Belo Horizonte recebe hoje a final da 10� edi��o do Duelo de MCs Nacional
Competi��o conta com representantes de todos os estados brasileiros e deve reunir p�blico numeroso no entorno do viaduto Santa Tereza neste s�bado (3/12)
MC Miliano, do Mato Grosso do Sul, foi o vencedor da edi��o 2018 do Duelo de MCs, cuja final reuniu cerca de 10 mil pessoas na Rua Aar�o Reis, em frente ao Viaduto Santa Tereza (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press
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Nascida nas periferias das grandes metr�poles, a cultura hip hop desfruta de uma centralidade �mpar neste fim de semana em Belo Horizonte – no mapa urbano, inclusive. Pela primeira vez contando com representantes de todos os estados do pa�s, o coletivo Fam�lia de Rua (FDR) promove, neste s�bado (3/12), sob o viaduto Santa Tereza, no Centro da cidade, a partir das 12h, a etapa final da 10ª edi��o do Duelo de MCs Nacional.
Ao mesmo tempo, a Pra�a da Esta��o e cercanias ser�o palco para o Festival Hip House, que promove, hoje e amanh�, um roteiro tur�stico que vai passar por espa�os marcantes para o movimento na capital mineira, com diversas atra��es pontuando esse percurso. Figuram nesse roteiro a Rua Sapuca�, o Teatro Espanca!, os bares 2Black Beer e Sula, o Centro de Refer�ncia da Juventude (CRJ) e, claro, o pr�prio viaduto Santa Tereza.
V�rios marcos tornam esta edi��o do Duelo de MCs Nacional especial. Al�m da presen�a de representantes de todo o pa�s, selecionados nas etapas estaduais, o evento completa 10 anos de realiza��o e retorna ao espa�o a partir de onde se projetou em uma edi��o presencial, ap�s o hiato de dois anos provocado pela pandemia.
Mas apesar de sua import�ncia e consagra��o no cen�rio nacional do hip hop, o Duelo de MCs ainda encontra dificuldades para levar adiante sua miss�o, conforme observa Pedro Valentim, o PDR, um dos fundadores da Fam�lia de Rua. A final da 10ª edi��o seria realizada hoje e amanh�, no Parque Municipal, com as presen�as de renomados artistas de outros estados fazendo shows de encerramento, ap�s as batalhas em cada dia.
A MC Colombiana, que vai atuar como apresentadora na 10� edi��o da batalha nacional, diz que o hip hop salvou sua vida ao tir�-la das ruas, do v�cio e do crime (foto: Cadu Passos / divulga��o
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Perda de patroc�nio
A menos de uma semana da realiza��o do evento, os planos tiveram que ser mudados. Na �ltima segunda-feira, o coletivo postou uma mensagem explicando que, devido a “perda de patroc�nio e uma sucess�o de entraves institucionais”, a final do 10º Duelo de MCs Nacional estava migrando para o baixio do viaduto Santa Tereza.
A mudan�a de endere�o implicou um rearranjo na programa��o, que agora est� toda concentrada em um dia, sem os shows dos rappers fluminenses Azzy e Orochi (ambos de S�o Gon�alo) e do paulistano Rashid, e com acesso gratuito (para o Parque Municipal, os ingressos j� estavam no segundo lote, � venda por R$ 60). Apenas o mineiro Douglas Din vai se apresentar logo mais, ap�s o t�rmino das batalhas que v�o definir o campe�o da disputa.
“A ideia de fazer no Parque Municipal tinha a ver com poder receber mais gente e monetizar, para pagar as contas”, diz PDR. Ele explica que seria um palco grande, com pot�ncia de som e que justamente essa configura��o conflitaria com um evento programado para o Pal�cio das Artes, cont�guo ao parque. Esse foi um dos entraves institucionais de que a postagem fala, o que, somado � perda de um patroc�nio importante, obrigou a mudan�a.
“Quisemos manter a data, n�o adiar, porque tem MCs do Brasil inteiro com passagens j� compradas. A gente encontrou essa alternativa, que � voltar para o viaduto, fazendo tudo no s�bado e cancelando os shows dos artistas de fora. Faz todo o sentido acontecer ali, que � o lugar que ficou identificado como a casa do Duelo de MCs”, afirma.
