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Estado de Minas UMA HIST�RIA SURPREENDENTE

A prostituta que se tornou artista pl�stica de renome num manic�mio de S�o Paulo

Aurora Cursino dos Santos pintou mais de 200 quadros e desenvolveu estilo pr�prio, em permanente di�logo com vanguardas de sua �poca


27/11/2022 08:36 - atualizado 28/11/2022 12:57


Fotografia em preto e branco mostra mulher com jaleco em frente a diversos quadros
Aurora foi lobotomizada em 1955 e morreu quatro anos depois (foto: Alice Brill / Instituto Moreira Salles)

Dentro do quadro, tudo o que vemos � uma esquina do Largo S�o Francisco de Paula. Quase nada escapa ao brilho dos postes el�tricos — o piso, as �rvores e os pr�dios est�o mergulhados num mesmo clar�o amarelo, que se irradia rumo �s janelas da loja Brasileira, not�rio estabelecimento da Belle �poque carioca.

"Ali se encontra o que h� de bom e elegante em fazendas de luxo e roupa branca para senhoras e meninas", diz um an�ncio veiculado pela casa no in�cio do s�culo 20. As consumidoras, todavia, n�o d�o as caras nesta imagem — agora elas dormem, e o centro do Rio de Janeiro permanece deserto.

Ao fundo, nos deparamos com Jos� Bonif�cio, o Patriarca da Independ�ncia. Mas sua est�tua, tragada pelas sombras noturnas, parece pequena diante da figura feminina que o examina. Com as m�os na cabe�a e um vestido negro de mangas vermelhas, ela ostenta um semblante c�tico — afinal de contas, nenhuma outra mulher se atreveria a disputar o espa�o p�blico naquele hor�rio.

O crep�sculo, ent�o, se abate sobre as ruas da metr�pole. N�o sabemos se a tarde chegou ao fim, ou se uma nova manh� se inicia. Entretanto, o cen�rio permite que se especule a natureza desta pintura. Trata-se, possivelmente, de um autorretrato.

A autora, Aurora Cursino dos Santos, foi uma artista pl�stica sem reconhecimento de seus pares.

Pintou mais de duzentos quadros e desenvolveu um estilo pr�prio, em permanente di�logo com as vanguardas de sua �poca.

N�o conseguiu, por�m, se desvencilhar de dois estigmas — era prostituta e portadora de transtornos psiqui�tricos. Toda a sua obra foi desenvolvida nas depend�ncias de um manic�mio, onde recebera diagn�sticos de "psicose paranoide", "personalidade psicop�tica amoral", "esquizofrenia parafr�nica" e "autismo intenso".

Dezenas dessas pinturas acabam de ser reunidas no livro Aurora: Mem�rias e Del�rios de uma Mulher da Vida (Editora Veneta), fruto de um estudo levado a cabo por Silvana Jeha, doutora em Hist�ria pela PUC-Rio, e Joel Birman, professor titular do Instituto de Psicologia da UFRJ. A dupla enxerga na pr�pria pesquisa uma oportunidade de se confrontar um certo imagin�rio social.

"As prostitutas sempre foram colocadas na mesma categoria que os assassinos, traficantes e ladr�es", afirma Jeha � BBC News Brasil.

"Isso faz parte de um problema maior, contra mulheres que reivindicam a liberdade sobre o pr�prio corpo. � como se elas estivessem matando, roubando, ferindo muito gravemente alguma lei humana."

Para Birman, o caso de Aurora sintetiza um mart�rio inerente a todo indiv�duo violentado pelo sistema judici�rio: "S�o vidas protocoladas por registros cl�nicos e policiais, entre outras leituras supostamente cr�tico-negativas", diz o psicanalista.

"Nesse sentido, procuramos tirar Aurora do terreno da inf�mia, dando a ela uma luminosidade que explicite os impasses de sua hist�ria, e tamb�m os da nossa. � uma personagem muito atual, se considerarmos a �nfase do discurso bolsonarista e da extrema-direita na quest�o dos costumes."


