A webs�rie "Stupid wife" se tornou um fen�meno entre o p�blico LGBTQIA+ no Brasil e no mundo. Bancada pela produtora independente carioca Ponto A��o, trata-se de importante realiza��o de Priscilla Pugliese, de 30 anos, diretora e fundadora do canal, ao lado de Natalie Smith e Rodrigo Tardelli.

 

A primeira temporada foi lan�ada entre agosto e outubro de 2022. At� o momento, alcan�ou quase 34 milh�es de visualiza��es em todos os oito epis�dios, exibidos gratuitamente no canal da produtora no YouTube. A produtora lan�ou, anteriormente, "The stripper" e "A melhor amiga da noiva".

 

Nesta entrevista ao 'Estado de Minas', Priscilla Pugliese comenta detalhes de bastidores, os desafios do mercado e a segunda temporada da atra��o. Revela as dificuldades de conseguir patroc�nio, sobretudo para uma s�rie sobre um casal l�sbico.

 

A produtora criou formas de obter dinheiro, vendendo aos f�s epis�dios antes da estreia ou conte�dos diferenciados. A resposta do p�blico foi positiva, diz Pugliese.

 

"Stupid wife" � baseada em uma fanfic (narrativa ficcional criada por f�s, tendo �dolos reais como personagens) escrita por Nath�lia Sodr�, com foco na banda feminina Fifth Harmony.
 
O grupo, formado no show de talentos americano “The X Factor” em 2012, se desfez em 2017. Ali se destacaram as cantoras Camila Cabello e Lauren Jauregui, que hoje seguem carreira solo.

Na fanfic brasileira, Camila Cabello “virou” Luiza, interpretada por Priscila Reis. A mo�a, que sofre de amn�sia dissociativa, perde a mem�ria da vida adulta. Sua �ltima lembran�a � de quando, muito jovem, odiava Valentina (inspirada em Lauren Jauregui), papel de Priscila Buiar.
 
Luiza e Valentina se casaram, t�m um filho, mas tudo isso se apagou na mem�ria de Luiza. Os oito epis�dios da primeira temporada mostram a reviravolta na vida dela ao se redescobrir como m�e de L�o (Thom�s Ara�jo, de 5 anos) e ao se reapaixonar pela esposa. Tamb�m fez sucesso o "Especial de Natal", que conta a hist�ria do casal antes da doen�a de Luiza.
 
Priscilla Pugliese diz que ao idealizar o projeto, j� pressentia a aceita��o por parte do p�blico. “Eu sabia que ‘Stupid wife’ seria uma loucura, pelo texto. � uma fanfic muito amada, a segunda maior fanfic Camren (jun��o de Camila Cabello e Lauren Jauregui) do Brasil, realmente idolatrada. Ou as pessoas iriam detestar, porque estragaram a hist�ria, ou iriam amar porque era isso que elas queriam ver”, afirma.
 
Priscilla Pugliese olha pelo visor de uma câmera de filmar

Priscilla Pugliese, diretora de "Stupid wife"

Lukkas Marques/Divulga��o
 

Confira a entrevista com Priscilla Pugliese:

Como surgiu a Ponto A��o?

Fiz um curso profissionalizante e nele aprendemos que a gente n�o deve ficar ref�m do mercado, voc� tem de se autoproduzir. Deram aula de roteiro, filmagem, um pouco de cada coisa, focado para atua��o. L� mesmo, junto com alguns amigos, resolvemos fazer uma webs�rie. Na �poca, era uma coisa pequena, quem assistia eram nossas fam�lias. Mas eu queria falar sobre coisas importantes e, de alguma forma, tocar o cora��o das pessoas. 

Conheci o Rodrigo Tardelli atrav�s de covers de dan�a, mostrei o projeto e ele gostou. A� topou fazer o Ponto A��o comigo. A gente pegou uma fanfic que j� existia, com o texto que gostamos, e fizemos. Lan�amos no carnaval e falei: ‘Ningu�m vai assistir a isso’. N�o sei o que aconteceu, se papai do c�u olhou para a gente e pensou que t�nhamos um tema muito legal de abordar, a gente falava sobre anorexia. Quando chegou quarta-feira de cinzas, tinha 10 mil visualiza��es, o que para a gente era muita coisa. 

