"Rush", novo disco do Maneskin, decepciona quem esperava avan�os
Terceiro �lbum da banda italiana tem apenas tr�s faixas em italiano, em um aceno � audi�ncia global, com letras previs�veis que soam como dissid�ncia controlada
Ethan Torchio, Victoria De Angelis, Damiano David e Thomas Raggi, que formam o Maneskin, na noite do MTV Video Music Awards, em
agosto passado, nos EUA
Andres KUDACKI / AFP
A banda italiana Maneskin lan�ou neste m�s seu terceiro �lbum, "Rush!", o primeiro desde que alcan�ou o p�dio internacional. Conhecidos por desafiar o conceito de g�nero e o pudor sexual, os m�sicos da Maneskin at� dialogam com isso no novo disco, mas a aposta parece um pasquim do �lbum que a banda poderia entregar.
Esteticamente, a banda desafia costumes dos ambientes em que transita. O cantor Damiano David entoou "Supermodel" vestindo um fio-dental que expunha suas n�degas ao mundo nos palcos do VMA, o Video Music Awards da MTV, em agosto do ano passado.
Victoria de Angelis, a guitarrista, tem aparecido nos palcos e nas redes sociais com os seios quase � mostra. Apesar de nudez n�o ser novidade na cultura pop, h� algo de desafiador na forma como os integrantes da banda a oferecem, com um forte teor andr�gino e queer.
O grupo ganhou os ouvidos do globo depois de sair vencedor do concurso musical Eurovision de 2021. Os integrantes formaram a banda quando ainda estavam na escola e come�aram a chamar a aten��o em 2017, quando participaram do “The X factor” italiano e lan�aram o EP "Chosen". Entre os covers gravados estava "Beggin'", originalmente de 1967, que reviveu a m�sica e ainda � uma das faixas mais ouvidas da banda.
Em 2018, quando lan�ou seu primeiro disco, "Il ballo della vita", o grupo j� tinha ganho visibilidade na Europa e aberto um show da banda Imagine Dragons, em Mil�o. Depois do �lbum, em que predominava o italiano, Maneskin fez sua primeira turn� pela Europa.
Sucessos
"Teatro d'Ira", segundo disco da banda lan�ado em 2021, tamb�m dava prefer�ncia � l�ngua rom�nica e trouxe v�rias das faixas mais conhecidas da banda. "I wanna be your slave" e "Zitti e Buoni" estiveram entre as m�sicas mais ouvidas da �poca e marcaram a dualidade de idioma da banda.
A banda ganhou mais e mais destaque nas paradas musicais e foi impulsionada pelas redes sociais, especialmente pelo TikTok, em que trechos das m�sicas deram origem a s�ries de v�deos virais.
Enquanto as apari��es da banda t�m sido cada vez mais provocativas, o que a Maneskin entregou em "Rush!" deixa a desejar. Nas 17 faixas, a banda flerta com sonoridades diferentes, por vezes trazendo coisas novas, por vezes soando redundante. Em vez de mostrar que a banda veio para trazer um rock contundente e desafiador, o disco cai num discurso confort�vel.
N�o � que o �lbum n�o entretenha. Ele � divertido, interessante e cheio de faixas com potencial chiclete. Mas m�sica – e especialmente rock e punk –, al�m de entretenimento, tamb�m � pol�tica, e "Rush!" parece dissid�ncia controlada, puxando as barreiras da sociedade, mas nunca at� a ruptura.
Faixas mais combativas, como "Gossip", que ataca o del�rio do sonho americano, e "Gasoline", sobre a guerra na Ucr�nia, n�o falam mais do que o senso comum, ao menos do que o p�blico mais jovem e liberal j� prega. Musicalmente, v�rias faixas brincam com sonoridades in�ditas para a banda, mas saturadas em outros pops � la rock mainstream.
As duas apostas punks do �lbum est�o entre as faixas mais curiosas, mas n�o entregam o mesmo resultado. "Bla bla bla" soa jocosa, mas n�o alcan�a seu potencial. J� "Kool kids", simples como �, entrega o que faltou na anterior.
O �lbum tem apenas tr�s faixas em italiano, em um aceno � audi�ncia global. Apesar de ser agrad�vel poder entender e cantar as faixas com mais facilidade, as consoantes latinas fazem falta. Traziam uma dramaticidade que se casava perfeitamente com o rock e que diferenciava a banda de tantas outras do g�nero.
Italiano
"La fine", uma das m�sicas lan�adas antes do disco, se presta a refletir sobre a vida p�s-fama dos membros da banda, que ganharam o mundo quando mal tinham se acostumado a ter 20 anos. "Mark Chapman", que leva o nome do assassino de John Lennon, e "Il dono della vita" tamb�m s�o boas e ajudam a matar as saudades dos dois �lbuns anteriores.
O aspecto sedutor fica por conta de "Mamammia", que sucedeu a "I wanna be your slave" como rock er�tico e provocativo. Mesmo feita para ser hit, n�o soa gen�rica – e imprime a megalomania sadomasoquista que Damiano David ostenta no Instagram e nos palcos, mas que faz falta nas faixas.
"Supermodel" puxa um som mais festivo para contar sobre uma modelo em decad�ncia que se alimenta de coca�na, cora��es partidos e rock and roll. A letra lembra "Killer queen", apesar de bem mais �bvia.
As faixas "para baixo" do �lbum variam em qualidade, mas cativam. "Timezone" fala sobre estar longe de quem ama e n�o � especialmente marcante, mas deve servir para compor playlists tristes daqui pra frente. O mesmo pode ser dito de "If not for you", uma balada melosa.
Encerrando o �lbum, Damiano David abusa da garganta para compor o drama de "The loneliest", melhor das faixas tristes e que s� pode ter sido feita para acompanhar quartas-feiras ou domingos chuvosos. "Voc� vai ser a minha parte mais triste, a parte que nunca ser� minha", canta. "Essa noite vai ser a mais solit�ria de todas" – e o fim do �lbum ressoa o luto de todos que j� n�o t�m quem amam ao seu lado.
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