Telas exibindo os logotipos da OpenAI e ChatGPT. ChatGPT é um aplicativo de software de inteligência artificial conversacional desenvolvido pela OpenAI

Telas exibindo os logotipos da OpenAI e ChatGPT. ChatGPT � um aplicativo de software de intelig�ncia artificial conversacional desenvolvido pela OpenAI

Lionel BONAVENTURE / AFP
A historiadora da arte e especialista em Intelig�ncia Artificial (IA) Emily L. Spratt, acredita que as novas ferramentas de cria��o de imagens com intelig�ncia artificial s�o mais "entretenimento" do que arte, apesar de suas in�meras possibilidades.

Ferramentas como DAAL-E, Midjourney e Stable Diffusion criaram uma como��o no mundo da arte com sua capacidade quase instant�nea de transformar textos em imagens.

Basta digitar ou dizer algo como "Brad Pitt em uma canoa no espa�o ao estilo Mondrian" para obter em segundos uma imagem colorida do ator remando entre as estrelas.

Apesar de empresas tecnol�gicas apresentarem suas ferramentas como meios de liberta��o da arte, esta ideia de "democratiza��o" � considerada "muito simplista" e "ing�nua", segundo Spratt, que acredita que estes recursos s�o "uma maneira de fomentar o uso de grandes plataformas da Internet", beneficiando as respectivas corpora��es.

Para a historiadora, a fronteira entre a intelig�ncia artificial e outras tecnologias v�o se confundindo, em refer�ncia aos programas de manipula��o de imagens amplamente utilizados hoje em dia.

"Penso que no futuro, a intelig�ncia artificial far� parte da arquitetura j� presente na cria��o de imagens digitais", analisou, acrescentando que este parece ser um movimento iminente, pois "se infiltra em todas as nossas intera��es digitais, muitas vezes sem que saibamos, especialmente quando criamos, editamos ou pesquisamos imagens".

- Ser� poss�vel criar obras-primas? -

Al�m de simples ferramentas da internet, muitos artistas trabalham com seus pr�prios algoritmos e bancos de dados. Suas obras s�o vendidas por dezenas, at� centenas de milhares de d�lares.

Spratt destaca o artista alem�o Mario Klingemann, cuja obra "Hyperdimensional Attractions Series - Bestiary" � uma das mais mencionadas.

"� um v�deo de formas aparentemente org�nicas que est�o permanentemente se transformando e momentaneamente s�o identificadas como animais", explica.

Para ela, este car�ter, que pode ser um pouco "perturbador", acaba funcionando bem "como um coment�rio sobre as linhas que dividem o material e o imaterial e os limites dessas intelig�ncias artificiais na recria��o do mundo".

A arte de Klingemann, segundo ela, levanta quest�es sobre a intelig�ncia artificial como meio de express�o e, mais amplamente, sobre a natureza da criatividade.

- Fronteira com a arte -

O desenvolvimento das IAs que criam imagens acelerou com o ImageNet, uma base de dados de imagens catalogadas por palavras-chave.

Em 2018, um coletivo franc�s chamado "Obvious" vendeu, por mais de US$ 400 mil, uma obra "criada" atrav�s de intelig�ncia artificial.

A venda gerou pol�mica quando o coletivo reconheceu ter utilizado o algoritmo do artista e programador americano, Robbie Barrat.

"A raz�o pela qual a obra do Obvious foi vendida, especialmente a esse pre�o, � em grande parte porque foi anunciada como a primeira criada por uma intelig�ncia artificial a ser vendida em uma grande casa de leil�es", diz Spratt.

Segundo a historiadora, naquela ocasi�o, o mercado de arte estava "experimentando a oferta de uma obra de arte produzida por intelig�ncia artificial alinhada aos c�nones do setor", que na �poca, vislumbrava o interesse de unir arte e tecnologia, mas a crise tecnol�gica diminuiu esse entusiasmo.

Grandes casas de leil�es, como Christie's ou Sotheby's, ent�o criaram diferentes plataformas para vender essas obras digitais.

"� como se eles n�o quisessem manchar a arte com essas novas explora��es digitais", analisa, dizendo que os cr�ticos de arte, contudo, ainda precisam se atualizar para aprender a distinguir entre o bom, o ruim e o med�ocre.

"Infelizmente, o discurso sobre a arte criada por intelig�ncias artificiais ainda n�o est� pronto, mas acho que est� a caminho e deve emergir no �mbito da hist�ria da arte", finaliza.

SOTHEBY'S