Foi a trilogia “Entre duas linhas”. De repente, eram 50 mil, 100 mil, a galera pedindo continua��o. Identificamos que fizemos s�rie para um p�blico que tem car�ncia em rela��o a conte�dos que, ao meu ver, apresentam temas bonitos de serem falados. Porque a gente sempre fala de preconceito, homofobia. N�o � que n�o vamos mais falar, a gente j� entendeu que isso existe, mas tamb�m mostrar o outro lado. Duas mulheres podem se casar, ter filhos, os problemas delas s�o cotidianos como de qualquer outro casal que tem de pagar conta, pegar o filho na creche. A gente foi para esse lado e caiu no gosto do povo. 

Quando a Natalie Smith entrou para a s�rie, ela somou muito, porque a gente se tornou muito amiga, sempre convivemos muito. A galera queria acompanhar a gente, saber. E ter esse contato com o p�blico � muito importante, mas n�o t�nhamos no��o de onde a gente chegaria.

Minha pretens�o era falar sobre assuntos que n�o s�o falados. Na minha fam�lia � comum, tenho uma prima que � casada h� 11 anos e os problemas dela eram cotidianos e n�o de preconceito. Falei: tem o lado bonito tamb�m, vamos falar disso. O come�o era esse lugar de querer representar essas pessoas. 

Por�m, eu n�o tinha tanta no��o do quanto eu precisava deste tipo de conte�do, porque sempre vi o lado bom, mas as pessoas n�o conheciam esse lado. Hoje, a gente j� encontrou o Brasil (com a webs�rie), quero encontrar o mundo agora. Quero entrar nos pa�ses que falam que isso � crime, mostrar que gostar de algu�m do mesmo sexo que voc� nao � crime. O meu objetivo � quebrar essa barreira, encontrar essas pessoas e tentar reeducar a popula��o.

Como produtora independente, quais s�o os principais desafios para voc�?

A gente entendeu em “A melhor amiga da noiva” que precis�vamos comercializar nosso produto, porque era muito dif�cil, e ainda �, conseguir patroc�nio ou at� apoio. 

Na �poca, foi o casamento de “A melhor amiga da noiva” que vendeu. Deu certo! Os f�s queriam apoiar a gente, queriam que a gente fizesse vaquinha, mas preciso merecer para estar recebendo o que voc� est� me dando. Ent�o, n�o achava justo voc� me dar o dinheiro, queria que voc� tivesse alguma coisa. A gente buscou trazer exclusividade para as pessoas que est�o comprando, n�o doando dinheiro. A partir disso, a gente come�ou a comercializar nosso produto e conseguir nos manter. 

Mas n�o � f�cil, cada projeto, cada temporada � uma luta. A gente recebe desse projeto aqui para investir no pr�ximo, n�o � a bilheteria. 

Ainda � dif�cil encontrar patrocinador, mesmo com todo sucesso de 'Stupid wife'?

Sim, n�o sei se a quest�o � por ser um produto l�sbico e as pessoas t�m o preconceito de colocarem suas marcas ali. Mas ainda assim � muito dif�cil. Teve uma marca que gostou do projeto, mas queria dar dois produtos dele, o que n�o vai pagar o sal�rio do elenco, n�o vai ajudar na alimenta��o. Ent�o, acho que as pessoas ainda n�o confiam no poder que nossas webs�ries t�m para colocarem suas marcas.

Como foi o processo de passar da frente das c�meras,como atriz, para a dire��o? Faltam mulheres diretoras?

A gente tem muitas mulheres nesse papel, mas falta oportunidade para que mostrem o trabalho delas. Mas n�o foi essa quest�o que me fez ir para tr�s das c�meras, a gente sempre est� dando oportunidade para jovens que querem estar com a gente. Nosso objetivo � a galera crescer para que possa voar em lugares maiores que a gente. 

O que me fez querer ir para atr�s das c�meras foi ‘Stupid wife’, porque eu vim de “A melhor amiga da noiva”, com v�rias temporadas, onde eu atuava e dirigia. Era tudo que a gente fazia na Ponto A��o, que � aprovar um figurino, a arte, ver as loca��es. Era uma s�rie tranquila para mim, porque j� tinha essa personagem por volta de quatro, cinco anos comigo, era algo que j� estava dentro de mim. Eu conseguia atuar, dirigir e n�o afetar nenhum dos dois lados.