Pintura a óleo mostra mulher dentro de um pequeno barco iluminado por um lampião
Aurora citava diversas personalidades do mundo art�stico e liter�rio; neste quadro, ela faz alus�o ao compositor Fr�d�ric Chopin, de quem era f� (foto: Museu de Arte Os�rio Cesar)

A noite desce

Aurora nasceu em 1896, no munic�pio paulista de S�o Jos� dos Campos. Filha de um pequeno comerciante, casou-se a contragosto, obrigada pelo pai.

O matrim�nio, por�m, duraria menos de 24 horas — no dia seguinte, a jovem interiorana optou pela separa��o. N�o gostava do marido, e atribu�a ao casamento-rel�mpago a origem de todo o seu supl�cio.

Entre as d�cadas de 1910 e 1930, se prostituiu nas ruas de S�o Paulo e do Rio de Janeiro. Com o dinheiro do trabalho sexual, viajou � Europa. S� havia estudado at� o terceiro ano do prim�rio, mas apreciava literatura, artes pl�sticas, m�sica popular e erudita.

Ind�cios sugerem que, al�m de pintar, tamb�m tocava piano. Zequinha de Abreu, compositor do choro Tico-Tico no Fub�, dedicou-lhe uma valsa, intitulada A Noite Desce. Na Lapa, epicentro da vida noturna fluminense, foi vizinha do transformista Madame Sat� e do poeta Manuel Bandeira.

Sua conviv�ncia com figur�es nem sempre era tranquila. Em 1919, prestou queixa contra um rep�rter, a quem fora apresentada por Jos� Eduardo Macedo Soares, dono do jornal Di�rio Carioca.

Aurora, n�o correspondendo �s investidas do poss�vel cliente, teve os cabelos puxados, a blusa arrancada e os l�bios mordidos. Salva por uma amiga, denunciou o agressor numa delegacia, sem saber seu nome.

Um exame de corpo de delito confirmaria o ataque. Macedo Soares, no entanto, recusou-se a prestar depoimento, e o processo foi arquivado.

Vigorava ent�o o C�digo Penal de 1890, cujo artigo 268 impunha at� seis anos de cadeia para quem estuprasse mulheres "honestas" — caso a v�tima fosse "mulher p�blica ou prostituta", a pena n�o ultrapassava dois anos. Desiludida, Aurora se afastaria progressivamente da boemia.

Em S�o Paulo, matriculou-se num curso de enfermagem para atender os soldados que se entrincheiravam na Revolu��o Constitucionalista de 1932.

Posteriormente, trabalharia como dom�stica em diversas casas, n�o se fixando em nenhuma delas. Sem dinheiro, migrou para os albergues noturnos da cidade. Por fim, caiu nos manic�mios.

Em 1941, foi internada no Hospital Psiqui�trico de Perdizes. Tr�s anos depois, adentrou o Complexo Hospitalar do Juquery, a 27 quil�metros da capital paulista.

Ali, frequentaria assiduamente um ateli� improvisado pelo psiquiatra Os�rio Cesar, pioneiro da arteterapia no Brasil. Por uma d�cada, extravasou seus tormentos mais �ntimos com pinceladas de tinta a �leo sobre folhas de papel-cart�o.

"O trabalho art�stico expandia a capacidade simb�lica dos internados", explica Birman.

"Eram pr�ticas de linguagem que estimulavam a autoexpress�o dos ditos pacientes, de seus conflitos, suas dores. Partia-se do pressuposto de que a arte havia sido fundamental na constru��o do esp�rito humano e que, portanto, ela seria igualmente importante na reconstru��o desse esp�rito, em casos de perturba��o mental grave."

"Aurora p�de assim desenvolver certas habilidades, descobrir dentro de si um talento pict�rico. E a maneira como trabalhava os temas da pr�pria vida sinaliza uma radicalidade, um desejo existencial de se rebelar contra o patriarcado."


