Simone sorri no palco ao cantar em BH

Simone, que estreou em Juiz de Fora com sua nova turn�, diz que � uma festa cantar em Minas. No s�bado, ela se apresentou no Pal�cio das Artes

Guilherme Leite/divulga��o

'Adoro o que fa�o, amo cantar'

Simone, cantora


Em cena, Simone, coincidentemente ou n�o, faz refer�ncias a �dolos da MPB. Como Beth�nia, pisa o palco descal�a. Como Roberto Carlos, distribui rosas ao fim da apresenta��o – as dela s�o brancas e disputad�ssimas pelos f�s, que se engalfinham em busca do mimo. Como Chico Buarque, volta ao cartaz s� de tempos em tempos.


Foi assim no �ltimo s�bado (6/5), durante o �nico show da turn� “T� voltando” em BH, que marca os 50 anos de carreira da baiana. O quinto de uma agenda que, por enquanto, ter� mais cinco apresenta��es: Curitiba, Recife, Natal e S�o Paulo.

Corte de 27 can��es

Em entrevista por e-mail, ela diz que, no in�cio, havia mais de 50 m�sicas “que n�o poderiam faltar” no repert�rio da turn�. “S�o muitos discos, o repert�rio � muito bonito, mas o show tem tempo limitado, n�o queria que passasse muito de uma hora e meia. Ent�o, cortamos para 23, o que passa bem de uma hora e meia”, explica.

• Veja Simone cantando "T� que t�"

 

Dona de discografia de 37 �lbuns, a estreia dela ocorreu com “Simone”, em 1973. O disco mais recente � “Da gente”, lan�ado em 2022.


O corte, reconhece Simone, eliminou can��es lind�ssimas. “(Marcus) Preto (diretor-geral do show) diz que as preferidas dele ficaram de fora. Algumas das minhas tamb�m. Mas � show de 50 anos de carreira, ent�o ele precisa refletir essa hist�ria toda, passar pelas v�rias fases vividas por mim nos discos e nos palcos. Os arranjos recuperam as vers�es originais das can��es”, explica.

Ficaram firmes no roteiro “Sangrando”, de Gonzaguinha; “O que ser� (� flor da pele)” e “Sob medida”, de Chico Buarque; e “Boca em brasa”, de Juliano Holanda e Z�lia Duncan, gravada no disco do ano passado.
 

Quando as cortinas se abriram, pontualmente �s 21h, o p�blico foi � loucura, com aplausos, gritos e todos os adjetivos para enaltecer a cantora. Claro, alguns passaram do limite, talvez pela emo��o de um encontro que demorou muito para ocorrer. Por vezes, o barulho “atravessou” palavras das can��es. Mas nada incomodou tanto a estrela quanto o acess�rio nos p�s. A tal ponto que Simone preferiu retirar a joia formada por filamentos que cobriam o dorso do p�.

Bituca: s� emo��o

Os momentos mais emocionantes foram marcados por “Encontros e despedidas”, de Fernando Brant e Milton Nascimento, e “Cigarra”, can��o de Milton e Ronaldo Bastos. Ali�s, Bituca est� cada vez mais pr�ximo de Simone, n�o s� pela admira��o dela por ele. Augusto Nascimento, filho de Milton, coordena a carreira da cantora.

Bituca, de certa forma, ajudou a amiga a enfrentar a COVID-19. Seguindo os protocolos sanit�rios, Simone embarcou na onda das lives. “O que me salvou durante a pandemia foi o contato com o p�blico e meus f�s. Lembrava-me sempre de 'o artista tem que ir aonde p�blico est�' (sic), do Bituca”, diz, referindo-se ao verso de “Nos bailes da vida”, de Fernando Brant e Milton Nascimento.
• Simone interpreta "Sangue e pudins" no Pal�cio das Artes
 
Foram exatas 37 transmiss�es on-line, nas quais revisitou can��es de todos os seus discos. Apesar de f�s conhecerem todo o repert�rio, ainda assim foram surpreendidos com a inclus�o de “Sangue e pudins”, de Fagner e Abel Silva, gravada no �lbum hom�nimo lan�ado em 1978. No palco, Simone estava acompanhada pelo mineiro Frederico Heliodoro (baixo), Filipe Coimbra (guitarra e viol�o), Chico Lira (teclados), Ronaldo Silva (bateria) e Andr� Siqueira (percuss�o).