Quando a gente decidiu fazer “Stupid wife”, eu sabia que era uma s�rie, uma fanfic muito importante para mim. N�o seria capaz de fazer as duas coisas ao mesmo tempo sem pecar em uma delas, sabendo que seria uma s�rie muito grande. Naquele momento, queria produzir, cuidar de cada detalhe e entregar para a Nat�lia, autora da fanfic, o mais pr�ximo do que ela imaginou. 

Foi de uma conversa minha e Natalie que a gente entendeu que precis�vamos dar uma respirada na nossa imagem juntas para que pud�ssemos dar oportunidade para outras pessoas terem o lugar de frente.

Como voc� e Natalie dividem as tarefas?

Cuido mais dos atores, a parte mais de coach, prepara��o. Quando eles t�m algumas d�vidas da linha do tempo, principalmente a Priscila Reis. Tem algumas mudan�as. �s vezes a gente est� gravando uma cena do cap�tulo 8, depois do 1, 7, ou 2. A� s�o d�vidas como: ‘Estou bem com a Valentina ou n�o?' 'Lembro disso ou n�o?’. Ent�o, cuido desse lugar deles, antes de entrar em cena, sento e explico o que aconteceu antes, o que eles sabem que vai acontecer, mas ainda n�o aconteceu, como � o estado deles naquela cena. 

Sempre que d� para estar no set, assisto e falo: ‘Aqui voc� poderia ter passado a m�o no rosto dela’ ou ‘poderia ter chorado aqui', ou 'aqui n�o precisa chorar’. � um trabalho voltado para eles. � o cuidado que tenho com eles na atua��o, mas tamb�m o cuidado com a imagem deles como atores.

J� o trabalho da Natalie � controlar o set, ver se a arte est� boa, se o figurino est� batendo com o que a gente quer de fotografia, como est� a c�mera, esse trabalho mais t�cnico de passar para os atores a marca��o.A gente tem uma equipe gigantesca que cuida de tudo isso com a gente, ent�o n�o somos s� n�s.

Qual � sua rela��o com as fanfics? Como � o processo de tirar do papel?

No caso de ‘Stupid wife’, foi uma das primeiras fanfics que li e me emocionou muito. Eu n�o sabia que isso existia de fato, mas acreditei na hist�ria. Falei: ‘Esses personagens existem, est�o em algum lugar que eu n�o sei’. Na �poca, queria viver isso, sentir como � isso. Hoje em dia, n�o sei se quero viver isso. Acho que trabalhar com a Priscila Reis � muita loucura, muita intensidade.

Mas a fanfic de “Stupid wife” me prendeu dessa forma, eu li e queria falar sobre esse assunto. Nunca tinha conhecido ningu�m que tivesse passado por aquilo (amn�sia dissociativa). Tem tamb�m a quest�o da depress�o p�s-parto, que uma amiga passou e senti que precisava ser falado de alguma forma. 

A gente n�o conseguiu se aprofundar tanto, mas espero um dia ter essa oportunidade. Mas a gente conseguiu, com a segunda temporada, passar mais essa informa��o para a galera. Eram assuntos que me fizeram me apaixonar pela fanfic, ela tinha um tema, n�o era s� um casal se relacionando. Casal margarina, fam�lia feliz, tinha uma coisa que precisava ser falada. 

Em rela��o �s outras fanfics, muitas eu acabo lendo. Sou a que fica mais nessa coisa de ler as fanfics, gosto e sempre me envolvo. Algumas acabo lendo porque encontrei e achei interessante, j� li muitas. Estudei o que era fanfic para entender esse universo, ent�o passei um ano lendo fanfic e estudando.

“A melhor amiga da noiva” foi na �poca em que a gente conseguiu “Stupid wife”, mas falei: ‘Cara, n�o � o momento de fazer 'Stupid wife' agora, ent�o vamos aproveitar a Natalia e ver qual outra fanfic ela tem e d� para a gente fazer’. Na �poca, a gente achou “A melhor amiga da noiva” interessante. “At� voc� me esquecer” o Rodrigo escolheu, mas tem muitas fanfics que a gente acaba entrando em acordo com as autoras. A galera fala muito e a gente come�a a procurar e saber o que �. Poucas s�o as que ainda n�o li.

