Vargas Llosa

Escritor hispano-peruano Vargas Llosa chegou a viver em Paris durante parte da sua vida

Emmanuel DUNAND / AFP
O hispano-peruano Mario Vargas Llosa, pr�mio Nobel de Literatura em 2010, que nesta quinta-feira (9) se tornou o primeiro escritor a entrar para a Academia Francesa sem nunca ter escrito nada em franc�s, � o �ltimo representante da gera��o dourada da literatura latino-americana.

 

Eleito pelos imortais franceses em novembro de 2021, Vargas Llosa ir� assumir a cadeira de n�mero 18. O peruano foi indicado aos 86 anos, fugindo da regra da Academia Francesa que normalmente aceita escritores de at� 75 anos.  Reconhecidamente franc�filo, Llosa � f� dos escritores Victor Hugo e Gustave Flaubert. Em seu livro "Civiliza��o do Espet�culo", ele tamb�m trata de temas importantes para a sociedade francesa.

 

Escritor universal a partir da complexa realidade peruana, Vargas Llosa fez parte do chamado "boom" latino-americano junto com outros grandes como o colombiano Gabriel Garc�a M�rquez, o argentino Julio Cort�zar e os mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulfo.

Admirado por sua descri��o das realidades sociais em obras-primas da literatura como "A Cidade e os Cachorros", ou "A Festa do Bode", no plano pol�tico seus posicionamentos liberais provocaram hostilidade em um meio intelectual que geralmente tende � esquerda.

"N�s, latino-americanos, somos sonhadores por natureza e temos problemas para diferenciar o mundo real e a fic��o. � por isso que temos �timos m�sicos, poetas, pintores e escritores, e tamb�m governantes t�o horr�veis e med�ocres", disse pouco antes de receber o Nobel em 2010.

Nascido na cidade de Arequipa, no sul do Peru, em 28 de mar�o de 1936 em uma fam�lia de classe m�dia, foi educado por sua m�e e seus av�s maternos em Cochabamba (Bol�via) e depois no Peru.

Ap�s seus estudos na Academia Militar de Lima, obteve uma licenciatura em letras e, ainda muito jovem, deu seus primeiros passos no jornalismo.

Instalou-se em 1959 em Paris, onde se casou com sua tia Julia Urquidi, 10 anos mais velha, e exerceu v�rias profiss�es: tradutor, professor de espanhol e jornalista da Agence France-Presse.

Anos depois, separou-se de Urquidi e se casou com sua prima-irm� e sobrinha de sua ex-esposa, Patricia Llosa, com quem teve tr�s filhos e 50 anos de rela��o.

Vargas Llosa se divorciou de Patricia ap�s iniciar em 2015, com quase 80 anos, um romance com uma figura conhecida do mundo madrilenho, Isabel Preysler, ex-mulher do cantor Julio Iglesias.

Prol�fica carreira liter�ria

Sua longa carreira liter�ria decolou em 1959, quando publicou seu primeiro livro de relatos, "Os Chefes", com o qual obteve o Pr�mio Leopoldo Alas. Depois, ganhou notoriedade com a publica��o de "A Cidade e Os Cachorros", em 1963, seguida tr�s anos depois por "A Casa Verde". Seu prest�gio se consolidou com "Conversa no Catedral" (1969).

Naquela �poca, o autor peruano j� afirmava que queria continuar escrevendo at� o �ltimo dia de sua vida e cumpriu sua palavra com a publica��o de obras como "O Her�i discreto", ou "Tempos �speros", sobre a agitada hist�ria recente da Guatemala, que lhe rendeu o Pr�mio Francisco Umbral de Romance.

Com suas obras traduzidas para 30 idiomas, Vargas Llosa foi prestigiado com os pr�mios Cervantes, Pr�ncipe de Ast�rias das Letras, Biblioteca Breve, o da Cr�tica Espanhola, o Pr�mio Nacional de Novela do Peru e o R�mulo Gallegos.

Obteve a nacionalidade espanhola em 1993.

Escritor premiado... pol�mico na pol�tica

Quando jovem, Vargas Llosa se sentiu seduzido por Fidel Castro, mas em 1971 rompeu com a Revolu��o Cubana por causa do caso do poeta Heberto Padilla, for�ado pelo regime a fazer uma humilhante "autocr�tica" p�blica.

Foi candidato � presid�ncia do Peru em 1990. Era o favorito at� aparecer o ent�o desconhecido agr�nomo Alberto Fujimori, que foi eleito. Depois de seu fracasso eleitoral, voltou �s letras, de onde – disse o escritor

Nunca deveria ter sa�do.

Ainda assim, n�o se mant�m alheio �s vicissitudes da pol�tica mundial, atacando nos �ltimos anos o populismo, "a doen�a da democracia", que inclui o chavismo e o castrismo, a extrema direita e a esquerda radical europeia e o nacionalismo independente.

Teve uma estreita amizade com Gabriel Garc�a M�rquez, que terminou abruptamente em um incidente confuso que ambos preferiram n�o tocar.

"Deixe que os bi�grafos cuidem desse assunto", disse Vargas Llosa certa vez.