Duo paulista Hyperanhas, formado por Nathalia Fischer e Andressinha, olha para a câmera

Duo paulista Hyperanhas, formado por Nathalia Fischer e Andressinha, apresenta seu trap com mensagens sobre o poder feminino no Rap Game

Facebook/reprodu��o

Anunciado como o maior festival de hip hop j� realizado em Minas Gerais, o Rap Game debuta na Esplanada do Mineir�o, neste s�bado (25/3), com estrutura e n�meros que, de fato, impressionam. Mais de 25 artistas de proje��o nacional e 16 expoentes locais se apresentam ao longo de todo o dia, a partir das 10h, em tr�s palcos montados na �rea que circunda o est�dio na Pampulha.

A escala��o conta com L7nnon, Yunk Vino, Poze do Rodo, Orochi, Chefin, Bin, BK, Hyperanhas, Djonga, Recayde Mob, Tasha e Tracie, MV Bill, Sidoka, Veigh, Raffa Moreira, Major RD, MC Marechal, Luccas Carlos, DJ Zeu, Clara Lima, Hutter e Das Quebradas com participa��o de Sandr�o RZO, entre outros.

Um palco dedicado exclusivamente a artistas mineiros, batizado Game Trends, vai receber as apresenta��es de OG Capitu, Mac Richa, Weeze Cooker, Sadoff, Oliver, Vitor Akin, Sarah Sampp, Zampi 29, Lowz, Jovem Cae, LocDog, Lua Zanella, LS O Cria, Kau� Machado, 1Berto e MC B2. O Rap Game tamb�m conta com espa�os interativos, como a Game Zone, o Museu do Hip Hop e uma �rea de grafite.
 
Sidoka, com o rosto tampado até o nariz, olha para a câmera

O belo-horizontino Sidoka chama a aten��o do pa�s para o trap criado em Minas Gerais

Leonardo Exposito/divulga��o
 

Cultura de rua mostra sua for�a

O DJ Zeu, um dos organizadores do evento, diz que a realiza��o de um festival desse porte reflete a pujan�a do atual cen�rio da cultura de rua em Belo Horizonte e em Minas Gerais. Ele conta que a ideia do Rap Game vem sendo gestada desde 2016 e que saiu do papel para efetivamente come�ar a tomar forma em meados do ano passado.

“Eu me associei ao (produtor) Romeu Marques, um camarada que sempre entregou grandes eventos de m�sica eletr�nica para a cidade, porque eu tinha vontade de tamb�m ter em Belo Horizonte uma festa grande dedicada ao hip hop. A gente vinha trocando ideias a respeito h� mais de cinco anos. Passada a pandemia, sentimos que era o momento”, diz.

H� 20 anos marcando presen�a na cena hip hop da cidade, ele considera que Minas Gerais �, atualmente, o grande polo nacional desse movimento. DJ Zeu afirma que, quando o assunto � rap e g�neros afins, como o funk e o trap, que o festival tamb�m abarca, o melhor “produto humano do Brasil” est� concentrado no estado.
 
• Veja Djonga no clipe 'Conversa com uma menina branca':
 
 
 
“A gente tem nomes como Djonga e Sidoka, que j� conquistaram o pa�s, e daqui vai sair muita coisa grande ainda, sobretudo a partir de agora, com o Rap Game chegando para impulsionar os novos talentos”, afirma.
 
 
Em sua opini�o, BH � cidade teste do Brasil, com um p�blico exigente, que n�o aceita qualquer coisa quando o assunto � a produ��o art�stica.

carioca L7nnon

Destaque do rap nacional, o carioca L7nnon est� de volta ao Mineir�o depois de empolgar a plateia do Festival Planeta Brasil, no ano passado

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press/26/9/22
 
“Aqui a gente tem a Classics Hip Hop, que � considerada a melhor festa do g�nero no pa�s, e tem o Duelo de MCs, que � reconhecida como a melhor batalha de rima, quer dizer, � como o p�o de queijo, a refer�ncia que a gente tem � muito alta”, diz, acrescentando que esse n�vel de excel�ncia acaba formando novas gera��es que j� chegam com um status elevado.