O processo com as autoras, vamos ter um document�rio em que vamos falar sobre isso. Mas existe toda a coisa de marketing, conversa com elas, n�o posso contar isso ainda. A gente quer fazer e est� se programando para um document�rio, vamos contar como conseguimos as fanfics, de onde vieram os contatos. Isso � um segredo que a gente quer contar no document�rio. Mas a gente n�o tem ideia de quando lan�ar, estamos filmando ainda.

Como foi encontrar as Priscilas Reis e Buiar para a s�rie?

N�s fomos atr�s do perfil. Sabe quando voc� acha pessoas maravilhosas, mas ainda n�o � o que queria? Tinha que ser a pessoa certa. 

A produtora que trabalhava com a gente na �poca mandou um site com v�rias atrizes em fotos. Fui olhando e vi a foto em que a Pri (Reis) estava com uma regata branca sorrindo de lado. Quando olhei para ela, n�o estou comparando com a Camila Cabello, mas o brilho que tem a personagem, a cantora, foi o brilho que vi na Reis.
 
Falei: ‘Essa menina tem um lugar latino, uma boca, um nariz, um olho puxado que me lembra um pouco a Cabello’. A gente n�o estava buscando pessoas parecidas, mas sabe quando voc� olha e pensa: ‘Essa menina tem alguma coisa, tem um brilho’? Eu falei que queria v�-la.
 
Entraram v�rias meninas, mas n�o eram o que a gente queria. Juntei todo mundo e falei: ‘O que a gente precisa � de uma pessoa que quando est� falando sobre a Valentina, que ela seja moleca e tenha um corpo mais largado e mostre a raiva que tem da faculdade, rebeldia. N�o � caricata, mas que dentro dela tenha essa coisa meio revoltada. Quando ela fala do L�o, eu preciso ver a m�e, esse sentimento, um lugar maduro, preciso que ela amadure�a. Nenhuma est� chegando dos dois lados’. 

Quando a Reis entrou e fez o teste, eu n�o conseguia falar. N�o tinha uma pessoa que falasse que n�o seria ela, todo mundo concordou. A �nica coisa que  perguntei foi: ‘Voc� tem disponibilidade?’. E tamb�m se ela dan�ava, mas ela me enganou (risos).

A Natalie tinha comentado da Buiar para o papel de Valentina, mas tenho um projeto viria logo depois de “Stupid wife” e a queria nele. A gente at� jogou esse projeto na gaveta por um tempo para pensar depois como vai ser. 

E n�s combinamos que n�o queremos repetir as pessoas, queremos dar oportunidade para mais gente. Ent�o, falei: ‘A Buiar n�o vai fazer o teste, ela vai ficar para o meu pr�ximo personagem. Sei que ela � uma atriz boa, dedicada, j� trabalhei com ela outras vezes, mas n�o quero que ela fa�a o teste’. Porque eu sabia que se  fizesse, a personagem era dela. 

A� come�amos a fazer o teste com v�rias meninas que eram boas, mas n�o estavam na maturidade da Reis. Rolou uma parada do tipo: ‘Ser� que a Buiar consegue mesmo fazer a Valentina?’. Eu pensei: ‘Como � que �? Agora quero. F*da-se o meu outro projeto’. 

A Buiar fez o teste de qualquer jeito. Foi muito bom, mas eu sabia que ela podia ir muito al�m. Eu n�o podia interferir, dirigir ela, e na hora de votar, eu votei sutilmente. Quem define sou eu, Natalie e Rodrigo, mas a gente estava conversando e come�ou um ‘ser�?’. A� deixei para a Natalie, e a Buiar entrou. 

Voc�s j� sentiam a conex�o das duas desde o come�o?

A gente ainda n�o tinha contratado a Reis, tinha falado s� com a Buiar. A Reis voltaria para fazer mais um teste, a Buiar seria mais uma leitura. Falei: ‘Conhece essa atriz aqui?’. Ela: ‘J� fiz alguns cursos com ela. N�o � t�o pr�xima, mas conhe�o’. Perguntei: ‘O que voc� acha?’. E ela: ‘� boa, dedicada’. E eu falei: ‘Ent�o � ela, galera, fechamos’. 

A Reis n�o sabia que era a Buiar, quando ela chegou e viu, falou: ‘N�o acredito’. Ali a gente viu uma conex�o muito legal delas. Mas nas primeiras cenas estavam muito nervosas, n�o conseguiam se conectar ainda. Elas foram para o autom�tico, mas t�m uma escuta muito boa, porque voc� fala e elas entendem o que � para fazer. Foi uma qu�mica constru�da ao longo das grava��es.