Pintura a óleo mostra uma prostituta que observa a estátua de José Bonifácio no centro do Rio de Janeiro
Uma das duzentas telas produzidas por Aurora Cursino dos Santos no Complexo Hospitalar do Juquery: sob o crep�sculo, uma prostituta observa a est�tua de Jos� Bonif�cio no centro do Rio de Janeiro (foto: Museu de Arte Os�rio Cesar)

Quadros que gritam

O ateli� de Os�rio Cesar, aberto em 1949, deu origem � Escola Livre de Artes Pl�sticas do Juquery, cujas atividades se encerrariam em 1964 — no ano seguinte, o m�dico paraibano foi exonerado pela ditadura militar.

Os�rio era militante comunista, e junto a outros intelectuais de esquerda, como o cr�tico M�rio Pedrosa e a psiquiatra Nise da Silveira, esteve entre os primeiros autores a investigar as rela��es entre arte e loucura.

Para al�m da rotina terap�utica, suas pesquisas se desdobravam em livros, artigos e curadorias nos grandes museus.

"H� trabalhos aqui (...) que n�o s� se assemelham �s produ��es art�sticas dos povos primitivos, como tamb�m se identificam sobremodo com a chamada arte de vanguarda", escreveu ele em 1948, a respeito de uma exposi��o que organizava no Museu de Arte de S�o Paulo, o Masp.

"Temos tamb�m quadros que s�o de impressionante surrealismo, apresentando as mais sugestivas ideias."

Em 1950, a obra de Aurora foi exibida pela primeira vez — Os�rio levara alguns de seus trabalhos para a Exposi��o Internacional de Arte Psicopatol�gica, na Fran�a.

Naquele mesmo ano, a escritora modernista Patr�cia Galv�o, vulgo Pagu, descreveu no Jornal de Not�cias um quadro da prostituta: "� desenho de artista acidentalmente alienado, ou de alienado acidentalmente artista, empurrado pela deforma��o das normas comuns".

S�o pinturas de cores fortes, marcadas por uma ins�lita combina��o de texto e imagem. A caligrafia de Aurora � espessa, e suas letras, geralmente mai�sculas, circundam figuras humanas, esmagando-as com senten�as verborr�gicas.

Em determinado quadro, um fr�gil rosto feminino chega a se perder entre frases soltas: "Deus me livre, senhor Jesus"; "Enfermeiras me asfixiaram nas �guas e me apunhalaram"; "Derramei sangue muitas vezes", "Ca� no ch�o quase morta, tanto fazia eu vir da rotunda ou de baixo".

Noutros trabalhos, lembran�as pessoais e del�rios persecut�rios se misturam a refer�ncias do mundo externo — os escritores Anatole France, �mile Zola e Alexandre Herculano; os compositores Ludwig van Beethoven e Fr�d�ric Chopin; reis, papas e imperadores europeus; delegados e pol�ticos brasileiros.

Jeha os interpreta como imagens nebulosas de um tempo passado — real ou imagin�rio.

"N�o sei muito bem o que � fic��o e o que � realidade no meio disso tudo", afirma a historiadora.

"Mas tanto faz, pois Aurora nos fornece um testemunho sobre a condi��o da mulher na primeira metade do s�culo 20. Ela aborda o feminic�dio, a viol�ncia de g�nero e outras quest�es que somente agora t�m sido nomeadas. Hoje em dia, existe todo um vocabul�rio novo para designar aquilo que a mulher sofre desde sempre."

Men��es a S�o Jos� dos Campos, no entanto, atestam o car�ter autobiogr�fico dessa obra.

Numa s�rie de pinturas, o munic�pio surge em tons harm�nicos e verdejantes, com agricultores trabalhando em meio a casebres e milharais. Noutros quadros, Aurora se afasta da nostalgia e mergulha em tintas f�nebres sua terra natal.

"Meu bisav�, pai do papa Corsini, foi esfaqueado tr�s vezes em um s� instante, na frente dos netos e filhos", escreve a artista numa representa��o do suposto assassinato.

Outra imagem nos mostra uma charrete que desfila impunemente pelas ruas da cidade, sob a inscri��o: "O rapto de Aurora Cursino".