“� um cen�rio que puxa os artistas. Eles t�m que ser bons para conquistar seu espa�o. A ‘mina’ quer fazer sucesso, vai ter que trabalhar, vai ter que estudar, quer dizer, entra a� at� uma quest�o de educa��o mesmo, de leitura, porque se ela n�o fizer isso, n�o se dedicar, n�o vai conseguir criar um conte�do rico”, comenta.
 
MV Bill olha para a câmera, encostado em alambrado de arame

MV Bill, um dos pioneiros do rap nacional, vai se apresentar na Esplanada do Mineir�o

Carl de Souza/AFP

Mulheres no palco

Quando fala em “mina”, ele chama a aten��o para a expressiva presen�a de artistas mulheres produzindo e se destacando dentro dos g�neros musicais que o Rap Game contempla. Com Hyperanhas, Tasha e Tracie, Clara Lima, OG Capitu e Sarah Sampp, elas tamb�m est�o representadas na programa��o do festival – que inclui, ainda, Lua Zanella, uma artista travesti.
 
DJ Zeu assente que houve, j� no desenho inicial do evento, essa preocupa��o com a representatividade. “A gente quer chegar num est�gio em que o festival, em poss�veis edi��es futuras, contemple, por si s�, uma diversidade de pessoas, n�o s� entre os artistas, mas tamb�m na plateia. O hip hop j� foi, infelizmente, uma cultura de muito machismo e muita homofobia, e estamos empenhados em descontruir isso.”

Sobre a programa��o como um todo, ele diz que a sele��o dos artistas foi orientada por um conceito. “A gente quer respeitar a hist�ria do hip hop. �bvio que fomos atr�s da galera que est� batendo milh�es de visualiza��es, mas n�o podemos nos esquecer de um panorama geral, por isso trazemos, por exemplo, MV Bill e Sandr�o RZO. N�o estamos s� no mainstream, estamos no conceito, respeitando a hist�ria dessas pessoas”, aponta.

Ele explica que a escolha dos nomes que v�o passar pelo palco Game Trends contou com o suporte da F�brica Criativa, incubadora de artistas que atua h� cinco anos em Belo Horizonte, cuidando do posicionamento e da venda de shows de expoentes locais.
 

'Isso a� (o crescimento do rap), na minha vis�o, � a periferia fazendo m�sica, o que praticamente n�o acontecia nos anos 1980 e 1990. � a m�sica do povo preto, do povo da periferia, que � a maior parte deste pa�s e que, antes, n�o tinha acesso aos meios de produ��o. Hoje em dia, qualquer garoto consegue fazer tudo num computador velho de R$ 500'

DJ Zeu, organizador do festival

 

Rap cresce no Spotify

Estudo publicado no ano passado pela Revista Observat�rio, editada pelo Instituto Ita� Cultural, aponta que o rap teve um salto expressivo, de 200%, na lista das 10 m�sicas mais ouvidas do Spotify, na compara��o entre janeiro de 2022 e janeiro de 2021.

“Isso a�, na minha vis�o, � a periferia fazendo m�sica, o que praticamente n�o acontecia nos anos 1980 e 1990. � a m�sica do povo preto, do povo da periferia, que � a maior parte deste pa�s e que, antes, n�o tinha acesso aos meios de produ��o. Hoje em dia, qualquer garoto consegue fazer tudo num computador velho de R$ 500”, diz o DJ Zeu.
 
• Veja o clipe 'Eu fiz o jogo virar', com Poze do Rodo:

 

 

 


Ele observa que, durante muito tempo, o funk e o rap foram g�neros marginalizados e que, atualmente, s�o consumidos n�o s� na favela, mas tamb�m pelas classes mais abastadas. “Agora � bonito, est� na TV, cabe em tudo quanto � lugar, mas isso � agora. At� chegarmos aqui, muita gente tomou tapa na cara, muita gente morreu. O Rap Game chega para amplificar a voz da periferia e dar vez aos artistas emergentes”, afirma.
 