A gente nunca chega e fala: ‘� alma g�mea e a qu�mica est� ali’. N�o, � um trabalho, o processo de elas estarem juntas, se tornarem amigas, dividirem a hora do almo�o, uma ajudando a outra. A gente foi convivendo com isso. Temos at� costume de gravar cenas de beijo, que tem mais troca para o final, mesmo que seja uma cena do primeiro cap�tulo para que elas j� venham no ritmo. 

Mas existia essa inseguran�a normal da Reis, tamb�m por ser a primeira protagonista dela . Existe esse peso, ela chegava e falava: ‘Pri, � muita coisa’. Eu falei: ‘Protagonista � isso o tempo inteiro. Voc� em todas as cenas’. At� porque na primeira temporada quem conta a hist�ria � a Luiza, ent�o ela est� em todas as cenas praticamente.

Mas elas foram criando essa qu�mica juntas, dentro e fora do set. Uma constru��o com a gente e com elas tamb�m. Talvez, se elas n�o tivessem essa troca fora, a qu�mica n�o chegasse no set. 

O fato de atrizes heteros interpretarem l�sbicas poderia influenciar?

Para mim, n�o faz diferen�a. Em quest�o de atua��o, a atriz tem de estar dispon�vel. Claro que uma atriz l�sbica talvez saiba como � o toque feminino, como � o sexo. Mas a gente tem pessoas dentro da nossa produ��o que s�o l�sbicas ou bissexuais, e estavam o tempo inteiro ajudando as meninas, direcionando.
 
Elas procuraram, assistiram a filmes. Para mim, como produtora, n�o influencia em nada, s�o duas meninas superdispon�veis. N�o converso com elas sobre isso, n�o cabe dentro da nossa ficha de trabalho. N�o influencia em nada, desde que elas estejam dispon�veis a aprender, a ter essa troca com a gente e que se sintam confort�veis, porque o mais importante � a gente nunca passar do limite do ator, (� preciso) que ele se sinta bem com o personagem que est� fazendo.

Esperava essa resposta toda do p�blico, o sucesso que a s�rie est� fazendo?

Eu sabia que “Stupid wife” seria uma loucura pelo texto. � uma fanfic muito amada, a segunda maior fanfic Camren do Brasil, ent�o realmente era idolatrada. Ent�o era 8 ou 80, ou as pessoas iriam detestar porque estragaram a fanfic, ou iriam amar porque era isso que elas queriam ver. 

Meu maior medo era de quem seriam essas meninas, mas quando encontrei as duas e a gente come�ou a trabalhar na leitura e come�ou a ter uma troca, elas come�aram a se emocionar com os personagens. Quando liam, os olhos brilhavam. Falei: ‘Elas querem fazer isso, n�o est�o aqui pela fama ou pelo dinheiro, elas querem esses personagens’. Ali eu teria a certeza de  que seria um sucesso. 

Agora, um sucesso como esse a gente nunca espera. Sempre esperamos que d� certo e tenha �xito, que a gente consiga atingir o cora��o de quem a gente tem que atingir. Mas estourou de uma forma que ningu�m imaginava, nem elas.

Como � organizar um dia de grava��o em "Stupid wife"?

A gente come�a sempre em  pr�-produ��o. Agora na segunda temporada, � um pouco mais tranquilo, porque a gente j� tem as loca��es principais, mas ainda sim temos de negociar esses espa�os. � tranquilo para n�o ir atr�s, mas a quest�o financeira, por exemplo... Saiu muito mais cara do que a primeira. 

Temos uma equipe de pr�-produ��o; eu e a Natalie idealizamos como queremos as loca��es. A equipe vai atr�s. Junto com nossa equipe de fotografia, �udio e arte, visitam a loca��o e aprovam. 

No mundo ideal, a gente teria de montar a loca��o antes de levar os atores e gravar, testar �udio, foto, arte. Mas a gente n�o tem financeiro para fazer isso, ent�o vamos na foto e torcemos para que a loca��o seja boa. A gente tem todo um processo de estudar a caracter�stica do personagem com o figurino para que a gente possa ver como imagina. 

Vestimos as meninas, aprovamos o figurino, elas veem se est�o se sentindo bem ou n�o, a figurinista v� se gosta. Depois tem o processo de microfonar para ver se n�o atrapalha o �udio.

