"Justi�a 2" estreia em outubro, com novos dramas e Bras�lia como cen�rio
Com 28 epis�dios, s�rie do Globoplay retoma a discuss�o sobre o sistema prisional, sete anos ap�s a estreia. Quatro tramas principais norteiam a atra��o
Balthazar (Juan Paiva) passou sete anos na pris�o por um crime que n�o cometeu
Bruno Stuckert/divulga��o
Sentado numa cadeira na entrada da delegacia do Distrito Federal, o jovem entregador Balthazar – vestido com camisa de gola polo verde, bermuda e chinelo de dedo – aguarda sua vez de ser fotografado de frente e de perfil antes de seguir para o c�rcere, acusado de um crime que n�o cometeu.
O dono de supermercado, Jayme, fotografado com a camisa polo preta, deixa a fam�lia desamparada ao ser denunciado pela sobrinha de viol�-la sexualmente e ir parar na cadeia, lugar que n�o costuma receber homens como ele.
� o mesmo destino de Geisa, vestida com blusa cavada, em estado de choque na delegacia. Ela � moradora da quebrada de Ceil�ndia que, durante uma briga, assassinou Renato, o traficante local.
O que era para ser, digamos, um simples furto de autom�vel, se revela trama muito maior na vida de Milena, presa por homic�dio.
Em outubro
Esses s�o os quatro protagonistas de “Justi�a 2”, s�rie de Manuela Dias com dire��o de Gustavo Fernandez, que estreia em outubro, no Globoplay, com 28 epis�dios.
Como na primeira temporada, exibida na TV Globo, cada epis�dio tem um personagem como protagonista e um antagonista, que v�o se entrecruzando, assim como o passado e o presente. Desta vez, a s�rie se passa entre 2016, quando acabou “Justi�a”, e 2023.
“A estrutura � basicamente a mesma”, diz Fernandez. “A sequ�ncia � de estrutura e de tese.” Ele cita “True detective” como exemplo de s�ries que mant�m apenas a estrutura e o conceito a cada temporada, mas trocam as hist�rias e personagens. “� uma temporada bastante renovada pela for�a dram�tica das hist�rias.”
Quem abre a nova leva de epis�dios � precisamente Balthazar, vivido pelo ator Juan Paiva, o Ravi de “Um lugar ao sol”. Ele interpreta o entregador de um restaurante que acaba demitido e vai trabalhar como entregador de aplicativo.
“� um cara honesto, �ntegro, que procura fugir dos erros, est� sempre na batalha, na luta, mas sabe se defender”, define Paiva.
A vida de Balthazar come�a a se complicar quando o restaurante deixa de ser comandado pelo senhor Galindo, vivido por Amir Haddad, e passa para as m�os de Nestor, vereador corrupto, ambicioso e conservador interpretado por Marco Ricca. “O cara j� olha para ele como criminoso simplesmente por ser negro”, diz o diretor.
Ao cobrar seus direitos depois da demiss�o, o jovem se desentende com Galindo. Ap�s um assalto ao estabelecimento, � preso ao ser apontado por meio de um cat�logo de suspeitos pelo dono do restaurante e passa sete anos na cadeia por um crime que n�o cometeu.
Murilo Ben�cio trabalhou "a frieza" para fazer o papel de Jayme, empres�rio preso por violar a sobrinha
Bruno Stuckert/divulga��o
Arrimo
Murilo Ben�cio, protagonista da segunda hist�ria, conta que teve dificuldade em encontrar o sentimento de Jayme, seu personagem. O dono de supermercado � o arrimo da fam�lia, que tem padr�o alto de vida e nutre desejo pela sobrinha, vivida por Alice Wegmann.
“A gente n�o tem muita refer�ncia dele. Resolvi faz�-lo desprovido de qualquer sentimento. Decidi ir para o lado da frieza”, conta o ator.