Num terceiro quadro, vemos um sujeito de batina preta e olhos malignos, arrastando uma garota em dire��o a um po�o: "Fui jogada l� dentro e amarrada pelo padre", diz a legenda.

Para Jeha, tais narrativas sinalizam viol�ncias bastante concretas: "Esse lugar de subalternidade � bem traum�tico, e est� na raiz de muitas trajet�rias femininas em hosp�cios", observa.

"A mulher sai do lar, apresenta-se ao mundo e precisa lidar o tempo inteiro com uma mira que � colocada sobre ela. Isso enlouquece a gente."


Pintura a óleo mostra um casal na cama e maquina estranha ao lado
"Eletricidade sensual": ao transar com o m�sico Zequinha de Abreu, Aurora tem suas entranhas destru�das pela m�quina (foto: Museu de Arte Os�rio Cesar)

Inconsciente coletivo

Boa parte da obra de Aurora � composta por registros pict�ricos de sua vida no manic�mio. Em certos quadros, a barb�rie institucional se mescla �s antigas mem�rias de prostitui��o.

� o caso de uma tela que retrata os interiores do Hotel Piratininga, no centro de S�o Paulo. Aurora e Zequinha de Abreu fazem sexo sobre uma cama suja, enquanto um m�dico os observa no canto do quarto.

A prostituta � penetrada por fios, que acendem l�mpadas multicoloridas numa esp�cie de r�dio gigante. O maquin�rio parece extirpar seus membros e �rg�os internos, com engrenagens espec�ficas para o cora��o, est�mago, pulm�es, f�gado, cabe�a, pesco�o, ventre, seios, pernas e p�s.

"O quadro exp�e, nos m�nimos detalhes, a destrui��o de seu corpo pela tecnologia", afirma Birman.

"Durante uma rela��o amorosa com Zequinha, ela tem a intimidade aniquilada pelas pr�ticas abomin�veis do poder psiqui�trico. Mas essa mulher n�o tolerava o abuso, nem como trabalhadora sexual, nem como interna de um manic�mio".

Em 1955, Aurora foi lobotomizada. Ela morreu no dia 30 de outubro de 1959, aos 63 anos, sem nunca ter deixado o Juquery. Antes que bisturis lhe mutilassem o c�rebro, experimentara outros flagelos — choques el�tricos e inje��es medicamentosas, induzindo ao coma e �s crises convulsivas.

Semelhantes m�todos engatilhavam dores e ang�stias, evocadas num quadro em que a prostituta retrata a si mesma com fisionomia aflita.

Seus bra�os est�o rendidos, e agentes de sa�de a observam numa maca: "Eis o que as mais velhas sofrem", anuncia a legenda. "Coca�na, mol�stias ven�reas, filhos, tuberculose. Temos que pagar, e outros n�o".

Al�m dela, o sistema manicomial faria outras v�timas. "As mulheres livres foram largamente varridas para dentro dos hosp�cios", explica Jeha. "A obra de Aurora se baseia numa permanente revolta contra isso, sem nenhuma autocensura. Ela j� n�o tinha mais nada a perder".

O despudor transparece numa s�rie de quadros sexualmente expl�citos, abordando estupros e orgias com protagonismo das autoridades masculinas.

Em determinada pintura, a artista chega a retratar sua pr�pria vulva, rodeada por termos que aludem � geopol�tica mediterr�nea: "It�lia", "Rep�blica", "passagem dos portos", "aristocracia", "pr�ncipe", "presidente".

Pelos cantos, em letras menores, h� uma narrativa obscena, envolvendo certo oficial da Marinha: "Mandaram Eloy Alvim e dois cafajestes me anestesiar e acabar de rasgar meu �nus e b***** e enfiar em minha boca (sic)".

O relato talvez possibilite a escrita de uma hist�ria das subjetividades: "Essas pinturas s�o como di�rios muito �ntimos, cheios de coisas que n�o falar�amos a ningu�m", defende Jeha.