Tem o processo da arte, que muda totalmente o lugar. �s vezes a gente grava no mesmo lugar e ningu�m sabe. Pegamos uma casa agora que servia de quatro a cinco ambientes diferentes, a parte da piscina era uma loca��o, o quarto era outra, escrit�rio outra.

Tamb�m tem todo o  trabalho de produ��o da Larissa Honorato, que v� a hora em que a gente come�a, quanto tempo vai levar a primeira cena. Ela faz toda ordem do dia. 

Gravar � a parte mais gostosa, vamos para o set e vemos o que de fato funciona ou n�o. � muita coisa!

O que voc� pode contar da segunda temporada?

Adoro deixar enigmas, mas tem uma frase que � dos Feiticeiros de Waverly Place: ‘Nem tudo � o que parece ser’. A gente vai olhar muita coisa nessa temporada, achar que � uma coisa e � outra completamente diferente. Precisamos focar nos m�nimos detalhes e segurar um pouco o julgamento em rela��o � Luiza. Ela veio para contar uma hist�ria e as pessoas v�o falar: ‘Essa menina � guerreira, realmente est� lutando muito para se reconhecer’. Imagina voc� acordar em uma vida que n�o � sua, porque para ela essa vida n�o � dela, algu�m que construiu sozinha? Ent�o essa temporada vem para a gente se emocionar muito com ela. 

O Thom�s cresceu muito, ele est� muito esperto, e a gente est� aproveitando muitas cenas dele com a Buiar tamb�m. A galera queria ver o lado moleca da Buiar, da Valentina, ela � quase uma crian�a do lado do Leo, filho dela, ent�o tem muita cena divertid�ssima em rela��o a isso. Mas, no fim, a gente vai se surpreender com a estrutura do que estamos fazendo. A gente est� com um investimento melhor para figurino, arte. H� v�rios especiais dentro dos epis�dios, voc�s v�o gostar bastante deles.

J� gravaram todas as cenas?

Ainda n�o gravamos a cena final. Foi uma das loca��es onde a gente foi gravar, mas n�o gostamos da ac�stica do lugar, do tamanho. A� preferimos n�o gravar o final enquanto n�o encontrarmos a loca��o. � uma das cenas mais esperadas. Teremos muitas l�grimas, n�o vou mentir.
 

Quando deve sair a segunda temporada?

 
A gente quer que saia assim que a gente terminar de editar. Estamos editando os quatro primeiros epis�dios, a gente edita por etapa. Primeiro quatro e depois mais quatro. A gente tinha uma data que infelizmente n�o vamos conseguir cumprir, porque desta vez a gente quis gravar tudo com muita calma. 

Teve uma cena em que a gente come�ou a grava��o e choveu no meio, a� decidimos cancelar e no dia seguinte ir�amos gravar tudo de novo. Teve uma outra que a gente gravou e sentiu que n�o ficou t�o legal, a� decidimos gravar de novo. Ent�o, a gente realmente est� tentando tomar o m�ximo de cuidado poss�vel, dentro das nossas horas de trabalho, mas gravando menos cenas com mais aten��o, mais planos. A gente tem uma equipe muito maior do que a da primeira temporada e a do "Especial de Natal".

T�nhamos uma data para agora, mas a gente quer ter certeza do que queremos para entregar o melhor produto poss�vel. Ent�o, n�o sei se daqui a dois ou tr�s meses. Mas n�o vai demorar tanto, assim que a gente terminar de editar, j� vamos lan�ar para a galera. Isso � bom porque geralmente tem s�ries que demoram um ano, seis meses. A gente t� indo r�pido.

Conversamos com nossa equipe de edi��o e eles falaram: ‘Cara, a gente pode fazer para essa data, mas n�o vai ficar t�o bom’. Ent�o, confirmei qual era o tempo de que eles precisavam. Agora a gente precisa calcular para saber quando de fato vamos terminar. Estamos tamb�m gravando com tr�s c�meras, ent�o o tempo de edi��o � bem maior.

Quais foram as diferen�as da primeira para a segunda temporada?

O lugar de conforto. N�s t�nhamos duas lapelas na primeira temporada, agora a gente tem seis. Assim o ator pode falar mais pr�ximo, quando n�o tem, ele precisa falar de outro jeito. Isso, de certa forma, se n�o o ator n�o for muito t�cnico acaba atrapalhando a atua��o dele. Ter tr�s c�meras facilitou para gravar mais r�pido. 