Ele considera que o Duelo de MCs, que est� completando 15 anos em 2022, cumpriu uma trajet�ria muito feliz de realiza��es, o que tem a ver n�o s� com o envolvimento da FDR na empreitada, mas tamb�m com a entrega do p�blico e dos artistas. “N�o � para ficar chorando pitangas, mas, na pr�tica, apesar de toda a estrada, de todas as conquistas, que nos d�o muito orgulho, a gente continua tendo dificuldades”, diz.
Os rappers Douglas Din e Clara Lima no Duelo de MCs, em dezembro de 2017. Neste s�bado, ele apresenta o evento e faz show para lan�ar o disco "MCJ"; ela faz parte do j�ri (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press/13/12/07)
Etapas estaduais
Entre agosto e o in�cio deste m�s, o coletivo Fam�lia de Rua viajou para os quatro cantos do pa�s, para acompanhar as etapas estaduais das batalhas de MCs. “Fomos criando essa expectativa em cada um dos estados brasileiros para o Duelo Nacional, estreitando essa rede, ent�o � um momento de celebra��o, porque � muita energia somada”, ressalta PDR.
Ele diz que essa circula��o nacional permitiu aos realizadores do Duelo de MCs identificar especificidades de cada cena e perceber, por exemplo, que o movimento � mais forte – ou ao menos mais vis�vel – no Sudeste e no Nordeste. � importante criar um ambiente cada vez mais estruturado, que d� igualdade de condi��es para que todas as pessoas do pa�s possam participar, conforme aponta.
“As batalhas de MCs est�o presentes no pa�s inteiro, n�o somente nas capitais; temos registro de umas 500 cidades participando desse processo. Em alguma esquina de qualquer cidade do Brasil vai ter uma batalha de MCs acontecendo”, diz. Essa capilaridade se traduz no alto n�vel dos concorrentes que participam da etapa final do 10º Duelo de MCs Nacional.
“A disputa vai ser muito acirrada. Tem uma galera do Sudeste e do Nordeste mais conhecida, nomes que chegam como favoritos, mas tem muita gente correndo por fora e que pode chegar com o p� na porta, surpreendendo. O Duelo Nacional tem um processo seletivo que � duro, com muitas etapas, ent�o requer prepara��o, por isso se dar bem tem mais a ver com const�ncia do que com visibilidade”, aponta.
Um time de peso vai marcar presen�a na maior batalha de MCs do pa�s. Clara Lima, Allan Freestyle, MC Noventa e Alan�a v�o compor o j�ri. Quem comanda as pick-ups s�o os DJs LB e Cia. E al�m de fazer o show de encerramento, Douglas Din cumpre a fun��o de apresentador, ao lado da MC Colombiana. Ela, a prop�sito, � um exemplo de como a cultura hip hop e iniciativas como o Duelo de MCs podem ser transformadoras.
Colombiana, cuja certid�o de nascimento registra o nome Samai Fernandes, diz, sem hesita��o, que o hip hop salvou sua vida, na medida em que a tirou da rua, do v�cio e do crime. Ela conta que veio de Nova Serrana, na regi�o Centro-Oeste de Minas Gerais, para Belo Horizonte por causa do Duelo de MCs.
“Meu primeiro contato com o Duelo, que conheci por meio do YouTube, foi em 2017, quando participei umas duas vezes da batalha embaixo do viaduto. Em 2018, fui presa por tr�fico e cumpri pena de um ano. Assim que sa�, entendi que, de duas, uma: ou eu ia mergulhar de cabe�a na cultura hip hop e viver disso ou eu ia acabar morrendo naquele rol� em que eu estava”, conta Colombiana.
Ela revela que, depois que saiu da cadeia, ainda ficou seis meses usando tornozeleira eletr�nica. “Tirei a tornozeleira numa sexta-feira e no domingo j� colei no Duelo, rimei, mas sa� de l� direto para o hospital, descobri que estava com tuberculose”, lembra. Ela conta que, mesmo impedida de participar das batalhas por causa da doen�a, se manteve pr�xima da FDR.
PDR e L�o Cez�rio (tamb�m um dos fundadores do coletivo) se empenharam em criar oportunidades de emprego para ela – por exemplo, como apresentadora em um dos palcos do Festival Planeta Brasil. “Me sinto acolhida de todas as formas poss�veis. Eles est�o comigo em todos os momentos, cuidando, e, inicialmente, sem nem me conhecer, s� entendendo meu lugar na sociedade”, destaca.
