre o que ele achava que deveria ser o cinema que ele foi capaz de realizar na pr�tica.

Seus filmes est�o repletos de refer�ncias a outras obras e, mesmo quando ele buscava fazer o cinema avan�ar, ele n�o conseguia deixar de olhar para tr�s.

5. Ele continuou inovando

Acossado por si s� teria garantido seu lugar na hist�ria do cinema, mas sua carreira foi prol�fica. O site IMDB lista mais de 100 obras, entre curtas, document�rios, s�ries de TV e mais de 40 longa-metragens.

A d�cada de 1960 testemunhou seus trabalhos mais celebrados e amplamente assistidos — desde Uma Mulher � Uma Mulher (1961), que ele chamou de "musical neorrealista", at� a fic��o cient�fica dist�pica Alphaville (1965) e a com�dia de humor �cido Week-end � Francesa (1967), em que Emily Bronte � incendiada.


Jean-Luc Godard e Brigitte Bardot em um carro
Godard e Brigitte Bardot (� direita), que foi a protagonista de 'O Desprezo', filme de 1963 (foto: Getty Images)

Depois de Week-end � Francesa, ele abra�ou o radicalismo pol�tico, fazendo uma s�rie de filmes com temas marxistas que culminou com Tudo Vai Bem (1972).

Nas d�cadas que se seguiram, ele recontou o nascimento virginal, provocando uma reclama��o do ent�o Papa Jo�o Paulo 2º (Eu Vos Sa�do, Maria), tentou e falhou em recrutar Richard Nixon como ator (Rei Lear) e lan�ou uma hist�ria pessoal �pica do cinema (Hist�ria(s) do cinema). Em 2014, j� na casa dos 80 anos, lan�ou um filme experimental em 3D estrelado por seu cachorro Roxy (Adeus � Linguagem).

6. Ele botou o p�blico para trabalhar

N�o h� como fugir disso — os filmes de Godard v�o do desafiador ao quase incompreens�vel.

Ele teve sucesso comercial, mas trabalhos posteriores tiveram lan�amentos limitados, apesar da adora��o da cr�tica.

Godard era um leitor voraz, al�m de apaixonado pelo cinema — e o peso das refer�ncias pode ser desconcertante. Com apenas 70 minutos de dura��o, Adeus � Linguagem, por exemplo, est� repleto refer�ncias ao pintor abstrato Nicolas de Sta�l, ao autor modernista americano William Faulkner e ao matem�tico Laurent Schwartz.

Tamb�m est� em cena uma das influ�ncias mais importantes de Godard, o dramaturgo alem�o Bertolt Brecht.

Brecht queria que seu p�blico permanecesse criticamente engajado em sua obra e, por isso, empregou v�rios m�todos para desestabiliz�-lo e lembr�-lo de que est� assistindo a algo artificial.

V�rios dos filmes de Godard usam artif�cios brechtianos, como A Chinesa (1967), que inclui legendas l�gubres e atores quebrando a chamada "quarta parede", com Godard deixando at� a claquete no in�cio das cenas.

7. Ele se colocou em sua arte

Em muitas de suas obras, o protagonista pode ser visto como um representante do pr�prio Godard.

Em O Desprezo (1963), Michel Piccoli interpreta um dramaturgo franc�s encarregado de retrabalhar uma adapta��o cinematogr�fica de Ulisses.

O filme explora as tens�es entre mercantilismo e criatividade e retrata um casamento em ru�nas, inspirado na rela��o de Godard com Anna Karina, a estrela de v�rios de seus filmes.


Jean-Luc Godard com Anne Wiazemsky
Godard com Anne Wiazemsky, sua ex-mulher e estrela de v�rios de seus filmes (foto: Getty Images)

Os personagens no filme s�o muitas vezes um porta-voz para ele pr�prio, mas em anos posteriores ele se tornou um elemento dos seus filmes.

Em 1995, lan�ou o autobiogr�fico JLG/JLG - Autorretrato de Dezembro, e seus ensaios apresentam sua pr�pria voz, mais recentemente Imagem e Palavra (2018).

Uma resenha do cr�tico americano Roger Ebert sobre Godard o descreveu em 1969 como "profundamente dentro de seu pr�prio universo", uma boa explica��o de por que os filmes de Godard podem ser t�o distintos e t�o frustrantes.

8. Ele podia ser um 'merda' �s vezes

N�o injustificadamente Godard tinha a reputa��o de ser dif�cil tanto pessoal quanto profissionalmente.

Seus dois casamentos, primeiro com Anna Karina e depois com Anne Wiazemsky, foram tempestuosos, algo que transbordou em seus filmes.

Irritado com a edi��o feita pelo produtor Iain Quarrier de seu document�rio dos Rolling Stones, Sympathy for the Devil (1968), Godard deu um soco na cara dele quando o filme foi exibido em Londres.


Grupo de rock Rolling Stones durante as filmagens de 'Sympathy For the Devil'
As filmagens de 'Sympathy For the Devil', tamb�m conhecido como 'One Plus One' (foto: Getty Images)

Houve uma briga extraordin�ria com seu amigo, outro grande diretor da Nouvelle Vague, Fran�ois Truffaut.

Em 1973, Godard escreveu para Truffaut atacando seu �ltimo filme, A Noite Americana, e pedindo financiamento para dar uma resposta. Truffaut escreveu uma resposta furiosa, acusando Godard de se comportar "como um merda" e listando anos de m� conduta de Godard. Sem surpresa, Truffaut se recusou a pagar pelo filme de Godard. O relacionamento da dupla nunca se recuperou.

Mas a colabora��o tamb�m foi uma parte importante de sua carreira.

Seus primeiros filmes n�o seriam os mesmos sem Karina ou Wiazemsky, tampouco sem Jean-Paul Belmondo

Ele estabeleceu uma estreita parceria com o pensador de esquerda Jean-Pierre Gorin e o diretor de fotografia Raoul Coutard, que disse: "Ele pode ser um merda... mas � um g�nio".

Desde a d�cada de 1970, sua colaboradora mais importante era sua parceira de vida, a cineasta su��a Anne-Marie Mi�ville.

9. Mas ele tamb�m foi uma inspira��o

As ind�strias cinematogr�ficas de todo o mundo viveram suas pr�prias Nouvelle Vagues. A Nouvelle Vague americana nos deu obras como Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Bala, Chinatown e Tubar�o.

O trabalho de Godard — seja pessoal, experimental, pol�tico ou todos os tr�s — teve um impacto enorme.

O diretor americano Quentin Tarantino chamou sua produtora de A Band Apart, uma refer�ncia ao filme de Godard Bando � Parte (1963). O diretor italiano Bernardo Bertolucci incluiu uma homenagem a ele em seu filme Os Sonhadores.

A influ�ncia de Godard pode ser vista na ambiguidade entre document�rio e fic��o do diretor iraniano Abbas Kiarostami ou na obra tematicamente e formalmente provocativa do dinamarqu�s Lars Von Trier.

Quatro filmes de Godard fizeram parte da lista dos 50 melhores filmes de todos os tempos da revista de cinema brit�nica Sight and Sound — Acossado, O Desprezo, O Dem�nio das Onze Horas e Hist�ria(s) do cinema.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62889030

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