'Em BH, voc� tem a Mac Julia, tem a OG Capitu, ent�o � legal, porque a 'mina' crescendo puxa as outras. Isso � importante, porque ainda � um terreno predominantemente masculino'

Nathalia Fischer, da dupla Hyperanhas

 

Hyperaranhas: representatividade feminina

Nathalia Fischer, que ao lado de Andressinha comp�e a dupla Hyperanhas, formada em S�o Paulo em 2019, tamb�m considera o atual cen�rio do rap, do funk e do trap muito potente. Ela acredita que esse movimento de expans�o tenha a ver com uma mudan�a, ocorrida ao longo dos �ltimos anos, na forma como as pessoas se relacionam com a m�sica.

“Elas n�o querem s� ouvir, elas querem se sentir representadas, e a maior parte do Brasil � periferia. A gente carrega uma mensagem, fala do poder feminino, fala em acreditar nos sonhos para conseguir vencer, e as letras de trap, de funk e de rap, no geral, tamb�m trazem esse conte�do, trazem a experi�ncia de vida de quem escreve, e a� voc� cai de novo na quest�o da representatividade”, diz.

Ela tamb�m enxerga uma amplia��o do espa�o ocupado pelas mulheres na produ��o de tais g�neros, mas pondera que ainda � t�mido, se comparado � presen�a masculina. 

“Em BH, voc� tem a Mac Julia, tem a OG Capitu, ent�o � legal, porque a ‘mina’ crescendo puxa as outras. Isso � importante, porque ainda � um terreno predominantemente masculino”, aponta.
 
Nathalia diz que ficou muito feliz com o convite para participar do Rap Game justamente por poder firmar a presen�a feminina no universo do trap – g�nero a que a Hyperanhas se dedica. “E tamb�m porque o p�blico de Belo Horizonte sempre recepciona a gente da melhor maneira poss�vel, � uma galera muito quente, muito calorosa, que canta junto”, sublinha.
 
Cantora OG Capitu olha para a câmera

OGCapitu ser� uma das atra��es do palco dedicado � cena emergente de Minas

F�brica Criativa/divulga��o
 

Break, slam, grafite e rap

Talento do rap em Belo Horizonte, OG Capitu, que vai se apresentar no palco Game Trends, diz que sua rela��o com a cultura hip hop vem desde a inf�ncia, quando dan�ava break e grafitava os muros da cidade. 

Ela conta que, posteriormente, come�ou a participar de slams e de rodas de poesia marginal, antes de come�ar a experimentar rimar sobre as batidas do rap.

“Achei muito gratificante o convite para participar desse festival, porque a� a gente v� que o trabalho est� sendo valorizado. Isso me d� um g�s para continuar realizando as coisas, persistindo”, diz. Capitu tem participado de muitos eventos na cidade e em outros estados, alguns marcantes em sua incipiente trajet�ria.

“No ano passado, participei, em S�o Paulo, do Festival Cena, o maior dedicado ao trap no Brasil. Fui pega de surpresa quando me chamaram. Foi muito marcante. Outro que considero muito importante foi o F�brica Hits, em 2021, porque foi o primeiro grande evento de que participei, ent�o agregou muito, me trouxe experi�ncia”, comenta.

Ela avisa que o p�blico que for acompanhar sua apresenta��o no Rap Game pode esperar muita ra�a e muita performance.

“Estou ensaiando muito com meus core�grafos, e o que eu levo para o palco � trap de verdade, para bater cabe�a. Vou, inclusive, aproveitar para lan�ar ‘Sul-americana’, que � uma m�sica nova”, adianta.

FESTIVAL RAP GAME

• Neste s�bado (25/3), a partir das 10h, na Esplanada do Mineir�o (Av. Ant�nio Abrah�o Caram, 1.001, Pampulha).
• Ingressos variando de R$ 110 (meia-entrada solid�ria para pista) a R$ 680 (inteira para homens no camarote open bar). 
• Classifica��o: Pista - 12 a 14 anos (acompanhados pelos pais). Front Stage - 14 anos. Camarote - 18 anos.