O fato de termos muitos f�s comprando a s�rie, ajudando a gente a produzir, eles acabam investindo em material porque n�o � barato. Temos uma produtora independente com um p�blico muito grande que investe na gente, compra o nosso material. Ent�o, a gente tamb�m quer investir para que o produto seja melhor para eles. 

O fato de gravar a segunda temporada com mais tempo, mais verba, fez com que a gente pudesse ter um conforto maior. Conseguimos aumentar o sal�rio da equipe do jeito que pod�amos.

Agora temos uma equipe de figura��o, hoje a gente tem um chefe de cada setor com seu assistente, ent�o n�o fica puxado para a pessoa trabalhando atr�s das c�meras. 

A grande diferen�a da primeira para a segunda temporada foi o fato de a gente ter verba para investir em conforto e gravar com mais calma, porque as cenas s�o muito mais intensas do queas da primeira temporada.
 
Por exemplo, das meninas com o Thom�s t�m cenas intensas, onde ele est� mal em um determinado momento. Antigamente, a gente gravava as meninas primeiro e ele separado, agora ele grava com elas e tem essa troca com ele. 

Tem cenas em que a gente investiu mesmo para ter um produto maneiro, como a cena de apresenta��o de bachata. Os f�s foram l� gravar e fizemos em um teatro, dando alimenta��o para os f�s que estavam l�.

Os atores passaram todas as cenas, diferentemente da primeira temporada. Eles chegaram j� sabendo como deveriam fazer a cena e a gente s� foi alinhando. A diferen�a foi voc�s terem ajudado a gente para trazer um lugar mais confort�vel para nosso elenco e nossa equipe.

O ciclo se encerra na segunda temporada?

N�o posso falar nada, voc�s v�o ter que assistir. Mas posso dizer que o final est� impactante. Desta temporada que estamos gravando agora.

"Stupid wife" foi um grande salto para a Ponto A��o. Futuramente pretendem continuar com mais hist�rias, fanfics?

Se Deus quiser, a gente vai continuar produzindo ainda dentro dessa linguagem, pretendemos continuar com as fanfics. Nosso foco agora � “Stupid wife”, a gente chegou a cogitar pensar em alguma coisa, mas n�o temos tempo e nem energia para isso. “Stupid wife” ainda tem muita coisa para falar, a gente quer entregar isso da melhor forma poss�vel.

Pretendem continuar "The stripper"?

“The stripper” foi um ciclo que n�o conseguimos fechar. A gente chegou a receber propostas de streamings, s� que era para nos separarmos e eu nunca achei justo. Se fiz com a Natalie, vou continuar com ela e vice-versa. Tamb�m perdemos nossas loca��es para continuar a hist�ria. Est� guardado, ainda temos o direito de “The stripper”, a Evelyn � uma pessoa maravilhosa e quero poder trabalhar com ela novamente. Mas a gente n�o tem essa pretens�o. 

N�o sei se de repente, daquia  uns 5, 10 anos, a gente gravaria do come�o ou a gente conheceria os donos dessas loca��es e gravaria de novo.

Se receberem uma oferta, passariam a s�rie para o streaming?

Sim, mas depende da proposta do streaming. Na �poca de “The stripper” a gente recebeu proposta para um dos maiores streamings do Brasil, mas a proposta era uma ou outra, porque a gente precisava colocar algu�m daqui da casa e optamos por n�o fazer. 

“Stupid wife” rolou um lugar assim, e a gente n�o quer vender o piloto ou o roteiro, queremos trilhar com o que est� aqui, com nossa equipe e nosso elenco. Ent�o, � dif�cil a conversa com os streamings, por isso a gente foca na gente, em nossa venda.

Se um streaming aparecer e falar: ‘Quero dar o dinheiro para voc�s produzirem’. Ou ent�o: ‘Vou contratar voc�s com toda equipe, todo o elenco e a gente vai botar dentro do nosso canal’. Ou ‘vou botar a s�rie pronta dentro do nosso canal’... Mas isso � dif�cil, porque o streaming quer fazer da forma dele. Ent�o, � uma conversa em que a gente vem pensando h� mais tempo. HBO, compra nossa s�rie pronta! (risos).