L�gia Teixeira pinta s�rie sobre o confinamento existencial das mulheres
Exposi��o 'Confinadas', com 32 telas da artista carioca sobre o universo feminino, est� em cartaz a partir desta ter�a-feira (15/8) na Casa Fiat de Cultura
Pinturas de Ligia Teixeira se inspiram em imagens que ela viu na internet durante a pandemia de Covid-19
L�gia Teixeira/reprodu��o
A s�rie “Confinadas” foi criada por L�gia Teixeira durante o isolamento social imposto pela COVID-19. A pintora se inspirou em imagens de mulheres solit�rias e enclausuradas que viu na internet. Em cartaz na Casa Fiat de Cultura, 32 telas da carioca poder�o ser conferidas at� 1º de outubro.
Em meio �s incertezas vividas naquele momento, este trabalho significou uma esp�cie de salva��o, conta a pintora. “Foi um per�odo em que passei a sentir enorme vazio. Todos n�s est�vamos buscando uma sa�da, algo para dar sentido � vida e para n�o nos desesperarmos. Ent�o recorri � arte.”
Sem ter como sair de casa e desmotivada para criar trabalhos em grandes dimens�es, L�gia decidiu usar o que tinha � m�o. Reciclou telas guardadas em seu ateli�, pintando novas imagens sobre trabalhos que j� n�o faziam mais sentido.
“N�o havia como fazer algum projeto ou plano de exposi��o, porque estava tudo parado. O �nico projeto era sobreviver e n�o se contaminar. N�o fazia sentido pensar em grandes gestos quando o nosso mundo estava restrito ao tri�ngulo de uma janela”, explica.
Detalhe de pintura da s�rie 'Confinadas', de L�gia Teixeira
L�gia Teixeira/reprodu��o
Met�fora da pris�o
L�gia Teixeira decidiu, ent�o, voltar ao tema principal de suas pesquisas: o universo feminino. Percebeu que tinha em m�os a met�fora do silenciamento e do apagamento impostos pela sociedade �s mulheres. Dessa forma, o t�tulo “confinadas” se refere, sobretudo, ao aprisionamento f�sico e de ideias.
“O confinamento dos nossos corpos n�o veio s� com a pandemia, mas sempre esteve presente no controle da liberdade de onde ir, o que fazer, como se vestir e se portar. As mulheres s�o enclausuradas, confinadas constantemente pela repress�o sobre seus corpos e mentes”, diz L�gia, chamando a aten��o para o “confinamento existencial”.
Com dimens�es que variam de 30cm por 30cm a 25cm por 20cm, as telas ganharam ambiente ideal no espa�o intimista da Casa Fiat. Em “Confinadas”, as mulheres s�o representadas em situa��es banais, mas sempre h� alguma provoca��o que leva ao contraste com a realidade.
“Mais confinada do que isso, imposs�vel”, comenta L�gia. Uma das personagens est� submersa na piscina. Outra vestida, dentro da banheira. A mo�a fuma enquanto a frigideira queima.
“� um mundo meio Clarice Lispector. Na aparente banalidade da vida, algo est� sendo gestado ali e pode irromper a qualquer momento”, observa L�gia Teixeira. “Aquela mulher presa na rotina pode de repente soltar um grito e virar a mesa.”
A artista visual � arquiteta formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Decidiu ser artista aos 12 anos devido � paix�o pelo desenho. “Era quase compuls�o”, diz. O desenho a levou ao curso de arquitetura e, posteriormente, � forma��o art�stica no Museu de Arte Moderna (MAM) e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
Banalidade da vida � tema da s�rie de pinturas exposta na Casa Fiat
L�gia Teixeira/reprodu��o
'O confinamento dos nossos corpos n�o veio s� com a pandemia, mas sempre esteve presente no controle da liberdade de onde ir, o que fazer, como se vestir e se portar. As mulheres s�o enclausuradas, confinadas constantemente pela repress�o sobre seus corpos e mentes'
L�gia Teixeira, pintora
Desamparo, UTI e chacina
Inquieta��es femininas s�o recorrentes em seu trabalho desde 1993, quando o filho rec�m-nascido teve graves problemas de sa�de e foi internado �s pressas na UTI neonatal. Lutando contra a morte, L�gia passou a observar m�es na mesma situa��o de desamparo, com seus beb�s no colo.
Em 23 de julho de 1993, ao ligar a TV do quarto do hospital, deparou com a not�cia da Chacina da Candel�ria, a chocante execu��o de oito jovens moradores de rua por policiais militares, no Centro do Rio de Janeiro.
“Estava vivendo a imin�ncia de perder meu filho e quando ligo a TV, vejo m�es desesperadas por terem perdido os filhos. Entrei em desespero” relembra. “Naquela UTI, pensei: poxa, todas n�s aqui temos a mesma viv�ncia.”
L�gia criou a s�rie “Piet�”, com Nossa Senhora com o filho morto nos bra�os, e desde ent�o, abordou as representa��es sociais e do imagin�rio coletivo sobre a mulher.
Nesta quarta-feira (16/8), �s 19h, a carioca participa de bate-papo virtual, no canal da Casa Fiat de Cultura no YouTube. As inscri��es gratuitas devem ser feitas na plataforma Sympla.
“CONFINADAS”
Exposi��o de L�gia Teixeira. Casa Fiat de Cultura (Pra�a da Liberdade, 10, Funcion�rios). Abre nesta ter�a-feira (15/8), das 10h �s 18h. O espa�o funciona de ter�a a sexta, das 10h �s 21h; s�bados, domingos e feriados, das 10h �s 18h. Tour virtual: www.casafiatdecultura.com.br
* Estagi�ria sob supervis�o da editora-assistente �ngela Faria
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