"Acredito que Aurora seja herdeira de um inconsciente que remonta ao s�culo 19, quando mulheres supostamente hist�ricas foram internadas aos milhares, sob uma experi�ncia coletiva de opress�o modulada pelo cristianismo"..

Um grito anticlerical, perdido em meio aos desatinos pornogr�ficos da tela, parece confirmar tais impress�es: "Fui l� na It�lia sem eu saber para matar o papa", diz a prostituta.


Pintura a óleo mostra um sítio no interior de São Paulo.
Aurora, nascida em S�o Jos� dos Campos, costumava retratar a cidade em tons ora id�licos, ora f�nebres (foto: Museu de Arte Os�rio Cesar)

Ser m�e

Num misto de den�ncia e fervor, Aurora professa o catolicismo, ao mesmo tempo em que ataca os representantes da Igreja. Ela pede gra�as � Virgem Maria e desenha a coroa��o de Nossa Senhora das Dores, mas n�o canoniza dirigentes religiosos — muito pelo contr�rio. Um de seus quadros mais impactantes nos mostra justamente um cl�rigo — com um sorriso no rosto, ele introduz a m�o por debaixo da saia de uma crian�a, que vomita sangue.

O abuso sexual infantil reaparece numa outra pintura de tom acusat�rio — dessa vez, contra a For�a P�blica do Estado de S�o Paulo, atual Pol�cia Militar. Sobre uma menina de quatro ou cinco anos, recai o estigma do meretr�cio materno — indefesa, ela se encontra rodeada por oito homens, provavelmente soldados, que lhe esfregam o p�nis na boca e vagina. "Mariazinha chora geme for�ada no reto por ser filha de Aurora Cursino dos Santos", diz uma inscri��o.

Ela tamb�m cita um conhecido verso do poeta Coelho Neto: "Ser m�e � desdobrar fibra por fibra o cora��o". A melancolia e a desesperan�a marcam as representa��es da prole, com a qual se encontra em circunst�ncias fantasmag�ricas.

"Um filho veio ver sua m�e dormindo", anuncia o retrato de um homem let�rgico, com os olhos fixos sobre um abajur. Outra tela nos mostra um sujeito encostado na proa de um barco, com uma lanterna iluminando o mar, enquanto veleja na penumbra ao som dos noturnos de Chopin: "Um filho veio me ver especial por eu Aurora Cursino dos Santos ser sua m�e (sic)", enfatiza a artista.


Pintura mostra um par de sondas ligando os seios maternos à boca de um bebê que se abriga no útero
Filhos e loucura: um par de sondas liga os seios maternos � boca de um beb� que se abriga no �tero (foto: Museu de Arte Os�rio Cesar)

Maternidade e calv�rio parecem indissoci�veis — Aurora retrata a si mesma parindo, abortando, sendo agredida em plena gesta��o. Os rebentos, entretanto, sempre lhe escapam — s�o raptados por ju�zes, delegados e tribunais.

Paulo Fraletti, psiquiatra do Juquery, comentaria em 1954: "Diante de n�s, certa feita, retratou-se nua, de ventre aberto e �tero gr�vido e exposto, referindo-se aos nove filhos que teve, um em cada ano". Na imagem, um menino se abriga no interior de uma bolsa amni�tica, enquanto suga dois canos ligados aos seios maternos, descritos como "gl�ndulas mam�rias de vaca e baronesa eg�pcia".

O quadro produziu em Jeha um efeito de identifica��o: "Lembrei do meu filho", diz. "� uma pintura que fala de carinho, alimento, moradia, tudo ao mesmo tempo. Nada melhor do que isso para traduzir a obsess�o materna".

A insanidade, lembra a historiadora, � um tra�o atribu�do � maioria das mulheres: "Quando xingam a gente, quais os termos mais comuns? P*** e louca. Ent�o, vou ressignificar isso para mim. � uma assun��o do drama, do sentimento, da emo��o, de algo que nos � colado com uma carga extremamente pejorativa. Aurora � uma mulher ancestral. Ela diz respeito a todas n�s".

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63669678


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