
Um nome n�o sela um destino, mas pode dar uma for�a. Quando o casal Guilherme Augusto e Maria Vilma do Amaral foi nomear sua filha rec�m-nascida, n�o houve d�vidas: Tarsila. Naquele momento, meados dos anos 1960, n�o daria para saber que ela seguiria os passos do pai e cuidaria da obra da tia Tarsila do Amaral (1886-1973).
A menina Tarsila se tornou Tarsilinha. O tempo de conviv�ncia com a tia-av�, na �poca j� em cadeira de rodas, foi curto: somente oito anos. “Mas continua muito vivo na minha mem�ria. Eu a adorava, chegava na casa dela, que, mais velha, me dava aten��o especial. Tinha perdido a filha e a neta, ent�o havia muito carinho nela”, conta.
Tarsilinha do Amaral carrega n�o s� a responsabilidade de ter o mesmo nome de uma das maiores artistas do Brasil, certamente a mais conhecida, como tamb�m de preservar seu legado. Nesta semana, esteve em Belo Horizonte para participar do lan�amento da cole��o “Tarsila”, da designer de acess�rios Rosana Bernardes, na Galeria Murilo Castro.
Rosana partiu de oito telas da artista – como “Abaporu”, “A Lua” e “Dist�ncia” (todas de 1928) e “Paisagem com touro” (1925) – para criar a cole��o de brincos, colares e pulseiras.
Com forma��o em museologia, Tarsilinha trabalha h� quase 25 anos com o legado de sua tia-av�. Hoje � curadora de sua obra – no lan�amento da cole��o, participou de palestra com Adriano Gomide, professor da Escola Guignard.
Tarsilinha est� � frente do licenciamento de produtos inspirados nas pinturas de Tarsila. Somente nos �ltimos anos, foram lan�adas cole��es de roupas, bijuterias, joias e at� conjunto de l�pis de cor e canetinhas para crian�as.
Perto das crian�as
A anima��o “Tarsilinha”, de C�lia Catunda e Kiko Mistrorigo, lan�ada em mar�o deste ano, em meio �s celebra��es do centen�rio da Semana de 22 (ainda que n�o tenha participado do evento, ela � o grande nome das artes dos modernistas daquela gera��o), foi outro meio de aproximar a obra de Tarsila do universo infantil.
“As crian�as amam as obras, estudam na escola. Acho que o licenciamento aproxima as pessoas do artista. Eu, que tive o privil�gio de viajar muito para fora, sempre gostei de ir a exposi��es e depois sempre passava na lojinha dos museus. Vi como isso seria importante para se fazer no Brasil e comecei a ir atr�s. Claro que � tamb�m uma fun��o econ�mica, mas, acima de tudo, divulga a obra dela por meio de produtos.”

Tarsilinha tamb�m participa ativamente de exposi��es de Tarsila. “Em breve, deve haver novas fora do pa�s”, comenta ela, acrescentando que a maior parte dos trabalhos da tia-av� est� no Rio de Janeiro e em S�o Paulo. Tarsila viveu muito, 86 anos, e pintou pouco se considerado seu per�odo em atividade.
“Suas pinturas n�o chegam a 250. � por isso tamb�m, pela oferta muito pequena, que seus valores s�o altos”, comenta Tarsilinha.
A valoriza��o expressiva tem como marco 1995, quando “Abaporu” se tornou o primeiro quadro brasileiro a ser comercializado por mais de US$ 1 milh�o – foi vendido para o colecionador argentino Eduardo Costantini por US$ 1,35 milh�o e � uma das estrelas do Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires (Malba).
“De 10, 15 anos pra c�, sua obra passou a ter valores absurdos. Quando o MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) comprou ‘A Lua’ (o quadro foi adquirido em 2019, por valor estimado em US$ 20 milh�es), a coisa explodiu”, comenta Tarsilinha.
No in�cio de 2020, “A caipirinha” (1923) foi adquirido em leil�o por colecionador brasileiro por R$ 57,5 milh�es, batendo o recorde de valor pago por uma obra em venda p�blica no pa�s.
A fam�lia da artista tem poucos trabalhos de Tarsila. “Meu pai conservou alguma coisa, e eu comprei tamb�m, quando os valores eram menores. Hoje, � imposs�vel comprar. Tenho uma pequena cole��o com alguns desenhos e gravuras.”
J� a cole��o de objetos pessoais � maior. H� desde m�veis at� objetos variados, como uma estola, talheres com as iniciais TA e pinc�is. “Estou guardando, e a ideia � um dia doar para um museu.”
J� a cole��o de objetos pessoais � maior. H� desde m�veis at� objetos variados, como uma estola, talheres com as iniciais TA e pinc�is. “Estou guardando, e a ideia � um dia doar para um museu.”
Outro projeto futuro � atualizar o cat�logo raisone� de Tarsila, lan�ado em 2008. “� um trabalho muito importante, pois d� grande confiabilidade � obra. Demorou muitos anos para ser feito e uma atualiza��o � necess�ria, pois sempre aparecem outras obras e o cat�logo raisone� � uma coisa viva”, afirma Tarsilinha.