Os atores Nikita Efremov e Taron Egerton sorriem em cena de 'Tetris'

Os atores Nikita Efremov (Alexey Pajitnov) e Taron Egerton (Henk Rogers) vivem os protagonistas do longa, que estreou no Brasil diretamente no streaming

Apple TV /Divulga��o

Como pecinhas caindo e se encaixando lentamente, a trama de "Tetris" pode levar um tempo at� fazer sentido para o espectador. A hist�ria por tr�s da sensa��o dos games, afinal, � totalmente absurda e inesperada, o que deixa o roteiro do filme n�o exatamente confuso, mas dif�cil de assimilar.

Noah Pink, o roteirista, fez o melhor que p�de com o material que tinha. Apesar da premissa simples de contar a hist�ria de um dos games mais vendidos do mundo, o roteiro lida ainda com a crise do comunismo, os embates entre a R�ssia e o Ocidente e min�cias do mundo corporativo.

Exibido no South by Southwest, o SXSW, o longa � protagonizado por Taron Egerton e tem dire��o de Jon S. Baird, brit�nico indicado ao Bafta por "Stan & Ollie". Diferentemente do que ocorre com os filmes lan�ados em Cannes, Berlim ou outros festivais mais tradicionais, desta vez o p�blico n�o ter� que esperar tanto, pois "Tetris" faz parte do cat�logo do Apple TV+.
 

O filme se passa no momento em que, poeticamente, o game sobre bloquinhos caindo, criado pelo engenheiro da computa��o russo Alexey Pajitnov, tentava sair da Uni�o Sovi�tica em meio � iminente queda do bloco.

N�o foi f�cil tirar aquela ideia simples, prestes a conquistar todo o mundo, da Cortina de Ferro, como o roteiro atesta. A iniciativa partiu de Henk Rogers, um holand�s que era ele pr�prio desenvolvedor de games e que, ao descobrir o potencial de "Tetris", decidiu apostar todas as suas fichas no jogo.
 
 

Distribui��o

Contrariando toda recomenda��o, ele deixou o Jap�o, onde morava e trabalhava, rumo a Moscou, para se encontrar com os detentores dos direitos do jogo e, assim, garantir sua distribui��o para outros pa�ses.

Mas outros empres�rios do Ocidente j� estavam de olho naquela mina de ouro, o que d� in�cio a uma complexa briga entre eles, que cruza com os interesses n�o ortodoxos das autoridades sovi�ticas que controlavam n�o apenas a papelada, mas a pr�pria vida de Pajitnov.

A princ�pio, uma trama sobre uma batalha por direitos de distribui��o n�o parece ser, exatamente, material digno de Hollywood. Mas as disputas que envolveram o licenciamento do game foram t�o complicadas e at� mesmo perigosas que "Tetris" acabou por se tornar praticamente um thriller de espionagem da Guerra Fria, na linha de "Ponte dos espi�es" (Steven Spielberg, 2015), mas com o didatismo de "A grande aposta" (Adam McKay, 2015).

Os longas serviram de inspira��o para Baird, que, ao receber o roteiro, ficou encantado com a possibilidade de mergulhar no sigiloso e n�o t�o distante mundo da R�ssia comunista. Formado em rela��es exteriores, o cineasta identificou ali uma hist�ria com potencial de atrair n�o s� os nerds de hist�ria mundial ou de videogames, mas qualquer f� de cinema.

"O nome original do filme nem era ‘Tetris’. Tinha algo a ver com blocos caindo. Quando recebi o roteiro, achei que era sobre geopol�tica. Mas depois voc� percebe que aquela batalha por algo que voc� nem pode ver, direitos autorais, � t�o louca que me fez lembrar que as hist�rias mais bizarras s�o as que d�o os melhores filmes", diz.

Em meio a inser��es gr�ficas em oito bits –tecnologia por tr�s das anima��es blocadas, como o primeiro "Super Mario Bros."–, "Tetris" se alterna entre momentos de a��o e com�dia, enquanto cl�ssicos oitentistas s�o entoados em russo, mergulhando o espectador ainda mais naquela Uni�o Sovi�tica doida para se jogar nas influ�ncias estrangeiras e, ao mesmo tempo, protecionista em rela��o � pr�pria cultura.

