Academia Brasileira de Letras sobe favela carioca com Gilberto Gil
Festa Liter�ria das Periferias come�a neste s�bado, 13 de maio, data da assinatura da aboli��o e do nascimento de Lima Barreto, um dos pais da literatura negra
Tropicalista baiano estar� na abertura da Festa Liter�ria das Periferias. Evento pretende colocar Machado de Assis como "cria da favela"
Eduardo Anizelli/Folhapress
A Academia Brasileira de Letras (ABL) precisa subir o morro da favela, defende a Festa Liter�ria das Periferias (Flup), e � exatamente isso que est� prestes a fazer – com Gilberto Gil.
O tropicalista baiano � uma das principais atra��es da abertura do evento carioca, que chega � sua 13ª edi��o na simb�lica data de 13 de maio, dia que n�o s� marca a assinatura da aboli��o, mas o nascimento de Lima Barreto, um dos pais da literatura negra.
Mais uma vez, Gil atua para transformar as velhas formas do viver. Eleito imortal h� um ano e meio, ele participa com a escritora Eliana Alves Cruz e o ator Haroldo Costa de uma mesa chamada "Quem me deu r�gua e compasso".
A negritude de Machado de Assis
Um dos apelidos da ABL, que hoje tem dois negros ocupando suas 40 cadeiras, � "Casa de Machado", tamanha foi a atua��o do autor de "Dom Casmurro" em sua cria��o. Machado de Assis era negro, como tem sido reivindicado pelos movimentos sociais, mas a Flup quer posicionar o escritor tamb�m como "cria da favela".
"Muitos temos a mem�ria dos livros dele, na escola, como uma leitura dif�cil, com palavras rebuscadas que nos distanciavam", afirma Dani Salles, porta-voz do evento carioca. "Nesta edi��o, chamamos a aten��o para o lugar de nascimento dele, na Ladeira do Livramento, para que ele seja reconhecido como um cara preto nascido na favela."
Ou seja, a ideia � tirar a Academia Brasileira de Letras do pedestal pelo qual ela � t�o criticada levando um de seus membros mais ilustres para o local de onde veio seu fundador. Um gesto simb�lico que, segundo Salles, tem relev�ncia fundamental na forma��o de novos leitores e escritores.
"Esse reposicionamento do Machado � para as pr�ximas gera��es se inspirarem nele n�o como um branco da Zona Sul, mas como um preto de olhar nobre e intelectualizado."
A Flup tem o hist�rico de propor reflex�o sobre a literatura aproximando territ�rios e pessoas que podem parecer opostos e justamente demolindo qualquer ideia de antagonismo entre eles. Na primeira edi��o do evento, o paraibano Ariano Suassuna subiu o morro dos Prazeres t�o cantado por Toninho Geraes.
"Conectando esses hist�ricos, voc� potencializa o escritor que est� dentro da favela e n�o se reconhece nesse projeto liter�rio. Aproxima as refer�ncias dessa pessoa."
Salles tem consci�ncia de que Machado omitia sua liga��o com a negritude durante a vida, o que n�o impede, em absoluto, que novas gera��es de negros e negras o reconhe�am como seu par de maneira que ele, talvez, n�o tenha podido fazer pelo contexto da �poca.
Isso faz parte de uma inten��o maior, segundo a organiza��o do evento, de reverenciar os "pretos velhos" num final de semana em que todo mundo se lembra de suas m�es, amanh� (14/5), e do epis�dio que marcou no papel o fim da escravid�o, neste s�bado.
Festa ter� afox� e homenagem a Lima Barreto
Haver� homenagem a M�e Beata de Iemanj�, mediada pela jornalista Fl�via Oliveira no come�o da tarde, logo depois de apresenta��es do afox� Filhos de Gandhy e do bloco Prata Preta, duas representa��es marcantes da cultura negra.
O aniversariante Lima Barreto tamb�m estar� presente, na forma de seus descendentes. O volume "Quilombo do Lima", que ser� lan�ado em meio � programa��o, acena ao escritor do "Triste fim de Policarpo Quaresma" por meio de contos escritos por 22 jovens formados nas oficinas da Flup.
Nos �ltimos 13 anos, a festa liter�ria j� publicou 30 livros, formou diversos escritores –-alguns hoje consagrados internacionalmente, caso de Geovani Martins – e inspirou sabe-se l� quantos leitores. Este s�bado promete o ambiente efervescente de uma cidade a cintilar.
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