Ao denunci�-lo, a garota � rejeitada pelos familiares e se muda para o Rio de Janeiro, onde abre um quiosque com o namorado. Sete anos depois, ap�s o neg�cio falir, ela tem de voltar � cidade natal. � quando o tio deixa a Papuda, onde conheceu o submundo do crime.
M�e solteira, manicure e moradora da quebrada, Geisa, vivida pela atriz Belize Pombal, e a filha que estuda para passar no Enem t�m a rotina alterada pelo vizinho que deixa o som ligado 24 horas. Seria simples n�o fosse o rapaz, Renato, interpretado por Filipe Bragan�a, o traficante do bairro.
M�e e filha tentam contornar a situa��o at� que a garota entra para a famigerada lista dos inscritos que perderam a prova do Enem. Numa briga, Geisa o assassina e vai para cadeia. “Ela se atira na tentativa de salvar a pr�pria filha e a si mesma a qualquer custo”, afirma a atriz.
Nascida em S�o Paulo, no bairro do Tucuruvi, Belize � formada pela Escola de Arte Dram�tica da USP, tem quase 20 anos de profiss�o e � leitora de Milton Santos. V� o pensamento do ge�grafo reverberar nas laudas de Manuela Dias.
“Ele dizia que estamos nos tornando humanos. A s�rie contribui para isso tamb�m, em rela��o ao nosso potencial humano. � um trabalho que nos nutre em rela��o a maior humanidade, nas belezas e nas agruras, para que a gente melhore individual e coletivamente.”
A quarta hist�ria, protagonizada por Nanda Costa, � a que mais permite discutir a Justi�a em suas nuances. “Nas outras hist�rias fica mais claro o que � a Justi�a. A nossa tem uma coisa mais velada”, afirma a atriz Paolla Oliveira, que interpreta Jordana, antagonista da trama.
Paolla Oliveira e Nanda Costa protagonizam hist�ria que embaralha os limites da justi�a
Bruno Stuckert/divulga��o
Enrascada
Nanda � Milena, garota que sonha em ser cantora e tem habilidade especial para abrir cofres. Filha de uma salgadeira, coloca a m�e em enrascada ao deixar de pagar a conta de luz �s v�speras de uma entrega. Para ajud�-la, furta o carro de Jordana, a empres�ria musical interpretada por Oliveira.
Milena, por�m, n�o contava que Jordana, naquele mesmo dia, havia descoberto um meio-irm�o e, para n�o ter que dividir a heran�a deixada pelo pai, o assassinara e guardara o corpo no porta-malas do carro. Presa por homic�dio, sete anos depois Milena volta para que a empres�ria musical a transforme em estrela do piseiro, estilo musical derivado do forr�.
“Milena acaba usando o que viveu para realizar o sonho. Ela diz ‘eu gostaria de estar onde estou, mas n�o de ter feito as coisas que fiz para conquistar'”, afirma Nanda, que aparecer� cantando na s�rie.
Al�m do formato e do conceito, outros elementos conectam “Justi�a” e “Justi�a 2”, como a vers�o de “Hallelujah” por Rufus Wainwright e a personagem Kellen, interpretada por Leandra Leal.
Agora, seu prost�bulo, que ela chama de “ag�ncia de viagem”, deixou o Recife em dire��o ao Distrito Federal. Kellen aparece com um novo marido, Darlan, vivido por F�bio Lago, que tem como companheira a cachorrinha influencer Bete.
O diretor Gustavo Fernandez afirma que a mudan�a de cen�rio, da capital de Pernambuco para Bras�lia e Ceil�ndia, traz poucas mudan�as no que diz respeito � tese central da hist�ria, sobre a vida das pessoas ap�s serem afetadas pelo sistema de justi�a no que ele tem de real – e cruel, pode-se dizer.
“Muda o tom”, ele diz, ao prometer que, nesta temporada ambientada entre as curvas e linhas de Niemeyer e L�cio Costa, “tudo fica mais nebuloso”. Ao menos para quem conheceu a injusti�a de perto – e de dentro do sistema.
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