Esse lugar, ela considera, � o mesmo que a cultura hip hop prop�e desde suas origens, h� mais de quatro d�cadas. “O hip hop nasceu com o intuito de salvar a vida das pessoas pretas, criar um ambiente de luta contra o racismo que mata o preto e o pobre, um ambiente em que a gente possa viver e ser quem a gente � sem ser oprimido e marginalizado. Afirmo com todas as palavras: se n�o fosse o L�o, o Pedro, o Duelo de MCs, possivelmente eu j� n�o estaria viva.”
"A disputa vai ser muito acirrada. Tem uma galera do Sudeste e do Nordeste mais conhecida, nomes que chegam como favoritos, mas tem muita gente correndo por fora e que pode chegar com o p� na porta, surpreendendo. O Duelo Nacional tem um processo seletivo que � duro, com muitas etapas, ent�o requer prepara��o, por isso se dar bem tem mais a ver com const�ncia do que com visibilidade"
Pedro Valentim, o PDR, organizador do Duelo de MCs Nacional
Tamara Franklin vai se apresentar neste domingo (4/12), �s 16h, no Museu de Artes e Of�cios, na programa��o do Festival Hip House (foto: Divulga��o)
ROTEIRO TUR�STICO PELA HIST�RIA DO HIP HOP EM BH
Enquanto as batalhas de rimas estiverem em curso no baixio do viaduto Santa Tereza, os interessados na cultura hip hop tamb�m podem participar, gratuitamente, de um roteiro tur�stico proposto pelo Festival Hip House. Idealizado pelos produtores Luan Lima, Let�cia Fox, Vitor Gonzaga e Wesley de Oliveira Castro, o evento vai contar com guia tur�stico e agentes culturais, para contextualizar a rela��o dos locais previstos no roteiro com a hist�ria do hip hop na cidade.
Apesar de locais como a Pra�a Afonso Arinos, o Terminal Tur�stico JK e a Galeria Pra�a Sete serem marcantes para a hist�ria do hip hop em Belo Horizonte, a caravana do Festival Hip House vai se concentrar na Pra�a da Esta��o e seu entorno, por ser, hoje, um ambiente muito pulsante, segundo Luan Lima.
“O que a gente prop�e � um passeio tur�stico underground, atrelando conhecimento hist�rico e atra��es, com shows musicais, apresenta��es de dan�a, grafite ao vivo, entre outras atividades”, diz.
O Festival Hip House foi criado em 2019, contando com shows, apresenta��es de DJs, palestras, performances de b. boys e grafite nos centros culturais Urucuia e Vila Mar�ola. Em 2020, com a pandemia, o evento migrou para o ambiente virtual.
Agora o Festival Hip House volta � carga com a proposta in�dita de um roteiro tur�stico, o que se alinha com edital lan�ado pela Belotur. “A ideia � fazer um passeio com a galera, agregando conhecimento hist�rico e arquitet�nico, focando no patrim�nio e fazendo esse link com a cultura hip hop em Belo Horizonte”, diz Luan.
Ele considera que o fato de o circuito ocorrer no mesmo fim de semana e na mesma regi�o que a final do Duelo de MCs Nacional foi uma feliz coincid�ncia. “A gente j� tinha marcado essas datas junto � Belotur e optou por n�o mudar. � interessante que sejam iniciativas concomitantes, porque nos ajuda a contextualizar. O Centro da cidade vai estar bem efervescente neste fim de semana. Vai ser lindo”, aposta.
NA BATALHA
Confira os concorrentes do Duelo de MCs
Nega Ruiva (MG)
Hougue (PE)
Hope (AM)
Bispo (RR)
HC (RO)
Thug Dog (AC)
CH (ES)
Mendes (SC)
Dubaile (RS)
Guxtta (TO)
Kaemy (GO)
Nono (DF)
�pico (MA)
Tonh�o (CE)
Mexicano (RN)
Akuma (PB)
Klebin (AL)
Will (SE)
Havel (MT)
CJ (MS)
Allan (PR)
Big Mike (SP)
THG (PA)
Ayala (AP)
Thorment (RJ)
Ecaep (PI)
Japa (BA)
MZS (MG)
Peter do Bus�o (ES)
IDK (ES)
Al� (RJ)
Youngui (SP)
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