'Confundir arte com pornografia � rid�culo': a pol�mica em escola nos EUA com est�tua nua de Michelangelo

A diretora de uma escola na cidade de Tallahassee, nos Estados Unidos, foi for�ada a pedir demiss�o ap�s o ultimato do conselho pedag�gico. Hope Carrasquilla foi responsabilizada pela exibi��o de imagens da est�tua de David, de autoria de Michelangelo, em sala de aula. A nudez da obra foi classificada como "pornogr�fica" por um dos pais.

A imagem foi usada em um exerc�cio na aula de artes do 6º ano — que, nos EUA, ensina a crian�as de 11 e 12 anos — da Tallahassee Classical School.

Tr�s pais reclamaram que a imagem foi exibida sem qualquer advert�ncia de que nudez seria mostrada.

Depois da pol�mica, a diretora da Galleria dell'Accademia em Floren�a, na It�lia, onde a est�tua � exibida desde 1873, convidou a ex-diretora da escola e os alunos a visitarem a obra.

A diretora do museu, Cecilie Hollberg, defendeu que Hope Carrasquilla deve ser "premiada, e n�o punida".

"Falar do Renascimento sem mostrar David, um �cone indiscut�vel da arte e da cultura daquele per�odo hist�rico, n�o faria sentido", afirmou Hollberg.

A est�tua de m�rmore do s�culo 16 � uma das mais famosas da hist�ria ocidental. Ela retrata o heroi b�blico David indo lutar contra Golias armado apenas com um estilingue e sua f� em Deus.

V�rios pais e professores est�o planejando protestar contra a sa�da de Carrasquilla, mas ela n�o tem certeza se aceitaria o emprego de volta, caso isso fosse poss�vel.

"Houve tanta pol�mica e agita��o", disse ela em entrevista � ag�ncia Associated Press. "Eu realmente teria que considerar: 'Isso � realmente o melhor para mim?'"

A pol�mica deixou florentinos e especialistas em arte renascentista perplexos.

Hollberg disse estar "impressionada" com a situa��o e afirmou que pensar que a est�tua de David � pornogr�fica revela n�o apenas uma m� compreens�o da B�blia, mas da pr�pria cultura ocidental.

"N�o acredito que isso realmente aconteceu, no come�o pensei que fosse uma not�cia falsa, de t�o improv�vel e absurdo que era", disse a diretora do museu.

"� preciso fazer uma distin��o entre nudez e pornografia. N�o h� nada de pornogr�fico ou agressivo no Davi, ele � um jovem, um pastor, que mesmo segundo a B�blia n�o usava roupas ostentosas, mas queria defender seu povo com o que ele tinha."

O prefeito de Floren�a, Dario Nardella, tamb�m convidou a professora que mostrou aos alunos a imagem do David para visitar a cidade e suas obras de arte.

"Confundir arte com pornografia � simplesmente rid�culo", postou no Twitter. "Arte � civiliza��o, e quem a ensina merece respeito."

Em entrevista ao site Slate, Barney Bishop, presidente do conselho pedag�gico, disse que no ano passado a diretora enviou um comunicado aos pais avisando que os alunos iriam ver a imagem de David, mas o mesmo procedimento n�o foi feito este ano.

Bishop chamou isso de "erro flagrante" e disse que "os pais t�m o direito de saber sempre que seus filhos est�o lidando com um t�pico ou uma imagem controversa".

Mas, para o historiador de arte e reitor da Universidade para Estrangeiros de Siena, Tomaso Montanari, "desconcertante" foi a repercuss�o da imagem nos EUA.

“Primeiro, vem a consterna��o com a aus�ncia de liberdade educacional, pois ela n�o deve ser restringida ou manipulada pelas fam�lias”, analisa Montanari.

“Por outro lado, do ponto de vista cultural, o mundo ocidental tende a associar o fundamentalismo e a censura a outras sociedades, acreditando que possui a capacidade de espalhar os ideais democr�ticos em todo o mundo."

"Mas esse retrocesso cultural revela claramente a presen�a de vis�es fundamentalistas no Ocidente tamb�m."