A turn� come�ou em abril, em Juiz de Fora. A escolha obedeceu � rela��o afetiva de Simone com a cidade mineira onde morou Suely Costa, que morreu em mar�o. A compositora carioca � autora de “Alma” e “Jura secreta”, parcerias com Abel Silva e sucessos na voz da baiana.

Tios da cantora tamb�m moraram na cidade mineira. Mas n�o � s� isso. Para ela, Minas tem p�blico muito simp�tico e acolhedor. “� sempre uma �tima experi�ncia, uma festa”, diz. No Pal�cio das Artes, os f�s receberam Simone calorosamente. Quando ela distribuiu rosas, foi uma loucura. Todos queriam levar uma flor para casa.

Vinis e aut�grafo

Depois da apresenta��o, com as cortinas fechadas e luzes da plateia acesas, f�s carregavam vinis, raridades de encher os olhos de qualquer colecionador. Tudo na esperan�a de conseguir um aut�grafo da “Cigarra”, o que acabou n�o ocorrendo.

Diante de duas recentes despedidas mineiras – do Skank e o pr�prio Milton Nascimento –, ela diz que a ideia n�o passa por sua cabe�a: “Adoro o que fa�o, amo cantar.” Para quem n�o conseguiu ingressos para o show, a boa not�cia � a possibilidade de registro audiovisual do espet�culo. At� l�, Simone, como diz a can��o que abriu a noite de s�bado, continua fazendo jus a seu famoso refr�o, “eu t� que t�”.
 
Cantora Simone faz show no Palácio das Artes

Simone diz que o mercado musical se transformou profundamente, mas as grandes composi��es s�o o alicerce do int�rprete. 'Isso n�o h� tecnologia que v� mudar', avisa

Guilherme Leite/divulga��o
 

ENTREVISTA

Simone: “‘T� voltando’ representa este novo tempo”

S�o 74 anos de idade, 50 de carreira e uma mulher que chama a aten��o pelo porte f�sico, a beleza e a presen�a, especialmente em 37 lives durante a pandemia. Como � a sua rela��o com o corpo?
Sou assumida com a minha idade, uma pessoa muito simples. Minha alimenta��o � superlegal, nunca fui de comer fritura, n�o gosto de gordura. O esporte foi essencial para mim. Fui atleta, nunca fui sedent�ria, sou ligada no 220.

“T� voltando” � o primeiro show depois de muitos anos sem turn�s. O que a trouxe novamente aos palcos?
“T� voltando” � um retorno t�o bom das coisas boas... Representa este novo tempo que estamos vivendo agora, e tamb�m o resgate de m�sicas que n�o cantava h� muito tempo, como � o caso de “Sangue e pudins” e outras. Estou com muito tes�o fazendo a turn� de 50 anos de carreira. Olho para a minha trajet�ria, para o que a vida me proporcionou com o meu trabalho, com minha dedica��o e com a minha m�sica, com um carinho enorme.

Em seus 50 anos de carreira, o mercado mudou v�rias vezes. Como voc� v� essas transforma��es?
Muita coisa mudou... O jeito de fazer m�sica, a tecnologia, o estilo. � tudo bem diferente de quando eu comecei. Mas tem coisas que n�o mudam: se voc� quer abra�ar uma carreira, voc� precisa de extrema dedica��o e cuidado em tudo o que faz. E precisa sempre de grandes composi��es. Elas s�o o alicerce principal do trabalho de qualquer int�rprete. Isso n�o h� tecnologia que v� mudar.

Voc� pensa em transformar o show “T� voltando” em CD ou DVD?
Sim, estamos pensando em um registro audiovisual.