'O nome original do filme nem era 'Tetris'. Tinha algo a ver com blocos caindo. Quando recebi o roteiro, achei que era sobre geopol�tica. Mas depois voc� percebe que aquela batalha por algo que voc� nem pode ver, direitos autorais, � t�o louca que me fez lembrar que as hist�rias mais bizarras s�o as que d�o os melhores filmes1

Jon S. Baird, diretor


S�cios

Rogers e Pajitnov, hoje amigos e s�cios da The Tetris Company, ainda se lembram dos embara�os e perigos que cercaram, primeiro, a fuga do holand�s com o jogo debaixo do bra�o e, mais tarde, a mudan�a de Pajitnov para os Estados Unidos. N�o que tudo tenha acontecido exatamente como nas telas, mas isso � parte da fanfarra de Hollywood, contam.

Produtores do filme, eles se dizem surpresos com o alcance que "Tetris" ainda tem, mas atribuem sua sobreviv�ncia justamente � simplicidade. Com isso, ele se tornou um game que n�o tem p�blico-alvo, jogado por qualquer g�nero, idade ou pa�s, mesmo diante de um setor completamente diferente daquele dos anos 1980. Hoje, ele � como uma ind�stria de filmes interativos, avalia Rogers.

Outra coisa que mudou radicalmente foi a percep��o de Pajitnov em rela��o a seu pa�s. Mesmo que "Tetris" mostre a Uni�o Sovi�tica em colapso, o desenvolvedor rememora aquela �poca como cheia de expectativa de que boas mudan�as viriam para os russos.

"Era um per�odo sombrio para o bloco, mas de muitas possibilidades para a R�ssia. Hoje, infelizmente, estamos num momento de desilus�o, com essa guerra horr�vel e criminosa contra a Ucr�nia. N�o h� mais esperan�a", diz ele, que costumava visitar o pa�s com frequ�ncia at� a eclos�o do conflito.

'Era um per�odo sombrio para o bloco, mas de muitas possibilidades para a R�ssia. Hoje, infelizmente, estamos num momento de desilus�o, com essa guerra horr�vel e criminosa contra a Ucr�nia. N�o h� mais esperan�a'

Alexey Pajitnov, engenheiro de computa��o russo


Perfil

Quem o interpreta em cena � Nikita Efremov, enquanto o papel de Henk Rogers ficou com o gal� Taron Egerton, com um bigode marcante que remete ao Mario da Nintendo. O ator precisou esconder por baixo de camisas estampadas e bufantes os m�sculos marmorizados e bem cultivados que, com frequ�ncia, exibe em seus trabalhos.

Mas "Tetris" segue justamente uma esp�cie de redirecionamento de carreira, desde que o brit�nico foi al�ado � fama pela figura do bonit�o agente secreto que interpretou na franquia "Kingsman ".O que voc� quer dizer com isso? Que eu n�o sou mais bonit�o?", diz ele, com bom humor ao ser questionado sobre a mudan�a no perfil dos pap�is que tem feito.

Na Apple TV , ele est� no segundo. Se em "Tetris" vive um homem dos neg�cios que � nerd por ess�ncia, na s�rie "Black bird" foi um traficante de drogas que, na pris�o, v� a oportunidade de diminuir sua pena caso conven�a um serial killer a confessar seus crimes.

Antes disso, emprestou a voz para o narrador da s�rie de fantasia "Sandman" e para a anima��o "Sing", enquanto em "Rocketman" a voz tamb�m foi instrumento primordial para narrar a hist�ria de Elton John com muita m�sica e dan�a. Em "Voando alto", novamente, viveu um personagem real, o saltador de esqui Eddie Edwards, misturando com�dia e drama.

S�o pap�is que destoam daquilo que o fez famoso. Para al�m de "Kingsman", houve "Robin Hood: A origem", outro filme de a��o lan�ado com alarde, mas que recebeu um game over nas bilheterias, e "O clube dos meninos bilion�rios", em que, mais uma vez,  fazia o tipo de cabelo bem cortado capaz de conquistar qualquer um na rua.

"Tento nunca fazer mais do mesmo. Esses trabalhos todos refletem quem eu sou, mas por prismas diferentes. Amei fazer ‘Kingsman’, fazer esse cara bonit�o, meio James Bond, mas quero pap�is que n�o sejam s� gal�s. � bom buscar coisas diferentes", afirma o ator. 

“TETRIS”

• (EUA, 2023, 1h58’). Dire��o: Jon S. Baird. Com Nikita Efremov, Taron Egerton. Dispon�vel na Apple TV .